Uma Luz No Coração Da Escuridão

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Olhos de ouro se fixaram com os olhos de ametista e Kyou sentiu uma familiaridade estranha.

— Não é decisão sua, mago — advertiu Kyou em um tom mortal e baixo.

Naquele momento ele sabia que o próprio Hyakuhei não poderia tirá-la dele. Ela pertencia a ele. Seus braços se apertaram ao redor dela, não gostando do amor que ele podia sentir crescendo em relação à menina, irradiando da poderosa aura do outro.

Desviando-se de seus pensamentos rebeldes, Kyou rosnou baixo. Ele não deixaria a menina afetá-lo, mas ele ainda não estava pronto para desistir dela. Ele tinha muitas perguntas e ela as responderia, quer ela gostasse ou não.

Confiante de que estava sob controle, Kyou decidiu que era hora de partir.

Shinbe estava a caminho de Kyoko quando o homem se mexeu. Mexeu? Essa talvez não tenha sido a palavra certa. Tremulou e desapareceu, depois reapareceu do nada, bem na frente dele.

— Mas... — Shinbe parou enquanto olhava para um rosto que tinha a morte escrita por toda parte.

Seus olhos se arregalaram em choque, parecia que seu coração simplesmente tinha parado. Tão perto assim, ele podia ver claramente que o homem tinha praticamente uma pele branca de porcelana e se parecia muito com Toya, como se isso fosse uma piada. Piscando, ele poderia ter jurado que havia presas saindo da boca do homem e um grunhido de advertência ao redor delas.

Shinbe ficou plantado quando o homem estendeu um dedo e empurrou contra o peito dele. A próxima coisa que Shinbe notou foi que estava sentado de bunda no meio do corredor. Piscando novamente, ele ficou confuso quando o homem de cabelos prateados, vestido de preto, simplesmente passou por cima dele e de repente desapareceu.

Suki chegou ao corredor apenas a tempo de ver Shinbe cair no chão, não tão gentilmente, e um homem alto de cabelos prateados desaparecendo com Kyoko. Ela piscou uma vez e eles desapareceram. Um segundo estavam lá, no outro haviam sumido.

Shinbe, que parecia estar na zona do crepúsculo, ficou sentado lá mais um pouco, piscando confuso.

— Que diabos?

Correndo até Shinbe, Suki tremia quando tentou ajudá-lo a se levantar.

— Quem era aquele homem que desapareceu com Kyoko? — Ela olhou para Shinbe preocupada, quando ambos se viraram e correram pela porta para encontrá-los.

— Ele simplesmente desapareceu?

Eles saíram do prédio e olharam freneticamente e não viram nenhum vestígio do homem ou Kyoko em qualquer lugar.

Virando-se para Shinbe, os olhos de Suki marearam. Sentia que estava à beira das lágrimas.

— Cadê eles? Aquele homem sequestrou Kyoko! — Ela estava tremendo de medo. O que tinha começado como uma noite divertida tinha se transformado em um pesadelo.

— Calma, Suki. Vamos encontrá-la. Toya também está aqui. — Shinbe procurou ansiosamente pelo amigo. — Pensei que ele estava logo atrás de mim!

A preocupação rapidamente se transformou em raiva agora que a ficha caiu e ele viu que Suki estava segura e ao seu lado. Uma sombra de piedade cruzou seus olhos assombrados enquanto pensava no passado.

— No que diabos você estava pensando? Algo poderia ter acontecido com você e não dava para eu saber onde você estava! — Ele a agarrou bruscamente pelos braços quando seus olhos de ametista escureceram possessivamente.

Os lábios de Suki se estreitaram com a raiva de Shinbe. Qual é a dele? Não era como se ela nunca saísse com as amigas. Seu olhar se fixou no dele quando sua própria raiva começou a subir.

— O que você quer diz... — suas palavras foram interrompidas quando seus lábios se chocaram contra os dela em um beijo abrasador e de parar o coração.

Shinbe estava tão preocupado com ela que não conseguia impedir os sentimentos que se precipitaram. Ele queria ter certeza de que podia sentir cada emoção que estava percorrendo suas veias naquela hora. Ele a abraçou fortemente, jurando para si mesmo que nunca mais perderia Suki de vista.

Suki gemeu suavemente pela intensidade do beijo de Shinbe. Era como se estivesse descobrindo cada emoção nua e crua dentro de sua alma. Ela poderia praticamente senti-la com a ponta dos dedos quando agarrou os ombros dele, sabendo que se ela soltasse, não conseguiria ficar de pé, pois suas pernas acabavam de se transformar em geleia, então ela se segurou como se fosse para salvar sua vida.

Sua mente ficou em branco por um momento e ela esqueceu que estava brava com ele ou que Kyoko acabara de desaparecer. Tudo o que ela podia sentir era Shinbe e um amor que sem dúvida duraria mais que os dois.

Suavemente, ele relaxou o abraço, terminando o beijo esfregando o nariz contra o dela. Seus olhos se encheram de alívio, mas ainda estavam escuros de desejo. Balançando a cabeça ligeiramente, ele tentou se concentrar na situação em questão e pela primeira vez, sua mente pervertida não vagou pela sensação do corpo macio de Suki em seus braços. Afinal de contas, essa sensação existia durante muitas vidas.

— Algumas coisas estão acontecendo e você precisa saber disto. Não era seguro para você e Kyoko saírem sozinhas esta noite. Vou explicar enquanto procuramos Toya. Acho que Kotaro está aqui também em algum lugar. — Shinbe envolveu um braço protetor ao redor dela enquanto se dirigiam ao estacionamento para encontrar Toya.

Por um momento, Suki ficou atordoada para fazer qualquer coisa, mas acenou com a cabeça.

*****

Toya correu pelo estacionamento, amaldiçoando Shinbe sair correndo na frente. Ele teve que sair do carro no lado do passageiro, uma vez que percebeu que não podia sair do seu lado. Na pressa de chegar a Kyoko, ele havia estacionado muito perto de um muro. Infelizmente, ele também descobriu isso quando tentou abrir a porta e bateu no muro, dando uma amassada no carro.

Isso não foi realmente o que o atrasou. Quando ele saíra correndo do estacionamento a uma velocidade vertiginosa, um garotinho apareceu do nada e colidiu com ele. O impacto foi tão súbito que o derrubou. Quando ele se endireitou o suficiente para ficar de pé, rapidamente ofereceu ao menino uma mão para ajudá-lo a se levantar.

— Ei, garoto, você está bem? — Toya recolheu a mão quando o menino sibilou e correu na direção oposta como se o próprio Satanás o perseguisse.

Toya deixou de lado a sensação assustadora que o menino tinha deixado e olhou para a boate de dois andares. O sentimento estranho voltou dez vezes mais forte quando notou a sombra de um homem que carregava alguém em uma das janelas no último andar. Havia tantas coisas erradas com aquela pequena cena.

Seus olhos brilhavam, prateados, seus sentidos reconhecendo coisas que ele ainda não entendia. Tudo isso o deixou com a sensação de que alguém acabara de pisar sobre seu túmulo.

Quando se aproximou da boate, Toya grunhiu aborrecido ao perceber que havia duas entradas. Uma parecia ser a entrada principal e a outra estava muito lotada. Decidindo ir pela principal, ele abriu caminho entre a multidão.

— É melhor que ela esteja bem... quando eu a encontrar, vou algemá-la permanentemente, ela gostando ou não. Marcas de prata começaram a se fortalecer dentro do ouro de seus olhos enquanto ele procurava Kyoko.

*****

Kyou abriu caminho pelo beco atrás da boate com Kyoko segura firmemente em seus braços. Sua mente estava preparada e ele levaria a garota para sua casa temporária para se recuperar. Ele olhou para a cobertura na rua bem em frente à boate. Ela estaria segura com ele, mas ele teria que ter cuidado. Ele podia sentir o servo de Hyakuhei dentro da escuridão que cercava a boate.

Seu maxilar apertou-se quando ouviu um grito fraco na distância e sabia que outra vítima havia sido encontrada. Olhando para a menina adormecida, seus olhos dourados se suavizaram. Por enquanto, ela seria seu segredo. Ela era leve como uma pluma e parecia tão frágil.

Ele não conseguiu compreender como essa menininha tinha um espírito tão ardente, mas uma alma tão pura. E "Toya", ela falou o nome de seu irmão morto como se ela o conhecesse. Como poderia ser possível?

Seus pensamentos pararam quando ele sentiu uma poderosa criatura noturna à frente, ao mesmo tempo que um cheiro de sangue chegou ao seu nariz. Ficando tenso, ele reconheceu a aura do licantropo que protegera Kyoko mais cedo, mas que depois a abandonara, deixando-a em perigo.

Não querendo que a menina se machucasse se ele precisasse lutar, Kyou a pousou suavemente no beco e seguiu o cheiro de sangue que vinha da esquina. Se o lobo tivesse abatido um humano, a garota pode não estar segura ao redor dele. Sabia-se que alguns lobisomens se perdem quando a ira entra em seu sangue, e ele não permitiria que a garota fosse protegida por uma criatura tão perigosa.

Ao virar a esquina com os pés silenciosos, os olhos de Kyou contemplavam uma cena que ele não tinha testemunhado há séculos. O lobo, ainda em forma humana, estava grunhindo, com as presas descobertas. Os olhos azulíssimos ardiam enquanto ele grunhia violentamente contra o que parecia ser um corpo que ele segurava.

*****

Toya fez uma pausa quando ele se aproximou da porta. Olhando, ele se virou rapidamente e se dirigiu em direção oposta da entrada. Ele conseguia sentir o cheiro dela, embora na parte de trás de sua mente ele não conseguisse descobrir como ou por que ele podia. Saindo em disparada em direção ao beco à esquerda do prédio, seu coração martelou violentamente em seu peito enquanto pensamentos mórbidos voavam em sua mente.

 

Meninas desaparecidas e lugares escuros... é melhor que Kyoko não tenha um único fio de cabelo fora do lugar ou então...

Entrando nas sombras, Toya parou de repente quando o medo sufocou sua respiração. Lá, deitada contra a parede de tijolos sujos, estava Kyoko. O mesmo medo que o havia congelado agora o fez entrar em ação. Em um segundo, ele estava ao lado dela.

Ajoelhando-se, ele a tocou, procurando a vida que permitiria que seu coração recomeçasse a bater.

Assim que seu dedo tocou o pescoço dela, seu próprio coração bateu ao mesmo tempo que o dela e ele exalou. Graças a Deus ela estava viva. Um momento de déjà vu trouxe uma lembrança indesejável e ele rapidamente a afastou de repente, com medo. Sentindo os outros por perto, ele não perdeu tempo em levá-la em segurança. Ao segurá-la perto dele, Toya usou sua velocidade sobre-humana para tirá-los da escuridão.

*****

Kotaro segurou Yohji contra a parede de tijolos enquanto controlava sua sede de sangue. Continuar o seu castigo já não valia mais a pena, considerando que o menino já havia desmaiado novamente. Deixando ele cair no chão sem nenhuma gentileza, ele sentiu uma perturbação na energia que o rodeava.

Sua cabeça virou para o lado, seus olhos azuis gelo se estreitando.

Kyou observava enquanto o lobo largou o menino de volta ao chão sem matá-lo. Ele imediatamente reconheceu o humano como sendo o assediador de Kyoko. Mudando a opinião de alguns momentos antes, seus lábios se curvaram em um ligeiro rosnado. Se fosse ele segurando o menino pelo pescoço, o garoto não estaria inteiro até agora.

Como se o tivesse percebido, o licantropo virou a cabeça e fixou seu olhar mortal sobre ele. Kyou podia sentir o imenso poder que emanava do lobo. Ele estava mostrando isso em advertência.

No passado, lobos e vampiros sempre se haviam evitado. Sem se preocupar um com o outro, eles escolheram se ignorar. Ambos tinham forças muito parecidas e nem se preocuparam com o domínio de um sobre o outro. Eles apenas existiam juntos no mesmo mundo, mantendo-se reclusos e vivendo suas próprias vidas intermináveis.

Todos os instintos de Kotaro ganharam vida, vendo o vampiro de pé ali nas sombras, observando-o. Ele não podia vê-lo com clareza suficiente para distinguir os traços característicos, mas seu instinto lhe disse que o sanguessuga era uma ameaça. Ele ainda precisava libertar sua própria sede de sangue e estalou os dedos pensando que talvez fosse um dos subjugados de Hyakuhei.

Assim que decidiu se virar e atacar, a imagem ficou mais forte, depois vacilou e desapareceu.

— Olhos dourados? — Kotaro ergueu-se em toda sua altura, percebendo que ele quase atacara Kyou. — O que ele está fazendo aqui? Droga! — Kotaro sibilou e saiu, temendo que Kyoko não estivesse onde ele a havia deixado. Ele tinha que chegar até ela rápido. Havia sanguessugas esta noite e ela não seria uma das vítimas deles. E com Kyou ao redor, não havia como dizer o quão perigosas as coisas poderiam ficar.

Kyou reapareceu de frente para a mesma parede de tijolos onde ele tinha recostado a menina. Vendo que ela não estava mais lá, seus olhos sangraram carmim e um grunhido enraivecido atravessou o beco vazio, ecoando nas ruas circundantes.

*****

Suki e Shinbe encontraram Kotaro na porta da boate. Agarrando Shinbe pelo ombro, Kotaro perguntou urgentemente.

— Kyoko ainda está lá dentro? — Seus sentidos sobrenaturais haviam entrado em pico e seus instintos lhe diziam que ela não estava perto.

Suki avançou para agarrar a camisa de Kotaro e confirmar suas suspeitas.

— Um homem a levou cerca de dez minutos atrás, você tem que encontrá-la! — Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela falou com ele. — Não conseguimos encontrá-la em lugar nenhum!

Sem estar pronto para soltar a Suki ainda, Shinbe pegou sua mão, colocando-a no peito. Ele a envolveu em seus braços como uma tira de aço. Olhando para Kotaro, ele acrescentou:

— Alguma "coisa" acabou de levá-la daqui.

Shinbe olhou para a forma agora trêmula de Suki e tentou acalmá-la. Ela nunca permitiu que ele fizesse o que ele queria sem discutir.

— Vamos encontrá-la. Prometo. — Com a promessa feita, ele se virou para falar com Kotaro mais uma vez, mas o segurança já havia desaparecido.

— Aaa... aonde é que ele foi? — gaguejou Shinbe olhando ao redor, mas não encontrando nenhum vestígio do guarda de segurança. Balançando a cabeça, ele suspirou. Já tinha visto muita coisa estranha por uma noite.

Saindo de seu estado perdido e sem esperança, Suki resmungou aborrecida.

— Acho bom ele encontrar a Kyoko, senão vou fazer macarrão de Kotaro pro jantar. — Arrastando Shinbe atrás dela como se tivessem mudado de papel de repente, ela acrescentou:

— Meu carro, agora, vamos!

Shinbe olhou ao redor do estacionamento como se de repente lembrasse de algo importante.

— Falando em carros... o do Toya sumiu.

Capítulo 6

Hyakuhei colocou o jovem que ele escolheu para se tornar um de seus filhos em um quarto escuro acima dos sons da boate. Tirando o cabelo castanho e macio de seus olhos fechados, ele ainda podia sentir cheiro da garota que emanava da pele do menino.

- Tasuki - ele tinha ouvido os outros chamá-lo.

- Bem, Tasuki, quando você acordar, terá um presente muito precioso de mim: o dom da vida eterna. Ele deu um sorriso solidário, como se estivesse falando com uma criança. - Mas terá que entender que sua vida é minha.

Os olhos de Hyakuhei se tornaram vermelhos quando sentiu que um de seus filhos o chamava. Ele não gostava de ser perturbado enquanto aguardava um despertar, mas um dos seus favoritos havia chamado por ele. Sabendo que o subordinado nunca o chamaria, a menos que fosse importante, ele respondeu seu pedido.

Olhando mais uma vez para o garoto que ele havia transformado, Hyakuhei tremeluziu e desapareceu, deixando Tasuki sozinho dentro dos limites do quarto trancado.

*****

Yohji podia sentir as pontadas de dor forçando-o à consciência. Nossa, tudo nele doía! Ele lembrou lentamente o que aconteceu e por que se sentia tão mal agora. Ele tinha encontrado Kyoko e decidiu brincar com ela, quando este estúpido guarda de segurança havia aparecido.

Como alguém poderia ser tão forte? Quando tentou lutar, não teve a mínima chance. Era como se ele tivesse tentado ir contra uma matilha de lobos famintos e agora estava sofrendo duramente pelo esforço.

Finalmente, ousando abrir os olhos, Yohji ficou surpreso ao encontrar um jovem garoto parado lá, observando-o. Ele parecia ter cerca de 12 anos e poderia ser considerado albino, se seus olhos não fossem tão pretos e vazios.

Atraído pelo cheiro de sangue fresco, Yuuhi apareceu ao lado do menino ferido. Observando-o de perto, ele ficou imóvel como uma estátua, tocando-o brevemente com sua aura, antes de assentir uma vez. O menino tinha a mácula do mal já dentro dele, mas havia um perfume de pureza que se apegava à sua energia negativa.

Aqueles restos de energia pura pareciam estar vivos com um poder que não morreria.

- Inesperado...

Quando os olhos do menino machucado se abriram, Yuuhi sussurrou suavemente:

-Pai, ele tocou a menina pura, a energia dela ainda persiste, atacando a dele. - As presas da criança brilharam na escuridão com um sorriso fingido. - Devemos ficar com ele?

Os olhos de Yohji se estreitaram com as estranhas palavras do menino e, em seguida, olharam em volta para quem a criança estava se dirigindo, apenas para ver um homem vestido de preto sair das sombras para a fraca luz do beco. Ele era alto e o poder emitido de sua forma era como se ele fosse uma divindade vingadora.

Os olhos aterrorizados de Yohji se arregalaram, fixando-se nos olhos vermelhos cor de sangue e, desta vez, ele definitivamente viu presas. Ele pressionou seu corpo dolorido contra a parede. Ele nunca teria chance se ele tentasse correr no estado em que ele já estava.

Hyakuhei olhou para o jovem que havia assediado a garota que ele agora considerava sua. Este menino tinha ousado tocá-la e agora pagaria por sua insolência. Ele inalou e sentiu os restos do lobo que já tinha batido no menino gravemente e seus olhos de meia-noite entrecerraram-se em fendas.

- Kotaro esteve aqui! Como ele se atreve a interferir nisto? Seria ele a razão pela qual a menina tinha desaparecido de repente sem deixar vestígios? – resmungou Hyakuhei ao pensar que o licantropo esteve tão perto do Cristal do Coração Guardião e da garota mais uma vez. Só porque a menina o escolheu não a fazia realmente pertencer a ele. Nunca havia sido a decisão dela. Será que ele não aprendeu a lição no passado?

Ele pensou que havia matado a vil criatura junto com Toya há anos por ousar ficar contra ele e tentar proteger a garota de sua posse.

- Não importa -, os pensamentos de Hyakuhei ficaram melancólicos por um momento - você já lançou Toya e a sacerdotisa contra mim, Kotaro, e veja o que você me fez fazer.

Uma sombra de piedade cruzou seus olhos assombrados enquanto pensava no passado. Se Toya não tivesse tentado se tornar um guardião da sacerdotisa e afastar Kyou dele, Toya não estaria no mundo inferior agora, mas aqui, ao seu lado, junto com o belo Kyou. O único culpado por encher Toya de mentiras equivocadas foi Kotaro.

Kotaro também foi o único que havia avisado a sacerdotisa de sua verdadeira intenção. Era estranho como o tempo poderia deformar até mesmo as mentiras que foram ditas.

- Então, Kotaro - sussurrou ele - você a encontrou novamente.

Ele foi trazido de volta ao presente pelo gemido que veio do menino agachado contra a parede. Ele precisaria de mais de um novo recruta para encontrar sua sacerdotisa desaparecida se Kotaro também estivesse com ela. Hyakuhei a queria e a teria.

Ele pretendia reivindicá-la com a ajuda deste imbecil que pensou em contaminá-la. A corrupção de tal criatura servia para ele apenas. Ele tinha muitos planos para sua sacerdotisa, afinal, mil anos era muito tempo para formular novas formas de torturar alguém.

Voltando para as sombras, seus olhos brilharam enquanto ele assentiu ligeiramente com Yuuhi.

- Faça com que doa bastante. Torture a carne dele, mas não o mate. - Ele queria que esse menino sofresse um pouco mais por suas ações para que ele entendesse nunca desafiar seu novo mestre e nunca mais tocar na garota.

A cabeça de Yohji se voltou para a criança e seus olhos se arregalaram de medo. O jovem estava sorrindo para ele, mas não era um bom sorriso, era mortal. Nos cantos de seus lábios pálidos, o menino tinha longas presas afiadas e seus olhos não eram mais pretos, mas um vermelho escuro.

Aqueles olhos vazios eram um contraste estranho com a pele e os cabelos de alabastro. Ele parecia uma criança, mas era um demônio disfarçado e Yohji estava aterrorizado.

Ele observou com horror quando seus pés deixaram o chão e o menino se atirou nele, arrastando um grito aterrorizado de sua garganta já seca. Ele nunca soube o que o atingiu quando os dentes e as garras rasgavam sua carne, causando dor como nunca tinha imaginado.

*****

Toya olhou para a menina deitada no assento do passageiro ao lado dele.

- Droga, Kyoko, nunca mais me assuste desse jeito! - Ele sabia que ela não conseguia ouvi-lo, mas isso não impediu que ele desabafasse. - Sua bobinha, você poderia morrido ou coisa pior! - Ele se virou para o prédio onde ela morava.

Mesmo que ainda tivesse com uma cara amarrada, ele a carregou como se ela fosse a gema mais preciosa da terra e a levou até as escadas. Encontrando a porta trancada, ele xingou, virando a maçaneta, esperando não causar muito dano ao ouvir o barulho da porta se quebrando e depois a abrindo.

- Bem, ela precisava de uma tranca melhor mesmo, com um assassino à solta. - Toya usou essa desculpa, arquivando-a para quando ela acordasse e gritasse com ele por quebrar sua porta. - Pelo menos ainda está presa pelas dobradiças - resmungou ele ao entrar no apartamento mal iluminado.

Permanecendo imóvel no meio da sala de estar, ele olhou para Kyoko e ergueu uma sobrancelha, enquanto ele inalava o álcool misturado com seu aroma natural.

 

- Ah, vejo como você é, Kyoko - sussurrou ele. - Não é justo, nem me levou para beber com você. O que você estava pensando?

*****

Kyou lutou para manter sua compostura, o que parecia estar acontecendo muito esta noite. Incapaz de guardar tudo dentro de si, sua mão em punho avançou e atingiu a parede com tanta força que pedaços da alvenaria saíram voando em todas as direções. Ele deu um grunhido irritado e seus olhos coloriram de rosa enquanto ele cheirava o ar.

Ninguém ficaria com o que lhe pertencia sem pagar por esta interferência.

Ele imediatamente identificou o aroma de Kyoko misturado com outro que parecia estranhamente familiar e masculino. Kyou soltou um grunhido, afastando a sensação enquanto levitava do beco e seguia o aroma que se tornara imerso em seu próprio ser.

Sua figura solitária desapareceu nas sombras enquanto caçava por sua presa. Ele a encontraria e a tiraria das mãos do ladrão que a roubara. Os músculos do maxilar de Kyou se tensionaram com raiva. Como ela se atreveu a falar o nome de seu irmão para confundi-lo. Como se ela o conhecesse?

De alguma forma, a mulher-filha tinha lançado um feitiço sobre ele, ele tinha certeza disso. Ele podia sentir na ponta de seus dedos a presença dela e sentiu o desejo de tocar a pele dela mais uma vez. Ele precisava saber como que ela era tão pura e qual era a luz que emanava de seu corpo.

- Foi isso o que Toya estava procurando? Se foi, então esta garota é culpada pela morte de Toya? O que isso significa? - Ele desejava respostas. Essa luz o atraiu como uma mariposa para a luz e agora, ele descobriu, não podia apenas deixá-la ir. Era como se ela o tivesse chamado inconscientemente e ele não tivesse escolha senão responder.

Kyou rosnou baixo enquanto seus olhos brilhavam com sangue. Esta menina era perigosa. Ele não era do tipo que precisa ou quer alguma coisa, não durante séculos. Ele existia apenas para vingar-se. Ele teria que lidar com ela com cuidado. Ele não confiava em si mesmo em torno dela. De alguma forma, ela o capturou e o que o irritava imensamente era que esta menina tinha, de alguma forma, o tornado fraco.

*****

Murmurando algo sobre reuniões de alcoólatras anônimos, Toya levou Kyoko para o quarto dela e gentilmente colocou-a na cama. Voltando rapidamente para a porta da frente, ele a trancou usando o trinco, já que ele quebrou a fechadura normal.

- Ainda bem que ela só tinha trancado a maçaneta - ele encolheu os ombros e olhou em volta para a solidão do apartamento. Era muito diferente do rugido ensurdecedor que estava na boate. Estava quase calmo. Tirando os sapatos, ele suspirou:

- Que noite. - Ele deixou seus ombros relaxar pela primeira vez o dia todo enquanto caminhava silenciosamente para onde sua Kyoko estava deitada.

O luar fluía na janela, lançando um brilho etéreo sobre seu corpo. O rosto de Toya se suavizou ao olhar o rosto dela. Seu corpo magro pousava na cama com as mãos meio relaxadas em cada lado da cabeça. Parecia um anjo, tão em paz e tão inconsciente do perigo que passou. A mão de Toya se apertou ao pensar nisto. Ele teve vontade de sacudi-la e acordá-la para lhe dar alguns bons conselhos, mas ele não faria isso.

Um franzir marcou o rosto de Toya, enquanto pensava em como ela foi parar naquele beco, sozinha, desmaiada, mas ilesa. Sem querer olhar um cavalo dado nos dentes, ele decidiu agradecer aos guardiões que cuidavam dela, quem quer que fossem.

Pelo resto da noite, Kyoko estaria segura com ele. Isso era tudo o que importava.

Um brilho travesso cintilou em seus olhos quando ele tirou os sapatos dela e puxou as cobertas sobre a sua forma adormecida. Ela provavelmente o matará amanhã, mas ... Toya engatinhou na cama e puxou o corpo dela contra o dele.

Normalmente, pensamentos ligeiramente sujos preenchiam sua mente como muitas vezes acontecia quando ele estava em casa sozinho. No entanto, por algum motivo, esses pensamentos pareciam errados no momento. Havia algo sobre ficar aqui com ela, que parecia ... inocente? Ele balançou ligeiramente a cabeça e se aconchegou perto dela.

Segurando-a firmemente, ele agradeceu a qualquer deus que estivesse no céu por ela estar sã e salva, e no lugar a que ela pertencia. Tê-la em seus braços parecia tão certo que ele decidiu saborear o momento. De manhã, isso poderia ser fatal, mas se ele morresse, pelo menos morreria feliz.

Kyoko suspirou em contentamento, aconchegando-se mais perto do calor protetor que cercava seu corpo.

Um sorriso suave enfeitou os lábios de Toya enquanto ele gentilmente beijou a testa dela e acabou caindo no sono também.

*****

O corpo de Kyou levitou até a janela, onde ele sentia o aroma dela ficar mais forte. Os orbes de ouro fundido se abriram com o choque da cena que se desenrolava bem diante de seus olhos. Lá, no quarto onde Kyoko estava deitada, entrou um jovem com olhos dourados e longos cabelos da meia-noite repletos de mexas prateadas que combinavam com os de Kyou.

Ele sentiu como se o ar tivesse sido roubado de seus pulmões enquanto a imagem espelhada de seu irmão assassinado estava ao lado da cama, olhando para a garota adormecida que ele vira para sequestrar.

Sua máscara gelada desapareceu completamente à vista desse menino que se parecia com seu amado irmão.

- Como isso é possível? - Lembrar a primeira palavra que ela falara com ele fez seu peito doer. Ela o chamou de Toya por engano e agora, aqui em seu quarto, estava a imagem de Toya?

Kyou tentou captar um perfume, tentando provar o que seus olhos lhe diziam, mas sua mente não conseguia compreender. O cheiro de seu irmão estava ligeiramente misturado com o cheiro desse menino, mas antes que ele pudesse contemplar mais sobre isso, o menino engatinhou para a cama e passou seus braços possessivamente em torno dela.

Um tiro de ciúme disparou pelo corpo inteiro de Kyou enquanto a garota se aconchegava no abraço do jovem. Um grunhido de advertência vibrou dentro de seu peito quando seus olhos brilharam vermelho brevemente. Irmão ou não, ele não permitiria isso.

Ele tentou alcançar a janela ao mesmo tempo em que uma cascata de brilho a cobriu, fazendo com que ele recolhesse a mão. Ao ver o pó de arco-íris se instalar no peitoril da janela como se fosse para protegê-la, ele rosnou novamente. A menina parecia estar cercada por tudo o que era sobrenatural e o imortal estava com os nervos à flor da pele.

Seus olhos se estreitaram ao se perguntar se era apenas um feitiço de um mago que lhe permitia ver seu irmão. Será que ela tinha lançado o feitiço sobre ele quando ela sussurrou o nome de seu irmão morto?

Sua atenção se afastou da janela para olhar para o chão abaixo dele. O lobo estava chegando. Ele enviou mais um olhar assassino ao quarto antes de levitar rapidamente para o telhado.

Toya tinha acabado de adormecer quando ouviu um grunhido animalesco que parecia estar vindo da janela de Kyoko.

- Isto não está certo. Ela está no segundo andar. - Os olhos de Toya se abriram ao ouvir o som novamente.

Levantando a cabeça levemente para não perturbar Kyoko, ele olhou para a janela de onde o som estava vindo. Todo instinto em seu corpo lhe dizia que alguém ou alguma coisa estava lá, observando-os.

Seu olhar se fechou na sombra do que parecia ser um homem. Parecia que ele estava de pé na janela, mas no segundo andar? Um contorno de prata ondulava em torno de sua forma e o fazia parecer quase fantasmagórico. Toya tinha visto essa aparição antes, em pesadelos.

Olhos dourados de sol estavam concentrados no chão, mas Toya podia vê-los reluzir vermelhos por apenas um momento e ele poderia jurar que ele também viu o brilho das presas. A imagem tremeluzia à medida que flocos metálicos de pó multicolor choveram na janela como se estivessem bloqueando a vista.

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