Voltas No Tempo

Tekst
0
Recenzje
Przeczytaj fragment
Oznacz jako przeczytane
Czcionka:Mniejsze АаWiększe Aa

Capítulo 2

Teriam permanecido por muito tempo naquele planeta azul de massa apenas menor do que a do seu mundo e que tinha mares e continentes.

Imediatamente após a entrada da cronoastronave em órbita padrão, os cronoastronautas tinham lançado os satélites de inspeção para mapear e detectar quaisquer formas biológicas. Analisados os dados, eles encontraram vida animal dentro dos oceanos e dos maiores lagos de água, mas não sobre as terras emersas, embora vestígios de uma civilização já extinta foram observados. A vegetação em terra firme, que era em grande parte desértica, variava de musgos a matos e arbustos e na água e em sua superfície passava de algas a ninfeias: não mais complexa forma de planta estava presente naquele mundo.

Os cientistas exploradores desceram a bordo de discos de desembarque que se moviam de acordo com o princípio da antigravidade, aproveitando a energia solar da estrela mais próxima e, como reserva, a produzida pela fusão nuclear na cronoespaçonave e armazenada nos acumuladores das naves menores. Cada uma delas tinha como dotação padrão quatro mísseis armados com bombas, dois poderosos disruptores e dois a fusão térmica, que não eram para servir como armas, exceto em casos extremos, mas para as operações científicas, por exemplo, para abrir um terreno para fins de pesquisa geológica. Se alguma coisa, em caso de hostilidade de nativos ou presença de animais nos locais de desembarque, com todos, além disso, ausentes neste planeta, cada disco poderia lançar raios que atordoavam e paralisavam temporariamente. Quanto à autodefesa, cada pesquisador carregava uma arma paralisante individual pequena, mas eficaz. Cada um também era equipado, para as mais diversas necessidades, com um microprocessador eclético que, dependendo das psicologias, ou era implantado cirurgicamente no cérebro e era ativado com o pensamento, ou era mantido no bolso ou no cinto e podia ser ligado e usado com a palavra. Cada um, finalmente, usava um pequeno recipiente com moscas eletrônicas de espionagem, ativadas por voz e úteis para a exploração do território em sigilo quase absoluto, parecendo esses com insetos simples.

No oceano e lagos do planeta alienígena, astrobiólogos haviam capturado numerosos espécimes vivos de várias espécies aquáticas, colocados em duas grandes cubas do charuto, como era familiarmente chamada a embarcação cronocósmica, uma de água salgada e outra de água doce. Plantas aquáticas tinham sido inseridas naquelas cubas ecologicamente.

Os historiadores e arqueólogos da expedição concentraram-se nos vestígios e outros artefatos da civilização desaparecida localizados ao redor e dentro da área de pouso; inscrições em monumentos e lápides, nas paredes interiores dos edifícios e em artefatos foram observadas, fotografadas e filmadas. Também em terra firme foram coletadas estruturas ósseas de animais quadrúpedes e bípedes de vários tamanhos e, de particularíssimo interesse, esqueletos que lembraram em forma e tamanho, com não fortes semelhanças, aqueles mesmos dos cientistas: além de bípedes, bímanos e binóculos e, dada a posição das órbitas, de visão estereoscópica. Eles haviam sido encontrados nos destroços de carros e em galpões dilapidados e em grandes esplanadas, que devem ter sido em um passado distante aeroportos e agora estavam já cobertos com intrincamentos de matos e musgos, carcaças de aviões. No que devem ter sido as habitações da espécie dominante, placas de azulejos, copos de vidro, potes de alumínio e outros utensílios de cozinha tinham sido recolhidos, bem como o que restava de frigoríficos, máquinas de lavar roupa, rádios e televisores. Em alguns prédios, os pesquisadores haviam recuperado cadernos e livros, em parte com finas, frágeis páginas amareladas e escrita desvanecida quando ela não havia desaparecido completamente, em parte formados por folhas de melhor qualidade que, graças também às tintas superiores, tinham suficientemente resistido ao tempo, embora sofrendo com manchas e mofo, e apresentavam escritos óbvios. Alguns desses achados gráficos consistiam em cálculos matemáticos. Em um apartamento particularmente digno de atenção, uma pintura foi encontrada no chão ao lado do que restou de um prego enferrujado agora quase completamente pulverizado, que deve ter se destacado da parede ao sustentar a pintura – quem sabe quando? O ambiente deve ter sido uma pequena sala de jantar. Um dispositivo de áudio com um disco de som gravado dentro, em bom estado, também tinha sido recuperado na mesma sala. Ao lado dele, deitados no chão, jaziam dois esqueletos, um de um adulto, ainda envolto em panos agora consumidos pelo tempo, e o outro, sem vestes, de um recém-nascido ou talvez um feto. No que devia ter sido uma sala de triagem, bobinas de filme tinha sido encontradas, a um primeiro exame arruinadas; no entanto, em cima da nave, dela escorrendo com grande lentidão, duas seções haviam sido descobertas, em tantos rolos, ainda em muito boas condições. Eles haviam sido entregues ao especialista em restauração de vídeos sonoros. Os sons dos filmes eram, no entanto, irrecuperáveis, porque absolutamente danificado estava o par de faixas, não ópticas, mas magnéticas e, portanto, particularmente deterioráveis, que se espalhava ao longo das duas bordas de cada filme: o som deve ter sido estereofônico. Em uma das duas seções do filme, o menos danificado e que tinha sido restaurado em primeiro lugar e que foi passado para os computadores, os estudiosos puderam observar uma estrada com pedestres nas calçadas e um fluxo não intenso de veículos com motores de combustão, de formas semelhantes àquelas carcaças de carros e caminhões encontradas. Também restaurada a segunda seção recuperável de filme e transferidas para os computadores as imagens, era possível ver um acampamento de férias de verão de pessoas nuas.

Capítulo 3

Na manhã de 14 de junho de 1933, bem cedo, o "fascista da primeira hora" Annibal Moretti, devidamente instruído e cansado pela noite sem dormir, além de algumas pausas curtas cochilantes sobre uma cadeira, tinha sido deixado livre para deixar o quartel Giovanni Berta e voltar para casa: entre tantos agradecimentos pela colaboração prestada.

Sua bicicleta tinha permanecido na Estação dos Carabineiros, porque no dia anterior ele tinha sido transferido para o presídio da Milícia em uma caminhonete; o Moretti estava resignado a fazer todo o caminho para casa a pé, distante cerca de dez quilômetros do quartel, porque ninguém, do comandante ao major assessor, ao centurião adjunto da segurança do departamento, ao oficial de piquete, tinha sonhado em favorecê-lo ordenando-lhe uma passagem motorizada. Nem ao menos tinham restaurado as energias, nem com o jantar na noite anterior nem, pelo menos, com o café da manhã naquela manhã, juntamente com a tropa, se não outro, estava lá o tal Annibal, junto ao círculo dos suboficiais ou, até é possível, dos oficiais. Com o estômago vazio, ele tinha parado no primeiro café que ele tinha encontrado, que exibia o letreiro 'La Melgasciada': realmente, mais uma taverna do tipo ‘trani’12 do que um café, mas equipada com uma máquina napolitana13 para os poucos clientes abstêmios e, à noite, para aqueles frequentadores habituais da taberna bêbados demais para voltar para a casa das esposas sem ter devorado, antes, um bom litro de matavinho [líquido para anular o efeito alcoólico do vinho; aqui, o café]. Eram 8 horas quando o Moretti sentava pedindo café e pão. Ele tinha visto que havia um dispositivo de rádio na sala e pediu para ouvir o jornal de rádio. Ele estava satisfeito, e Annibal tinha podido ouvir, ouvindo-se citar anonimamente, exatamente o comunicado que ele tinha esperado: "... e o bólide celeste foi visto pela primeira vez por um corajoso agricultor, fascista participante da Marcha, que imediatamente alertou – com a diligência típica do verdadeiro fascista! – os Carabineiros Reais, os quais, junto com outras agências policiais, resgataram e entregaram à ciência o que restava do objeto celeste":

A notícia daquele meteorito havia sido espalhada a partir da noite anterior pela EIAR14 e pelas edições do final da tarde dos jornais e, no dia seguinte, por aqueles da manhã e os primeiros jornais de rádio. Annibal não ficou surpreso ao ouvir sobre o bólide, na verdade, no quartel Berta tinha sido repetidamente convidado, por vários oficiais, para estudar de memória uma frase que falava exatamente do bólide, escrita em letras maiúsculas na tarde anterior, acima de um folheto, pelo comandante Trevisan, mas previamente concebida e comunicada por telefone ao mesmo pelo meticuloso Bocchini. Ela era uma aulinha pedante a ser repetida em público e em família: "Trata-se de um bólide, isto é, um objeto natural caído do céu, mas não redondo, mas com a estranha forma de pedra discoidal, um pouco parecido com aqueles que se jogam na água para fazê-lo saltar, mas muito maior". No início da manhã, primeiro, o líder do destacamento, em seguida, o centurião encarregado da segurança e da informação e, finalmente, o primeiro comandante Trevisan, para a ocasião vindo cedo de casa, haviam interrogado o agricultor escrupulosamente. Eles tinham demonstrado, o tempo todo, que conheciam a lição de cor. A partir da precisa pergunta do comandante, dirigida a ele pouco antes de ter sido dispensado, ele tinha garantido que tão exatamente teria dito e jamais de modo diferente, acrescentando decididamente para maior credibilidade: "Sim, mas é claro, você entende bem que é uma grande pedra plana do céu, e como não? É tão óbvio, Sr. primeiro comandante! Em seu coração, no entanto, o homem, sendo de fina inteligência, mesmo que tivesse completado apenas a terceira série primária, não tinha realmente bebido e permaneceu convencidíssimo – ora, bolas! não era uma múmia, ele! – que aquele era uma bela e boa aeronave, na forma de um disco estranho e muito secreto, sim, senhor, e não um objeto natural caído do céu.

 

Também naquela manhã de 14 de junho de 1933, ao mesmo tempo que Moretti estava tomando seu café da manhã na taberna ouvindo o jornal de rádio e raciocinando consigo mesmo, Mussolini, em seu escritório, foi novamente refletindo sobre aquela aeronave desconhecida: 'protótipo francês, inglês ou Germânico?'. “A Alemanha", disse a si mesmo, "parece pouco provável para mim, que o histérico bigode de Carlitos está no poder faz alguns meses e antes disso, com todos os bordéis que tinham os alemães lá em cima, certamente não pensariam em projetar novas aeronaves15. Mas agora o bigode16 Adolf está colocando as coisas em ordem rapidamente”: Mussolini não tinha em simpatia aquele seu imitador político adorador que, falando em público, sucumbia a momentos histéricos e, como os serviços secretos lhe tinham dito, caía em particular, em certos momentos, na melancolia mais grave cheia de medo pelo julgamento do mundo e carregada de um senso de inferioridade, coisa absolutamente inconcebível, em vez disso, para um sanguinário rabugento como o Duce que, com absoluta certeza de ser admirado, especialmente por líderes e ministros de outras nações, como o Chanceler do Tesouro britânico Winston – Winnie – Churchill, que o visitou em Roma em 1929 17 e a quem ele chamava de o charuto- "grande fumante de charutos Montecristo número 1", e que tinha falado dos serviços eficientes do OVRA –; mas ser admirado pelo bigode Adolf não lhe agradava nadinha, ora pois, saia para lá!

No entanto, foi precisamente o exemplo de Mussolini que deu comida à ação de Adolf Hitler, o bigode para o Duce, líder de um movimento semelhante ao fascismo, que surgiu sobre os fundamentos de um minúsculo Partido Alemão dos Trabalhadores que se tornou o Partido Nacional-socialista que tinha expressado tudo aquilo que de violentamente abominável estava recalcado na esteira da derrota alemã, em primeiro lugar, o tradicional militarismo aceso e o tradicional racismo, no qual o Führer de bi8godes à Charlie Chaplin tinha pescado com vara curta a sua doutrina funesta que o tinha levado ao cume da Alemanha em 31 de janeiro de 1933, exatamente o ano em que na Itália se teria capturado, em junho, o disco voador.

O telefone branco do Duce tinha tocado. Apesar de ter transcorrido já o dia 19, Mussolini ainda estava em seu escritório presidencial.

Era Bocchini: "Duce, eu vos saúdo!"

"Novidades?"

"Sabemos a provável nacionalidade dos três cadáveres."

“Bravo! Como descobriu?”

"Facilmente, graças às escritas de serviço no interior do disco, todos em inglês, e também para outras, na mesma língua, nas etiquetas internas das peças íntimas dos três mortos. Infelizmente, em camisetas e cuecas não há endereços corporativos da Grã-Bretanha ou de outro país de língua inglesa, mas a primeira nação, dado o seu poder e a situação política atual, parece a mais provável... "

"... Certamente! A Grã-Bretanha é muito provável! Aqueles lá são mestres em meter seus narizes na casa alheia; e se é verdade que o charuto me tem em grande simpatia, ele ainda é um patriota inglês. Bem, Bocchini, você sabe o que deve fazer com os serviços do OVRA, enquanto daqueles militares faço ordenar disposições eu."

"Sempre às suas ordens, Duce, mas eu tenho mais algumas coisas para lhe dizer."

"Diga lá."

"Em primeiro lugar, revelou-se totalmente precisa a sua ideia de que se tratava de pilotos de prova, mas de espiões: entendeu-se quando em um compartimento interno do disco foram encontradas outras roupas burguesas, estas de feição urbana e não, digamos assim, roupas de férias como aquelas desgastadas pelos mortos, e, sobretudo, foram descobertas divisas fascistas.

Ah! Eles queriam pousar, disfarçar-se e espiar, aqueles carrascos! Na aeronave há rolos e películas cinematográficas já impressas?"

"Não, Duce, não foram encontrados, nem películas virgens, nem câmeras fotográficas ou cinematográficas; e aqui está a outra coisa: havia várias pequenas lentes objetivas externas, acima e abaixo do disco e ao longo de sua circunferência, que apresentam a peculiaridade de não serem encaixáveis em câmeras, mas para serem conectadas, aparentemente através de ondas de rádio, a dispositivos internos que parecem ser radiotransmissores, mas que, estranhamente, não têm válvulas”.

"Rádio sem válvulas?! O que mais aqueles ingleses do mal inventaram?

"Poderia tratar-se de câmeras para filmar e de radiotransmissão de imagens, do tipo daquelas da televisão experimental britânica, o que apoiaria a hipótese de espionagem por parte daquela nação; no entanto, Duce, são radiocâmeras18 pequenas, aliás, muito pequenas, não mastodônticas como aquelas que tínhamos fotografado secretamente na BBC19."

"Isso nos remete a Marconi, hein?"

"Sim, Duce."

Guglielmo Marconi foi o inventor do telégrafo sem fio e um dos pais do sistema de rádio. Ele foi uma das figuras mais importantes do regime, presidente desde setembro de 1930 da Academia da Itália, prêmio Nobel de física e também, entre outras coisas, Almirante da Marinha Real, na qual, após uma breve passagem na Engenharia, tinha servido durante a Grande Guerra.

"Você, Bocchini, acha que eles queriam transmitir fotos e filmes a partir de lá na Inglaterra?"

"A suspeita parece legítima para mim, Duce."

"... e, infelizmente, agora Marconi está no mar fazendo experimentos. Em que área ele está cruzando seu iate?

"O Almirante está a caminho de volta, no Oceano Índico, perto do Mar Vermelho, mas sabemos dele mesmo, por rádio, que vai fundear a âncora mais algumas vezes, para outras experiências que ele planejou."

"Não posso solicitar o seu regresso, as suas experiências são sempre experiências básicas para a Itália; mas, assim que ele estiver de volta à Pátria, vou interpelá-lo. Entretanto, mantenha-me informado constantemente sobre todos os desenvolvimentos relacionados a essa aeronave estrangeira, também me telefone para a Villa Torlonia20 se você achar que é útil, aliás, faça-o sem pensar em caso de outros avistamentos de aeronaves estranhas. Até mais, Bocchini e... muito bem!"

Mussolini tinha ordenado imediatamente aos serviços secretos militares para colocarem-se em alerta especial na Grã-Bretanha, mas sem negligenciar outras nações industriais de língua inglesa, e para investigarem em particular aeronaves em forma de disco, máquinas de câmera sem filmes e aparelhos de rádio sem válvulas capazes de enviar imagens.

Naquela mesma noite, pouco antes de sair do escritório e voltar para Villa Torlonia, o Duce ainda tinha resolvido, de impulso como fazia muitas vezes, contatar na China o seu genro Gian Galeazzo Ciano, Conde de Cortellazzo e Buccari, que, como cônsul plenipotenciário, estava vivendo em Xangai com sua esposa, a Condessa Edda, nascida Mussolini: veio de improviso na mente do Duce a ideia de colocá-lo no comando da Assessoria de Imprensa, o órgão romano encarregado de monitorar e orientar os meios de comunicação com a ajuda do Bocchini e da Stefani, trazendo, assim, "diretamente para casa", tinha dito a sua esposa Rachele quando voltou para o jantar, a direção da superintendência da informação21. A consorte tinha apenas murmurado, e não foi a primeira vez, que aquele traste de genro em casa22, ambicioso e, acima de tudo, com aquela vozinha não muito masculina, sabe-se lá, não lhe agradava nada, vai saber!

Na segunda manhã de 14 de junho, Annibal Moretti, que tinha voltado para casa, teve a infeliz ideia de revelar a verdade à sua família sobre o disco; e na mesma noite seu único filho, um jovem de 19 anos próximo de servir ao exército, tinha tido a péssima iniciativa, depois do jantar, de falar sobre isso à turminha de seus amigos no 'Il Rebecchino', a taberna do lugar onde se reuniam, entre outros, os trabalhadores braçais de seu pai, outrora vigorosos comunistas que odiavam o patrão, em seguida, submetidos à força ao regime, finalmente seduzidos por Mussolini, como muitos outros proletários rurais e operários, com certas vantagens concedidas a eles, tais como os círculos de entretenimento e as viagens do Instituto Nacional do Pós-trabalho, ou como as creches e as colônias marinhas e de montanha para as crianças pequenas. Os trabalhadores braçais de Moretti, por causa de sua longa língua e da inveja irreprimível para com o patrão, a qual, apesar da submissão agora bem estabelecida ao fascismo, permanecia ansiosa por uma pequena explosão, haviam repassado na manhã seguinte, em todos os lugares e para os guardas cívicos primeiramente, que seu patrão tinha dito mentiras tão grandes como uma casa, porque ele não tinha visto uma pedra plana, mas um avião inimigo na forma de um disco que tinha caído perto de seu campo. Em suma: bang! Annibal Moretti foi preso em sua casa e internado em um asilo: fez-se isso de modo que todos soubessem que o pobre homem era louco e tinha sido para seu bem que a Autoridade tomou medidas para curá-lo, porque confundir pedras com aviões só poderia criar complicações internacionais e, enfim, ele era um pobre louco, mas deixá-lo livre havia perigo, para ele e para todos. Quanto ao seu filho, mesmo que tenha sido bem preservado, assim como também sua mãe, ao comentar com alguém sobre a hospitalização de seu pai, tinha recebido dias mais tarde, um pouco antes do tempo, o cartão doutrinário e tinha terminado em um batalhão da Engenharia de sapadores do qual saiu um mês mais tarde em frangalhos dentro de um caixão de metal selado, devido ao incidente de treinamento malfadado devido à incompetência do recruta Moretti no uso de explosivos: talvez fosse a verdade, mas a suspeita de um infortúnio deliberado por alguma brecha de regime infiltrada no departamento tinha invadido o coração de sua mãe; ela, no entanto, permaneceu em silêncio sem prestar nenhuma queixa, nem teve a Procuradoria Militar considerou ter que investigar autonomamente. A senhora Moretti foi deixada em paz e, aliás, passou a receber uma pequena pensão prontamente: ela não tinha tido qualquer problema não só porque ela tinha permanecido em silêncio, mas também porque, em segundo lugar, naquela época, as mulheres ainda eram consideradas muito pouco, e tudo o que viesse do povo ignorante teria tido o mesmo crédito que se poderia reservar ao cacarejar de uma galinha.

Do pobre marido, "fascista da primeira hora", tinha perdido o controle de si mesmo por um tempo, tendo sido transferido de asilo a asilo, até que um dia, em janeiro de 1934, um cartão tinha chegado a sua casa: não uma carta, de modo que os trabalhadores postais da região poderiam ler e, com sorte, divulgar, e isso tinha sido devidamente verificado. Com este cartão, a Sra. Moretti era avisada que o mísero consorte tinha morrido na Sardenha, no hospital, devido a uma pneumonia e era perguntado a ela se ele poderia ser enterrado no cemitério local ou se a família gostaria de ir até lá para transportá-lo ao cemitério de sua terra. A esposa teria que responder no prazo de cinco dias da data da expedição se quisesse transferir o corpo do consorte, caso contrário, o silêncio teria sido como um parecer favorável à inumação na ilha. Os cinco dias já haviam passado, quase certamente o Moretti tinha sido enterrado; a viúva, portanto, renunciou a agir, também considerando os custos e as dificuldades, para uma mulher solteira e ignorante, de ir à Sardenha, para realizar a reexumação e para enviar o caixão para a região lombarda.

Mussolini, tendo dormido alegremente toda a noite, entrou no banheiro aproximadamente às 7 da manhã do dia 15 de 1933, para as necessidades normais do despertar, e, urinando, tomou uma de suas decisões-relâmpago:

 

Mal chegou ao escritório, eram 8 horas e 10 minutos, ele já havia convocado – dentro de uma hora! – o Ministro da Educação Nacional, Francesco Ercole, e o da Guerra, Pietro Gazzera23: a pauta que apresentaria também interessava aos ministérios do Exterior24 e do Interior, mas o próprio Mussolini tinha se encarregado disso, provisoriamente; no entanto, ele havia trazido o subsecretário do Interior, Guido Buffarini Guidi, pois, na verdade, ele é quem tinha a direção desse Ministério.

Exatamente 49 minutos mais tarde, os dois ministros e o subsecretário, através da porta de duas folhas do escritório-salão preventivamente escancarada por um criado de quarto, negligenciando a escrivaninha e o lugar reservado do Chefe do Governo que se encontravam no fundo na parte oposta da sala, haviam entrado lado a lado e tinham se dirigido a passos largos até o Duce, sempre lado a lado, de acordo com as disposições muito recentes do próprio Mussolini; enquanto isso, o criado de quarto fechava atrás deles a porta: oficialmente a ordem de urgência tinha a função a reduzir o tempo gasto em audiências, deixando prioritariamente ao Grão-chefe outras tarefas; Mussolini, no entanto, adorava ver aqueles cavalheiros de camisas e jaquetas pretas a obedecer-lhe ridiculamente: a partir de junho de 1935, a partir de junho de 1935, ele teria até feito pular ginasticamente todos os seus hierarcas em círculos de fogo durante o chamado "sábado fascista" ou, mais precisamente, durante a tarde do mesmo dia, dedicado à ginástica e educação paramilitar, um dever que teria como alvo, no entanto – ai deles! –, todos os italianos. Já o fato de percorrer caminhando a longa sala, com o Duce preso no fundo atrás da escrivaninha presidencial, braços cruzados, mandíbulas empenadas e olhos olhando diretamente nos do convocado de plantão, ou transitando de um ao outro dos presentes, quando eles eram mais do que um como no nosso caso, teria colocado em considerável sujeição, mas percorrer o salão em um ritmo de corrida domesticava completamente e tornava muitíssimo dócil quando alguém estivesse diante do Duce. Depois de receber as ordens, os convocados tiveram que saudar o seu Líder supremo, dar meia-volta e, sempre lado a lado e no ritmo de corrida, pula, pula, sair pela porta, nesse ínterim reaberta pelo porteiro a quem Mussolini tinha dado aviso prévio com o toque de um botão em sua escrivaninha, assim que eles lhe tinham dado as costas. Ele não queria, afinal, ter colaboradores, além do fiel Bocchini, mas simplesmente marionetes.

Em poucas palavras, ele tinha dado ordem aos dois ministros e ao subsecretário para constituir na Universidade La Sapienza, em Roma – "em tempo recorde!" – um grupo secreto de cientistas e técnicos, "denominado, convencionalmente", acrescentou, "Gabinete PE/33, acrônimo de Pesquisas Especiais do ano de 1933": Mussolini, ex- professor primário, gabava-se de ser um grande perito na língua italiana e não foi de todo novato no cunhar siglas ou expressões; mesmo o misterioso acrônimo OVRA era seu.

O Grão-chefe não tinha convocado um quarto Ministro, também este um membro-chave do gabinete, o da Aeronáutica, o General Italo Balbo, e tinha-o convidado, sozinho, para às 16 horas; ele sabia bem que, sendo aquele homem um fascista da primeiríssima hora e um dos quatro líderes na liderança da Marcha até Roma, os chamados Quadrúnviros da Revolução, e antes de tudo sendo absolutamente convencido de seu próprio valor, nunca jamais teria Balbo se apresentado humildemente e até mesmo em um ritmo de corrida, sempre pronto como era, aliás, a criticar na cara o Duce, talvez acrescentando alguma insolência. Por outro lado, ele gozava de um enorme prestígio no país, competindo em popularidade com o próprio Mussolini. Ele foi um dos pouquíssimos na arena política a utilizar a forma de tratamento você, a qual o Duce respondia, mas com aborrecimento: ele sentia grande inveja nos confrontos de Balbo, mesmo que a disfarçasse e não tinha feito nada na época para prejudicá-lo, mas reservando para si afastá-lo na primeira boa oportunidade: ele teria conseguido isso no final do mesmo 1933, promovendo-o ao mais alto dos graus aeronáuticos, Marechal do Ar, depois de haver-lhe dirigido altos elogios e, pouco depois, em 26 de novembro, fazendo-o nomear pelo rei governador rei da chamada Quarta Costa, a colônia italiana da Líbia, assim, de fato, exilando-o.

Naquela mesma tarde de 15 de junho, depois de receber Balbo e dar-lhe ordens, o Duce tinha instruído a polícia política OVRA na pessoa do fiel Bocchini para supervisionar o trabalho do Gabinete que se estava constituindo e para relatar-lhe qualquer notícia acerca disso.

Em tempo recorde absoluto, em cada capital provincial foi constituída, secretamente, uma específica "seção especial PE/33" do OVRA com a principal tarefa de alertar o Bocchini de quaisquer novos eventuais avistamentos de aeronaves desconhecidas, em quaisquer formas que elas se apresentassem, e de manter o interesse imediata e diretamente em flagrarem testemunhas não militares. Cada avistamento tinha que ser relatado através de um formulário concebido pelo próprio Bocchini, assinado PE/33. FZ. 4, cujo modelo tinha sido transmitido prontamente, com despacho especial, a todas as prefeituras italianas e de cada uma delas a todos os respectivos comandos das forças de segurança, bem como aos quarteis da Milícia locais; o mesmo modelo, destinado aos oficiais da Força Aérea, tinha sido enviado pelo escritório ministerial de Balbo a todos os comandos aéreos para que o entregassem aos respectivos departamentos. Mussolini também decidiu que qualquer relato sobre os avistamentos por parte de civis devesse passar pelo OVRA e deste devia ser enviado a ele pessoalmente e aos hierarcas Italo Balbo como Ministro da Aeronáutica e Gian Galeazzo Ciano como Diretor de Recepção da Assessoria de Imprensa, bem como à sede romana do gabinete PE/33.

Mesmo Balbo, embora ele não fosse um estudioso, tinha sido cooptado no mesmo Gabinete, por sua determinação de promover a Força Aérea Real, sendo o seu lema: "Você tem que sublimar a paixão de voar, para tornar a Itália o país mais aviatório do mundo." Quanto aos membros científicos, no comando do PE/33 tinha sido colocado Guglielmo Marconi. No entanto, como ele estava em um cruzeiro ao redor do globo em seu próprio iate-laboratório Elettra – o nome era o mesmo de sua filha –, Mussolini tinha decidido que, por enquanto, o Gabinete seria liderado pelo astrônomo e matemático professor Gino Cecchini do Observatório Merate de Milão: nas intenções do Duce, apenas provisoriamente, no entanto, dada a impossibilidade ainda recorrente do Prêmio Nobel, ocupado em muitas outras pesquisas extensas, o senhor Cecchini permaneceria definitivamente responsável pelo PE/33. Os outros cientistas pertenciam às disciplinas de medicina, ciências naturais, físicas e matemáticas da Academia Real da Itália, além do Presidente do Conselho Superior de Obras Públicas, o conde e senador Luigi Cozza, que havia sido contratado no Gabinete como uma referência organizacional e membro de ligação com o Governo.

Em primeiro lugar, tratava-se de uma questão de compreender o funcionamento da aeronave estrangeira, a fim de ser capaz de construir não só semelhantes, mas, com sorte, melhores, mantendo assim na Itália, "de modo formidável", nas palavras do Duce, o primado técnico aviatório, que, naqueles anos, tinha sido reconhecido no mundo e, com ele, a supremacia militar concreta no ar e a sujeição psicológica à Itália de todos os potenciais inimigos. O programa comportava a concentração das pesquisas, o mais rapidamente possível, num centro dotado de instalações de ponta, que havia sido denominado, prontamente, de Instituto Central Aeronáutico e que se pretendia criar fora de Roma, mas não longe da sede universitária do PE/33; foi logo identificado o lugar, o campo de aviação Barbieri em Montecelio, onde as instalações teriam surgido entre 1933 e 1935 e em torno do qual seria construída a nova cidade de Guidonia.