A Atriz

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‘Mai, não pense ...’

Ela parou mas não conseguia olhar para ele. Lembre-se o que é esse sentimento, ela disse a si mesma. A pressão por trás dos seus olhos, o aperto na garganta e a tradicional aceleração em seu peito. A raiva consciente e gelada na parte de trás da sua cabeça. O que parece? Prossiga, considere, lembre-se.

‘Não há uma boa explicação possível, há?’ ela disse, olhando fixamente para uma sinalização de saída de emergência, um homem correndo em uma estúpida placa verde. Por que não é vermelha? O verde aparece melhor durante um incêndio ... ?

‘Por favor, Mai ... Não sou estúpido. Eu sabia que você poderia aparecer nos bastidores no final do show. Além do mais, eu sou o único que tenho uma namorada, então eu estava apenas­­ – ‘

‘Pegando uma carona? Muito bom.’

A mão dele soltou o braço dela como se ele tivesse sido atingido repentinamente por uma descarga elétrica. ‘Você pode acreditar em mim ou não, se quiser. Eu não tenho que me explicar para você.’

‘Verdade. Não há a necessidade de explicações.’

‘Você não tem sido muito amigável ultimamente.’

Agora ela não poderia deixar de olhá-lo – seu rosto longo, cabelos suados para trás, olhos com o contorno vermelho pelas luzes do palco. A vez dele de olhar, talvez constrangido.

‘Amigável como uma pessoa amigável deve ser. Não necessariamente rindo o tempo todo.’

Ele apertou a mandíbula. ‘Eu ando um pouco estressado, se é que não percebeu e se você conseguir olhar para além do seu próprio umbigo.’

A raiva subiu-lhe de suas entranhas.

‘Você é um egoísta, covarde, você não vale nada. Você teve mais incentivo de mim do que eu tive de você. Quem comprou aquele equipamento que você espancou essa noite? Quem deu entrada para pagar aquela lata velha que você chama de carro?’

‘Ah sim, você é tão respeitável. Porque sua carreira vale mais do que a minha, não é? Então você pode me dar esmolas.’

‘Eram esmolas? Eu estava ajudando você a se estabilizar para que você não tivesse que se preocupar. Acontece que eu era uma instituição de caridade.’

‘Chame do que você quiser. Você dizia que sua ajuda era livre de condições, mas elas estavam lá, não é?’

Ela olhou para ele, sem entender. Era isso o que ele tinha pensado? Que havia um preço a pagar pela generosidade dela? Ela tinha percebido que não tinha entendido nada. Ela se sentia como uma missionária que tinha acabado de descobrir que a tribo tinha uma visão de valores diferentes da dela e que eles eram provavelmente perigosos.

Ela disse, ‘Inacreditável,’ e em seguida saiu. Dois homens que estavam carregando guitarras olharam para ela e depois olharam para o lado. Ela carregava uma raiva como um odor que fazia com que as pessoas se afastassem. Ela pensou, dane-se ele, ele precisa de mim mais do que eu preciso dele. Ele pode ficar com aquelas garotas se quiser. Ela também pensou, surpreendendo a si mesma, segure-se, não deixe que percebam, as pessoas estão observando.

Ela diminuiu o passo, levantou os ombros e ergueu a cabeça. Respirou profundamente e segurou as lágrimas dos seus olhos. Empurrou as portas para dentro do bar, onde Stefan estava encostado de lado, com a boca levemente aberta. Ela se sentou do lado oposto e depois de um momento ele abriu seus olhos pálidos olhando para ela. Ele engoliu a saliva e franziu a testa.

‘Pronta para voltar ao planeta Terra?’

‘Não mesmo.’

Stefan sentou-se em estado de alerta. ‘O que aconteceu? Sua aparência está péssima, desculpe-me por dizer. Péssima é um eufemismo.’

‘Você precisa me animar, seria bom. Você chamou o táxi?’

Ele apontou para fora da janela. ‘Motor em funcionamento. Você está bem?’

Ela esboçou um sorriso tímido. ‘A vida é um grande aprendizado, não é mesmo? Não estou gostando das lições atuais.’

Stefan se levantou e estendeu sua mão para ela. Eles se dirigiram para a porta de saída. O ar frio era como um tapa na cara, clareando suas ideias.

Ela disse, ‘Não repare se eu chorar no táxi. Eu apenas percebi que não posso vive em paz e eu estou triste por isso, ok?’

‘Paz não existe. Procure por algo mais simples da próxima vez. O fim do Europop, por exemplo.’

Ela sorriu apesar de sua condição. ‘Canções de amor suecas nunca mais.’

Stefan olhou-a indignado. ‘Deixe o Abba em paz. Eles governam meu mundo.’




CAPÍTULO SEIS


MAI VEIO CAMBALEANDO para for a do quarto, viu Billie comendo cereal e assistindo ao programa matinal na TV. Sete horas da manhã e o mundo já estava conspirando contra ela para que se sentisse desinformada. Mal tinha amanhecido mas a rispidez e o barulho da cidade já tinham começado.

‘Não ouvi você entrar. Você já saiu ou isso é apenas um aquecimento?’

‘Assim que eu terminar isso. Trouxe o meu cereal, espero que não se importe. Só um pouco de leite.’

‘Leite é caro. Eu talvez tenha que descontar do seu pagamento. Novidades?’

‘Veja.’

Como se tivesse sido preparado, a imagem mudou para mostrar em ângulo estendido dois apresentadores, um homem de cabelos grisalhos e uma mulher loira, ambos com dentes de sobra na boca, um sofá em destaque à direita deles.

Helena Cross.

Loira e com sorriso forçado, pernas longas esticadas para frente, com um dos braços apoiado no sofá.

‘Oh meu Deus, a noiva do Frankenstein.’

As perguntas começaram – como ela estava? Como foi trabalhar com cinco membros de esquerda do Parlamento naquela rotina de dança? O que ela fará no futuro próximo?

E então, o objetivo real: Nós soubemos que você está liderando a pesquisa do Daily Paper para encontrar uma estrela para o papel de Deannah. E como você se sente com isso?

... é uma honra, seria uma grande oportunidade, pois trata-se de um grande papel em um grande filme, poderia ser o início de uma carreira profissional para qualquer um que conseguisse o papel ...

Billie: ‘Início de carreira profissional?’

‘Inglês é seu segundo idioma, depois da enganação.’

Como você encara a concorrência? Afinal, existem muitas jovens atrizes talentosas lá for a neste momento.

Eu me sinto apenas honrada por estar participando.

Mas você deve ter alguma ideia ...

Bem, Ginny Blake e Deborah Cash estão indo muito bem nas pesquisas. Ambas seriam ótimas para o pael, elas duas são jovens e muito talentosas.

E Mai Rose? Há muito apoio para ela.

Claro, ela também é muito talentosa, mas eu acho que ela está muito ocupada com sua nova peça no momento, e é óbvio que o filme de ação em que participa será lançado em breve. Eu a encontrei numa noite dessas, na verdade. Ouvi dizer que ela está muito musculosa por causa das cenas de ação.

Oh, então vocês se conhecem?

Sim, somos amigas há muito tempo. Na verdade, ela pegou o meu lugar no Terraço Amberside quando eu tive que sair. Ela fez muito bem.

Então ela estará com você na competição?

Uma risada, tocando com a mão no braço do apresentador.

Tenho certeza que ela não irá se envolver. Ela está com toda a sua carreira muito bem planejada.

O que virá depois para Helena Cross? Quero dizer, se você não ganhar o papel?

Oh, eu não fico pensando em um future distante. Não fico planejando, calculando minha carreira como uma garota. Deixo que meu assessor faça o trabalho sujo!

Os entrevistadores a agradeceram e mudaram para a parte das notícias de fofocas do entretenimento ...

Por falar em Mai Rose, soubemos de uma fofoca ontem tarde da noite de que ela terminou seu longo relacionamento com Alfie Cox, o baterista da nova banda The Gastric Band. Fontes disseram que houve uma briga acalorada entre os dois nos bastidores e depois, a senhorita Rose saiu secretamente com um homem muito gato loiro e sarado ...

‘Desligue.’

Billie encontrou o controle remote e desligou a TV. Ela moveu sua cabeça logo acima da parte de trás do sofa e olhou para Mai, passando os olhos sobre o rosto de Mai como se tivesse procurando por algum dano físico.

Mai sentiu frio. O aquecedor não estava ligado por muito tempo e o inverno estava começando a se intensificar, mas o frio era mais profundo do que qualquer sensação física. Parecia que o gelo estava começando a penetrar suas veias, diminuindo sua habilidade de sentir, provar e tocar. Ela estava se fechando em resposta ao que o mundo parecia atentar contra ela. Ela se perguntava se ela tinha escolhido esta resposta ao invés da raiva, medo ou frustração. Por que frio? Por que a frieza do coração?

 

Billie disse, ‘Você quer que eu faça algo para você? Eu posso ficar por apenas meia hora – George está precisando de mim esta manhã.’

‘Não,’ disse Mai. ‘Cuide dos cães e pode ir.’

‘Não se preocupe com aquela imbecil. Toda essa autopromoção sairá pela culatra.’

‘Vá.’

Billie levantou-se, ouvindo o sentimento por trás das palavras de Mai. Ela levou a tigela de cereal para a cozinha e depois voltou e ficou em pé na porta.

‘Vou cozinhas esta noite. Deixarei alguma coisa pronta para você. Saboroso e nutritivo. Sem fruta.’

Mai acenou com a cabeça em sinal de concordância e seguiu para o banheiro. Talvez um banho pudesse aquecê-la. Depois ela poderia passar um tempo planejando seu dia. Pensando e preparando alguma coisa.

Primeiro ítem de sua agenda, banho.

Segundo ítem, telefonar para Eric.

Fim do segundo ato – Mai teve que escutar uma fala longa e intense ao mesmo tempo que demonstrava uma paixão idealista. O ator era experiente e tinha uma boa voz, então não era difícil. O nome dele era David – homem de classe media, bom e estável, cabelo penteado para trás, quase quarenta anos. Piscava para ela de tempo em tempo como se para dizer, estou do seu lado em toda esta palhaçada.

Nesta manhã Pedro decidiu caminhar para trás e ficar no fundo da sala. Ele parecia mais interessado em ouvir do que em assistir. Ele também apertava seus lábios. Mai estava ouvindo David enquanto observava Pedro.

Eles repassaram lentamente as últimas cinco páginas do Ato até satisfazer as funções críticas de Pedro o suficiente para que eles pudessem fazer uma pausa para o almoço. David pegou-a pelo braço de forma amigável.

‘Fale um pouco. Segunda-feira sua voz estava ótima, muito forte. Hoje soou um pouco como piano. Ele pegará no seu pé até que você equilibre isso.’

‘Obrigada. Estou com outras coisas em minha mente.’

‘Coloque sua mente no ensaio, querida, pelo menos enquanto estiver aqui.’

‘Desculpe.’

‘Sem problema. Oh, e esteja certa de que você irá destruir aquela imbecil.’

Mai deu um sorriso forçado – o primeiro sentimento honesto que ela sentiu naquela manhã.

Antes que começassem o trabalho da parte da tarde, Pedro veio até ela e a levou para fora. Ele caminhou com ela pelos portões da escola e parou perto dela enquando observavam o movimento do tráfego e de pedestres. Ele colocou sua mão no ombro dela e falou calmamente.

‘Esta tarde vamos dar início ao Terceiro Ato. Trata-se do eixo central da peça. Podemos ver o desespero da mulher mais velha em busca de um amor perdido, e a traição do seu amante quando ele se dirige a você. Mai, você não tem muito o que fazer neste Ato, mas você deve estar lá constantemente, como uma sombra que sustenta todos os outros personagens. A felicidade de muitos deles está nas suas mãos – o escritor condenado que ama você, mas que por sua vez é amado por outra; o escritor mais velho que está começando a amar você, a mulher que deveria amá-lo. E você é uma garota do interior, ingênua e inquieta para aprender, que caiu na armadilha do sonho da fama e do sucesso.’

‘Pedro, o que você quer que eu faça?’

‘You are the centre of this play. Esta tarde eu quero que você mostre suas falas, é claro, mas eu quero que você deixe os outros perceberem que você está assistindo. Hoje eles estarão atuando para ganhar o seu amor, e você deve estar lá, quando olharem para você.’

‘Isso é tudo?’

‘Não, não é tudo. De amanhã em diante eu quero que você se vista de acordo com sua personagem. Chega de jeans e moletons largos. Uma saia, talvez botas e uma blusa simples. Esteja dentro dessa garota, e se torne desejável para aqueles que a desejam. Eu sei que você está envolvida nessa competição estúpida dos jornais. Você tem que ganhar o amor de milhares de pessoas que não te conhecem. Mas à partir de amanhã, você deve ganhar o amor de todos nós aqui que conhecemos você.’

Ela sentiu uma estranha sensação em suas entranhas, uma necessidade de fazer esse trabalho. Ela tinha entendido o que ele quis dizer embora houvesse parte do seu intelecto que se rebelava contra isso. Ela tinha ganhado os corações de milhões de pessoas na TV – mas eram as histórias que a colocavam em problemas e dificuldades que a mantinha viva. Ela apenas tinha que aparecer. Pedro estava querendo que ela ganhasse o mesmo amor, que se colocasse dentro da personagem – algo que nunca ninguém tinha pedido que ela fizesse. Começaram a surgir ideias na sua cabeça. Ela sorriu porque sabia que tinha sido acionada por um desafio.

A tarde pertencia principalmente a Linda, uma mulher que Mai tinha visto na televisão por muitos anos mas que também tinha tido um longo estágio na sua carreira. Mai observava como ela ouvia os outros personagens – o seu filho, o jovem homem a quem ela queria como amante, aqueles que dependiam dela para viver. Ela viu como ela se manteve imóvel e deixou que sua voz fizesse o trabalho. Ela sabia que mais a frente no Ato, a personagem se tornaria emotiva e perturbada e queria ver como Linda iria conduzir a mudança de um estágio muito físico – para outro de se jogar aos pés do seu amante em desespero. E depois revelar à plateia que isso tudo era apenas um modo de conseguir tê-lo de volta.

Ela também percebeu que os outros atores estavam assistindo atentamente. Ela tinha o carisma e a força adequados para o seu papel. Mai disse a si mesma, assista e aprenda. E pratique sua voz. Os olhos, a voz e depois os gestos mínimos para o máximo impacto.

Eric tinha escolhido um bar no distrito comercial de South Bank que tinha uma bela vista para a Tower Bridge, que estava iluminada como um cartão postal gigante à noite.

Ele tinha trocado sua jaqueta esporte bege por um elegante terno e estava comendo amendoim.

‘Você já reparou como eles deixam seu hálito ruim?’ disse ela, deslizando pelo assento indo para perto dele.

‘Você já reparou há quanto tempo eu estou te esperando? Você disse, seis horas.’

‘Surgiu um imprevisto que se chama trabalho.’

‘Peguei um coquetel de vinho branco.’ Ele fez um gesto apontando para uma taça com um líquido amarelo.

‘Vinho branco? Parece suco de banana.’

Ele ignorou o comentário dela. ‘Então isso é por causa da Enquete para Deannah, parece que é assim que eles estão começando a chamar isso. Terá uma marca e um logotipo na próxima semana. O que está acontecendo?’

‘Ninguém do jornal me disse nada ainda. Você está me preservando ou algo parecido? Eu preciso sair daqui e conversar com as pessoas, não é? Helena Cross estava na TV esta manhã. O que eu preciso fazer para conseguir alguma visibilidade aqui?’

Eric olhou para seus olhos caídos, como se o absurdo daquela conversa tivesse mergulhado em águas mais profundas. Ele se abaixou e pegou uma cópia do jornal Daily Paper e jogou-o sobre a mesa.

‘Você nem viu isso? É de hoje.’

Mai folheou até encontrar a seção de entretenimento. Duas páginas mostravam Mai de perfil à esquerda olhando para Helena Cross que estava à direita olhando-a de volta. As fotos tinham sido fortemente editadas pelo Photoshop para retirar os planos de fundo e colocar sobrancelhas franzidas em cada uma delas.

Eric disse, ‘Pelo jeito você já está lá, mostrando todo o seu poder. Aliás, o que significa isso sobre você e Alfie? Está certo?’

‘Quer dizer alguma coisa,’ ela disse. ‘Eu estou exatamente tentando descobrir o quê. Onde eles conseguiram essas fotos? Eu pareço uma mulher das cavernas com essas sobrancelhas falsas. O que eu digo na entrevista?’

‘Que você está extremamente entusiasmada, que deseja boa sorte a todas e que vença a melhor. Eles procuraram alguma coisa sobre você e Helena disputarem o mesmo papel no Terraço Amberside. Diz que ela ainda está ferida sobre o injusto processo para a formação do elenco naquele projeto. E que este será diferente, será por meio de votação por parte do grande público inglês e assim por diante.’

‘Pareço bem aqui?’

‘Há tanta coisa que eu posso fazer com o material que você me dá,’ ele disse. ‘Talvez você devesse voltar com o jovem Ringo Starr e fazer tudo de forma apaixonada. Aí você vai assistir ao próximo filme de Helena, uma matéria especial na Hello! onde ela mostra sua linda casa e o novo homem da sua vida, alguma coisa nas revistas de adolescentes também. Jackie ainda está em cartaz?’

Mai fechou os olhos. ‘Posso pensar grande pelo menos uma vez?’

‘O que – entrevista no Financial Times?’

‘Não sei ... algo um pouco maior, para poder obter votos dos adultos. Eu ainda tenho muitos fãs adolescentes por causa do Terraço Amberside.’

‘Se é que eles ainda se lembram de você.’

‘Obrigada. Mas eu quero ampliar minha lista de interessados. Isso também ajudaria o jornal se a competição tivesse um pouco mais de ... qual é a palavra?’

‘Gravidade.’

‘Seriedade. É isso. Eles têm essas coisas nas revistas de fins de semana – Dez coisas que eu sei, Quinze coisas que eu aprendi.’

‘Pensei em uma meia dúzia de coisas que poderiam ser uma boa ideia para fazer. Eu sei o que quer dizer. Eu tenho um informante no Indy. Vou ver se eu posso fazer alguma coisa.’

‘Então vamos lá. Você pode até dizer que a ideia foi sua.’

‘Enquanto isso, tcharan, tenho algo em vista para amanhã. Um dos programas semanais da TV.’

Mai suspirou. ‘Odeio essas coisas. Posso estar ocupada? Indisposta?’

‘Não se você quiser ganhar. Grande audiência, fascinada por fofocas. Você terá sua foto na capa.’

‘Oh ótimo. Amanhã que horas?’

‘Me ligue quande estiver livre. Eles são flexíveis.’

‘Claro que são. Você não sabia que sou uma grande estrela?’

O bar estava começando a lotar e Eric terminou seu drink mas parecia inquieto.

‘Algo mais? Eu tenho uma vida privada, você sabe.’

Mai colocou sua mão na gola do terno dele.

‘Alcoólicos anônimos? Happy Hour no Ritz?’

‘A primeira noite de Stephen no Teatro Donmar. Vou encontrar a mãe dele lá. Primeira vez que iremos conversar em quase dois anos. Tive que ver o sangrento Samuel Beckett para poder falar com ela novamente. Quão irônico é isso?’

‘Não estou dizendo nada.’

‘Exatamente.’

Ela podia sentir o cheiro antes de chegar à porta. Alguma carne com um toque oriental. Ela tinha tido uma rápida lembrança – quando criança, antes de seu pai falecer, algumas coisas espalhadas na mesa da cozinha, potes cobertos com papel alumínio, molho de laranja denso. Ela tinha mais ou menos cinco anos de idade e seu pai tinha convidado alguém para jantar sem avisar Geraldine. Então, comida chinesa para viagem, a primeira que Mai tinha visto – ou sentido. O homem se sentou na sala em frente ao calor da lareira, lenhas estalando, Geraldine colocando o molho nos pratos, olhos fixos, boca apertada, uma atmosfera ruim na casa.

Foi embora. Ela nunca soube quem era esse homem e nunca mais o viu nem teve notícia.

Dentro, o aroma tomava conta. Ela entrou dentro da cozinha e tirou seu cachecol, empurrando os cães com seu joelho.

‘Suponho que seja bife com anis estrelado.’

Billie disse, ‘Não brigue com Jamie e com Heston. Eles vieram correndo para dentro de casa e derrubaram azeite de oliva e espalharam por todo lado. Você está com fome?’

‘E agora na expectativa. Dê-me cinco minutos.’

Ela se trocou e lavou o rosto. Depois voltou com seu roupão e pensou no que iria vestir para satisfazer Pedro no dia seguinte. Ela tinha uma saia que, com alguma imaginação, poderia ser descrita vagamente como algo adequado. Mas o mais próximo que ela poderia conseguir de uma blusa simples era algo que uma das seguidoras da Stella McCartney tinha lhe dado. Era uma blusa de mangas curtas com um padrão florido em amarelo com fundo branco e colarinho branco. Se os camponeses gostam de flores, então isso era antiquado bem ao estilo camponês.

 

Billie tinha colocado à mesa, que dificilmente era utilizada, no final da sala de jantar. A TV estava ligada com o volume baixo mas estava mostrando grupos de pessoas vestidas com sobretudo em confronto. Provavelmente um documentário sobre as relações trabalhistas – a frase que sua mãe usava para descrever qualquer tipo de programa de não-ficção que não estivesse diretamente relacionado com as artes.

Billie trouxe dois pratos fumegantes de cozido de carne à mesa. Mai acrescentou vegetais e molho.

‘Eu fiz compras,’ disse Billie. ‘Deixei o recibo na cozinha. Tinha uma fila absurda no Sainsburys esta manhã.’

Mai achou que ela estava nervosa. Essa era a primeira vez que Billie tinha realmente cozinhado para elas duas e isso era como se ela tivesse passado dos limites. Ela tinha a estranha sensação de ter sido laçada e trazida para perto de alguma coisa que ela não sabia o que era. Domesticidade? Amizade?

A carne estava derretendo e divertidamente temperada, o anis estrelado estava dando o toque oriental. Ela pegou o ultimo pedaço de pão do cesto e limpou o prato.

‘Fale para o Jamie que eu gostei.’

‘Estava bom? Não estava muito salgado?’

‘Estava ótimo.’

Um barulho vindo do quarto.

‘Seu telefone.’

Mai acenou demonstrando desinteresse. ‘Eles deixarão mensagem.’

Ela cochilou no sofa enquanto Billie lavou a louça – ela tinha insistido. O aroma da carne ainda continuava. Mai lembrou-se do rosto da sua mãe, linda, cabelos escuros, sobrancelhas arqueadas e uma pequena covinha do meio do seu queixo. Sempre com uma pitada de rosa nas bochechas que nunca foi artificial, apenas seu tom natural de pele. Qual era a real semelhança entre seus pais? Sua mãe estava sempre fora, trabalhando, e tinha a babá – uma garota das Filipinas que preparava estranhas comidas orientais, ela e Jake. Peixe e batatas fritas eram coisas do outro mundo, assim como a lula era para seus colegas de escola. Havia sempre molhos fervendo nos pratos.

O pai dela estava frequentemente em casa com eles. Ela não tinha nenhuma outra memória visual dele, exceto o álbum de fotografias da família, mas ela sentia que ele era fisicamente forte, um homem dinâmico, alguém que poderia enganar uma linda e jovem atriz. Ele era inquieto – levava-os ao cinema para uma estravagância, ou a algum parque temático em algum lugar. Jake correria para os brinquedos de girar e os de perigosos de velocidade, ela seguraria a mão de seu papai e assistiria Jake se comportar como um personagem indestrutível de desenho animado. Não era de se admirar que ele acabaria entrando para o exército.

E então, seu pai se foi.

Geraldine vestida de luto. Muitas pessoas na casa. Diziam para que ela e Jake ficassem quietos mas eram tratados gentilmente pelos adultos. Ela não se lembrava de ter ido à igreja mas havia fotografias dela, de Jake e de Geraldine no meio dos enlutados, próximo à uma porta gótica. A imprensa – estava sempre lá, sempre em cima, atrás de uma sórdida oportunidade. Ela não sabia por que Geraldine mantinha os recortes, mas estavam cuidadosamente arquivados em scrapbooks como se a morte do seu marido fosse apenas um outro estágio de sua carreira ...

Muito tempo como centro das atenções definitivamente mexeu com suas prioridades, ela pensou.

O telefone dela tocou novamente no quarto. Depois parou, ela se levantou e foi verificar as mensagens.

Alfie: ‘Sou eu de novo. Por favor me ligue. Estou recebendo um monte de porcaria dos caras, toda essa publicidade.’

Sim, era tudo sobre ele.

Agora ela e Billie eram um velho casal, deitado no sofa assistindo ao jornal da noite. Paxman destruindo um politico e defendendo cortes na área da saúde. Ela só estava assistindo porque sua mãe se recusava a assistir qualquer assunto político em sua casa. Assistir aos jornais de qualquer tipo era um ato de rebeldia.

Vamos às manchetes, muitos jornais espalhados em sua mesa. Discussões na Câmara por causa dos cortes. Uma vitória esportiva na Índia. E, para descontrair, Helena Cross está liderando a competição do Daily Paper. Depois vem Ginny Blake. Mai Rose finalmente apareceu mas está muito atrás da Senhorita Cross... Boa noite.

‘Ganhei o dia. Obrigada, Paxo.’

Billie bocejou. ‘Você tem falado com o Eric? Como estão as coisas?’

Mai se levantou e se espreguiçou. Ela realmente não queria falar sobre o assunto. Uma infantilidade. ‘Ele está cuidando do assunto. Um Rottweiler em pele de cordeiro.’

‘Então agora vai começar, você vai ver.’

‘Por que você é sempre positive, mesmo diante das evidências?’

‘Geralmente porque as alternativas são muito duras de suportar.’ Ela se levantou e deu um abraço desajeitado em Mai. ‘Estarei aqui amanhã às sete.’

‘Você vai acabar se mudando se continuar nesse ritmo.’

Billie deu-lhe uma olhada torta e foi buscar seu casaco.

No quarto havia uma mensagem do Eric em seu telefone: Entrevista amanhã. Ligue para agendarmos um horário. Vamos torcer. No clube Estragon.

Ela desenterrou sua roupa antiquada e deixou pronta para vesti-la na manhã seguinte. E preparou uma explicação para a jornalista sem dúvida com quadris sarados do Daily Paper que esperava encontrar uma atriz vestindo a mais recente criação das passarelas.

Mai provavelmente teria que convencê-la de que a blusa era da marca Jonathan Anderson, embora não fosse larga o suficiente.

Enquanto ela não soubesse disso, as coisas não ficariam bem.

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