A Última Missão Da Sétima Cavalaria

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“Maravilha,” Sharakova sussurrou para Karina. “O presente de Deus para a Sétima Cavalaria irá nos agraciar com sua personalidade brilhante e sua ofuscante astúcia.”

“Se eu der um tiro nele,” Karina disse, “você acha que o sargento me mandaria para o Conselho de Guerra?”

“Conselho de Guerra?” Sharakova disse. “Caramba, você ganharia uma medalha de honra.”

Elas ainda estavam rindo quando Lojab as alcançou. “Qual é a graça?”

“Você, jumento,” Sharakova disse.

“Vai à merda, Sharakova.”

“Vai você, Lojab.”

Eles passaram por uma sessão do acampamento ocupada pela cavalaria, onde os soldados escovavam seus cavalos e consertavam os adereços de couro. Depois da cavalaria estavam os fundeiros que praticavam com suas fundas. As bolsas em seus cintos continham pedras, pedaços de ferro, e grumos de chumbo.

“Lá está o mercado.” Sparks apontou para um bosque logo a frente.

Sob a sombra de carvalhos, o mercado estava lotado de pessoas comprando, vendendo, negociando, e trocando sacos de grãos por carne, panos, e ferramentas manuais.

Os cinco soldados passaram por um caminho sinuoso entre duas fileiras de mercadores que tinham suas mercadorias dispostas no chão.

“Ei, gente,” Karina disse, “olhem só aquilo.” Ela apontou para uma mulher comprando carne.

“É nosso latão,” Sparks disse.

“Não me diga, Sherlock Holmes,” Sharakova disse.

A mulher contava alguns cartuchos usados que o pelotão havia deixado no chão após a batalha.

“Ela está usando aquilo como dinheiro,” Karina disse.

“Três,” Joaquin disse. “O que ela conseguiu com três cartuchos?”

“Parece que uns 2 quilos de carne,” Karina disse.

Eles continuaram andando, procurando por mais latão.

“Olha só.”

Sparks apontou para um homem negociando com uma mulher que tinha queijo e ovos espalhados em um tecido branco. Ele a ofereceu um cartucho por um pedaço grande de queijo. A mulher balançou a cabeça, em seguida usou sua faca para medir mais ou menos metade do queijo. O homem disse alguma coisa, e ela mediu um pouco mais. Ele jogou o cartucho no tecido branco. Ela cortou o pedaço de queijo e o estendeu com um sorriso.

“Essas pessoas são um bando de idiotas,” Lojab disse, “tentando transformar nosso latão em dinheiro.”

“Parece que está funcionando muito bem,” Karina disse.

“Ei.” Lojab fungou o ar. “Vocês estão sentindo esse cheiro?”

“Sinto cheiro de fumaça,” Sharakova disse.

“Ta, legal,” Lojab disse. “Alguém está fumando maconha.”

“Bom, se alguém pode detectar marijuana no ar, seria você.”

“Vamos, é nessa direção.”

“Esquece, Lojab,” Sharakova disse. “Não precisamos ficar procurando encrenca.”

“Eu só quero ver se conseguimos comprar um pouco.”

“Estamos em serviço, seu estúpido.”

“Ele não pode nos manter em serviço vinte e quatro horas por dia.”

“Não, mas agora, nós estamos em serviço.”

“O que o Sargento não vê ninguém sente.”

Lojab caminhou por uma encosta em direção a um pequeno riacho. Os outros quatro soldados permaneceram observando ele por um momento.

“Eu não gosto disso,” Joaquin disse.

“Deixa ele,” Sparks disse. “Talvez ele aprenda uma lição.”

Lojab foi pela encosta, entrou em uma curva e saiu de vista.

“Vamos,” Sharakova disse, “se a gente não cuidar dele, ele vai acabar perdendo as bolas.”

Capítulo Nove

Quando eles alcançaram Lojab, ele estava parado na beira de um grupo de trinta soldados que estavam em círculo, assistindo dois homens lutarem. Eles riam e gritavam, berrando para os lutadores.

“A fumaça que tem aqui é o suficiente para deixar um elefante chapado,” Joaquin disse.

Os homens passavam pequenas tigelas pelo círculo. Cada homem inalava fundo em uma tigela, e depois passava para o próximo. As tigelas de barro estavam cheias com folhas de maconha fumegantes.

“Se importa se eu experimentar?” Lojab disse para um dos soldados.

O soldado o olhou de cima a baixo, murmurou alguma coisa, e então o empurrou para trás, em cima de Sparks.

Karina ligou seu comunicador. “Ei, Sargento. Está online?”

“Sim, o que foi?”

“Talvez tenhamos um pequeno confronto aqui.”

“Onde vocês estão?”

“Na mata, para baixo do mercado.”

“O que diabos vocês estão fazendo ai embaixo?”

Lojab desembainhou seu rifle, mas antes que ele conseguisse levantá-lo, dois soldados o agarraram, enquanto outro homem tomou seu rifle.

“Nós podemos discutir isso depois,” Karina disse. “Vamos precisar de ajuda.”

“Ok. Quantos devo levar comigo?”

Karina olhou para os soldados; os homens pareciam estar prontos para entrar em uma boa briga. “Que tal todo mundo?”

“Estaremos aí em dez minutos.”

Os dois soldados jogaram Lojab no ringue e o seguraram enquanto um homem grande e cabeludo saía da aglomeração para socar ele no estômago.

“Ei, seu filho da mãe horroroso,” Sharakova disse, “deixa disso.”

Ela entrou no ringue, segurando seu rifle. O homem olhou para a jovem mulher por um momento, e então deu risada dela.

Ela foi na direção dele. “Você me acha engraçada, Cara Peluda?”

“Ah, Deus,” Sparks disse, “e lá vamos nós.”

Cara Peluda puxou uma espada de quase um metro de seu cinto e sorriu para Sharakova enquanto a exibia.

“Sim, estou vendo a sua faquinha. Você viu meu rifle?” Ela o girou e apoiou o cabo no chão ao lado seu pé direito. “É sua hora, querido.”

Lojab tentou escapar, mas os dois homens o seguraram firme, puxando seus braços para as costas.

Cara Peluda moveu sua espada para o pescoço deSharakova. Ela se abaixou sobre um dos joelhos e ergueu seu rifle para bloquear o golpe. Quando a espada bateu no receptor do rifle, ela pulou, segurando o rifle em sua frente.

O homem então puxou a espada de volta tentando um golpe em seu coração. Sharakova empurrou a espada e avançou para atingi-lo no peito com o cabo do rifle. Enquanto o homem cambaleava, Sparks pegou sua baioneta e colocou no cano do seu rifle. Karina e Joaquin fizeram o mesmo. Alguns dos homens os viram e puxaram suas espadas.

Cara Peluda rondava Sharakova, balançando sua espada. Ela manteve os olhos nele. De repente, um dos soldados que estavam em volta se ajoelhou atrás dela e puxou seu pés, fazendo ela dar com a cara no chão.

Sparks correu e encostou sua baioneta no braço do homem. “Se afaste!”

O homem soltou Sharakova e rastejou para trás. Ela rolou e ficou de pé. Olhou então para seu rifle, jogado na sujeira, a três metros de distância. Cara Peluda também olhou para o rifle, sorriu e avançou até ela.

“Aqui!” Karina jogou seu rifle para Sharakova, que o pegou e apontou a ponta afiada da baioneta para o homem.

“Você quer ter um gostinho disso?” ela provocou.

Karina ajoelhou para pegar o rifle de Sharakova, mantendo os olhos em Cara Peluda. Joaquin entrou no ringue e ficou ao lado de Karina, seu rifle preparado. Sparks foi para o lado de Lojab. Agora todos os cinco soldados da Sétima estavam dentro de um círculo com trinta soldados de infantaria.

Cara peluda olhou para Sharakova por um segundo, disse algo, e jogou sua espada no chão. Ele bateu no peito, gritando como um gorila.

“Ah, você quer uma luta corpo a corpo, não é? Ok.” Sharakova largou seu rifle no chão e se afastou dele. “Pode vir, então, vamos nessa.”

Ele correu até ela, agarrando seu pescoço com as duas mãos. Ela empurrou seus braços entre os braços dele e abaixou os cotovelos para quebrar a força do golpe, então, em uma continuação suave do movimento, ela segurou os pulsos dele, colocou seu pé atrás do dele, e o empurrou para perder o equilíbrio.

Ele caiu no chão mas pulou, girando seu punho sobre a cabeça dela. Ela deu um passo no movimento dele, agarrou o braço, e o jogou no chão novamente.

Ele levantou, rugindo de raiva, e avançou nela. Ela deu um giro, levantando o pé direito, chutando ele nas costelas. Mas o golpe não teve efeito nele. Ele então agarrou seu pé, o torceu, e atirou ela no chão.

Os homens gritavam e torciam, berrando para os lutadores.

Sharakova ficou em pé em um pulo e avançou nele, golpeando-o no rosto com dois socos rápidos, fazendo seu nariz sangrar. Ele passou a mão pelo nariz e olhou o sangue em seus dedos, em seguida se jogou para cima ela. Sharakova foi com seu pulso para o estômago dele, mas ele foi para o lado, agarrou o braço dela, e a girou. Ele envolveu os braços ao redor de sua cintura, levantando-a do chão. Seus braços ficaram presos entre as mãos dele conforme ele espremia a vida dela. Ela se contorceu e conseguiu soltar o braço direito, então agarrou sua pistola, engatilhou, e a pressionou em suas costas e na direção dele.

Um tiro alto assustou a todos.

Alexander segurava sua pistola soltando fumaça para cima. Ele abaixou a pistola e a apontou para Cara Peluda.

“Solte ela.”

Todos os soldados sabiam o que a arma podia fazer—eles haviam visto o que causou nos saqueadores. Cara Peluda soltou Kady, encarando Alexander.

“Apache,” Alexander disse.

“Sim, bem atrás de você.”

“Veja se você consegue se comunicar com este macaco e acalmar as coisas.”

Autumn foi para a frente e jogou seu rifle sobre o ombro. Ela encarou Cara Peluda por um momento, e começou a falar. “Eu sou Autumn Eaglemoon. Nós somos a Sétima Cavalaria. Nós viemos aqui pelo céu.” Ela usava linguagem de sinais, esperando que ele entenderia um pouco do que ela estava dizendo. “Não desejamos mal a vocês, mas se não pararem de brigar, nós vamos atirar até no último de vocês seus bastardos.” Ela levantou seu dedão e dedo indicador como se fosse uma pistola, e então apontou para cada homem no círculo. “Bang, bang, bang, bang.”

 

“Um, Eaglemoon,” Alexander disse, “Eu estava pensando mais na linha de um pouco de diplomacia.”

“Você sabe algum sinal para ‘diplomacia,’ Sargento?”

“Não, mas—”

Cara Peluda armou sua mão e apontou para Autumn. “Bang, bang?”

“Isso mesmo,” Autumn disse. “Bang, bang.”

Ele disparou a rir e foi até Autumn. Ela deu um paço para trás, mas ele esticou sua mão em um gesto amigável. Ela hesitou, mas se aproximou dele.

Ele apertou sua mão e disse uma série de palavras, terminando com “Hagar.”

“Hagar?”

Cara Peluda fez que sim. Ele limpou o sangue de seu nariz, então bateu o punho no peito. “Hagar.”

“Certo, Hagar.” Ela tirou sua mão do aperto dele. “Apache.” Ela deu um tapa em seu peito.

“Apache,” ele disse, então chamou um dos seus homens.

O homem se aproximou, e Hagar pegou uma das tigelas de suas mãos. Ele ofereceu a tigela para Autumn. Ela olhou para a tigela e balançou a cabeça.

“Eu preferia algo para beber.” Ela fez um movimento de beber.

Hagar gritou um comando. Logo, uma mulher se apareceu com um jarro de barro e duas tigelas para beber. Ela ofereceu uma tigela para cada um deles, então despejou um líquido escuro do jarro.

Autumn deu um gole da tigela, em seguida estalou os lábios e sorriu.

“Vinho.” Ela estendeu a tigela para Hagar.

Ele bateu sua tigela na dela, depois engoliu todo o seu vinho. Ela tomou outro gole, e depois bebeu a tigela inteira. Eles estenderam as tigelas vazias para a mulher, e ela as encheu novamente.

Autumn apontou para Lojab, que ainda estava sendo segurado por dois soldados. “Que tal eles o soltarem?”

Hagar olhou para onde ela apontou, então fez um gesto impaciente em direção aos dois homens. Eles soltaram Lojab. Ele cambaleou para frente, se equilibrou, e então se limpou.

Autumn fez um brinde com Hagar. “Diplomacia!”

“Apache!”

Os dois esvaziaram suas tigelas.

“Pega leve,” Alexander disse, “você sabe que não aguenta sua aguardente.”

Lojab pegou seu rifle e foi em direção a Sharakova. “Você não consegue cuidar da sua vida? Eu tinha a situação sob controle até você ficar maluca”

“Ah sim, estava sob controle. Eu vi quando você atacou o punho daquele cara com seu estômago.”

“Se o Sargento não tivesse aparecido para salvar a sua pele,” Lojab disse, “você estaria morta.”

“Uh-huh. Bom, da próxima vez que você quiser ficar chapado, se jogue em baixo de um elefante,” ela disse enquanto trocava de rifle com Karina.

* * * * *

No dia seguinte, no fim da tarde, Liada e Tin Tin foram até o pelotão. Mas elas não traziam sorrisos habituais e seus comentários alegres.

“Nós encontrar vocês Rocrainium,” Liada disse.

Capítulo Dez

Já era quase noite quando eles entraram na pequena clareira, a três quilômetros do seu acampamento no rio.

“Meu Deus,” Sharakova disse, “o que aconteceu com ele?”

“Foi torturado,” Alexander disse. “Uma morte lenta e dolorosa.”

Seis membros do pelotão, junto com Tin Tin Ban Sunia e Liada, estavam olhando para o corpo. O resto do pelotão havia ficado no campo, com Kawalski.

Uma dúzia de soldados esperava ali perto, vigiando a mata ao redor.

Autumn pegou um lenço azul e amarelo de um bolso interno para cobrir as genitais do capitão, pelo menos o que havia restado delas.

“Malditos selvagens,” ela sussurrou enquanto estendia o lenço sobre ele.

“Eles fizeram isso porque matamos tantos deles na trilha?” Sharakova perguntou.

“Não,” Alexander respondeu. “Ele está morto há vários dias. Eu acho que mataram ele assim que ele pousou.”

“Eles devem ter visto ele descendo e o capturaram quando ele atingiu o chão,” Autumn disse. “Mas por que torturar ele desta forma?” Seu corpo estava coberto por numerosas feridas pequenas e hematomas.

“Eu não sei,” Alexander disse, “mas nós temos que enterrá-lo. Não há o suficiente de nós para nos defendermos de um grande ataque.” Ele lançou um olhar para a floresta que escurecia. “Não vai ser lá fora.”

“Não podemos enterrá-lo nu,” Sharakova disse.

“Por que não?” Lojab perguntou. “Ele veio ao mundo dessa forma.”

“Eu tenho um cobertor Mylar na mochila,” Joaquin disse, virando as costas para Sharakova. “Está no bolso interno.”

Quando ela puxou a manta dobrada, um objeto longo caiu da mochila. “Ai, desculpa, Joaquin.” Ela ajoelhou para pegar.

Tin Tin Ban Sunia notou o instrumento brilhante, e seus olhos se arregalaram. Ela cutucou Liada com seu cotovelo. Liada viu também, e estava claro que as duas queriam perguntar sobre aquilo mas decidiram que não era momento certo.

Sharakova entregou o instrumento para Joaquin, ele triou a sujeira do metal polido, e sorriu para ela. “Não tem problema.”

Ela estendeu a manta prateada no chão, enquanto os demais começavam a amolecer a terra com suas facas afiadas. Eles começaram a cavar a cova com as mãos. Tin Tin e Liada ajudaram, e rapidamente o buraco tinha um metro de profundidade e dois metros de comprimento.

“Isso vai servir,” Alexander disse.

Eles colocaram o corpo do capitão na manta e a dobraram sobre ele. Depois de colocá-lo gentilmente no túmulo, Autumn parou aos pés do túmulo e retirou seu capacete.

“Pai nosso, que estás no céu…”

Os demais removeram seus capacetes e abaixaram a cabeça. Liada e Tin Tin permaneceram com eles, olhando para o corpo.

Autumn finalizou o Pai Nosso, então disse, "Nós agora confiamos nosso amigo e comandante às Tuas mãos, Senhor. Amém.”

“Amém,” os outros disseram.

“Sargento,” Joaquin sussurrava enquanto segurava a flauta brilhante que havia caído de sua mochila.

Alexander balançou a cabeça, então Joaquin colocou a flauta em seus lábios e começou a tocar o Bolero, de Ravel. À medida em que as notas sombrias da música se espalhavam sobre a clareira ao crepúsculo, os outros soldados ajoelhavam-se para começar a encher a cova com terra.

Liada, também, ajoelhou, ajudando a cobrir o capitão morto.

Apenas Tin Tin Ban Sunia e Joaquin permaneceram em pé. Enquanto Tin Tin encarava boquiaberta Joaquin tocando a música, sua mão direita se moveu como que por vontade própria, como uma criatura se enroscando e caindo diretamente na bolsa de couro em seu quadril. Ela levantou a velha flauta de madeira que ela havia feito em Cartago, há onze anos.

Joaquin notou o movimento e assistiu ela pegar a flauta entre os dedos. Suas mãos, mesmo cheias de cicatrizes e pesadas, dançavam um delicado ballet nas teclas de prata. Tin Tin esperou até que ele parasse, então ela colocou a flauta nos lábios e começou a tocar.

Os demais não pareceram notar as notas da música enquanto enxiam a cova, mas Joaquin certamente notou — ela estava tocando, nota-a nota, o Bolero exatamente como ele havia tocado alguns momentos antes. Ele começou a tocar novamente, no mesmo lugar que ela mas em uma oitava menor.

Autumn olhou para Tin Tin, então para Joaquin. Ela sorriu enquanto lágrimas corriam por suas bochechas, então ela alisou a terra sobre o túmulo do Capitão Sanders.

Passava das nove quando eles retornaram ao acampamento.

“Nós ir encontrar Cateri,” Liada disse enquanto ela e Tin Tin se viraram para deixar os soldados da Sétima.

“Ok,” Karina disse. “Até mais.”

* * * * *

Foi uma noite sombria junto à fogueira. Kawalski tinha acordado enquanto os outros estavam cuidando do Capitão Sanders. Ele sentia muita dor, mas negou quando Autumn perguntou se ele queria outra dose de morfina.

“Essa coisa me deixa entorpecido. Eu posso viver sem.”

Karina contou para Kawalski como o capitão havia sido torturado até a morte.

“Caramba,” Kawalski disse. “Agora estou feliz que nós matamos vinte daqueles filhos da mãe nojentos.”

“Algumas centenas, você quis dizer,” Karina disse.

“Estou falando sobre Liada e eu. Cara, ela é boa com aquele arco. E quando ela ficou sem flechas, ela pegou meu rifle do chão e usou como um bastão.”

“Sim,” Karina disse, “depois da batalha, eu a ajudei a recuperar as flechas. Ela foi mortal.”

Fusilier pegou algumas rações da caixa de armas. “Quem quer o menu 7?”

Lojab ergueu sua mão, e ela jogou para ele.

Todos sentaram em troncos ao redor da fogueira.

“Menu 12?”

“Eu fico com esse,” Sharakova disse.

“Menu 20?”

Ninguém estava muito entusiasmado com uma refeição fria, mas alguns tentaram comer.

“Ei, Sargento.”

“Sim, Sparks.”

“Olha quem está vindo.”

Alexander viu uma carroça vindo na direção deles. “Parece ser a Cateri.” Ele ficou de pé, limpando as suas calças.

“E ela está com alguém,” Fusilier disse.

“São Tin Tin e Liada.”

Autumn as cumprimentou. “Olá.”

“Olá,” Tin Tin disse.

Liada pulou da carroça e foi até Kawalski, que estava lutando para ficar de pé.

“Precisa braço.” Liada pegou o braço dele e colocou ao redor de seus ombros.

“Sim, eu preciso de ajuda.” Ele se segurou com força enquanto dava alguns passos trêmulos.

“Vem ver.” Ela o guiou até a traseira da carroça.

“Uau,” Kawalski disse. “Ei, gente, venham dar uma olhada nisso.”

No forro do vagão havia uma grande panela de ferro cheia de grãos fumegantes e pedaços de carne. Ao lado estava uma dúzia de pães redondos, junto com várias tigelas feitas de madeira.

Cateri se esticou para puxar a panela até a beirada da carroça, em seguida passou dois longos cabos de madeira pelas argolas de metal na lateral da panela.

“Aqui,” Alexander disse, “deixe-me ajudar você.”

Ela disse algo que soou mais como “tanto faz” do que “obrigada” enquanto eles levantavam a panela juntos e a carregavam para a fogueira.

“Isso está com um cheiro realmente bom, Cateri,” Alexander disse conforme eles colocavam a panela no fogo.

Cateri encolheu os ombros e tirou uma mecha de cabelo ruivo do seu rosto, removeu os cabos de madeira da panela e os levou de volta para a carroça. Alexander observou ela voltar para a fogueira, onde soltou a tira de couro deixando seu cabelo se soltar. Grosso e longo, seu cabelo brilhoso caiu abaixo dos ombros. Ela segurou a tira de couro entre os dentes enquanto juntava as mechas, então amarrou o cabelo para trás. Ela passou por Alexander para ir ajudar Liada e Tin Tin que partiam pedaços de pão os passavam junto com as tigelas que elas enxiam com o que estava na panela.

“Nós sentimos muito,” Tin Tin disse com sinais, “pela perda do seu Sanders.”

“Obrigada,” Autumn disse e fez o sinal. “Todos nós somos gratos a vocês e o seu povo por nos ajudarem. Como sabiam que ele era o nosso homem?”

“Um, ele não tem…” Ela esfregou as bochechas, depois tocou o cabelo.

“Ah, sim. Ele não tinha barba. A maioria dos seus homens tem barba.”

Tin Tin encheu sua própria tigela e escolheu um lugar no tronco perto de Sharakova. Tin Tin olhou para Joaquin, encontrou seu olhar, e sorriu. Ele deu um sorriso e mordeu um pedaço de carne.

“Que carne é essa?” Autumn perguntou para Liada.

Liada disse alguma coisa e fez um sinal.

Autumn balançou a cabeça. “Eu não entendo.”

“Tin Tin,” Liada disse, então fez uma pergunta para ela.

Tin Tin pensou por um momento, então mugiu como uma vaca. Todos riram.

“Ah, estamos comendo carne de muu,” Autumn disse. “Deve ser de vaca, ou talvez boi. Está muito boa.”

“Que pena,” Kawalski disse. “Eu pensei que talvez fosse…” Ele relinchou, e depois cavou o chão com os pés.

Tin Tin e Liada riram com os outros.

“Eu estava pensando em ‘au au,’” Zorba Spiros disse.

 

“Ou talvez ‘miaaaaau,’” Kady disse.

Kawalski quase engasgou com um pedaço de comida, o que levou a ainda mais risadas. Cateri, que raramente sorria, deu risada de Kawalski.

Karina tocou a bochecha de Liada. “Por que te marcaram?”

Liada balançou a cabeça. “Não sei que você diz.”

“Marca, por que?” Karina tocou sua própria bochecha e levantou os ombros.

Tin Tin, sentada por perto, ouvia a conversa. Ela falou com Liada, que perguntou para Zorba Spiros em grego sobre a pergunta. Ele explicou que Karina queria saber como ela ganhou a marca em seu rosto.

“Eu fiz marca,” Liada disse, tocando a cicatriz.

“Você?” Karina apontou para Liada. “Você fez isso consigo mesma?”

Liada fez que sim.

Tin Tin veio sentar ao lado de Liada. “Isso é…um…” Ela tocou sua bochecha onde ela tinha uma marca idêntica à de Liada, mas no lado oposto do rosto. “Pode não dizer essa palavra.” Ela fez um movimento de trabalhar com uma enxada, então ela ficou em pé e fez um movimento como se atingisse alguém com um chicote.

“Escrava?” Kawalski disse. “Ela está querendo dizer ‘escrava?’”

“Elas não podem ser escravas,” Karina disse. “Elas tomam sua própria direção e fazem praticamente tudo que elas querem.”

Cateri, sentada no chão ao fim de um dos troncos, falou com Tin Tin, que levantou seus ombros.

“Elas estão tentando descobrir como nos contar alguma coisa,” Karina disse.

Joaquin ficou em pé e fez o movimento de cavar a terra, depois de carregar uma carga pesada. Ele parou para enxugar a testa, depois fingiu aparentar medo de alguém próximo. Então pegou sua enxada imaginária e voltou ao trabalho.

“Escravo,” Karina disse, apontando para Joaquin.

“Sim, escravo,” Tin Tin disse.

“Você e Liada são escravas?” Karina perguntou.

Tin Tin balançou a cabeça. “Eu fui escrava Sulobo…”

Kusbeyaw,” Liada disse. “Sulobo, kusbeyaw.”

“Tin Tin era uma escrava, e ela pertencia a Sulobo?” Joaquin perguntou.

Tin Tin e Liada pareciam concordar.

“Sim,” Karina disse. “E todos sabemos o que um kusbeyaw é.”

“Yzebel,” Liada fez um movimento de pegar moedas de sua bolsa e as entregar para alguém.

“Yzebel comprou Tin Tin.” Karina disse. “Continue.”

“Sulobo.”

“Ah, Yzebel comprou Tin Tin de Sulobo.”

“Sim,” Liada disse.

“Quantos anos tinha Tin Tin?” Karina perguntou. “Ela era um bebê?” Ela fingiu balançar um bebê em seus braços, e depois apontou para Tin Tin.

“Não,” Liada disse e esticou sua mão na altura do peito.

“Tin Tin era uma garotinha, e quem é Yzebel?”

Liada balançou um bebê em seus braços.

“Yzebel é um bebê?”

“Não. Liada é…um…”

“Liada era um bebê?”

Liada balançou a cabeça.

“Eu acho que Yzebel é mãe de Liada,” Joaquin disse.

“Ah, entendi,” Karina disse. “Yzebel segurou Liada como um bebê. Yzebel é sua mãe.”

Liada estendeu dois dedos.

“Você tem duas mães?”

Liada estendeu um dedo, depois dois. Apontando para o segundo dedo, ela disse, “Yzebel.”

“Yzebel é sua segunda mãe. E você era um bebê quando Yzebel comprou Tin Tin de Sulobo?”

“Não.” Liada estendeu sua mão na altura do peito.

“Você era uma garota quando Yzebel comprou Tin Tin?”

“Sim. E nós…” Liada abraçou Tin Tin, batendo sua cabeça na dela.

“Vocês eram como irmãs?”

Karina estendeu dois dedos, envolvendo um no outro. As duas concordaram.

“Sulobo marcou Tin Tin quando era dono dela?” Karina perguntou.

“Sim,” Liada disse. “Eu penso para mim ser igual minha irmã, Tin Tin Ban Sunia, então eu faço isso.” Suas mãos contavam a história bem claramente.

Karina fungou e enxugou sua bochecha. “E-eu não consigo…”

“Nem imaginar?” Joaquin disse.

“Não consigo nem imaginar…”

“Um laço tão forte, que marcaria a si mesma porque sua irmã foi marcada como escrava?” Joaquin disse.

Karina concordou.

O silêncio reinou por alguns minutos.

“Algo assim tão poderoso,” Kawalski disse, “faz a rotina simples das nossas vidas parecer trivial.”

“Cateri,” Liada disse, “é escrava Sulobo.”

“O quê?” Alexander exclamou.

“Sim,” Tin Tin disse.

“Cateri,” Alexander perguntou, “é escrava de Sulobo?”

Cateri disse algo para Liada, que falou com ela em sua linguagem. Cateri então soltou o cordão no colarinho de sua túnica, e Liada puxou as costas da túnica para baixo o suficiente para eles verem a marca de escravidão em sua escápula direita.

“Caramba,” Kawalski disse, “como alguém pode fazer isso?”

Karina tocou a cicatriz. “Tão cruel, mas a marca é diferente.”

“Sim,” Joaquin disse. “Liada e Tin Tin têm uma flecha no eixo da forquilha. A marca de Cateri tem a forquilha com a cobra enrolada no cabo, mas não a flecha.”

“Mas por quê?” Karina perguntou.

“É uma marca em atual,” Kawalski disse. “No velho oeste, quando uma vaca era vendida, ou roubada, eles tinham que transformar a marca antiga em algo diferente. Eles usavam uma marca atual para alterar a marca velha. A flecha na marca de Tin Tin e Liada é atual, adicionada para mostrar que elas não pertencem ao proprietário original.”

“Essas mulheres são tratas como gado,” Karina disse. “Compradas e vendidas como se fossem animais.”

“Sulobo,” Alexander disse, “aquele filho da mãe.”

Cateri ajustou o colar e apertou o colarinho. Ela então se virou para deixá-los.

“Espere.” Alexander segurou seu braço para impedi-la. “Não vá.”

Ela o encarou.

“Você não tem que ser uma escrava. A escravidão foi banida há duzentos anos.”

Cateri encarou Liada, depois Liada olhou para Autumn esperando uma explicação do que Alexander havia dito.

“Hmm,” Autumn disse, “como posso dizer ‘liberdade’ em sinais—”

Lojab interrompeu. “Eu vou comprá-la de Sulobo.”

“Claro, Lojab,” Kady disse, “você adoraria isso, ter a propriedade de uma mulher. Seu idiota tosco.”

“Eu não acho que a Sétima Cavalaria vai possuir escravo algum,” Karina disse.

“Suas estúpidas,” Lojab disse, “vocês estão todas irritadas porque ninguém pagaria por vocês.”

“Coma merda e morra, Lojab,” Kady disse.

“Pare com isso, Lojab,” Alexander disse. “Não é necessário,” ele disse enquanto observava Cateri se afastar.