Za darmo

O Napoleão de Notting Hill

Tekst
0
Recenzje
iOSAndroidWindows Phone
Gdzie wysłać link do aplikacji?
Nie zamykaj tego okna, dopóki nie wprowadzisz kodu na urządzeniu mobilnym
Ponów próbęLink został wysłany

Na prośbę właściciela praw autorskich ta książka nie jest dostępna do pobrania jako plik.

Można ją jednak przeczytać w naszych aplikacjach mobilnych (nawet bez połączenia z internetem) oraz online w witrynie LitRes.

Oznacz jako przeczytane
Czcionka:Mniejsze АаWiększe Aa

– Agora, saia! – disse o barbeiro, irascível. – Não queremos alguém do seu tipo aqui. Saia!

E avançou com a contrariedade desesperada de uma pessoa suave quando enfurecida.

Adam Wayne colocou a mão por um momento sobre a espada, então a soltou.

– Notting Hill – disse ele – precisará de seus filhos mais ousados – e virou-se tristemente para a loja de brinquedos.

Era uma daquelas pequenas lojas estranhas tão constantemente vistas nas ruas de Londres, que só devem ser chamados de lojas de brinquedos só porque brinquedos predominam sobre o todo, pois o restante das mercadorias parecem consistir de quase tudo no mundo. De tabaco, livros de exercício, doces, novelas, clipes de papel, apontadores baratos, cordões de botas e fogos de artifício baratos. Também vendia jornais, e uma fileira de cartazes de aparência suja pendurada ao longo da frente.

– Estou com medo – disse Wayne, quando entrou – que não estou lidando com esses comerciantes como deveria. Será que negligenciei o pleno significado do trabalho deles? Existe algum segredo enterrado em cada uma dessas lojas que nenhum mero poeta pode descobrir?

Ele deu um passo para o balcão com uma depressão que rapidamente dominou quando abordou o homem no outro lado – um homem de baixa estatura e cabelo prematuramente branco, e a aparência de um grande bebê.

– Senhor – disse Wayne – , estou indo de casa em casa nesta nossa rua, buscando despertar algum senso do perigo que ameaça agora a nossa cidade. Em nenhum lugar senti meu dever tão difícil quanto aqui. Pois o lojista da loja de brinquedo tem tudo o que nos resta do Éden antes das primeiras guerras começar. Senta aqui meditando continuamente sobre os desejos do tempo maravilhoso em que toda escada levava para as estrelas, e todos os jardins eram caminhos para a outra extremidade da Terra do Nunca. Acha que é impensado que eu bata o velho e escuro tambor do perigo no paraíso das crianças? Mas considere um momento, não me condene às pressas. Mesmo o próprio paraíso contém o rumor ou início desse perigo. Assim como o Éden que foi feito perfeito continha a terrível árvore. Para julgar a infância, mesmo pelo seu próprio arsenal de prazeres, você mantém tijolos; sem dúvida para o testemunho do instinto construtivo mais velho do que o destrutivo. Você mantém bonecas, você torna-se o sacerdote dessa a idolatria divina. Você mantém Arcas de Noé; perpetua a memória da salvação de toda a vida como um bem precioso, uma coisa insubstituível. Mas, senhor, mantém apenas os símbolos desta sanidade pré-histórica, esta racionalidade infantil da terra? Não mantém as mais terríveis? Que são essas caixas, aparentemente de soldados de chumbo, que vejo nessa caixa de vidro? Não são testemunhas de que o terror e a beleza, que o desejo de uma morte linda, não pode ser excluídos até mesmo da imortalidade do Éden? Não despreze os soldadinhos de chumbo, Sr. Turnbull.

– Não desprezo – disse Turnbull, da loja de brinquedos, brevemente, mas com grande ênfase.

– Estou feliz em ouvir isso – respondeu Wayne. – Confesso que temi por meus planos militares a inocência terrível de sua profissão. O que, pensei comigo mesmo, será que este homem habituado apenas com espadas de madeira que dão prazer, pensará sobre as espadas de aço que dão dor? Mas estou pelo menos em parte tranquilizado. Seu tom sugere-me que tenho pelo menos a entrada de um portão da terra das fadas – o portão através do qual os soldados entram, isso não se pode negar – devo, senhor, não mais negar, que é de soldados que vim falar. Permita que o seu emprego suave o faça misericordioso para com os problemas do mundo. Permita que a sua própria experiência prateada diminua as nossas tristezas sanguíneas. Pois há guerra em Notting Hill.

O mantenedor da loja de brinquedo pulou de repente, batendo as mãos gordas sobre o balcão.

– Guerra? – ele gritou. – Verdade, senhor? É verdade? Oh, que piada! Oh, que vista para os olhos cansados!

Wayne foi surpreso por essa explosão.

– Estou muito contente – gaguejou. – Não tinha noção.

Ele se pôs para fora do caminho a tempo de evitar Turnbull, que deu um salto sobre o balcão e correu para a frente da loja.

– Olhe aqui, senhor – disse ele – , olhe aqui.

Voltou com dois dos cartazes rasgados que estavam do lado de fora de sua loja na mão.

– Olhe para eles, senhor – disse ele, e atirou-os no balcão.

Wayne inclinou-se sobre eles, e leu sobre um

"O ÚLTIMO COMBATE
SUBMISSÃO DA CIDADE DERVIXE CENTRAL
NOTÁVEL, ETC."

No outro lado, leu:

"ÚLTIMA PEQUENA REPÚBLICA ANEXADA
CAPITAL NICARAGÜENSE SE RENDE APÓS A LUTA DE UM MÊS
GRANDE MATANÇA"

Wayne inclinou-se sobre eles novamente, evidentemente confuso, então olhou para as datas. Eles eram ambos de agosto, 15 anos antes.

– Por que mantém essas coisas antigas? – disse ele assustado, inteiramente fora de seu absurdo tato de misticismo. – Por que as pendura do lado de fora de sua loja?

– Porque – disse o outro, simplesmente – são registros da última guerra. Você mencionou guerra agora. Acontece ser o meu hobby.

Wayne ergueu os grandes olhos azuis com uma admiração infantil.

– Venha comigo – disse Turnbull, bruscamente, e levou-o para uma sala na parte de trás da loja. No centro da sala havia uma grande mesa. Nela foram estabelecidas linhas e linhas de soldadinhos de chumbo e estanho que faziam parte do estoque do lojista. O visitante não teria reparado nisso se não houvesse um certo agrupamento estranho deles, que não parecia nem inteiramente comercial ou totalmente casual.

– Você está familiarizado, sem dúvida – disse Turnbull, virando os olhos grandes em cima de Wayne – , com a disposição das tropas americanas e da Nicarágua na última batalha – e acenou com a mão para a mesa.

– Receio que não – disse Wayne. – Eu…

– Ah! Estava ocupado demais na época, talvez, com o caso Dervixe. Vai encontrá-lo neste canto – apontou para uma parte do chão onde havia um outro arranjo de soldados de criança agrupados aqui e ali.

– Parece – disse Wayne – estar interessado em assuntos militares.

– Não estou interessado em nada mais – respondeu o mantenedor da loja de brinquedos, simplesmente.

Wayne pareceu convulsionado com uma singular, suprimida emoção:

– Nesse caso, posso me aproximar com um grau incomum de confiança. Sobre a questão da defesa de Notting Hill, eu…

– Defesa de Notting Hill? Sim, senhor. Aqui, senhor – disse Turnbull, com grande perturbação. – Basta entrar neste quarto ao lado – e levou Wayne a outro quarto, onde a mesa estava totalmente coberta com um arranjo de tijolos de crianças. Um segundo olhar mostrou a Wayne que os tijolos foram dispostos na forma de um plano preciso e perfeito de Notting Hill. – Senhor – disse Turnbull, impressionantemente – , por um tipo de acidente, descobriu o segredo da minha vida. Como um menino, cresci entre as últimas guerras do mundo, quando a Nicarágua foi tomada e os dervixes exterminados. E a adotei como um hobby, senhor, como pode adotar a astronomia ou a taxidermia. Não tinha má vontade contra qualquer um, mas estava interessado na guerra como uma ciência, como um jogo. E de repente estava excluído. As grandes potências do mundo, depois de ter engolido todos as pequenas, chegaram a esse acordo confuso, e não houve mais guerra. Não havia nada mais para fazer, exceto o que faço agora, ler sobre as antigas campanhas em velhos jornais sujos, e recriá-las com soldadinhos de chumbo. Uma outra coisa me ocorreu. Pensei que seria uma fantasia divertida fazer um plano de como nosso distrito poderia ser defendido se fosse atacado. Isto parece interessá-lo também.

– Se fosse atacado – repetiu Wayne, admirado com uma enunciação quase mecânica. – Turnbull, ele será atacado. Graças a Deus, estou trazendo a pelo menos um ser humano, a notícia que é no fundo a única boa notícia para qualquer filho de Adão. Sua vida não tem sido inútil. Seu trabalho não tem sido um jogo. Agora, quando o cabelo já está grisalho, Turnbull, você terá a sua juventude. Deus não a destruiu, ele apenas a adiou. Vamos nos sentar aqui, e você deve explicar-me este mapa militar de Notting Hill. Pois eu e você temos que defender Notting Hill juntos.

Turnbull olhou para o outro por um momento, hesitou, e depois sentou-se ao lado dos tijolos e do desconhecido. Não levantou por sete horas, quando amanheceu.

A sede do superintendente Adam Wayne e seu comandante-em-chefe consistia de uma pequena leiteria sem muito sucesso na esquina de Pump Street. A manhã branca havia apenas começado a romper sobre os edifícios brancos de Londres quando Wayne e Turnbull estavam sentados na suja e sombria loja. Wayne tinha algo feminino em seu caráter, pertencia a essa categoria de pessoas que esquecem suas refeições quando estão fazendo algo interessante. Não tinha comido nada por 16 horas, exceto copos apressados de leite, e, com um copo vazio ao lado dele, estava escrevendo, desenhando, pontilhando e cruzando com inconcebível rapidez um lápis em um pedaço de papel. Turnbull era do tipo mais masculino, no sentido que a responsabilidade aumentava seu apetite, e com o seu mapa esboçado ao lado dele estava lidando vigorosamente com uma pilha de sanduíches de um pacote de papel, e uma caneca de cerveja da taberna do lado oposto, cuja persianas tinham acabado de serem fechadas. Nenhum deles falou, e não havia nenhum som no silêncio vivo, exceto o riscar do lápis de Wayne e o guinchar de um gato sem rumo. Finalmente Wayne quebrou o silêncio, dizendo:

– Dezessete libras, oito xelins e nove pences.

Turnbull assentiu e levou a caneca à cabeça.

– Isso – disse Wayne – não conta as cinco libras de ontem. O que fez com elas?

– Ah, isso é muito interessante! – respondeu Turnbull, com a boca cheia. – Usei essas cinco libras num ato gentil e filantrópico.

 

Wayne estava olhando com mistificação em seus olhos estranhos e inocentes.

– Usei estas cinco libras – continuou o outro – para dar a para não menos do que quarenta menininhos passeios em táxis londrinos.

– Está louco? – perguntou o superintendente

– É apenas o meu leve toque – respondeu Turnbull. – Esses passeios de táxi vão elevar o tom (elevar o tom, meu querido companheiro) dos nossos jovens de Londres, ampliar seus horizontes, preparar seus sistemas nervosos, torná-los familiarizados com os vários monumentos públicos de nossa grande cidade. Educação, Wayne, educação. Quantos excelentes pensadores apontam que a reforma política é inútil até que tenhamos uma população culta. Assim daqui a vinte anos, quando esses meninos estiverem crescidos…

– Louco! – disse Wayne soltando o lápis. – E com menos cinco libras!

– Está errado – explicou Turnbull. – Criaturas graves como você nunca entendem o quão mais rápido o trabalho realmente se passa com a ajuda de boas refeições e o absurdo. Despojada de belezas decorativas, a minha declaração era estritamente precisa. Ontem à noite dei 40 meias-coroas a 40 meninos, e os enviei por toda a Londres para tomar cabriolés. Disse-lhes, a cada um para dizer ao taxista para levá-los a este lugar. Em meia hora a partir de agora a declaração de guerra será afixada. Ao mesmo tempo que os táxis vão começaram a entrar, você vai ordenar a guarda, os meninos vão chegar em bloco, vamos mandar os cavalos para a cavalaria, usar os táxis de barricada, e dar aos homens a escolha entre servir em nossas fileiras e a detenção em nossas cavas e adegas. Os meninos podemos usar como batedores. O principal é que vamos começar a guerra com uma vantagem desconhecida aos outros exércitos: cavalos. E agora – disse terminando sua cerveja – vou inspecionar as tropas.

E ele saiu da leiteria, deixando o superintendente olhando.

Um ou dois minutos depois, o superintendente riu. Ele só riu uma ou duas vezes em sua vida, e o fez de uma forma estranha, como se fosse uma arte que não tinha dominado. Mesmo ele viu algo engraçado no golpe absurdo das meias-coroas e os pequenos meninos. Ele não viu o absurdo monstruoso de toda a política e toda a guerra. Ele apreciou isso a sério como uma cruzada, isto é, bem mais do que qualquer piada pode ser apreciada. Turnbull gostou em parte como uma piada, mais ainda, talvez, como uma reversão das coisas que ele odiava – a modernidade, a monotonia e a civilização. Para quebrar o vasto maquinário da vida moderna e usar os fragmentos como máquinas de guerra, usar ônibus como barricadas e chaminés como pontos de observação, era para ele um jogo que valia risco e problemas infinitos. Ele teve aquela preferência racional e deliberada que será sempre problemas para a paz do mundo, a preferência racional e deliberada por uma vida curta e alegre.

O Experimento do Sr. Buck

Um pedido sincero e eloquente foi enviado para o rei assinado com os nomes de Wilson, Barker, Buck, Swindon e outros. O pedido era que na próxima conferência a ser realizada na presença de Sua Majestade sobre a disposição final das propriedades em Pump Street, com todo o decoro político e com o respeito indizível que mantinham por sua Majestade, que eles pudessem vir vestidos normalmente, sem o traje designado para eles como superintendentes. Assim aconteceu que a companhia apareceu no conselho em casacos e que o próprio rei limitou seu amor a cerimônia ao aparecer (depois de sua forma usual), de vestido de noite com uma insígnia de uma ordem – neste caso não da Ordem da Jarreteira6, mas o botão do Clube de melhores amigos do velho Clipper, uma decoração obtida (com dificuldade) a partir de uma publicação infantil de meio penny. Assim também aconteceu que o único toque de cor na sala era Adam Wayne, que entrou com grande dignidade usando grandes vestes vermelhas e uma grande espada.

– Nós nos encontramos – disse Auberon – para decidir o mais árduo dos problemas modernos. Que possamos ser bem sucedidos – e sentou-se gravemente.

Buck virou a cadeira levemente, e cruzou as pernas.

– Sua Majestade – disse ele, muito bem-humorado – só há uma coisa que eu não consigo entender: por que este assunto não pode ser resolvido rapidamente? Aqui está uma pequena propriedade que vale mil para nós e não vale cem para qualquer outra pessoa. Nós oferecemos mil. Não é um bom negócio, pois deveríamos conseguir por menos, não é razoável e não é justo para nós, mas não vejo qual é a dificuldade.

– A dificuldade pode ser explicada facilmente – disse Wayne. – Podem oferecer um milhão e ainda não terão Pump Street.

– Mas escute, Sr. Wayne – gritou Barker, golpeando com fria emoção. – Escute bem. Não tem o direito de assumir uma posição como essa. Pode barganhar por um preço maior, mas não está fazendo isso. Está recusando o que você, e qualquer homem são, sabe ser uma oferta esplêndida simplesmente por malícia ou rancor – deve ser malícia ou rancor. E isso é realmente criminoso, é contra o interesse público. O Governo do Rei poderia justificadamente forçá-lo.

Com os dedos magros espalhados sobre a mesa, olhava ansiosamente para o rosto de Wayne, que não se mexeu.

– Poderia forçá-lo… – repetiu.

– E o fará – disse Buck, breve, voltando-se para a mesa. – Fizemos o melhor para ser decentes.

Wayne levantou os grandes olhos lentamente:

– Foi o Lorde Buck, quem disse que o rei da Inglaterra ‘fará’ algo?

Buck corou e disse, irritado:

– Quero dizer que deveria. Como disse, fizemos o nosso melhor para ser generosos. Desafio qualquer um a negar. Sr. Wayne, não quero ser grosseiro, mas permita-me dizer que você deveria estar na prisão. É criminoso parar obras públicas por um capricho. Senão, com o mesmo direito que você almeja, um homem poderia também queimar dez mil cebolas em seu jardim da frente ou fazer suas crianças correr nuas na rua. Pessoas foram obrigadas a vender antes. O rei pode obrigá-lo, e espero que o faça.

– Até que o faça – disse Wayne, calmamente – , o poder e o governo desta grande nação está do meu lado e não do seu, e desafio você a desafiá-los.

– Em que sentido – gritou Barker, com os olhos e as mãos febris – , o Governo está do seu lado?

Com um movimento, Wayne desenrolou um grande pergaminho sobre a mesa. Ele foi decorado nas laterais com esboços de aquarela de sacristões em coroas e grinaldas.

– A Carta das Cidades… – começou.

Buck lançou uma imprecação brutal e riu:

– Essa tola piada. Já não tínhamos o suficiente…

– E aí você fica – gritou Wayne, erguendo-se com uma voz como de trombeta – sem argumentos, insultando o rei diante do seu rosto.

Buck ergueu-se também com os olhos ardentes:

– Sou difícil de intimidar… – começou. Mas as palavras lentas do rei soaram com incomparável gravidade:

– Lorde Buck, devo lembrar-lhe que seu rei está presente. Não é sempre que ele precisa se proteger de seus súditos.

Barker se virou para ele com gestos frenéticos:

– Pelo amor de Deus não apoie o louco agora – implorou. – Deixe sua piada para outra hora. Oh, pelo amor do céus…

– Lorde Superintendente de South Kensington – disse o rei Auberon, firmemente – , não entendo suas observações, que são proferidas com uma velocidade incomum na corte. Nem seus bem-intencionados esforços para transmitir o resto com os dedos me ajuda materialmente. Digo que o Lorde Superintendente de North Kensington, a quem falava, não deve, na presença de seu soberano, falar desrespeitosamente de ordenanças de seu soberano. Discorda?

Barker se moveu inquieto na cadeira, e Buck amaldiçoou sem falar. O rei prosseguiu em um tom de voz satisfeito:

– Lorde Superintendente de Notting Hill, prossiga.

Wayne voltou seus olhos azuis para o Rei, e para a surpresa de todos, não aparecia neles triunfo, mas uma certa angústia infantil:

– Sinto muito, vossa majestade, temo que eu seja mais que igualmente culpado que o Lorde Superintendente de North Kensington. Estávamos debatendo um pouco ansiosos, e ambos nos excedemos. Fiz isso primeiro, tenho vergonha de dizer. O Superintendente de North Kensington é, portanto, relativamente inocente. Rogo a Vossa Majestade para direcionar a sua repreensão principalmente a mim. O Sr. Buck não é inocente, pois ele falou, sem dúvida, no calor do momento, de maneira desrespeitosa. Mas no resto da discussão, ele pareceu-me ter conduzido com ótimo temperamento.

Buck parecia genuinamente satisfeito, pois homens de negócio são todos sérios e focados, e, portanto, têm certo grau de comunhão com fanáticos. O Rei, por alguma razão, parecia, pela primeira vez em sua vida, envergonhado.

– Este gentil discurso do Superintendente de Notting Hill – começou Buck, agradavelmente – , parece-me mostrar que temos pelo menos uma relação amistosa. Agora veja, Sr. Wayne. Quinhentas libras lhe foram oferecidas por um imóvel que admite não valer cem. Bem, sou um homem rico e ainda sou generoso. Digamos mil e quinhentas libras, fechamos negócio e apertamos as mãos – e levantou-se, brilhando e rindo.

– Mil e quinhentas libras – sussurrou o Sr. Wilson de Bayswater – , podemos oferecer mil e quinhentas libras?

– Mantenho a oferta – disse Buck, com vontade. – O Sr. Wayne é um cavalheiro e me defendeu. Então suponho que as negociações estão encerradas.

Wayne fez uma reverência:

– Estão realmente encerradas. Sinto muito. Não posso vender a propriedade.

– O que? – gritou o Sr. Barker, levantando-se

– O senhor Buck falou corretamente – disse o rei.

– Sim, falei – gritou Buck, levantando-se também. – Eu disse…

– O senhor Buck falou corretamente – disse o Rei – , as negociações estão encerradas.

Todos os homens da mesa levantaram-se; Wayne sozinho levantou-se sem emoção.

– Então, tenho a permissão de Vossa Majestade para partir? Dei minha última resposta. – Você a tem – disse Auberon, sorrindo, mas sem levantar os olhos da mesa. E em meio a um silêncio mortal, o Superintendente de Notting Hill saiu da sala.

– Bem… – Wilson disse, voltando-se para Barker. – E agora?

Barker balançou a cabeça desesperadamente:

– O homem devia estar em um asilo. Mas uma coisa é clara: não precisamos nos preocupar mais com ele. O homem pode ser tratado como louco.

– É claro – disse Buck, virando-se para ele com uma decisão sombria. – Está completamente certo, Barker. Ele é um bom companheiro, mas deve ser tratado como louco. Vamos colocar de forma simples. Fale com qualquer homem em qualquer cidade, a qualquer médico em qualquer cidade, que há um homem a que ofereceram mil e quinhentas libras por uma coisa que ele poderia vender normalmente por quatrocentos, e que, quando perguntado por um motivo para não aceitar, clama pela santidade inviolável de Notting Hill e a chama de Montanha Sagrada. O que diriam eles? O que mais podemos ter do nosso lado além do senso comum de todos? Sobre o que mais se baseiam as leis? Vou te dizer, Barker, o que é melhor do que qualquer discussão. Vamos enviar operários no local para derrubar Pump Street. E se o velho Wayne disser uma palavra, o prenderemos como um lunático. Isso é tudo.

Os olhos Barker se acenderam:

– Sempre considerei você, Buck, se você não se importa que eu diga, como um homem muito forte. Conte comigo.

– E comigo, é claro – disse Wilson.

Buck se levantou de novo impulsivamente.

– Vossa Majestade – disse ele, brilhando com popularidade – , peço a Vossa Majestade que considere favoravelmente a proposta a que nos comprometemos. A clemência de Vossa Majestade e as nossas próprias ofertas foram em vão para aquele homem extraordinário. Ele pode estar certo. Ele pode ser Deus. Ele pode ser o diabo. Mas achamos que, para fins práticos, o mais provável é que ele está fora de si. A menos que essa suposição seja considerada na prática, todos os assuntos humanos vão ser despedaçados. Nós agimos sobre ela, e propomos o inicio das operações em Notting Hill de uma vez.

O Rei recostou-se na cadeira:

– A Carta das Cidades … – disse ele de forma eloquente.

Mas Buck, recuperando a seriedade, também foi cauteloso, e não mais cometeu o erro do desrespeito.

– Vossa Majestade – disse ele, curvando-se, não estou aqui para dizer uma palavra contra qualquer coisa que vossa Majestade tenha dito ou feito. É um homem muito melhor educado do que eu, e sem dúvida havia razões, com fundamentos intelectuais, para tais processos. Mas posso perguntar-lhe e apelar à sua boa natureza por uma resposta sincera? Quando elaborou a Carta das Cidades, contemplou a ascensão de um homem como Adam Wayne? Esperava que a Carta – seja uma experiência, um esquema de decoração, ou uma piada – poderia realmente levar a isto? Parar um vasto plano de negócios, fechar uma estrada, estragar as chances de táxis, ônibus, estações de trem, desorganizar metade da cidade, arriscar uma espécie de guerra civil? Quais eram seus objetivos, eram estes?

 

Barker e Wilson olharam para ele com admiração, o Rei mais admirado ainda.

– Superintendente Buck – disse Auberon – , fala em público incomumente bem. Reconheço isso com a magnanimidade de um artista. Meu esquema não incluía o aparecimento do Sr. Wayne. Ai! Gostaria que minha força poética fosse grande o suficiente.

– Agradeço a Vossa Majestade – disse Buck, com cortesia, mas rapidamente. – As declarações de Vossa Majestade sempre são claras e estudadas, por isso pude deduzir. Como o esquema pretendido, qualquer que fosse, não incluía o aparecimento do Sr. Wayne, irá sobreviver a sua remoção. Por que não nos deixa limpar Pump Street em particular, que interfere com os nossos planos, e que, por declaração própria de Vossa Majestade, não interfere com os vossos.

– Pego! – disse o Rei, com entusiasmo e de forma bastante impessoal, como se estivesse assistindo a uma partida de críquete.

– Este homem, Wayne – continuou Buck – , seria internado por qualquer médico da Inglaterra. Mas só pedimos para que ele seja colocado diante deles. Enquanto isso os interesses de ninguém, nem mesmo com toda a probabilidade os dele, serão realmente prejudicados continuando com as melhorias em Notting Hill. Não nossos interesses, é claro, pois foi um trabalho árduo e calmo de dez anos. Não os interesses de Notting Hill, pois quase todos os seus habitantes educados desejam a mudança. Nem os interesses de vossa Majestade, pois disse, com seu senso característico, que nunca contemplou a ascensão do lunático. Nem mesmo os próprios interesses dele, pois o homem tem um bom coração e muitos talentos, e um par de bons médicos provavelmente seriam melhor para ele do que todas as cidades livres e montanhas sagradas na criação. Por isso, assumo, se posso usar uma palavra tão ousada, que vossa Majestade não vai oferecer nenhum obstáculo para o nosso processo de melhorias.

E o Sr. Buck sentou-se em meio a aplausos suaves mas animados de seus aliados.

– Sr. Buck – disse o Rei – , perdoe-me por diversos pensamentos belos e sagrados, onde você era geralmente classificado como um tolo. Mas há outra coisa a ser considerada. Suponha que envie seus trabalhadores e o Sr. Wayne faça uma ação lamentável, mas que, lamento dizer, acho que ele seja bem capaz – de quebrar-lhes os dentes?

– Pensei nisso, vossa Majestade – disse Buck, tranquilo – , e acho que é simples de se precaver. Vamos enviar uma forte guarda de, digamos, uma centena de homens, uma centena de alabardeiros de North Kensington – sorriu sobriamente – que vossa Majestade aprecia tanto. Ou cento e cinquenta. Imagino que toda a população de Pump Street é de apenas uma centena.

– Ainda assim eles podem juntar-se e dar-lhes uma surra – disse o Rei, em dúvida.

– Então digamos duzentos – disse Buck, alegremente.

– Pode acontecer – disse o Rei, inquieto – que um de Notting Hill lute melhor do que dois de North Kensington.

– Pode – disse Buck, friamente – , então digamos duzentos e cinquenta.

O Rei mordeu o lábio.

– E se ainda forem espancados? – disse violentamente.

– Vossa Majestade – disse Buck recostando-se em sua cadeira – , suponha que consigam. É claro que todas as questões de combate são meras questões de aritmética. Por exemplo, aqui temos cento e cinquenta soldados de Notting Hill. Ou, digamos duzentos. Se um deles pode lutar contra dois, podemos enviar, não quatrocentos, mas seiscentos, e acabamos com eles. Isso é tudo. Está fora de toda probabilidade que qualquer um deles possa lutar contra quatro de nós. Então, o que digo é que não corramos riscos. Acabemos com isso de uma só vez. Enviemos oitocentos homens e esmagamos ele – esmagamos ele quase sem sequer vê-lo. E continuamos com as melhorias.

E o Sr. Buck tirou um lenço e assoou o nariz.

– Sabe sr. Buck – disse o rei, olhando melancolicamente para a mesa – , a clareza admirável de sua razão produz em minha mente um sentimento, espero não ofendê-lo ao descrever como uma aspiração de socar sua cabeça. Irrita-me sublimemente. Que pode ser isto? A relíquia de um senso moral?

– Mas, Majestade – disse Barker, ansiosamente e com suavidade – , não recusa as nossas propostas?

– Meu querido Barker, suas propostas são tão condenáveis como suas maneiras. Não quero ter nada a ver com elas. Suponha que as pare completamente. O que iria acontecer?

Barker respondeu numa voz muito baixa:

– Revolução.

O Rei olhou rapidamente para os homens à volta da mesa. Eles estavam todos olhando para baixo em silêncio: suas sobrancelhas estavam vermelhas.

Levantou-se com uma rapidez surpreendente, e uma palidez incomum:

– Senhores, vocês me venceram. Portanto, posso falar abertamente. Acho que Adam Wayne, que é tão louco como um chapeleiro, vale mais que um milhão de vocês. Mas vocês têm a força, e, admito, o senso comum, e ele está perdido. Levem seus oitocentos alabardeiros e o esmaguem. Embora fosse mais esportivo levar duzentos.

– Mais esportivo – disse Buck, severamente – , mas muito menos humano. Nós não somos artistas, e ruas manchadas de sangue não são uma boa visão.

– É lamentável – disse Auberon. – Com cinco a seis vezes o seu número, não haverá nenhuma luta.

– Espero que não – disse Buck, levantando-se e ajustando suas luvas. – Não desejamos nenhuma luta, Majestade. Somos pacíficos homens de negócios.

– Bem – disse o rei, cansado – , a conferência finalmente terminou.

E saiu da sala antes que qualquer outra pessoa se mexesse.

Quarenta operários, uma centena de alabardeiros de Bayswater, duzentos de South Kensington e trezentos de North Kensington se reuniram ao pé de Holland Walk e marcharam sob a direção geral de Barker, que parecia corado e feliz em traje completo. No final da procissão uma figura pequena e mal-humorado permaneceu como um moleque. Era o rei.

– Barker – disse por fim, apelativo – , você é um velho amigo meu, entende meus passatempos como entendo os seus. Por que não pode deixá-lo sozinho? Tinha esperanças da diversão que pudesse vir deste negócio do Wayne. Por que não pode deixá-lo sozinho? Realmente não importa muito – o que é uma estrada para você? Para mim, é a piada que pode me salvar de pessimismo. Leve menos homens e me divirta por uma hora. Realmente e verdadeiramente, James, se você colecionasse moedas ou colibris, e eu pudesse comprar um com o preço de sua estrada, iria comprá-lo. Coleciono incidentes, aqueles raros, essas coisas preciosas. Deixe-me ter um. Pago algumas libras por ele. Dê a estes habitantes de Notting Hill uma chance. Deixe-os em paz.

– Auberon – disse Barker, gentilmente, esquecendo todos os títulos reais em um raro momento de sinceridade – , compreendo o que você quer dizer. Tive momentos em que esses passatempos me atingiram. Tive momentos em que simpatizava com seus humores. Tive momentos, pode não acreditar facilmente, em que simpatizava com a loucura de Adam Wayne. Mas o mundo, Auberon, o mundo real, não funciona como esses passatempos. Funciona sobre grandes rodas brutais de fatos – rodas em que você é a borboleta, e Wayne é a mosca na roda.

Os olhos de Auberon se fixaram francamente nos de Baker:

– Obrigado, James. O que diz é verdade. É só um consolo entre parênteses para eu comparar a inteligência de moscas favoravelmente com a inteligência das rodas, mas é da natureza das moscas morrer logo, e da natureza de rodas andar para sempre. Vá em frente com a roda. Adeus, meu velho.

E James Barker continuou, rindo, com a tez corada, batendo o bambu em sua perna.

O rei viu a cauda do regimento recuando com um olhar genuíno de depressão, o que o fazia parecer mais um bebê do que nunca. Então, girou e juntou as mãos.

– Em um mundo sem humor, o único a fazer é comer. E quão perfeita exceção! Como podem ter estas atitudes as pessoas dignas, e fingir que algo importa, quando o ridículo total da vida é provado pelo próprio método pelo qual é suportada? Um homem atinge a lira, e diz: "A vida é real, a vida é séria", e depois entra em um quarto e se estufa com substâncias estranhas por um buraco em sua cabeça. Acho que a Natureza era de fato um pouco maior em seu humor nesses assuntos. Mas todos nós voltamos a pantomina, como voltei neste caso municipal. A natureza tem suas farsas, como o ato de comer ou a forma do canguru, para o apetite mais brutal. E mantém estrelas e montanhas para aqueles que apreciam coisas ridículas mais sutis. – Ele voltou-se para o seu escudeiro. – Mas, como eu disse ’comer’, vamos fazer um piquenique como duas boas crianças. Basta correr e trazer-me uma mesa e uma dúzia de pratos, e muita champanhe, e sob estes galhos balançando, Bowler, vamos voltar para a natureza.

6tradicional ordem de cavalaria britânica