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Memorias sobre a influencia dos descobrimentos portuguezes no conhecimento das plantas

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Os primeiros que navegaram para a costa da Malagueta foram os francezes: não só negociando nos seus portos, com quebra dos direitos de Portugal, mas atacando, como verdadeiros corsarios, alguns navios menos veleiros e menos bem armados, que encontravam isolados. Não é possivel fixar exactamente a época, em que as suas primeiras viagens tiveram logar, mas deve ter sido no começo do XVI seculo, pois que em 1531, já para ali se dirigiam com tanta frequencia, que a côrte de Lisboa se resentiu d'estas violações repetidas dos seus direitos, e entabolou longas negociações diplomaticas com a côrte de França, para pôr cobro ás invasões dos mercadores e corsarios francezes. Tomaram parte n'essas negociações, pelo lado de Portugal, os embaixadores D. Antonio do Athayde e o dr. Gaspar Vaz, e pelo lado de França, «o Cardeal de Sans, Legado e Chançarel de França, e os senhores de Memoransi, Grão-mestre e Marichal, e de Biron Almirante de França»: podendo deprehender-se da qualidade das pessoas a importancia do negocio84. Chegaram afinal a um concerto, sendo revogadas todas as cartas de marca e represarias, e publicando pouco depois o rei de França uma provisão, na qual prohibia aos seus vassallos[42] contratar nas conquistas do rei de Portugal, sob pena de confiscação de sua pessoa e bens85. Era urgente obter estas providencias, pois só no citado anno de 1531 tinham saido dos portos de Normandia, Picardia e Bretanha, não menos de sete navios com destino a Guiné. No entanto o dr. Gaspar Vaz, que andava empenhado n'estas reclamações, e dá noticia da partida d'estes navios, parece acreditar pouco na efficacia das prohibições, pois recommenda com muita instancia, que os mettam no fundo, unico remedio seguro, na sua opinião, para que taes viagens não continuassem, e o nosso commercio se não devassasse86. De feito as previsões do dr. Gaspar Vaz realisaram-se, porque as viagens continuaram. Ramusio, dando conta da navegação de um capitão de Dieppe, que no anno de 1539 foi á Malagueta e muito além, dobrando o cabo de Boa Esperança e chegando a Sumatra, affirma que os francezes corriam com frequencia a costa de Guiné87. Fr. Luiz de Sousa, relatando a partida de uma forte armada, commandada por Manuel de Macedo, que no anno de 1540 passou á costa da Malagueta, diz que o seu destino era «fazer levantar os corsarios que a continuavam com teima e força88.» Finalmente no anno de 1542, dizia o conde da Castanheira, em uma especie de memorandum sobre o estado da fazenda publica, «o trato da malagueta he devasso de vinte e oito e vinte e nove annos a esta parte» e aconselhava como remedio fazer-se uma fortaleza n'aquella costa89. Por todas estas affirmações se vê bem claramente, que os esforços de Portugal para fazer respeitar os seus direitos, já pelas vias diplomaticas, já pela força das armas, haviam sido baldados.

Não tardaram os inglezes em seguir o mesmo caminho. Thomaz Windham em 1551, João Lok em 1554, Towrson por varias vezes nos annos seguintes, e pouco depois Butter, Fenner e Baker correram a costa de Malagueta, e negociaram[43] nos seus portos90. É de notar, como prova de quanto, ainda então, aquellas paragens eram pouco conhecidas dos outros povos da Europa, que tanto os francezes como os inglezes procuravam o auxilio de portuguezes, que os guiassem nas suas primeiras viagens. A bordo do navio saido da Rochella no anno de 1531 ia como piloto o portuguez João Affonso, e em companhia de Windham foram Antonio Annes Penteado91, que então andava refugiado em Inglaterra, e outro portuguez chamado Francisco.

Por esta época ainda a malagueta conservava a sua reputação e o seu valor, sendo procurada como um dos principaes objectos de trafico da costa de Guiné. O curioso despacho do dr. Gaspar Vaz, antes citado, dá noticia de uma pequena porção d'esta especiaria, que os francezes tinham trazido directamente da Africa: a Roão vieram 17 botas92, e fôra informado de que em Flandres tinham vendido 5 ou 6, e por ventura mais alguma nos portos de Inglaterra ou Escossia. Sobre estas vendas havia o nosso embaixador dirigido uma reclamação ao almirante de França, da qual, na data do seu despacho, ainda aguardava a solução. É importante este documento, porque prova, que se então já vinha alguma malagueta á Europa por mão dos francezes, era pequena a quantidade, e não era facto vulgar93, pois que esta venda insignificante chamava a attenção e provocava os reparos do embaixador de Portugal.

 

Nas relações das primeiras viagens dos inglezes veiu egualmente mencionada a malagueta. Windham falla dos grãos, ou sementes do paiz de Sestros, como[44] incluidos em um fructo quente, semelhante aos figos94; não diz porém o nome, que parece ignorar. João Lok, que trouxe, como parte da sua carga, trinta e seis barricas d'aquella mercadoria, dá uma noticia bastante exacta dos fructos, e das sementes, chamadas pelos medicos Grana Paradisi95. Towrson é o primeiro que menciona o nome de manegeta, como sendo usado pelos negros96, e dado ás vezes á parte da costa aonde aquelle commercio era mais activo.

Se por estes documentos se prova que os francezes e os inglezes, já no meado do seculo XVI concorriam com os nossos no commercio da malagueta, prova-se egualmente que o seu trato era ainda limitado, e não affrontava sensivelmente o monopolio dos portuguezes. De feito as pequenas porções da droga a que se referem, contrastam com as avultadas quantias, que os navios de Portugal lançavam nos mercados da Europa. Por uma carta d'el-rei D. João III, de 5 de fevereiro de 1533, se vê que havia, na casa da India, mil e quinhentos quintaes de malagueta para vender97. Annos depois, no de 1537, fazia-se, por intermedio do conde da Castanheira, a venda de quatro centos quintaes a doze cruzados o quintal98. São sufficientes estes numeros para demonstrar a importancia que ainda conservava para Portugal aquelle commercio.

No entanto ia-nos escapando pouco a pouco das mãos, pela marcha natural dos acontecimentos, e mau grado os esforços da nossa diplomacia, um monopolio, que na verdade era difficil de conservar, perante os progressos realisados pelas outras nações maritimas da Europa. De feito é de crer, que as prohibições emanadas dos governos, com os quaes estavamos em relações amigaveis, se não tornassem effectivas com grande rigor, pois eram mais destinadas a dar satisfação apparente ás nossas reclamações, que a tolher o desenvolvimento da navegação e commercio, por certo agradavel a esses governos.

Não vem para aqui a historia da decadencia do nosso poder maritimo. Quando Portugal, conquistada de novo a independencia, fez um esforço supremo para restabelecer o seu dominio sobre algumas colonias quasi perdidas,[45] e para recuperar outras que totalmente lhe haviam escapado, nao pôde voltar ao estado de antiga supremacia. Não só tinha perdido o exclusivo da navegação e commercio nos mares de Guiné e do Oriente, já antes mais nominal que real, não só estava em presença de uma concorrencia absolutamente livre, mas achava-se em estado de evidente inferioridade, relativamente a outras nações. No que toca á costa occidental do continente africano, apenas conserva o dominio da Guiné portugueza e da vasta provincia de Angola. Nas regiões mais proximas ao equador, onde mais activamente se fazia o commercio da malagueta, só ficou possuindo o insignificante forte ou feitoria de S. João Baptista de Ajudá. As outras possessões portuguezas passaram para as mãos dos hollandezes e dos inglezes, que tomaram desde então a parte mais activa no commercio d'aquellas regiões. É certo, que alguns navios portuguezes continuaram até a época presente, a concorrer com os das outras nações aos portos da costa da Malagueta e do golfo de Guiné; mas este commercio feito em pequena escala, e perdendo a feição exclusivamente portugueza deixa de nos interessar n'este estudo.

Ao passo que o commercio da malagueta perde a sua importancia relativamente a Portugal, perde-a egualmente de um modo absoluto. A droga, outr'ora tão conhecida, foi pouco a pouco caindo em desuso; já porque as suas propriedades medicinaes ou aromaticas haviam sido exageradas, e se foram reduzindo ao seu verdadeiro valor; já porque a crescente facilidade de communicações fez affluir aos centros de consumo outras substancias vegetaes das diversas partes do globo, de eguaes ou superiores qualidades. Entre os negros continuou, e continua ainda, a ser usada como medicina e condimento estimulante. Ainda no seculo passado e principio do corrente a predilecção dos negros por aquelle adubo dava alguma actividade ao commercio da malagueta, pois que se vendia facilmente na America aonde estava accumulada uma grande população de escravos. É o que succedia, por exemplo, na provincia da Bahia, principalmente abastecida de escravos pela região de Benin e circumvisinhas, habituados á comida feita com azeite de palma e adubada com as substancias vegetaes aromaticas da sua terra natal. Hoje porém, que o trafico da escravatura está mui limitado, este consumo deve ter diminuido, se não cessado inteiramente. Entre os povos civilisados o emprego da malagueta é modernamente pouco consideravel. No entanto dos portos das costas da Malagueta, do Marfim e do Ouro, ainda se embarca alguma para Inglaterra, França, Hollanda, Estados Unidos e outros destinos. É empregada na preparação de medicamentos para os animaes, raras vezes usada como condimento, servindo principalmente para dar um gosto forte a alguns cordeaes99.[46]

Como se vê tem decaido muito da sua antiga nomeada a celebrada droga da edade média: tão celebrada, que as suas suppostas excellencias e o mysterio da sua origem lhe haviam conquistado o nome de semente do parayso.

V
Conclusões

É facil agora, resumindo o que levamos dito, definir em breves palavras, qual foi a influencia das viagens portuguezas sobre o conhecimento d'aquella notavel planta, e sobre o trafico commercial a que deu logar.

Vimos nas paginas precedentes, que a malagueta é a semente de uma especie vegetal, o Amomum Granum paradisi, localisada em uma vasta zona da Africa equatorial, que se estende das praias do Atlantico até a um limite oriental ainda pouco definido. A densa população de raça negra d'aquella região, conheceu sem duvida as suas propriedades, e empregou-a desde épocas muito remotas. Ficou porém ignorada dos povos da Europa, que só em um periodo retalivamente recente, tiveram noticia das terras, hoje geralmente designadas com o nome de Sudan.

Á subita e singular expansão da raça arabe, que se seguiu ao estabelecimento da religião mahometana, se prendem os successos historicos que abriram ao commercio europeu aquellas uberrimas terras. As invasões arabes na Africa septentrional, repellindo uma parte da população berbére, que se não quiz submetter ao dominio dos sectarios do Islam, determinaram a sua migração para o interior, lançando-a sobre a terra dos negros, com os quaes já antes tinham communicações, porém menos seguidas e frequentes. Não tardaram os arabes em trilhar o mesmo caminho, internando-se no sertão e pondo-se tambem em contacto com a terra dos negros, o Belad es-Sudan. Estes dois povos, affeitos á vida nómada, eram eminentemente proprios a precorrer, em longas e penosas viagens, os desvios de areia movediça, ou de rocha escalvada e sáfara do Sahará. Estabeleceu-se assim o trafico das caravanas, travando relações commerciaes entre os portos do Mediterraneo, e as ferteis regiões do Sudan. A Alexandria, a Tripoli e aos portos do Gharb affluiram os escravos, o ouro, o zibetto, a malagueta e outras mercadorias de Melli, de Kukia, ou de Timbuktu. Aos navegadores italianos, entre os quaes sobrelevaram os venezianos, que, durante seculos, tiveram em suas mãos o commercio do Mediterraneo, se deve sem duvida a introducção na Europa d'essas mercadorias, e entre ellas da malagueta. Esta conjectura é confirmada pelo estudo feito nas paginas precedentes. A primeira menção da droga, encontra-se,[47] como vimos, em um livro italiano: depois abundam as noticias em livros egualmente publicados em Italia, e as referencias á introdução pelos portos da Italia ou do meio-dia da França. Se bem as menções, de que tive conhecimento e que citei, sejam do seculo XIII e seguintes, tudo nos leva a crer que fosse conhecida no seculo XII ou mesmo XI, pois já então havia relações com o Sudan. Como vimos, os italianos começaram desde logo a usar simultaneamente de duas designações: a de malagueta ou melegeta, provavelmente de origem africana: a de grana paradisi de invenção européa, e que resume em si duas noções, a da excellencia da droga, e a da incerteza da sua patria.

De feito os italianos colheram dos mercadores africanos poucas e vagas noticias sobre as terras centraes da Africa e as suas producções. E é natural que assim fosse: mais occupados de interesses commerciaes, que de investigações scientificas, contentavam-se com fazer permutações vantajosas, sem inquirir meudamente a natureza e origem das drogas. De mais, os berbéres semi-selvagens, e os arabes, na generalidade pouco mais cultos, mal poderiam esclarecel-os sobre productos, cuja origem elles proprios talvez ignorassem, havendo-os recebido da mão dos negros. Continuaram por muito tempo as coisas n'este estado: conhecida a droga e louvada, mais ainda do que rasoavelmente o mereciam as suas qualidades, ignorada a sua procedencia vegetal e geographica.

 

Corria o XV seculo quando os portuguezes dobraram o cabo do Bojador. Transposta esta temerosa meta das anteriores navegações, alongaram-se uns após outros e á porfia pela costa do Sahará, devassando os segredos do mar tenebroso, e delineando nas cartas os contornos do grande continente africano. Attingiram emfim a foz do Senegal e penetraram pelo occidente na terra dos negros, aonde os arabes haviam chegado pelo oriente e pelo centro. Costeando as praias da Guiné, e penetrando nas suas bahias e enseadas, subindo o curso do Senegal e do Gambia, explorando os vastos estuarios do rio de Cacheo, ou do rio de Geba, os portuguezes familiarisaram-se rapidamente com as principaes producções das novas terras. Nenhuma substancia vegetal attraiu mais as attenções do que a malagueta. O exame detido, que fizemos dos documentos contemporaneos, mostrou-nos o alvoroço com que foi acolhido o encontro da celebre especiaria, e o rapido incremento tomado pelo seu commercio, dando o nome a uma vasta região. Mostrou-nos tambem, o que mais nos interessa, como os portuguezes observaram a planta, até então desconhecida dos povos da Europa. É certo que não encontramos nos seus escriptos descripções acuradas e scientificas, nem o podiamos esperar: mas patenteiam-nos um conhecimento exacto da planta, que distinguiram bem das que produzem a pimenta de rabo, e a pimenta de Guiné. Noções mais perfeitas e rigorosas sobre a estructura da especie vegetal, não as havia então, nem as houve muito tempo[48] depois, e só as encontramos nos trabalhos dos botanicos do fim do seculo passado ou do principio d'este, que citámos nas paginas precedentes. Ao passo que os portuguezes observavam pela primeira vez a planta, determinavam tambem os confins da sua habitação, descobrindo essas terras mysteriosas, até então entrevistas apenas através das obscuras e incompletas relações dos arabes. De feito os limites norte e sul da parte occidental da área habitada por aquella especie foram bem conhecidos dos portuguezes: emquanto aos limites orientaes, se então permaneceram ignorados, ainda hoje estão pouco definidos. A impenetravel Africa não revelou por emquanto todos os seus segredos, não obstante os esforços de muitos exploradores, e o sacrificio de muitos martyres da sciencia, victimas das inclemencias do seu clima ou da crueza dos seus habitantes.

O descobrimento da malagueta e outros productos da Africa equatorial, além de ter interesse puramente botanico, resultante da observação de novas fórmas vegetaes, assignala uma época notavel na historia commercial do mundo. Os portuguezes abrindo a esses productos o caminho do Atlantico, vibram o primeiro golpe ao trafico dos arabes, e á prosperidade das cidades maritimas da Italia. Desviando algumas mercadorias dos negros das cidades de Djenni ou de Timbuktu, encetam a lucta com os arabes que se ha de proseguir na Africa oriental, e na peninsula Indo-gangetica, estendendo-se até Malaca, ilhas Molucas e China. Lucta que terminou pela victoria dos portuguezes sobre os arabes o os italianos; pela victoria do Atlantico sobre o Mediterraneo. O grande movimento commercial do Oriente, abandonou durante tres seculos o mar interior, para seguir o caminho apontado pelos navegadores de Portugal dobrando o cabo de Boa Esperança. Para que nos nossos dias o trato do Oriente voltasse á antiga via do Mar Vermelho, foi necessario que a industria moderna levasse a cabo um intento collossal, perante o qual haviam recuado os monarchas egypcios, e rasgasse a estreita faxa de terra que ligava os continentes africano e asiatico.

84(Annaes de el-rey D. João III por fr. Luiz de Sousa, publicados por Alexandre Herculano, p. 374.) Os plenipotenciarios francezes, cujos nomes citei com a orthographia usada nos Annaes, eram: Antonio du Prat, chanceller de França, que abraçando em edade já avançada o estado ecclesiastico, veiu a ser arcebispo de Sens, cardeal e legado a latere: o bem conhecido Anne de Montmorenci, que então ainda não fôra elevado á dignidade de condestavel, sendo simplesmente grão mestre: e provavelmente João de Gontault, barão de Biron, que consta fôra empregado em missões diplomaticas junto do imperador e do rei de Portugal. No entanto não o encontro entre os almirantes de França, sendo este cargo desempenhado, na data das negociações, por Philippe de Chabot, conde de Charny: é porém possivel, que exercesse as funcções de almirante temporariamente e no impedimento do titular. Estas negociações sobre as viagens dos francezes, e as cartas de marca, continuaram por muito tempo, passando a França o conde da Castanheira, e depois Bernardim de Tavora. Este ultimo levava, ao que parece, instrucções para offerecer ao chanceller, ao grão-mestre e ao almirante, quatro mil cruzados a cada um, em cada anno, para os dispor melhor em favor dos interesses de Portugal. Veja-se (Ann. d'el-rei D. João III. p. 370 e 379), e o que diz o visconde de Santarem (Recherches sur la déc. etc. p. 216 e seguintes).
85Os capitulos de concerto foram passados a 11 de julho de 1531. Mais tarde os nossos direitos foram tambem reconhecidos no tratado concluido em Lyão a 14 de julho de 1536, e nas cartas patentes de Francisco I, datadas de Valença e de Lyão de 8 e 27 de agosto do mesmo anno. Veja-se o visconde de Santarém (Recherches, etc., pag. 219).
86Em um extenso e curioso despacho, de que vi o original na Torre do Tombo (Corp. Chron. p. I, maço 47, doc. 75).
87Veja-se (Delle nav. et viagg., etc. III, p. 417, v.º ed. de 1565).
88Annaes d'el-rey D. João III, p. 306.
89(Ibid., p. 404.) Deve-se notar, que o conde se não refere unicamente ao trato da droga, mas ao commercio de toda a costa, pois a palavra malagueta significa aqui a região e não a especiaria. Encontra-se muitas vezes, nos escriptores d'aquelle tempo, empregada a expressão a malagueta, por costa da Malagueta. Se este documento é, como parece, do anno de 1542, segue-se que as viagens dos francezes haviam começado pelos annos de 1513 ou 1514, um pouco mais cedo do que suppõe o visconde de Santarem (Recherches, etc., pp. 213-223).
90As narrativas d'estas viagens, publicadas por Eden e outros, foram depois reunidas na importante collecção de Hakluyt. Não tive esta obra á minha disposição, e só póde consultar a versão franceza má e incompleta, que faz parte da (Hist. gén. des voyages, etc. II p. 242 e seguintes. Paris, 1746).
91Penteado tinha feito viagens a Africa, sendo mesmo encarregado da guarda da costa da Malagueta, antes de passar a Inglaterra, aggravado por uma prisão que julgou injusta. Dos esforços feitos pelo infante D. Luiz para que voltasse ao reino, se deduz que era pessoa de importancia. Foi victima n'esta viagem dos maus tratos e dissabores, porque o fizeram passar os inglezes.
92A bota ou antes botta, segundo a orthographia proposta por Duarte Nunes de Leão, correspondia a duas terças partes de uma pipa. Dava-se tambem este nome a um barril grande ou barrica d'aquellas dimensões. Em barricas se trazia então habitualmente a malagueta. João Lok, trouxe em 1554 «thirty six butts of graines.» O butt é uma barrica da capacidade de cento e vinte e seis gallões.
93O visconde de Santarem cita brevemente este despacho, e diz que elle fixa a época em que a primeira malagueta foi levada ao mercado de Ruão. Do theor do despacho não resulta bem claramente que fosse a primeira vez, e unicamente se vê que não era um acontecimento vulgar e corrente.
94… a very hote fruit, and much like unto a fig, as it groweth on the tree. (Hakluyt II, p. 12, citado por Daniell.)
95They grow a foot and a half, or two foot from the ground, and are red as blood when they are gathered. The graines themselves are called by the Physicians Grana Paradisi. (Ibid. p. 22, citado por Daniell.)
96Já fiz notar que esta asserção, referindo-se a uma época posterior perto de um seculo ao descobrimento d'aquella parte da costa, nenhuma importancia tem relativamente á primitiva origem do nome.
97Annaes d'el-rei D. João III, etc., p. 378.
98(Ibid. p. 401). Esta venda foi talvez realisada nas feitorias de Flandres, que ainda então existiam, sendo n'este anno feitor Jorge de Barros: a feitoria de Flandres só foi desfeita no anno de 1549.
99Flükiger and Hanbury (Pharmacographia p. 592.)