A Cidade Sinistra

Tekst
0
Recenzje
Przeczytaj fragment
Oznacz jako przeczytane
Czcionka:Mniejsze АаWiększe Aa

“Não sei muito sobre suas lendas,” Jalis disse, “mas só os dez por cento pela não-recuperação nos manteria bem por alguns meses. Se cumprimos o objetivo, será uma conquista mais lucrativa do que Maros e eu já conseguimos nos nossos anos dourados. Isto é grande. Se deixamos passar, Alari, Fenn, Henwyn ou qualquer um dos outros irão pegá-lo.”

“Não precisa me convencer,” Oriken disse. “Estou dentro.”

“Você está dentro para tudo.” Dagra olhou com cara feia para ele. “Sempre correndo para todos os buracos escuros que você encontra. Mesmo quando éramos meninos. Você nunca irá aprender?”

Oriken deu de ombros. “Você é o supersticioso. Mostre-me prova de que Lachyla é qualquer coisa exceto uma história assustadora contada pelos Tecelões de Histórias. Dê-me alguma evidência que não deveríamos pegar o trabalho.”

“Você sabe que não posso. Mas não deveríamos irritar a Díade ao vagar pelo domínio de uma deusa morta. Toda a região é solo profano.”

“A Díade são seus deuses,” Oriken disse. “Não meus. E nem de Jalis. Pelo amor das estrelas, Dag, somos freeblades.”

“Mesmo se encontrarmos o lugar, as chances de localizar… O que era?” Dagra olhou para o bilhete. “Uma cripta? Oh, não. De maneira nenhuma. Não vou entrar em uma cripta.” Ele olhou para Jalis. “Você sabe que eles costumavam enterrar seus mortos sem queimá-los? É bárbaro, eu te digo. Sacrilégio.”

Oriken deu a ele um sorriso divertido. “Sacrilégio? Você está falando sobre uma época antes que a Díade viesse para Himaera. Como você pode acusar os ancestrais de sacrilégio quando eles existiam antes dos seus deuses?”

Dagra empalideceu. “Você está indo longe demais, Oriken.”

“Aconteceu em toda parte,” Jalis disse, “não apenas aqui em Himaera. Foi a mesma coisa no Arkh.”

Dagra esvaziou o resto da sua cerveja. “Jecaiah!” Ele sinalizou para o garçom para outra bebida, depois olhou enfaticamente para Jalis. “Na melhor das hipóteses, vamos desperdiçar mais ou menos um mês vagando pelo deserto antes de voltar para casa de mãos vazias.”

Com um suspiro interior, ela decidiu tentar outra tática. “Você percebe que se concluirmos este contrato, provavelmente Maros vai apresentar vocês dois para seus testes de mestre espadachim.”

“Imagine isso, Dag. Freeblades de terceiro nível depois de apenas cinco anos.” Oriken ergueu uma sobrancelha. “Vamos ser o assunto da guilda.”

“Hmph.” Dagra empurrou sua cadeira para trás e marchou até o bar.

“Ele vai concordar,” Oriken disse.

Dagra olhou por cima do ombro. “Eu ouvi isso. Ainda estou esperando para ser convencido.”

“Você não parece tão convencido quanto estava,” Jalis disse quando ele voltou para seu assento. “Olhe, se você não quer vir junto, isso só vai significar mais para Oriken e eu. Seria uma pena não tê-lo conosco, mas se esta é a sua escolha…”

“Não tente isto comigo, garota. Você ouviu Maros. Ele disse que somos todos nós ou nenhum.”

“Ele disse. Mas infelizmente isso não depende dele. Vi os detalhes. Se ele tentasse me parar, ele estaria fazendo isso como um amigo, não como o Oficial.”

“Pense em todo o bem que isso traria,” Oriken pressionou. “Você e eu conseguindo nossos títulos de mestres espadachins. O reconhecimento que isso traria para nós e a filial, sem mencionar para toda a guilda. Não é apenas sobre dinheiro. Estrelas, nem sem o que eu faria com a minha parte. Imagine, Dag. Quando circular o boato que desafiamos a doença, conquistamos uma lenda e retornamos vitoriosos…”

“Não pretendo correr o risco de irritar os deuses, não por qualquer quantia de dari.”

“Estrelas!” Oriken suspirou em exasperação. “Tudo que temos de fazer é entrar em uma cripta e encontrar alguma bugiganga enferrujada. Você não pode relaxar apenas desta vez? Você poderia até esperar no lado de fora enquanto eu e Jalis fazemos todas as coisas corajosas.”

Dagra olhou com cara feia para a oferta de contrato em um silêncio inflexível.

“Ok,” Jalis disse. “Duvido que a Díade ficaria feliz se você permitisse que Oriken e eu caminhássemos para o nosso destino sem você, mas se esta é a sua escolha, então irei respeitá-la.”

Dagra olhou para ela. “Isso foi um golpe baixo.”

Ela deu de ombros e se levantou. “Vou aceitar o contrato e Maros irá permitir. Dentro ou fora, isso depende de você.”

Ele suspirou. “Não estou feliz sobre isso. Realmente não estou feliz.”

Jalis sorriu. “Você está dentro então?”

Dagra curvou os ombros em derrota. “Eu me odiaria se algo acontecesse com vocês dois. Que escolha eu tenho?” Seus lábios pressionaram juntos e ele lançou um olhar semicerrado para Oriken. “Aye, você terá minha espada ao seu lado. Como sempre.”

Capítulo Dois

Nas Terras Mortas

Jalis estava deitada de bruços, apoiada nos cotovelos, junto à margem do rio enquanto Dagra e Oriken enchiam novamente os odres de água. Um mapa da região estava aberto diante dela. Enquanto estudava-o, ela balançava a cabeça. “Nenhum dos assentamentos que vimos nos últimos três dias estão marcados aqui, apenas a antiga fortaleza circular pela qual passamos um tempo atrás.”

“Não estou surpreso,” Oriken disse ao lado do rio. “Nem os chamaria de assentamentos, apenas aglomerados de cabanas velhas e decrépitas. Os olhares que recebemos quando passamos, você pensaria que éramos bandidos ou algo pior.”

“Eles são um povo simples por aqui,” Dagra disse enquanto deixava a margem do rio e sentava perto de Jalis. “Vivendo na periferia das Terras Mortas, eles têm o direito de suspeitar de estranhos quando provavelmente eles nunca veem nenhum. E as armas que estamos carregando não são plausíveis de estimular amizade.” Ele tocou o velho gládio no quadril. “Para eles que não sabem a diferença entre um freeblade – ou até mesmo um mercenário comum – e um bandido, um parece a mesma coisa que o outro.”

Oriken se aproximou para juntar-se a eles e arremessou para Jalis seu odre de água. “Ainda não precisamos saber onde estamos,” ele disse a ela. “No que diz respeito as histórias desta área, alcançaremos a cidade desde que sigamos a estrada.” Ele tirou o chapéu e deitou na grama, cruzando as mãos atrás da cabeça.

“Não há quase nada da estrada,” Dagra murmurou com uma olhada de relance para os restos cobertos de vegetação da Estrada do Reino a uma curta distância. “Imagine em que estado vamos encontrá-la amanhã ou no dia seguinte.”

“Estrada ou não,” Oriken disse, olhando para o céu da tarde, “de acordo com os Tecelões de Histórias, não podemos errar se formos para o sul e para o oeste. Vamos chegar lá. E então, provavelmente, vamos virar e voltar de mãos vazias. É quase tentador acampar por algumas semanas, depois voltar pelos dez por cento.”

Jalis ergueu os olhos do mapa. “E correr o risco de perder os outros noventa por cento? Você tem tão pouca fé em nós para encontrar a joia?”

Oriken deu de ombros. “Não tenho fé em nada. Honrarei o contrato, você sabe disso. Mas pelo que Maros disse sobre Cela, parece-me que os corvos beberam o que restava do seu cérebro. Usar um título de família! Quem faz isso agora?” Pegando o olhar de Jalis, ele disse, “Ok, talvez você faça e alguns outros que vieram para cá do continente, mas nossa cliente é Himaeriana.” Ele deu um suspiro de escárnio. “Alegar que ela é descendente de Lachyla. Ha!”

Jalis arqueou uma sobrancelha. “Quem vai dizer que não é?”

Oriken resmungou e fechou os olhos.

“Houve supostamente alguns sobreviventes da praga,” Dagra comentou.

“Se Cela é louca ou nós somos,” Jalis disse, “vamos atravessar a Colina Scapa e encontrar esta suposta Cidade Sinistra e dar o nosso melhor ao procurar a herança.” Ela olhou para Dagra. “Algo está te preocupando?”

Ele deu a ela um olhar semicerrado e esperou um momento antes de responder. “Aye, algo está me preocupando. Em primeiro lugar” — ele inclinou-se para frente e colocou um dedo no mapa onde o símbolo da Caveira cercava o centro da Colina Scapa — “isso me incomoda muito. Há um bom motivo por que ninguém vem aqui.”

“Sim, é porque todo o Himaera se tornou afável aos deuses,” Oriken disse lentamente. “Nós nos livramos do governo dos deuses, mas era apenas um lado da moeda.”

“Em segundo lugar,” Dagra continuou, lançando a ele um olhar contundente, “presumindo por um momento que toda esta região é o trecho mais inofensivo do deserto que já vimos, o que acontece se realmente encontramos Lachyla?”

Jalis guardou o mapa na sua mochila. “O que você quer dizer?”

“Dag está preocupado sobre o cemitério,” Oriken disse.

“Com certeza estou! Não é certo, deixar as pessoas para apodrecer assim. E espera-se que nós entremos em algum buraco no chão cheio de todos os tipos de cadáveres antigos e não santificados? Quero dizer, quem em seu juízo perfeito...”

“Vou te dizer quem.” Jalis sentou-se e olhou direto em seus olhos. “Três freeblades que mal conseguem juntar moedas suficientes de trabalhos escassos para pagar pelo nosso sustento. Dinheiro está curto e definitivamente não estaríamos em nosso juízo perfeito se tivéssemos rejeitado este. Temos sorte que Maros nos avisou sobre isso. Ele não precisava fazer isso.”

“Nossos quartos na taverna são cortesia de Maros,” Oriken comentou. “E a comida cortesia da própria guilda.”

“Meu ponto permanece. Trabalho tem sido desanimador ultimamente.” Jalis levantou-se agilmente. “Não vamos chegar a lugar nenhum sentados aqui discutindo sobre isso. Ainda faltam algumas horas antes do anoitecer, então vamos continuar.”

Dagra resmungou e levantou-se, pegou sua mochila e pendurou no ombro. Enquanto ele seguia para a estrada, Jalis caminhava ao seu lado e lançou um olhar para trás para ver Oriken se apoiar nos cotovelos.

 

“Justo quando eu estava ficando confortável,” ele disse.

Ela piscou e virou-se para Dagra. “Cinco anos e ele não mudou nem um pouco.”

Dagra bufou. “Cinco? Tente vinte e cinco. O homem é tão preguiçoso quanto o menino era, mas se eu tivesse de descer ao próprio Inferno, não escolheria ninguém além de Orik ao meu lado. E você, é claro.”

Jalis sorriu. “O mesmo para mim, meu amigo.” E então um pensamento indesejável veio a ela. Descer no Inferno. Espero que seja quem for que estiver ouvindo não estejamos indo fazer exatamente isso.

À medida que a noite se intensificava, eles avistaram uma coleção de quatro cabanas de pedra e madeira, uma dispersão de celeiros e um conjunto de latrinas afastadas da estrada, aninhadas na beirada de um grande bosque de árvores. As construções estavam intactas, mas cobertas com musgo, os telhados enfeitados com grama e plantas floridas. Sinais de desuso permeavam a área. Se o lugar ainda era a casa de alguém, eles não tinham cuidado dela há anos.

“Parece que teremos abrigo hoje à noite,” Oriken disse.

Jalis estava em dúvida. “Se as casas estão tão descuidadas dentro quanto no lado de fora, poderíamos estar dormindo sob as estrelas de novo.”

Dagra resmungou. “Logo descobriremos.” Ele acelerou seu ritmo, as pernas curtas caminhando para a mais próxima das pequenas cabanas. Com uma batida forte na porta, ele gritou, “Olá?”

Quando Oriken alcançou Dagra, ele riu e bateu uma mão no ombro do seu amigo. “Dag, se alguém estiver vivo ali, eles devem estar bem abastecidos com provisões. Esta porta não foi aberta em anos.” Ele apontou para os dentes-de-leão crescendo em touceiras densas nas bordas da porta e a hera intacta que seguia seu caminho ao longo da moldura e através da porta da frente. Ele pegou a maçaneta e empurrou; ela rangeu para dentro um centímetro e um fedor de mofo flutuou para fora. Dagra franziu o nariz em desgosto.

“Apenas precisa arejar,” Oriken disse. “Vai ficar tudo bem.” Ele bateu o ombro na porta. As videiras se romperam e a porta arranhou as tábuas do assoalho, suas dobradiças gemendo até tocar a parede adjacente. Um interior sombreado os cumprimentou, permeado por um fedor úmido e pungente que fez Oriken dar um passo para trás. “Ou talvez não,” ele acrescentou com um encolher de ombros.

Do lado direito da área de estar, escassa e empoeirada, uma porta aberta conduzia para uma segunda sala. Oriken atravessou a sala e deu uma espiada dentro. “Hm.”

Jalis parou no centro da primeira sala. “O que você vê?”

Oriken semicerrou os olhos para a escuridão. Uma expressão desconcertada surgiu em seu rosto. “Oh.”

“Que diabos isso significa?” Dagra rosnou enquanto ficava atrás de Jalis. “O que há aí?”

“Teias de aranha.” Oriken virou-se para um conjunto de persianas atrás dele e abriu a persiana da esquerda, permitindo que a luz da noite banhasse o quarto.

A maior parte do que Oriken podia ver estava bloqueado da visão de Jalis, mas seu olhar semicerrado para a sala antes de sair e balançar a cabeça disse a ela que eles não dormiriam ali hoje à noite.

“Deveríamos tentar outra casa,” Oriken sugeriu com um olhar severo para Dagra.

“Não seja tão covarde.” Dagra passou por ele.

“Ah, Dag, eu não iria...”

Quando Dagra entrou na sala e olhou para o lado, uma expressão de horror espalhou-se pelo seu rosto e ele recuou contra o batente da porta. “Deuses acima e abaixo!” Ele se afastou cambaleando e intrometeu-se entre Oriken e Jalis para desaparecer através da porta da frente. “Maldito!” ele gritou. “Você poderia ter me avisado!”

“Eu tentei”

“Avisado de quê?” Jalis perguntou.

Oriken deu de ombros. “Como eu disse, há teias por toda parte. Não poderia dizer até abrir a persiana. As malditas coisas estão em todos os lugares do cadáver, cobrindo-o como uma mortalha.”

“Oriken! Você sabe como Dagra fica sobre este tipo de coisa!”

“Esqueça-o! E eu? Há uma aranha enorme e gorda rastejando sobre o rosto do sujeito.” Com um estremecimento, ele se afastou. “Odeio aranhas!”

“E eu odeio surpresas!” Dagra gritou do lado de fora.

Sorrindo para si mesma, Jalis olhou para a sala adjacente. O sorriso vacilou quando ela viu uma folha de pergaminho no braço da cadeira onde o cadáver estava caído. Ela atravessou a sala e afastou os fios grudentos, pegou o papel e soprou a poeira dele. Após ler o bilhete desbotado, ela colocou-o ao lado do cadáver e olhou para suas feições enrugadas com um toque de simpatia.

“Vamos deixá-lo em paz,” ela disse baixinho. “Lamento incomodá-lo.” Ela deixou a construção e olhou para seus companheiros enquanto eles estavam discutindo. “Sabe,” ela refletiu, “às vezes parece que sou uma babá em um orfanato em vez de um mestre espadachim na Guilda Freeblades.” Enquanto os homens murmuravam seus protestos, ela apontou o polegar na direção da porta aberta. “O sujeito ali ficou para trás quando o último dos seus vizinhos fez as malas e foi embora. Ele se recusou a juntar-se a eles. Em vez disso, permaneceu aqui sozinho e morreu com o que ele considerava ser dignidade. É tão triste que alguém se importaria mais sobre uma pequena área de terra do que uma chance melhor de sobrevivência em outro lugar.”

Os homens olharam para ela inexpressivamente antes de retomarem sua discussão. Com um suspiro, Jalis passou por eles. “Vou dar uma olhada na próxima casa. Aranhas ou cadáveres, os meninos fiquem bem atrás de mim. Mamãe vai protegê-los.”

“Você é um grande idiota,” ela ouviu Dagra dizer a Oriken enquanto caminhava para a casa mais distante.

“Tentei avisá-lo,” veio a resposta de Oriken. “Mas você tinha de entrar ali todo valente. Achou que era apenas aranhas, não foi? Achou que me faria parecer um banana. Anãozinho idiota.”

“Anão? Posso derrubá-lo qualquer dia da semana, seu bastardo desengonçado.”

“Sim? Bem, que tal agora?”

“Crianças!” Jalis gritou quando alcançou a próxima casa. “Comecem a se comportar agora ou eu juro que vou colocar ambos sobre meu joelho.” Ela olhou para suas expressões chocadas, em seguida se virou para a porta da cabana e bateu o calcanhar abaixo da maçaneta. As dobradiças racharam quando a porta voou para dentro. Com as mãos perto das adagas, ela entrou na escuridão e esperou que seus olhos se ajustassem. Os contornos cinzentos da mobília escassa pontilhavam o único cômodo: havia uma lareira na parede oposta, um grande catre em um lado e uma despensa no outro. Uma verificação rápida confirmou que não havia coisas mortas ao redor – exceto pelo esqueleto de um rato na lareira – e pouquíssimas teias de aranha.

Dagra e Oriken entraram timidamente.

Ela lançou a eles um olhar monótono. “A área está limpa. Vocês estão seguros.”

Alguns minutos depois, com Oriken ocupado construindo uma fogueira na lareira, Jalis sentou-se em uma cadeira bamba e olhou para Dagra. O homem barbado estava no meio da sala, olhando para o chão coberto de sujeira. Estava claro para ela que ele ainda estava agitado.

Ele olhou para o outro lado e encontrou seu olhar. “Nada te incomoda?” ele perguntou. “Até mesmo as mulheres e os homens mais durões têm uma fraqueza, mas nós te conhecemos há cinco anos e ainda não vi a sua.”

“Há uma coisa que eu tenho medo,” ela admitiu. “Perder.”

“Perder o quê?”

Ela olhou calmamente para ele. “Pessoas que eu me importo.”

Ele bufou, mas sua barba abriu em um sorriso forçado, mas afetuoso. “Bem, provavelmente você não vai perder nenhum de nós tão cedo. Você não deveria, a não ser que uma grande aranha monstruosa desça pela chaminé e devore Orik.”

“Ou,” Oriken disse enquanto estalava uma lasca de pedra em uma pederneira, “talvez aquele cara morto na casa acolá se levantará no meio da noite e virá arranhar a porta atrás de Dag.”

Dagra virou-se para ele. “Você tinha de dizer isso, não é?”

“Estou falando sério,” Jalis disse. “Estamos indo para o desconhecido e não gosto de não saber. Quase perdemos Maros ano passado. A equipe invencível de quatro tornou-se três e temos sorte que ele sobreviveu.”

“Aye.” Dagra assentiu. “Isso nós temos.”

“É uma profissão perigosa.” Jalis levantou-se, soltou seu saco de dormir da mochila e enrolou-o no catre. “Verdade, onze anos na guilda e conheço somente um punhado de blades que morreu durante os contratos. A maioria destes eram artífices ou inferior.” Jogando um cobertor no saco de dormir, ela virou-se para erguer uma sobrancelha enfaticamente para os dois homens. “Estatisticamente, as chances de morrer como um freeblade são menores quanto mais alto você subir de patente; vocês dois deverão estar prontos para seus títulos de mestre espadachim nos próximos um ou dois anos, mas ainda não estão lá, portanto não fiquem convencidos. E, pelo amor das estrelas, tentem controlar suas reações. Dag, em um cenário diferente, você poderia ter entrado em pânico e fugido às cegas de uma coisa morta direto para as mandíbulas de uma criatura viva. Como você explicaria isso para a Díade na vida após a morte?”

Dagra estufou as bochechas e soprou. “Reconheço seu ponto.”

“E Oriken, há algumas aranhas em Himaera que podem machucá-lo. Você deverá ver algumas delas em Sardaya. Grandes corpos inchados com listras vermelhas e brancas. Uma mordida de uma destas e você ficará inchado como um cadáver maduro.” Oriken e Dagra gemeram em uníssono e na penumbra da noite tardia, Jalis imaginou que viu as expressões de ambos ficarem pálidas. “Veem quão fácil é?”

“Fácil e desnecessário.” Oriken olhou com cara feia para as ferramentas na sua mão e voltou a bater a pederneira no graveto.

“Sem mencionar os Dançarinos de Pedra que infestam as Planícies de Ghalendi,” Jalis continuou com um aceno de cabeça para Oriken. “Os adultos têm metade da sua altura. Eles poderiam estourar qualquer aranha com um toque das suas pernas semelhantes a espadas. Se você não estivesse protegido com uma armadura e brandindo algo pesado para esmagá-los, um destes aracnídeos acabaria com você muito rápido.”

Oriken virou de costas para ela. “Você está inventando isso.”

“Você vai acender este fogo ou não?”

Com um resmungo, ele bateu a pederneira mais rápido contra o aço. “Madeira danificada não é a mais seca. Então, você viu uma destas coisas, não foi?”

“Não, mas conheço pessoas que viram. Pode haver um pouco de embelezamento, mas não duvide que os Dançarinos de Pedra existem. Meu ponto é que seu medo não é natural; as pequenas aranhas aqui não podem machucá-lo.”

“Não é isso que me incomoda. É a maneira como elas... Pronto!” Uma pequena chama pegou no graveto. Oriken soprou suavemente e o fogo começou a se espalhar, soltando um brilho âmbar no tom cinzento da sala. “O que me incomoda sobre as aranhas é como elas parecem e se movem. Criaturas repugnantes.” Ele abraçou a si mesmo e esfregou os braços. “Podemos mudar de assunto?”

“Cale-se!” Dagra levantou uma mão pedindo silêncio.

“O quê?” Oriken disse após um momento. “Não ouço nada além de madeira crepitando.”

“Lá estava de novo.” Dagra mantinha a voz baixa. “Enquanto vocês estavam conversando.”

Jalis pegou o cinturão da espada na mesa ao seu lado. “Eu ouvi.” Tinha sido leve, mas o chamado da matilha foi inconfundível. “Cravantes. Dag, feche a porta. Orik, me ajude a empurrar aquele armário atrás dela.” Ela afivelou o cinturão ao redor dos quadris e aproximou-se da grande peça de mobília. Enquanto Oriken se posicionava ao lado dela, Dagra fechava a porta da cabana e fechava as persianas rapidamente. Jalis e Oriken se agacharam atrás do armário e apoiaram os ombros nele. Eles empurraram, mas o armário mal se moveu. Apoiando os pés com firmeza, Jalis colocou todo seu peso na tarefa e sentiu Oriken fazendo o mesmo. O armário arranhava e gemia pelas tábuas empoeiradas, seu conteúdo chocalhando com cada empurrão. Em pouco tempo, eles o colocaram com firmeza atrás da porta.

“Precisamos colocar algo atrás das persianas!” Dagra olhou para o conteúdo da sala.

Jalis balançou a cabeça. “Não há nada.”

Oriken torceu a aba do seu chapéu. “Cravantes normalmente deixam os seres humanos em paz, mas aqui, além dos últimos assentamentos…”

“Este é o domínio deles,” Dagra disse sombriamente. O chamado das criaturas estava se aproximando rapidamente enquanto ele sacava seu gládio. “Eles saíram dos bosques.”

“Eles nos ouviram e agora têm nosso cheiro.” Jalis enfiou a mão em uma mochila pela sua minibesta. “Se ficarmos em silêncio, eles poderiam se afastar após um tempo.”

 

Com as persianas impossibilitadas de serem barricadas, elas eram o ponto de defesa mais fraco da cabana. Jalis carregou e encaixou no arco da besta, em seguida ficou pronta atrás dos homens enquanto eles se posicionavam atrás das persianas. Eles esperaram em silêncio, ouvindo enquanto os cravantes saltavam pela clareira, seus chamados guturais lembravam apenas vagamente os macacos nativos do extremo sul do Arkh. Jalis conseguia imaginá-los lá fora, suas mandíbulas salientes com amontoados caóticos de presas e aquele segundo conjunto menor de olhos, como esferas de obsidiana nas laterais das suas cabeças. O semblante de um cravante era hediondo, mas apesar da sua aparência, Oriken estava certo ao dizer que o grupo de primatas caçadores tendia a ficar longe dos humanos, mantendo-se invisíveis e praticamente despercebidos nas profundezas das matas. Mas aqui, na borda da Colina Scapa, era possível que eles raramente tivessem colocado os olhos em humanos, com o último assentamento povoado ficando a meio dia de caminhada para o norte.

Algo se espatifou no lado de fora e Jalis visualizou as criaturas entrando correndo na primeira casa, seguindo o cheiro dela e dos homens, mas encontrando somente o cadáver há muito tempo morto. A pancada abafada de pés e punhos no chão se aproximou da cabana e, apesar de tudo, Jalis se encolheu quando punhos se chocaram contra a porta, com a madeira se estilhaçando enquanto era sacudida contra o armário. Os cravantes rugiram, sentindo a proximidade dos freeblades.

O armário deslocou-se um centímetro. Além do batente, a criatura atacando grunhiu em frustração e bateu com mais força contra a porta. Uma dobradiça saltou da sua fixação e uma fenda estreita apareceu. Através dela Jalis viu uma massa de cabelos pretos em um corpo atarracado. O cravante era da altura de Dagra, ligeiramente mais baixo do que Jalis. Um olho preto e arredondado espiou o interior e o cravante rugiu.

Jalis disparou a flecha. Sua mira foi no alvo. O projétil disparou através da fenda e entrou direto na boca da criatura que guinchou de dor e cambaleou para longe. Outra assumiu seu lugar enquanto Jalis recarregava a besta.

Um olhar de Oriken disse a ela para esperar enquanto ele atravessava a sala e empurrava seu sabre entre a porta e a moldura, enviando uma série de golpes rápidos no corpo do cravante. A criatura rugiu e bateu um punho de pelos grisalhos contra a moldura da porta. Seus dedos grossos e com garras abriram e alcançaram através da fenda. Oriken abaixou o sabre, cortando profundamente os dedos da criatura e arrancando um deles. O cravante enfurecido retirou a mão e soltou um rugido furioso. Oriken pulou para trás e Jalis soltou o ferrolho. O primata grunhiu e caiu para trás. Na clareira, do lado de fora, flashes escuros de movimento disseram a ela que o resto do bando estava convergindo para a cabana.

Punhos socaram as persianas. Poeira se agitou das fendas entre as tábuas. Dagra deu um passo para trás e ergueu seu gládio quando as persianas caíram para dentro. A forma escura de um cravante preencheu a fenda, seu peito musculoso ondulando enquanto levantava os braços e rugia.

Jalis agarrou outra flecha e deslizou na besta, observando a criatura erguer o braço forte para atacar Dagra. Encaixando a besta apressadamente, ela apertou o gatilho e a flecha perfurou um dos quatro olhos do cravante. Dagra desviou-se para o lado e cortou o braço que se aproximava. O cravante agarrou o rosto, arrancando a flecha do olho.

Havia pouco que Jalis pudesse fazer além de continuar carregando a besta, mas havia somente algumas flechas. Nem havia espaço suficiente nas persianas para os homens manterem sua posição sem correr o risco de se machucarem. Eles precisavam de uma nova tática.

“Fogo!” Jalis gritou. “Há uma tocha antiga na parede.”

Oriken saltou para a tarefa. Ele puxou a tocha para baixo e empurrou a extremidade na lareira agora crepitante. As chamas pegaram e ele correu para o lado de Dagra enquanto o cravante machucado se aproximava para o ataque. Com sua atenção em Dagra, Oriken enfiou a tocha ardente em seu rosto. A criatura soltou um grito estridente e jogou-se no chão em uma tentativa de apagar as chamas. Enquanto se levantava de novo, Jalis atirou uma flecha em seu rosto. O cravante uivou e cambaleou para longe, dando vários passos largos pela clareira, depois caiu no chão. Os uivos e os movimentos da criatura cessaram, permitindo que as chamas se espalhassem.

Os cravantes restantes recuaram com medo na escuridão da noite, seus olhos pretos brilhando à luz do fogo. Um se atreveu a se aproximar e Oriken balançou a tocha quando a criatura se aproximou. As chamas lamberam seu braço e o cravante empurrou a tocha para longe, derrubando a parte de cima e enviando a bola de breu voando para a sala para rolar para debaixo do catre cheio de feno.

Enquanto o fedor de cabelo chamuscado e carne assando flutuava através da abertura, Dagra apunhalou seu gládio no ombro da criatura. Ela cambaleou para trás sobre seu companheiro caído; as chamas que consumiram o primeiro pegaram o segundo e, com um grito agonizante, a criatura ficou em pé e saltou na direção do resto do grupo, fazendo com que eles se dispersassem de novo na direção das árvores. O cravante em chamas andava a passos largos ao redor da lateral da casa e os gritos do grupo se dissipavam à medida que eles desapareciam no bosque.

O catre estava em chamas, fumaça se avolumando na sala. Oriken salvou sua mochila e roupa de cama a tempo e estava ocupado guardando seus pertences.

“Através das persianas,” Dagra gritou, olhando com cara feia de Jalis para Oriken. “Agora!”

Eles agarraram seus pertences e Jalis atravessou as persianas atrás de Dagra. Não havia sinal do grupo de caçadores, a não ser por aquele no chão que já não se movia mais, pequenas poças de chamas pontilhando suas costas queimadas. Oriken se içou através das persianas abertas, ofegando de dor enquanto pendurava seu sabre de volta na bainha.

“Você está sangrando,” Jalis disse.

Ele olhou por um instante para a camisa rasgada sobre seu antebraço. Agarrando a manga, ele rasgou-a a partir do ombro e passou o pano ao redor da ferida. “Posso lidar com isso depois. Distância primeiro.”

Enquanto os três corriam em direção à Estrada do Reino, Jalis pensou sombriamente, Um passeio no campo, de fato. Acima deles, o céu estava pintado em faixas de estrelas, enquanto atrás deles, ficando cada vez mais distante à medida que eles fugiam pela charneca aberta, o inferno da cabana rugia para a noite.

Capítulo Três

Meu, Todo Meu

“Isso mesmo,” Wayland disse enquanto se agachava ao lado de Demelza. “Mantenha sua respiração estável. Acompanhe o coelho com a flecha. Segure, puxe e mire. Quando tiver certeza, solte.”

De uma curta distância, ao lado do Guardião e da garota, Eriqwyn cruzou os braços e observou Demelza e o coelho. Ela vai errar, ela pensou irritada. Seu corpo está tenso e seu foco não está completamente na tarefa. Reprimindo um suspiro, ela balançou a cabeça. Sou a Primeira Guardiã, não deveria estar perdendo tempo com ela; fazer com que aquela cabeça dura dela compreenda requer muita paciência.

A quarenta e cinco metros de distância, o coelho meio escuro saiu detrás de um arbusto para a clareira. Ele parou, franziu o nariz e virou-se para olhar diretamente para Demelza e Wayland. A garota soltou a flecha que brilhou no sol da manhã e bateu na grama a vários metros do seu alvo. O coelho se pôs em movimento rapidamente. A careta petulante de Demelza acompanhou-o enquanto ele disparava pela charneca. Pegando seu arco do chão, Eriqwyn começou a ir na direção do par.

Os olhos de Wayland arregalaram e ele ficou em pé. “Ha! Você olharia para aquilo? Você errou com a flecha, mas em vez disso parece que você assustou o pobre animal até a morte!”