A Atriz

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CAPÍTULO SETE


APÓS A DIFICULDADE para subir o morro, eles conseguiram tomar café. Geraldine sentou-se enquanto Joan foi para o balcão, voltou com dois cafés com leite fumegantes em copos protegidos com papelão. Ela se movia levemente na diagonal enquanto caminhava, como um carrinho de supermercado com problema em uma das rodas, tentando poupar seu frágil joelho.

Geraldine estava animada pelo protesto que ecoava da estação Brighton, como de costume. Ela gostava de movimento, de mudanças, da ideia de estar aqui agora, e depois em um lugar diferente em um período de quase uma hora.

Craig nunca entendeu isso. Ele era uma contradição – um homem caseiro que se tornou impaciente – mas que não ficava tranquilo em lugar nenhum. A locomoção era simplesmente o preço que se paga para ser infeliz em lugares diferentes. Embora, é claro, ser infeliz era sua emoção por escolha, a melodia constante, a chave de casa, as duas linhas no nível de espírito que sua pequena bolha de equilíbrio constantemente procurava. Se eu não estivesse infeliz, eu deveria estar, parecia ser a melodia. Ele morreu de ataque cardíaco durante uma partida de golfe, mas o ataque foi o resultado de um coração que estava muito pesado para a alma que o continha.

Ela não pensava em Craig há quase uma semana – praticamente um recorde. Provavelmente conversar com Mai foi o que tinha trazido-o a sua mente. A doçura que resulta na dor de dente.

Joan, sua vizinha de quadris largos com uma patológica urgência em gastar, estava tentando atrair sua atenção. Ela era respeitosa com Geraldine às vezes, de um modo irritante, mas pelo menos sua presença tornava a viagem menos solitária.

‘Está tão calada, mas me diga – o que Mai está achando da competição? Seria um grande papel, não seria? O de Deannah, eu quero dizer.’

Geraldine reconheceu o brilho nos olhos de Joan, a pequena luz da luxúria que veio dos seus olhos por estar próximo a uma celebridade. Ela tinha sentido isso na pele, anos atrás, quando seu rosto estava constantemente estampado nas capas de revistas e nas revistas de cinema – o modo em que homens e mulheres perfeitamente normais se sentiam diminuidos, inferiores, menores, mais apagados quando ela chegava nos lugares. Como mãe de Mai, ela sabia exatamente como isso seria no final de tal abnegação e tinha tentado o seu melhor nos últimos dois anos para manter Mai envolvida em uma noção de lugar mundano e comum.

‘É a publicidade,’ disse ela. ‘É algo que gira em torno de você sem você ter que fazer nada. É como quando você visita o circo – há muita manipulação por trás das cameras para manter os animais em ordem e para impedir os palhaços de cairem de suas bicicletas. Mas você nunca vê tudo o que que está por trás, vê? Publicidade é isso – uma máquina invisível que controla o mundo. E você nunca vê isso até ser atingida por isso, ou quando joga você fora.’

Joan recusou-se desviar do assunto. ‘É sempre muito bom incluir belas metáforas, minha jovem senhora, mas você não respondeu a minha pergunta, respondeu? A Mai quer o papel, ou não?’

Geraldine preferia gostar mais disso, ser mais persistente na busca por fofocas, porque ela não era muito bajuladora.

‘Eu gosto do papel da jovem,’ ela disse. ‘Você pode me falar mais a respeito. Agora, qual é a pergunta?’

Joan deu gentilmente um tapa no braço dela. ‘Você tem quarenta e cinco anos e ainda continua deslumbrante. Pode me provocar se quiser, mas você não pode escapar do fato de você e Mai serem a realeza para algumas pessoas.’

Geraldine apertou as extremidades da boca. ‘O que, eu e meus dois filmes? Meia dúzia de shows na TV e dois longas em cartaz no centro de Londres? Você precisa sair mais, Joany.’

‘É exatamente por isso que estamos aqui hoje, não é? Agora pare de me insultar e tome o seu café. Temos cinco minutos.’

A linha de Brighton até Londres passava pela janela dela como um filme que ela tinha visto uma dúzia de vezes. Ela tentava detector alterações na sua edição – um novo conjunto habitacional perto de Haywards Heath, uma rotatória adicional ao sul de East Croydon – mas a paisagem permanecia melancóloca como sempre. Ela precisava fugir, ver o sol, tirar um tempo para ela e sem o peso de Mai forçando-a para baixo. Mai nunca tinha pedido sua ajuda, desde seus dezesseis anos de idade. Mas Geraldine sabia que ela precisava da sua ajuda. Ela era uma garota com uma profissão que costuma usar você e depois o joga fora. Novidade era tudo, a menos que você pudesse provar que tinha algo mais a oferecer. Um talento para diverter, como muitos tinham ditto. Mai tinha talento. Ela tinha encontrado algo em seus pais e o levou para seu interior, digeriu isso e depois usou para criar ... o quê? O que exatamente Mai fez, e como ela e sua mãe poderiam ver isso? Ela deveria estar tão acostumada com a exposição do sentimento da filha que nada seria tão impactante. Ela deveria ter visto isso antes, cada mania, cada inflexão, cada aparência de entusiasmo ou tristeza.

Mas Mai continuava surpreendendo-a. Ela parecia encontrar um lugar dentro dela onde ela via, ouvia ou sentia alguma coisa ... e então descobria uma maneira de tornar isso visível de uma outra forma. Isso é arte. Algo que Geraldine nunca tinha tido verdadeiramente – com ela era apenas uma combinação de aparências e uma certa ousadia frágil que persuadiam pessoas a acreditar que ela estava atuando. Com Mai, era realmente como se ela tivesse sido abduzida por uma força alienígena tornando-se uma outra pessoa. Alguém que nem mesmo sua mãe poderia reconhecer.

Clapham Junction, a última parade antes do trem se arrastar sobre o rio até a estação Victoria, uma outra babilônia de aço e um milhão de passos.

‘Que horas vai se encontrar com ela?’ perguntou Joan, pegando seu casaco e sua bolsa.

‘Seis horas. Então temos oito horas para comprar coisas inúteis.’

‘Estou indo para a Oxford Street e cavalos selvagens não me tirarão daqui, a menos que um deles esteja sendo montado por Dominic West.’

‘Ele poderia ter sido meu.’

A boca de Joan se abriu mas ela percebeu em tempo, reconhecendo que ela tinha sido provocada mais uma vez. ‘Pshhh. Nos seus sonhos. Então me diga, o que vai dizer a Mai?’

Geraldine sorriu mas não disse nada e pegou sua bolsa. O que ela tinha que dizer a Mai era apenas para seus ouvidos. Era algo que ela esperava que fosse uma arma secreta na tentativa de Mai para ganhar o papel de Deannah.

Mas era um segredo que ela não poderia contar para ninguém.

Pedro tinha uma reunião e a sala suspirava aliviada. A tarde da sexta estava livre.

Ele ficou na frente do hall de entrada da escola com as mãos entrelaçadas diante dele como um pastor que trazia más notícias. ‘Esta tarde vou deixá-los mas retornaremos na segunda de manhã com novas ideias e energia renovada. Obrigado pelo trabalho que fizeram nesta primeira semana. Nós temos mais três semanas para construir o nosso castelo.’

Ele se virou e saiu com uma mulher morena de baixa estatura que alguém tinha dito ser sua assistente. A porta bateu atrás deles e alguém soltou uma comemoração silenciosa e depois todos começaram a arrumar suas coisas.

‘Ele está pronto para uma série de TV na Espanha,’ disse Lucy. ‘Primeiros dois episódios. Entre ele e Almodovar. Eu sei onde está o meu dinheiro.’

‘Por que eu sou sempre a última a saber das coisas?’ perguntou Mai.

‘Talvez porque você não se interessa,’ disse David, inclinando-se sobre ela. ‘Quero dizer no bom sentido.’

Enquanto os outros recolhiam seus pertences e saíam, Mai caminhou para o fundo do corredor e ligou para o Eric.

‘Estou livre agora para a entrevista. Você pode conseguir o encontro? Por favor, que seja em algum lugar central, aquecido.’

‘Eu ligarei de volta.’

Ela andou até a porta principal e a fechou atrás de Linda, que era a última pessoa a sair. Ela tinha uma assistente que carregava a sua bolsa e estava falando ao telefone enquanto ia à frente de Linda para o seu carro. Embora ela não tivesse feito um filme em cinco anos, Linda agia como a aristocrata Norma Desmond, uma rainha imperial. Enquanto uma atriz mais velha caminhava em direção ao portão da escola, Mai afastou-se da porta e tentou sair a pé, movendo seus quadris. Ela tinha encontrado um truque para manter as costas eretas e seus ombros para trás enquanto colocava um pé à frente do outro. Isso dava a ela a sensação de uma pessoa que sabia fazer, equilibrada e uma certa superioridade necessária, e se ela levantasse a cabeça para olhar para baixo de seu nariz, ela poderia adicionar uma pitada de desprezo, também.

 

O telefone dela tocou.

‘Uma hora, na sala de estar. Não é a mesma da Tower Bridge. É uma mulher chamada Desrée Delong. Por favor, não a faça de boba.’

‘Eu faria?’

‘Na primeira oportunidade.’

‘Como irei reconhecê-la?’

‘Não se preocupe, você é Mai Rose, ela te reconhecerá.’

Desrée Delong estava sentada à uma mesa próxima à parte inferior das escadas. Ela ergueu sua mão quando viu Mai passando pelo piso de mármore. Ainda bem que elas estavam a uma boa distância do piano branco que estava no final do ambiente. Mai odiava música ambiente. Isso fazia com que ela imaginasse um homem falso cantando músicas românticas clichés para mulheres entediadas que poderiam fazer com elas se sentissem melhores.

Miss Delong tinha cabelos lisos loiros contrastando com suas bochechas cor-de-rosa e sobrancelhas estrategicamente marrons, formando um contraponto colorido e bem planejado. Um piercing de prata na extremidade de sua pálpebra direita que tremulava cada vez que ela piscava, coisa que ela não fazia muito, visto que ela possuía o olhar mais direto e concentrado que Mai já tinha visto. Era como estar sendo acusada de uma falsidade que jamais poderia ser contestada.

Mai sentou-se, porém com mau pressentimento. Toda entrevista que ela encerrava fazia-a com que se sentisse culpada, tanto pelo fato de ter dissimulado ou porque ela tinha falado demais e estava prester a ferir o sentimento de alguém quando aquilo fosse publicado. Ela não tinha muita esperança no sucesso dessa entrevista quando olhava para as unhas pintadas metade cor-de-rosa com as pontas brancas da senhorita Delong.

Gentilezas. Prazer em vê-la. Bebidas. Já esteve aqui antes?

Depois de algum tempo a senhorita Delong colocou seu telephone sobre a mesa, e com seus longos dedos estendidos pressionou um botão de iniciar gravação. Um aplicativo foi acionado.

‘Então Mai, nosso leitores querem saber por que você abandonou o Terraço Amberside. Soubemos que houve tensões no set de gravação – isso é verdade?’

E então começou ...

‘Isso não é verdade, Desrée. Todos nós nos dávamos muito bem. Eu apenas sentia que depois de dois anos eu precisava tentar algo diferente, abrir um pouco mais o leque de possibilidades.’

‘Então você estava entediada?’

‘Não, não disse isso. E eu certamente não me sentia assim. Mas eu ainda sou uma jovem mulher e senti que queria tentar fazer alguns personagens diferentes em diferentes ... ambientes.’

Desrée parecia confusa.

‘Mas tudo é atuação, não é? Tudo é arte de representar. Você não estaria se arriscando demais por deixar um dos seriados mais populares para entrar no palco do teatro West End?’

‘Não se esqueça que eu já fiz o filme Tornado, então eu já estava dando os meus passos fora da TV.’

‘E quando será a estreia?’

Mai deu a ela a data. ‘Será daqui a três semanas,’ ela disse. ‘Não deveríamos estar falando sobre Deannah?’

‘É claro que sim. Você leu o livro?’

‘Naturalmente que sim, quem não o leu? Eu gostei demais da personagem Deannah. Ela é determinada e se divide em dois tipos de vida diferentes, uma vida normal e uma outra onde ela é aparentemente uma princesa.’

Desrée olhou-a de forma dissimulada. ‘Você deve estar acostumada com isso. Afinal, posso notar que você é uma pessoa forte e cheia de vida. E você tem vivido uma vida de princesa nestes últimos dois anos, não é mesmo?’

‘Não diria isso exatamente ...’

‘Mas você tinha um carro para leva-la ao estúdio, muitos privilégios e despesas pagas, alguns homens interessantes que queriam sair com você.’

Mai usou seu movimento dissimulado de desprezo, cabeça para trás, boca aberta, um falso brilho em seus olhos como um strass. ‘Eu ainda tenho que levantar cedo, preparar minhas refeiçoes, lavar minhas roupas. Não acredite em tudo que você lê nos jornais.’

‘Então por que nós devemos acreditar quando você diz que quer esse papel?’

Ah, o punhal preparado, a verdadeira intenção revelada.

‘Porque eu li o livro meses atrás e pensei que se eles fizessem dele um filme, eu gostaria de participar. Como a maioria das garotas, eu conheço Deannah e os seus anseios, suas dificuldades. Eu acredito que posso representá-la muito bem.’

Os olhos de Desrée mal se desviavam do rosto de Mai. Agora eles se voltaram para fora como se fossem ler uma nova parte do script, ou se estivessem recebendo instruções de uma central de controle. Ela sorriu enquanto retornava a ela o olhar. Mai sentiu um frio antes que ela falasse.

‘Parece que Beatrice Kirwan, a autora do livro, disse que gosta de Helena Cross. O que você acha disso?’

Mantenha o sorriso e o coloque dentro dos olhos. ‘Helena representaria bem Deannah. Uma loira, como todos podem notar, onde o personagem é definidamente – ‘

‘Ela poderia usar uma peruca.’

‘Ela também poderia perder peso. Mas será que ela vai conseguir?’

Desrée ficou chocada. Um olhar rápido para o aplicativo para se certificar de que ainda estava gravando.

‘Você está querendo dizer que ela está muito ... gorda para representar Deannah?’

Mai sorriu. ‘Eu não acho que eu disse isso. Nós estávamos conversando sobre as várias maneiras pelas quais os atores precisam mudar a aparência às vezes. Eu tive que cortar meu cabelo, você deve ter percebido.’

‘Não, realmente, não tinha notado.’

‘Ah, talvez você não estivesse trabalhando nas páginas de novelas por um tempo. Onde você estava antes, previsão do tempo ou horóscopo?’

‘Você não fez isso!’

‘Com certeza fiz. E me diverti também. Uma pequena senhora com as pontas dos dedos brancas e com os olhos ferinos.’

A mãe dela soltou um riso gutural.

Os outros clientes eram muito educados para olharem para ela mas eles devem ter reconhecido Mai – a família Rose do passado e do presente, desfrutando de uma tarde em um restaurante mediano de um hotel. O Novotel em Greenwich tinha uma equipe francesa de buffet, então a refeição era sempre boa.

‘Você realmente está conseguindo ter a imprensa ao seu lado. ‘Você não se preocupa com as repercussões?’

‘Agora estou, é claro. Eu não sei o que aconteceu comigo. Você já viu isso antes. Parece que eu tenho um lado masoquista­­ – ‘

‘Muito mais que um lado.’

‘ – e eu apenas vejo ... o que as pessoas veem, vermelho?’

‘Seus rostos ficam brancos, desce uma névoa negra, eles sentem azul e veem vermelho.’

‘Bem, todas as alternativas. Essa garota aparece com uma entrevista óbvia para zombar de mim ou para me derrubar ... e depois tenta me colocar contra Helena Cross, por quem eu já tive uma disputa. O pavio estava curto e eu explodi.’

‘E provavelmente será a detonação se ela escrever isso, “como disse ...”.’

‘De qualquer maneira já estou fora da competição. Você viu isso hoje?’

‘Não vou comprar o jornal mesmo se sua foto estiver lá. Eu espero que eu tenha lhe ensinado tudo, eu não sou uma mãe insistente.’

‘Bem, atualmente eu estou em quinto lugar. Deus abençoe aqueles fãs adolescentes do Amberside que ainda se lembram de mim.’

‘Então ainda não está fora. Não precisa muito para que você suba de posição.’

As sobremesas vieram e elas comeram. Na TV do bar da esquina estava passando uma partida de futebol. Além das altas janelas de vidro, pessoas que viajavam a trabalho se dirigiam à porta mais próxima da estação ferroviária com destino à partes mais distantes de Greenwich, contando os minutos para chegarem em casa e ficar com a família.

‘Você tem alguns conselhos sábios para me dar? Devo me rastejar atrás de alguém, ou apenas fingir que nada aconteceu? O que Geraldine Rose faria?’

A mãe dela estava focada no prato, um sorriso apareceu nos cantos de sua boca. Finalmente ela olhou para cima e levantou as sobrancelhas uma vez. Mai se lembrou novamente de como sua mãe era adorável e esperou que houvesse nela um reflexo da beleza dela.

‘Seu pai costumava dizer que eu não confiava nos homens, exceto ele, é claro e embora ela não fizesse nada com relação a filmes ou teatro, ele era muito inteligente quanto o assunto era manipular pessoas poderosas.’

A profissão do seu pai sempre foi algo obscure para Mai, a não ser o fato de que se relacionava com empresa de petróleo. Às vezes ele estava na África ou no Oriente Médio. Isso envolvia muitas reuniões e conversas por telephone.

Geraldine limpou sua boca.

‘Então, ao longo dos anos, quando eu ainda era jovem e trabalhava mais no teatro do que na televisão, eu costumava escrever um diário. Um longo diário.’

Mai inclinou-se para frente, interessada. O barulho do restaurante diminuiu em volta delas. Atriz em ascensão more de curiosidade enquanto sua mãe conta uma velha história.

‘O que você quer dizer?’ ela perguntou.

‘Você se lembra quando o Daily Paper inaugurou há um ano?’

‘Não realmente. Eu estava nas Filipinas gravando, se não me engano.’

‘Você estava. Você não se lembra do rebuliço em torno do editor escolhido, então.’

Mai tentou se lembrar do nome, escondido no recess da sua memória como um odor que não se pode identificar. ‘Birkbeck. Como a faculdade.’

‘Sim, infelizmente. Danny Birkbeck. Que barulho é esse?’

Mai olhou para a sua bolsa. Era o seu telefone. Uma chamada de alguém desconhecido. Mas o fato de um desconhecido ter o seu número era interessante.

‘Aguarde um minuto, mãe. Espere um pouco.’

Ela se levantou e saiu para o hall de entrada e parou na porta de vidro giratória enquanto ela pressionava o botão para responder à chamada.

‘Alô?’

‘Senhorita Rose? Aqui é o Mark daquela noite.’

‘Houve várias outras noites.’

‘Do show? The Gastric Band?’

Havia duas mesas com dois computadores Mac da Apple disponíveis para os hóspedes do hotel no hall de entrada. Mai sentou-se em uma das cadeiras. Um homem com barba e um casaco surrado veio para perto da porta e a encarou com um olhar severo. Ela se virou.

‘Você não diria seu nome depois de tentar me bater. Alguma coisa mudou?’

Uma pequena risada de arrependimento; ela se lembrou de como isso tinha iluminado os cantos dos olhos dele. ‘Sim, parece um pouco estranho e eu não quero que você me leve a mal ... ‘

‘Então o que é?’

‘Bem, realmente, estou ligando em nome de Alfie.’

Ela fez uma pausa e olhou para o homem de casaco surrado do lado de fora. Ele sorriu com adoração para ela, deu um escandaloso sinal de ok com o polegar e se afastou.

‘Sim, é estranho. Então ele tem pessoas fazendo súplicas por ele agora. Ele subiu na vida.’

‘Ele está muito chateado, para ser honesto. Ele acha que você saiu com uma má impressão do que aconteceu naquela noite.’

‘Você estava lá? Escondido em algum lugar?’

‘Bem, não.’

‘Então você não tem ideia de qual foi a impressão que eu tive quando saí, tem?’

‘Somente a que eles me contaram. Alguma coisa sobre duas garotas no camarim.’

‘Eu fiquei chocada, te digo, chocada. Banda de Rock, camarim, garotas ... foi tão surpreendente. Eu não esperava por isso. Você pode dizer a Alfie que ele pode ficar com o carro, com a vaidade dele e que ele ... bem, você mesmo pode completar a frase dessa sentença.’

‘Eu darei um final melhor.’

Uma outra pausa. Ela disse, ‘Seu trabalho deve ser muito ruim. Eu espero que as perspectivas lhe sejam melhores.’

‘Como todo trabalho, mas isso não é um trabalho, são as pessoas com quem você precisa trabalhar. Eu direi a Alfie que você enviou muitas felicidades.’

A mãe dela tinha terminado seu vinho e estava observando os outros clientes. Mai sentou-se sem compreender o que ela estava sentindo – talvez nojo, surpresa, talvez uma confusão e algum tipo de formigamento por algo que ela não conseguia definir. O que era aquilo.

 

Ela disse, ‘Eu terminei com Mark – quero dizer Alfie.’

‘O baterista? Eu pensei que vocês estivessem dando um tempo. De quem foi a culpa?’

‘Minha.’

‘Oh?’

‘Sim, por ser estúpida e não perceber antes. Parece que eu atraio homens que estão mais interessados em cuidar de si mesmos do que em reparar em mim. Por que será?’

‘Se nós desconsiderarmos a língua afiada, a atitude antisocial, a mentalidade única e o desejo de chocar, não tenho ideia do que seria.’ ela completou, ‘e quem é Mark?’

Mai deu a ela um ‘sorriso irônico’ e terminou seu vinho.

‘Ninguém. Enfim, antes de me ligarem você ia me contar algo tão importante que abalaria a Terra. Eu quero que a Terra seja abalada agora, por favor.’

‘Ok, eu estava falando sobre ser uma jovem atriz, como você mas um pouco mais talentosa, fazendo uma turnê periódica. Isso ou uma pantomima. Eu costumava andar por aí com uma outra garota que era um pouco mais jovem que eu, Jenny. Parece que mais tarde se casou com um médico. Casou-se com o estresse. Enfim, havia um jovem revisor que costumava fazer a cobertura de alguns dos menores teatros de Londres ... ‘

‘Ah, deixe-me ver onde podemos chegar. Danny mesmo nome da faculdade Birkbeck?’

‘Isso mesmo. Ele fez uma crítica muito boa de Jenny, eles ficaram juntos e de repente, nove meses depois ela estava casada com outra pessoa, um médico que parecia não se importar – ou talvez não se preocupasse. E um bebê veio ao mundo.’

‘Será que Birkbeck se ofereceu para se casar com ela? Ou será que Jenny o rejeitou por causa do Dr. Estresse?’

‘Você não entendeu, minha filha. O senhor Birkbeck, é um intocável editor do Daily Paper, e não abandonaria sua esposa e seus dois filhos. Ele a deixou mais ou menos de lado e a ameaçou com uma péssima crítica se ela pronunciasse uma sílaba sequer sobre o assunto.’

‘Então isso foi uma chantagem, mas não como conhecemos.’

‘Sim, ele a condenou a uma vida de assuntos médicos com cheiro de antissépticos. Coitada.’

Mãe e filha se olharam por um instante sem falarem nada. Mai questionava-se se o que ela estava pensando sobre seu futuro, sobre o seu caminho a seguir pudesse ser um reflex dos pensamentos da sua mãe. Ou se ela estava criando seu próprio caminho.

Então a mãe dela disse, ‘Você pode fazer o que quiser, Mai. E você deve fazer o que quer. Não permita que outros governem sua vida. Você não chegará a lugar algum assim. Encontre o que há dentro de você e mostre isso. Seja você mesma, mesmo quando estiver fingindo ser outra pessoa. Não há maior satisfação do que ser capaz de se colocar no lugar de outra pessoa sendo você mesma.’

Ela acompanhou sua mãe até o trem com destino à estação Victoria e depois andou até sua casa, incógnita pelas ruas escuras, feliz por estar do lado de fora e não ser reconhecida. A casa grande estava calma, e quando ela abriu a porta e foi para a sala, ela viu Billie assistindo à televisão.

‘Pensei que você já tivesse ido embora.’

‘Coloquei a louça na lavadora e achei que fosse melhor esperar terminar, senão você não iria saber se estava limpa.’

‘Ok, obrigada. Eu não quero atrapalhar suas noites às sextas-feiras, como aconteceu hoje. Você também tem uma vida lá fora, não tem?’

‘Defina vida.’

‘Amigos, família, sua casa ...’

‘Vá em frente. Eu direi quando você acertar alguma coisa.’

Mai negou com a cabeça. ‘Você está fazendo com que eu me sinta mal agora. Você deve sair comigo um dia na próxima semana, quando eu não estiver tão cansada.’

Billie foi para a cozinha desligou a máquina e colocou a louça em uma tigela branca. Depois ela pegou seu suéter que estava pendurado no encosto da cadeira e o vestiu.

‘Como está sua mãe? Gostaria de me encontrar com ela qualquer dia.’

Mai tirou seu casaco e sentou-se, de repente a sensação de peso de toda aquela semana jogou-a no sofá. ‘Mãe é mãe. Ela quer o melhor para mim mas nenhuma de nós sabemos o que é o melhor.’

Billie voltou para a sala. ‘Você irá resolver isso. Como eu disse outro dia, você tem o mundo aos seus pés. Então você conseguirá fazer o que achar ser o certo. Essa é a minha filosofia. Na verdade, eu estava pensando sobre isso, eu devo ter emprestado isso dos hippies, então o que eu acho? Confie em sua própria opinião – é o melhor a fazer.’

Mai fez um ruído com os lábios. ‘Fazer isso só me trará problemas. Meu diretor me odeia, já terminei com meu namorado, o público prefere uma loira de cabeça oca e não eu, e eu acabei de explodir minha carreira por causa de uma entrevista a uma jornalista maliciosa para uma revista popular que poderia ter me ajudado. Minha opinião é uma droga.’

Billie parou na porta, colocando as luvas.

‘Bem, você tem dois cães adoráveis.’

‘Seria melhor se eu pudesse me lembrar dos nomes deles.’

A porta se fechou atrás de Billie e Mai fixou os olhos na tela em branco da televisão, estava muito cansada para pensar no que fazer. O telefone dela recebeu uma notificação e ela o pegou. Uma mensagem de texto e uma notificação de que ela tinha uma mensagem de voz na caixa postal. A mensagem dizia, Saudades de você. Apareça.

Alfie, acionando toda a potência do seu charme.

Ela verificou as mensagens de voz e apagou as quatro primeiras. A quinta era interessante.

‘Oi, é o Mark, intermediador do Alfie, mas não estou ligando para isso. Estou dando uma passada aqui porque talvez não nos encontremos mais. Eu gostei da nossa conversa naquele dia, gostei do fato de você me acompanhar nas minhas respostas rápidas e nas minhas piadas obscuras. Pensei que você pudesse querer conversar novamente. Ligue ou mande uma mensagem neste número. Oh, parece um pouco controlador. Por favor.’

Ela tirou o telefone dos ouvidos e olhou para a tela.

Atriz em ascensão sofre a agonia da indecisão. Por cerca de cinco segundos.

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