O Orbe de Kandra

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CAPÍTULO CINCO

Oliver parou do lado de fora do Colégio Campbell. A quadra de basquete estava barulhenta como sempre, cheia de adolescentes correndo, gritando e jogando bolas como se fossem granadas.

Ele sentiu um nó no estômago. Não que estivesse com medo dos outros alunos - ou de atravessar a quadra cheia de bolas de basquete voadoras -, mas sim porque em breve ele veria a Srta. Belfry novamente.

Para sua professora favorita, ele estava na aula dela ontem. Mas, para Oliver, parecia que havia sido séculos atrás. Tinha vivido uma tumultuada aventura no passado. Aquilo o transformara: havia amadurecido. Ele se perguntou se ela notaria quando se encontrassem frente a frente.

Atravessou o pátio do recreio, abaixando-se para desviar das bolas voadoras, depois seguiu direto pelo corredor até a sala de ciências da Srta. Belfry. Estava vazia, ninguém havia chegado ainda. Ele esperava que a professora tivesse vindo mais cedo, para poder falar com ela. Mas logo seus colegas de turma começaram a entrar. Ainda não havia sinal de Belfry, então Oliver não teve outra escolha a não ser se sentar também. Escolheu uma carteira na frente, ao lado da janela.

Oliver olhou para as quadras, para todos os adolescentes praticando esportes diferentes. Ficou admirado com a estranheza de fingir ser um estudante normal de novo, estar perto de pessoas normais ao invés de Videntes com poderes extraordinários.

Mais crianças entraram na sala de aula. Entre eles estava Samantha, a garota que zombava de Oliver toda vez que ele respondia a uma das perguntas da Srta. Belfry. Ela se sentou no fundo da sala. Então Paul entrou. Foi ele quem jogou papel amassado na cabeça de Oliver.

Sentiu-se desconfortável ao ver os colegas que o provocaram novamente. Mas as lembranças da intimidação já estavam desaparecendo, e a acidez de suas palavras tinham muito menos poder agora. Graças à Escola de Videntes e aos amigos que fez lá, Oliver sentia como se as velhas feridas tivessem sarado. Ele havia superado. Os valentões não podiam mais machucá-lo.

A turma ficou cheia e todos riam e conversavam em voz alta até o momento em que a Srta. Belfry entrou apressada. Ela parecia confusa.

"Desculpe, cheguei atrasada". Ela deixou seus materiais caírem sobre a mesa. Entre eles, estava uma maçã vermelha reluzente. "Hoje, vamos falar sobre forças". Ela pegou a maçã e a deixou cair no chão. "Quem pode me dizer sobre o que vamos aprender?"

Oliver levantou a mão imediatamente. A Srta. Belfry assentiu para ele.

"Gravidade", ele falou.

Imediatamente, Oliver ouviu a voz zombeteira de Samantha imitando-o às suas costas. Ela foi sucedida pelas risadinhas de seus colegas.

Oliver decidiu que era hora de uma pequena vingança. Nada muito sério, apenas um pouco de retorno pelas ações dela.

Ele se virou e a encarou. Então, usou seus poderes para fazer um pequeno jato de poeira entrar no nariz da garota.

Imediatamente, Samantha espirrou. Uma enorme meleca explodiu de seu nariz. Todas as crianças ao redor dela começaram a rir e a apontar.

Belfry ofereceu-lhe um lenço. Samantha rapidamente limpou o nariz. Suas bochechas estavam vermelhas.

Oliver sorriu e então se virou novamente.

A Srta. Belfry bateu palmas para chamar a atenção de todos. "Gravidade. A força que mantém nossos pés no chão. A força que faz todas as coisas caírem em direção à terra. Diga-me, Oliver, como você sabia que iríamos aprender sobre a gravidade hoje?"

Oliver falou com uma voz forte e confiante. "Porque Sir Isaac Newton descobriu a lei da gravidade quando viu uma maçã cair. Não na cabeça dele, aliás. Esse é um mito comum".

Só então, Oliver sentiu algo bater na sua cabeça. Um lápis caiu no chão ao seu lado. Ele nem precisou olhar para trás para saber que o "míssil" tinha vindo de Paul.

Tente jogar lápis sem as mãos, pensou Oliver.

Ele se virou e olhou nos olhos de Paul. Então, usou seus poderes para grudar as mãos do garoto na mesa.

Paul imediatamente olhou para suas mãos e tentou movê-las. Mas estavam completamente presas.

"O que está acontecendo!?" ele gritou.

Todos se viraram e viram as mãos de Paul presas à mesa. Eles começaram a rir, claramente pensando que ele estava brincando. Mas Oliver sabia que o olhar de pânico nos olhos de Paul era real.

Belfry não parecia impressionada. "Paul. Colar as mãos na mesa não é a ideia mais inteligente que você já teve".

A turma explodiu em gargalhadas estridentes.

"Eu não fiz isso, Srta. Belfry!" Paul gritou. "Algo estranho está acontecendo comigo!"

Só então, Samantha soltou outro enorme espirro.

Sorrindo em silêncio, Oliver voltou-se para a frente da classe.

A Srta. Belfry bateu palmas. "Atenção, turma. Sir Isaac Newton foi um matemático e físico inglês. Alguém sabe quando formulou a lei da gravidade?"

A mão de Oliver se elevou confiante novamente. Era a única. A Srta. Belfry olhou para ele e assentiu. Ela parecia satisfeita por ele não estar mais reticente em levantar a mão. Antes, ela precisava estimulá-lo a responder.

"Sim, Oliver?"

"1687".

Ela sorriu. "Correto".

Então, Oliver ouviu Paul zombar dele novamente. Obviamente, colar suas mãos na mesa não foi suficiente para fazê-lo parar. Oliver precisava fechar sua boca também.

Ele se virou e estreitou os olhos para Paul. Em sua mente, visualizou um zíper fechando os lábios de garoto. Então, ele tentou tornar a imagem uma realidade. E assim, a boca de Paul se fechou.

Paul começou a fazer um ruído abafado e em pânico. Os alunos se viraram e começaram a gritar com aquela estranha visão. A professora parecia alarmada.

Imediatamente, Oliver percebeu que tinha ido longe demais. Ele rapidamente inverteu o que tinha feito a Paul, liberando sua boca e mãos. Mas era tarde demais. Paul olhou para ele e levantou um dedo.

"Você! Você é uma aberração! Você fez isso acontecer!"

Quando as crianças começaram a insultar Oliver, ele olhou para a professora. Havia uma estranha expressão de confusão em seu rosto, como se ela estivesse fazendo a si mesma uma pergunta silenciosa.

Quando um coro gritando "Monstro!" soou atrás dele, a Srta. Belfry bateu palmas.

"Quietos! Acalmem-se!"

Mas os colegas de Oliver estavam em um frenesi. Todos se aglomeraram ao redor de Oliver, apontando e gritando ofensas. Ele se sentiu perseguido, diminuído. Foi terrível.

Ele queria afastá-los. Então, fechou os olhos e tentou reunir seus poderes. De repente, tudo ficou em silêncio.

Oliver abriu os olhos novamente e viu crianças agarrando suas gargantas e bocas. Ainda estavam gritando para ele, mas não conseguiam emitir mais nenhum som. Era como se Oliver simplesmente tivesse desligado suas vozes.

As pessoas começaram a cambalear para trás, em direção à porta. Logo, eles estavam correndo para fora da sala. Mas Oliver não havia terminado. Eles precisavam aprender a não intimidar as pessoas, a não insultá-las ou apontar para seus rostos. Precisavam realmente aprender a lição.

Então, quando correram para o corredor, Oliver fez surgir uma nuvem de tempestade. Choveu sobre as crianças enquanto elas corriam, encharcando-as completamente.

A última criança saiu correndo da sala. Então, ficaram apenas Oliver e a Srta. Belfry.

Ele olhou para ela e engoliu em seco. Não havia dúvida agora. Oliver havia revelado seus poderes.

A Srta. Belfry correu até a porta e fechou-a com firmeza. Então, se virou para Oliver. Havia um sulco profundo entre suas sobrancelhas. "Quem é você?"

Oliver sentiu um aperto no peito. O que a Srta. Belfry achava dele? Se ela estava com medo ou pensava que ele era um monstro, como seus colegas de classe, se sentiria arrasado.

Ela foi até ele. "Como você fez isso?"

Mas, quando se aproximou, Oliver percebeu que sua expressão não era de choque ou medo. Era um olhar de admiração. Um olhar de espanto.

Ela puxou uma cadeira para o lado dele e afundou nela, olhando para ele atentamente. Seus olhos brilhavam de curiosidade. "Quem é você, Oliver Blue?"

Oliver se lembrou da bússola. Ela o havia guiado até aqui, até a Srta. Belfry. O Universo lhe indicou que ela era alguém em quem ele podia confiar. Alguém que iria ajudá-lo em sua busca.

Ele pôs o nervosismo de lado e começou a falar.

"Eu tenho poderes. Poder sobre os elementos e as forças da natureza. Eu posso viajar no tempo e mudar a história".

A Srta. Belfry ficou completamente em silêncio. Olhou para ele e piscou várias vezes. Finalmente, falou.

"Eu sempre suspeitei que havia algo diferente em você". O tom em sua voz era de admiração.

Oliver ficou chocado. A Srta. Belfry não achava que ele era uma aberração. Seu coração pulou de alegria.

"Você acredita em mim?" ele perguntou.

Ela assentiu. "Sim. Acredito". Então, ela se aproximou um pouco mais e olhou nos olhos dele. "Conte-me tudo".

Então, Oliver falou. Ele começou do início, desde o dia da tempestade. Para a Srta. Belfry, tinha sido na noite passada, mas, para Oliver, vários dias haviam se passado.

Ele contou a ela sobre Armando Illstrom e sobre Lucas. Sobre seu encontro com Ralph Black e sua jornada até a Escola de Videntes. Sobre como a escola ficava entre as dimensões e só podia ser acessada através de um portal especial em 1944. Ele contou-lhe sobre as aulas, a Doutora Ziblatt e os portais interdimensionais. Contou a ela sobre a praça de alimentação e as mesas suspensas, sobre Hazel Kerr, Simon Cavendish e Walter Stroud, o incrível jogador de zástrás. Ele contou a ela sobre o Orbe de Kandra e o escritório do Professor Ametista com gravidade zero, as cápsulas de sono e o teste que determinava o tipo de Vidente que se é. Então ele contou a ela sobre seu encontro com Esther Valentini e o ataque à escola. Ele falou sobre os eventos na Alemanha nazista com a bomba de Lucas. Mostrou-lhe o amuleto que o Professor Ametista lhe dera, aquele que esquentaria se estivesse perto de um portal que o pudesse levar de volta à Escola de Videntes. E finalmente, ele contou a ela sobre seus pais, sobre como os Blues não eram sua verdadeira família e como ele queria encontrar seus pais verdadeiros, que lhe apareciam em visões.

 

Finalmente, quando falou toda sua história, Oliver parou de falar.

A Srta. Belfry parecia atordoada. Ela apenas balançou a cabeça devagar, enquanto seus olhos se moviam discretamente de um lado para o outro dentro das órbitas. Parecia que estava tentando processar tudo o que ele acabara de contar. Era muito para absorver de uma vez, pensou Oliver. Ele esperava que seu cérebro não explodisse com aquilo.

"Fascinante", ela falou, finalmente.

Então, se recostou na cadeira, ainda com os olhos fixos nele. Eles estavam cheios de curiosidade e admiração.

Oliver esperou, com o estômago revirando de antecipação.

Finalmente, a Srta. Belfry deu uma leve batidinha no queixo com o dedo. "Posso ver a bússola?"

Ele a pegou da bolsa e entregou a ela. Ela examinou o objeto muito devagar. Então, pareceu subitamente muito animada.

"Eu vi uma assim uma vez..."

"Sério?"

"Sim. Pertencia ao Professor Rouxinol, de Harvard. Um antigo professor meu. O homem mais brilhante que já conheci".

Sua animação era palpável. Oliver viu quando ela pulou da cadeira e correu para a estante de livros. Pegou um livro e entregou a ele.

Oliver olhou para o livro com curiosidade, e leu o título. "A Teoria da Viagem no Tempo". Ele ficou perplexo e seu olhar se ergueu para encontrar o dela. "Eu... não entendo".

A Srta. Belfry se sentou novamente. "A especialidade do professor Rouxinol era física - com ênfase na viagem no tempo".

Oliver ficou tonto. "Você acha que ele pode ser um Vidente? Como eu?"

Ele pensava que não havia outros em sua linha do tempo. Mas talvez esse professor Rouxinol fosse um deles. Talvez por isso a bússola o tenha guiado até a Srta. Belfry, em primeiro lugar.

"Sempre que ele me ensinava sobre um novo inventor, falava como se os conhecesse pessoalmente". Ela levou a mão à boca e balançou a cabeça em descrença. "Mas agora eu percebo que ele realmente conhecia. Ele deve ter viajado através do tempo para conhecê-los!"

Oliver se sentiu sobrecarregado. Seu coração começou a bater descontroladamente. Mas Belfry descansou a mão sobre a dele, confortando-o.

"Oliver", ela falou, gentil, "acho que você deveria conhecê-lo. Acho que o caminho para os seus pais e para o seu destino passa por ele".

Assim que ela disse isso, Belfry pareceu perplexa.

"Oliver, olhe".

Só então, Oliver viu os mostradores de sua bússola se moverem. Um apontou para o símbolo de uma folha de carvalho. O segundo apontou para um símbolo que se assemelhava a um pássaro. O terceiro permaneceu na imagem de um capelo de formatura.

Os olhos de Oliver se arregalaram de surpresa.

Ele apontou para a folha de carvalho. "Boston". Então, para o pássaro. "Rouxinol". E, finalmente, para o capelo. "Professor." Sentiu-se muito animado. "Você está certa. Eu tenho que ir para Boston. Conhecer o Professor Rouxinol. Ele tem a próxima pista".

A Srta. Belfry rapidamente rabiscou algo em seu caderno e depois rasgou a página. "Tome. É o endereço dele".

Oliver pegou o papel e olhou para o endereço. Aquela era a próxima peça do quebra-cabeça em sua missão? O professor Rouxinol era outro Vidente?

Ele dobrou o papel com cuidado e colocou-o no bolso, subitamente ansioso para começar sua jornada. Levantou-se logo.

"Espere", disse Belfry. "Oliver. O livro". O livro de viagens no tempo do professor Rouxinol estava em sua mesa. "Pegue", ela acrescentou. "Quero que fique com ele".

"Obrigado", Oliver disse, sentindo-se emocionado e agradecido. A Srta. Belfry era realmente a melhor professora não-Vidente que ele já teve.

Ele pegou o livro e se dirigiu para a porta. Mas então ouviu a Srta. Belfry chamar.

"Você nunca mais vai voltar?"

Ele fez uma pausa e olhou para ela. "Eu não sei".

Ela assentiu, triste. "Bem, se isso é um adeus, então tudo o que resta a dizer é boa sorte. Espero que você encontre o que procura, Oliver Blue".

Oliver sentiu um profundo sentimento de gratidão. Sem a Srta. Belfry, ele provavelmente não teria sobrevivido àqueles miseráveis primeiros dias em Nova Jersey. "Obrigado, senhorita Belfry. Obrigado por tudo".

Oliver saiu correndo da sala, ansioso para pegar o primeiro trem para Boston e conhecer o Professor Rouxinol. Mas se ele iria partir de Nova Jersey para sempre, havia uma coisa que precisava fazer primeiro.

Os valentões.

Era hora do almoço.

E ele tinha mais uma coisa a corrigir no mundo.

*

Ele desceu apressadamente os degraus, enquanto o cheiro de frituras gordurosas flutuava do refeitório. Ele e a Srta. Belfry tinham conversado por tanto tempo que já era hora do almoço.

Perfeito, Oliver pensou.

Dirigiu-se para o refeitório. Estava cheio de estudantes e extremamente barulhento. Ele viu Paul e Samantha, seus algozes da aula de ciências. Olharam para ele e começaram a apontar e sussurrar. Outras crianças também se viraram, todas rindo de Oliver. Ele viu as crianças que jogaram bolas nele na quadra. As crianças da turma do Sr. Portendorfer que se deleitaram com a insistência do velho professor rabugento em chamá-lo de Oscar.

Oliver examinou o lugar com os olhos até encontrar seu alvo: Chris e seus amigos. Os que o haviam perseguido durante a tempestade. Até ele ter que entrar em uma lata de lixo. Que o chamaram de esquisito, aberração e mais um monte de xingamentos horríveis.

Eles o notaram também. A garota malvada que usava o cabelo em tranças de aparência severa começou a sorrir. Cutucou o rapaz magro e sardento que tinha assistido com alegria enquanto Chris prendeu Oliver em uma gravata. Até onde eles sabiam, ontem haviam perseguido Oliver durante uma tempestade, forçando-o a se esconder em uma lata de lixo. Vê-los sorrir o fez cerrar os dentes com uma súbita onda de raiva.

Chris também levantou o olhar. Qualquer indício do medo que mostrava em relação a Oliver em sua sala de estar tinha desaparecido, agora que ele estava cercado por seus amigos valentões.

Mesmo do outro lado do refeitório, Oliver podia ler os lábios de Chris enquanto dizia a seus amigos: "Ah, olhem, é o rato encharcado".

Oliver concentrou toda a atenção na mesa deles. Então, convocou seus poderes.

As bandejas começaram a flutuar da mesa. A garota pulou para trás em sua cadeira, completamente aterrorizada.

"O que está acontecendo?"

O menino sardento e o garoto gordinho também saltaram, parecendo igualmente assustados, gemendo de medo. Chris pulou da cadeira. Mas ele não parecia assustado. Parecia furioso.

Ao redor da mesa, outros estudantes começaram a se virar para ver o motivo da comoção. Quando viram as bandejas subindo no ar como por magia, começaram a entrar em pânico.

Oliver fez as bandejas subirem cada vez mais alto. Então, quando estavam na altura da cabeça deles, ele as inclinou.

O que havia nas bandejas caiu como uma chuva em cima dos valentões.

Vejam se gostam de estar cobertos de lixo, pensou Oliver.

O refeitório virou um pandemônio. As crianças começaram a gritar, correndo por todo lado, empurrando-se na pressa de chegar à saída. Um dos torturadores de Oliver - coberto da cabeça aos pés com purê de batata - escorregou nos grãos que haviam sido derramados. Ele derrapou no chão, tropeçando em outro enquanto corriam.

Através do caos, Oliver viu Chris em pé no outro extremo do corredor, com os olhos apertados fixos em Oliver. Seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele estufou sua enorme estrutura corporal para parecer mais ameaçador.

Mas Oliver não se sentiu ameaçado. Nem um pouco.

"Você!" Chris gritou. "Eu sei o que é você! Eu sempre soube! Você tem poderes estranhos, não é? Você é uma aberração!"

Ele correu na direção de Oliver.

Mas Oliver já estava dois passos à frente. Ele usou seus poderes, cobrindo o chão sob os pés de Chris com óleo espesso e escorregadio. Chris começou a oscilar, depois cambaleou e deslizou. Ele não conseguia manter o equilíbrio e caiu de bunda no chão. Então, começou a deslizar na direção de Oliver, como se estivesse em um tobogã.

Oliver abriu a porta da saída. Chris passou direto por ela, aos gritos. Ele deslizou para o pátio, em seguida, ainda escorregando no óleo invisível de Oliver, até desaparecer de vista.

"Tchau!" Oliver gritou, acenando.

Com sorte, aquela seria a última vez que veria Christopher Blue.

Ele fechou as portas e virou-se.

Com a cabeça erguida, abriu caminho pelo refeitório caótico e caminhou confiantemente pelos corredores do Colégio Campbell. Nunca se sentira melhor. Nada podia superar aquilo.

Quando chegou à saída, abriu as duas portas principais com as duas mãos. Uma rajada de ar puro e frio o atingiu. Ele respirou fundo, sentindo-se rejuvenescido.

E foi quando ele a viu.

De pé, na base da escada, olhando para cima, havia uma figura solitária. Cabelo preto. Olhos verde-esmeralda.

Oliver não podia acreditar. Seu coração deu um salto, subitamente batendo a mil por minuto em seu peito. Seu cérebro começou a girar enquanto tentava desesperadamente descobrir como... por que...

Suas palmas ficaram úmidas. Sua garganta ficou seca. Um arrepio de animação percorreu sua espinha.

Porque na sua frente havia uma bela visão.

Ninguém menos do que Esther Valentini.

CAPÍTULO SEIS

"Esther?!" Oliver exclamou.

Ele a segurou pelos ombros, absorvendo a visão de cada pedacinho dela. Não podia acreditar em seus olhos.

"Oliver". O rosto de Esther se abriu em um sorriso. Ela o abraçou. "Eu te encontrei".

Sua voz era doce como o mel. Parecia música em seus ouvidos. Oliver a abraçou. Era maravilhoso envolver seus braços ao redor dela. Achou que nunca mais a veria.

Mas então ele saiu de seu abraço, sentindo-se alarmado de repente. "Por que você está aqui?"

Esther sorriu, travessa. "Há uma máquina do tempo na escola. Escondida dentro da árvore sumaúma. Eu notei um pequeno X esculpido nele e, como há um X em cada entrada que somente os professores podem usar, imaginei que isso deveria significar que havia uma entrada ali. Então, bisbilhotei por um tempo; vi alguns professores desaparecerem e percebi que devia haver uma máquina do tempo dentro dela. Estritamente proibida para os estudantes usarem, é claro".

Oliver sacudiu a cabeça. Claro que a brilhantemente talentosa Esther Valentini encontraria uma máquina do tempo escondida. Mas ninguém viajaria no tempo sem uma razão muito boa, especialmente não para uma linha do tempo à qual não pertencia! Pelo que Oliver havia aprendido na Escola de Videntes, passar uma quantidade significativa de tempo na linha do tempo errada colocava uma pressão real no corpo. De fato, ele se sentiu um pouco estranho apenas ao voltar para a sua.

E isso sem mencionar o sacrifício. Não havia garantia de retorno. Deixar a Escola de Videntes quebrou o coração de Oliver e ele só fez isso para salvar a vida de Armando. Então, algo deve ter levado Esther a vir até aqui. Uma busca, talvez. Uma missão. Talvez a Escola estivesse em perigo de novo?

"Não quero saber como chegou aqui". Oliver contestou. "E sim por quê".

Para sua grande surpresa, Esther sorriu. "Você me prometeu um segundo encontro".

Oliver fez uma pausa, franzindo a testa. "Você quer dizer que veio até aqui por mim?"

Ele não conseguia entender. Esther podia nunca mais voltar. Ela poderia ficar presa na linha do tempo errada para sempre. E fez isso por ele?

Suas bochechas ficaram rosadas. Ela tentou dar de ombros, tornando-se repentinamente tímida. "Eu achei que você precisaria de ajuda".

Embora não pudesse entender, Oliver estava grato pelo sacrifício que Esther fizera. Ela poderia ficar presa na linha do tempo errada para sempre e havia feito isso por ele. Ele se perguntou se isso significava que ela o amava. Não conseguia pensar em outra razão pela qual alguém pudesse se colocar numa tal situação.

 

O pensamento o aqueceu. Ele rapidamente mudou de assunto, sentindo-se subitamente muito tímido.

"Como foi a viagem através do tempo?" ele perguntou. "Você chegou aqui ilesa?"

Esther pôs a mão sobre o estômago. "Eu fiquei um pouco enjoada. E tive uma dor de cabeça terrível. Mas foi só".

Então, Oliver se lembrou do amuleto. Ele o tirou do macacão. "O professor Ametista me deu isto antes de eu sair".

Esther tocou o amuleto com os dedos. "Um detector de portais! Eles ficam mais quentes quando estamos perto de um buraco de minhoca, não é?" Ela sorriu despreocupadamente. "Isso pode nos guiar de volta para a Escola de Videntes um dia".

"Mas está frio desde que cheguei aqui", Oliver disse, melancólico.

"Não se preocupe", ela falou. "Não precisamos ter pressa. Temos todo o tempo que quisermos". Ela sorriu com a piada.

Oliver riu também.

"Eu tenho uma nova missão", Oliver disse.

Os olhos de Esther se arregalaram. "Sério?"

Ele assentiu e mostrou-lhe a bússola. Esther olhou para ela, admirada.

"É linda. O que isto significa?"

Oliver apontou para os mostradores e os estranhos hieróglifos. "Ela está me levando aos meus pais. Estes símbolos representam determinados lugares ou pessoas. Veja, estes são meus pais". Ele apontou para o mostrador que nunca se moveu, que permanecia fixo na imagem de um homem e uma mulher de mãos dadas. "Estes outros mostradores parecem se mover dependendo de aonde eu preciso ir em seguida".

"Ah, Oliver, que emocionante! Você tem uma missão! Aonde precisa ir agora?"

Ele apontou para a folha de carvalho. "Boston."

"Por que Boston?"

"Eu não tenho certeza", Oliver respondeu, colocando a bússola de volta no bolso do macacão. "Mas tem a ver com encontrar meus pais".

Esther pegou a mão dele e sorriu. "Então vamos".

"Você vem comigo?"

"Sim". Ela sorriu timidamente. "Se você quiser".

"Claro".

Oliver sorriu. Embora não conseguisse entender como Esther estava tão calma sobre o fato de que ela poderia ficar presa na linha do tempo errada para sempre, sua presença o alegrou. De repente, tudo parecia muito mais promissor, muito mais parecido com o Universo que o guiava. Sua busca para encontrar seus pais seria muito mais agradável com Esther ao seu lado.

Eles desceram os degraus na saída do Colégio Campbell e foram na direção da estação de trem, andando lado a lado. A pele macia de Esther era muito reconfortante.

Embora fosse um dia frio de outubro, Oliver não sentia frio. Apenas estar com Esther o mantinha aquecido. Era tão bom vê-la novamente. Ele achou que nunca mais voltaria. Mas não podia deixar de pensar que ela era uma miragem que poderia desaparecer a qualquer momento. Então, enquanto caminhavam, continuou olhando para ela apenas para ter certeza que ela era real. Toda vez, ela lhe dava seu doce sorriso tímido e ele sentia outra onda de calor em seu peito.

Eles chegaram à estação de trem e se dirigiram para a plataforma. Oliver nunca havia comprado uma passagem de trem antes e a máquina de bilhetes parecia muito intimidante. Mas então se lembrou de que tinha desativado uma bomba atômica. Certamente poderia descobrir como usar uma máquina de passagens de trem.

Ele comprou dois bilhetes para Cambridge, em Boston, selecionando a opção só ida, já que não tinha ideia se voltaria a Nova Jersey ou não. O pensamento o preocupou.

O trem levaria pouco mais de quatro horas para chegar em Cambridge. Observaram os vagões pararem na plataforma e depois embarcaram, encontrando um vagão silencioso onde pudessem se acomodar para a longa viagem.

"Como estão todos na escola?" Oliver perguntou. "Ralph? Hazel? Walter? Simon?"

Esther sorriu. "Eles estão bem. Todos sentimos sua falta, é claro. Walter sente muito, na verdade. Ele diz que jogar zástrás não é a mesma coisa sem você".

Oliver sorriu com tristeza. Ele sentia muita falta de seus amigos também.

"E a escola?" ele perguntou. "Está segura? Houve novos ataques?"

Ele estremeceu ao lembrar quando Lucas levou os Videntes vampiros a atacar a Escola. E apesar de ele ter frustrado Lucas naquela linha do tempo, tinha a sensação de que ainda teria lidar com aquele homem maligno.

"Não houve mais ataques de morcegos de olhos azuis brilhantes", disse ela com um sorriso.

Oliver pensou naquele momento terrível durante o encontro deles. Estavam caminhando pelos jardins... Esther falava sobre sua própria vida e família, sobre crescer em Nova Jersey na década de 1970, quando o ataque os interrompeu.

Oliver percebeu agora que eles nunca terminaram a conversa. Ele nunca mais teve a chance de descobrir quem era Esther Valentini antes de entrar na Escola de Videntes.

"Somos do mesmo bairro, não somos?" ele perguntou.

Ela pareceu surpresa por ele se lembrar. "Sim. Só com uns trinta anos de diferença".

"Isso não é estranho para você? Estar em um lugar que conhece tão bem, mas ver como é no futuro?"

"Depois da Escola de Videntes, nada mais me parece estranho", ela respondeu. "Só tenho medo de esbarrar em mim mesma por aí. Tenho certeza de que esse é o tipo de coisa que poderia fazer o mundo implodir".

Oliver ponderou suas palavras. Ele lembrou que Lucas tinha envenenado a mente do jovem Lucas por vários anos para fazê-lo fazer o que ele queria. "Eu acho que não seria tão ruim, desde que você não percebesse que é você mesma, se é que isso faz sentido?"

Ela cruzou os braços firmemente. "Prefiro não arriscar".

Oliver observou seu rosto ficar sério. Parecia estar escondendo algo.

"Você não está curiosa?" ele perguntou. "Para ver sua família? Para ver a si mesma?"

Ela balançou a cabeça. "Eu tenho sete irmãos, Oliver. Tudo o que fazíamos era brigar, especialmente porque eu era a aberração. E tudo que mamãe e papai faziam era discutir sobre mim, sobre o que havia de errado comigo". Sua voz ficou baixa e melancólica. "Estou melhor longe de tudo".

Oliver se sentiu mal por ela. Por mais terrível que fosse sua vida doméstica, ele tinha profunda compaixão por qualquer pessoa com dificuldades.

Pensou em como todas as crianças da escola se sentiam sozinhas, tiradas de suas famílias para desenvolver seus poderes. Na época, ele se perguntou por que nenhum deles parecia solitário ou com saudades de casa. Talvez fosse porque ninguém tinha vindo de lares felizes. Talvez houvesse alguma coisa em ser um Vidente que os diferenciasse dos demais, algo que preocupava os pais e tornava os lares infelizes.

Esther olhou para ele. "Seus pais verdadeiros. Tem certeza de que eles aceitarão você como você é?"

Oliver percebeu então que ele nem tinha pensado nisso. Eles o haviam abandonado, não foi? E se tivessem ficado tão aterrorizados com seu bebê peculiar que o haviam abandonado e fugido?

Mas então ele se lembrou das visões em que seus pais apareciam. Eles eram acolhedores. Gentis. Receptivos. Disseram que o amavam e que estariam sempre com ele, observando-o, guiando-o. Ele tinha certeza de que ficariam felizes em se reunirem.

Ou não tinha?

"Tenho certeza", disse ele. Mas, pela primeira vez, ele não tinha tanta certeza. E se toda aquela missão fosse mal concebida?

"E o que você fará quando os encontrar?" Esther acrescentou.

Oliver ponderou suas palavras. Tinha que haver algum bom motivo para que eles tivessem desistido dele quando bebê. Alguma razão pela qual eles nunca vieram buscá-lo. Alguma razão pela qual eles não estavam atualmente em sua vida.

Ele olhou para Esther. "Boa pergunta. Sinceramente, não sei".

Eles ficaram em silêncio, enquanto o trem sacolejava suavemente, atravessando a paisagem.

Oliver olhou pela janela quando a cidade histórica de Boston surgiu. Parecia maravilhosa, como saída de um filme. Sentiu uma onda de animação. Apesar de não saber o que faria quando visse seus pais verdadeiros, mal podia esperar para encontrá-los.

Nesse momento, surgiu uma voz pelo alto-falante.

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