A Última Missão Da Sétima Cavalaria

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Capítulo Dois

“Noventa por cento dos indianos falam inglês,” Ledbetter disse.

“Ei, Apache,” Joaquin disse, “Lead Butt falou ‘indianos.’”

“Tudo bem; eles são indianos,” Eaglemoon respondeu.

“Por que não nativos do subcontinente asiático?”

Alexander balançou a cabeça em negação. “Nós não estamos na Índia. Provavelmente fazem parte de uma trupe de circo.”

“Sério? Bom, eles devem ter feito um show dos diabos para assustar assim todas aquelas pessoas.”

“Kawalski,” Alexander perguntou, “as duas mulheres estão armadas?”

“Sim.”

“Com o que?”

“Arco e flecha, e...”

Alexander encarou Joaquin, que ergueu as sobrancelhas.

“E o que, Kawalski?”

“Beleza. São duas gostosas.”

“O Kawalski acha que qualquer coisa com seios é gostosa,” Kady disse no comunicador.

“Que estranho, Sharakova; eu nunca achei que você fosse gostosa.”

“Você nunca me viu usando um vestido.”

“Obrigado Deus pelas pequenas alegrias.”

“A que distância elas estão, Kawalski?” Alexander perguntou.

“Cinquenta metros.”


“Por serem elefantes, até que estão bem quietos.”

“Provavelmente andando na ponta dos pés.”

“Fiquem quietos!” Alexander disse. “Pode ser uma armadilha. Estejam prontos para tudo.”

Quando os elefantes ficaram lado a lado com Alexander, ele não viu nenhum sinal de emboscada, e as duas mulheres não pareciam ameaçadoras. Ele saiu de trás da árvore e levantou sua mão em um gesto amigável.

“Olá.”

A mulher que estava mais perto dele soltou uma exclamação.

“Talvez essas pessoas nunca tenham visto capacetes do exército.”

Alexander tirou seu capacete e passou a mão pela cabeça quase careca. As mulheres se encararam e falaram algo que ele não conseguiu entender.

“Agora você está realmente assustando elas, sargento,” Kawalski disse. “Coloque de volta.”

“Muito engraçado.”

Elas olharam para baixo encarando Alexander, mas não tentaram parar os animais. O primeiro elefante tinha cerca de dois metros de altura até o ombro, e o outro era um metro mais alto, com orelhas do tamanho das portas de um caminhão de dezoito rodas. Ele era guiado por uma mulher jovem e magra de cabelo ruivo. A mulher que guiava o elefante menor era muito parecida, mas seu cabelo era loiro. As duas tinham uma espécie de emblema ou marca em seus rostos.

Alguns metros a frente, Lojab saiu de uma moita. Ele tirou seu capacete e fez uma reverência, então se endireitou e sorriu para a loira.

“Olá, madame. Aparentemente eu perdi o meu Porsche. Você pode me levar até o McDonald’s mais próximo?”

Ela sorriu, mas não disse nada. Ele a observou balançar para frente e para trás em um movimento fácil, fluido, perfeitamente sincronizado com os movimentos do elefante, como uma dança erótica entre mulher e fera. Lojab caminhou ao lado do animal, mas então percebeu que teria que correr para acompanhar.

“Para onde as senhoritas vão? Talvez poderíamos nos encontrar hoje à noite e tomar uma cerveja, ou duas, ou cinco.”

Ela disse três ou quatro palavras, mas nada que ele pudesse entender. E então voltou a prestar atenção no caminho à frente.

“Ok.” Ele parou no meio da trilha e assistiu ela esticar a mão para tirar um galho de árvore do caminho. “Te encontro lá, perto das oito horas.”

“Lojab.” Karina apareceu e parou atrás dele. “Você é patético.”

“O que você quer dizer? Ela disse pra encontrá-la hoje à noite no Bar e Churrascaria do Joe.”

“Ah, beleza. Em que cidade? Kandar? Carachi? Nova Delhi?”

“Vocês repararam na tatuagem delas?” Joaquin perguntou.

“Sim, bem nos rostos,” Kady disse.

Joaquin fez que sim com a cabeça. “Parecia o tridente do diabo com uma cobra, ou alguma coisa assim.”

“Elefante chegando,” Kawalski disse.

“Devemos nos esconder, sargento?”

“Por que se incomodar?” Alexander respondeu.

O terceiro elefante era guiado por um jovem. Seu longo cabelo arenoso estava preso para trás com uma tira de couro. Ele estava nu até a cintura, seus músculos bem definidos. Olhou para os soldados, e da mesma forma que as mulheres, carregava um arco e uma aljava de flechas nas costas.

“Eu vou tentar um pouco de espanhol com ele.” Karina removeu seu capacete. “Cómo se llama?”

O jovem a ignorou.

A qué distancia está Kandahar?” Ela se voltou para o sargento Alexander. “Eu perguntei a ele qual a distância até Kandar.”

O guia do elefante falou algumas palavras, mas parecia se direcionar mais ao seu animal que a Karina.

“O que ele disse, Karina?” Lojab perguntou.

“Ah, ele não podia parar para conversar agora. Tinha uma consulta no dentista, ou algo assim.”

“Ah, claro.”

“Mais elefantes vindo aí,” Kawalski disse.

“Quantos?”

“Um rebanho inteiro. Trinta ou mais. Talvez vocês queiram sair do caminho. Eles estão espalhados.”

“Certo,” Alexander falou, “todo mundo deste lado da trilha. Vamos ficar juntos.”

O pelotão não se importou em ficar escondido enquanto assistiam os elefantes passarem. Os animais ignoraram os soldados enquanto agarravam galhos de árvore com suas trompas e os mastigavam ao mesmo tempo que caminhavam. Alguns dos animais eram dirigidos por mahouts, e outros vinham com os treinadores andando ao lado deles. Alguns elefantes menores seguiam o rebanho, sem ninguém cuidando deles. Todos eles paravam ocasionalmente, puxando tufos de grama para comer.

“Ei, Sparks,” Alexander disse.

“Sim, sargento?”

“Tente encontrar Kandar em seu rádio.”

“Eu já tentei,” Sparks respondeu. “Não consegui nada.”

“Tente de novo.”

“Isso.”

“Você tentou usar seu GPS T-DARD para ver onde estamos?”

“Meu T-DARD ficou louco. Ele acha que estamos na Costa Azul.”

“Costa Azul, é? Seria agradável.” Alexander olhou para seus soldados. “Eu sei que vocês foram ordenados a deixar seus celulares no quartel, mas será que alguém não trouxe um sem querer?”

Todos puxaram seus telefones.

“Jesus!” Alexander balançou a cabeça em negação.

“E é uma boa coisa, também, Sargento.” Karina empurrou seu capacete para cima e colocou o celular na orelha. “Com rádio e GPS na palma da mão, de que outra forma poderíamos descobrir onde estamos?”

“Não encontro nada.” Paxton bateu seu celular no tronco de uma árvore e tentou de novo.

“Provavelmente você não pagou sua fatura.” Karina digitava uma mensagem de texto com seus polegares.

“Nada aqui,” Joaquin disse.

“Estou ligando para o 9-1-1,” Kady disse. “Eles vão saber onde estamos.”

“Você não precisa ligar para o 9-1-1, Sharakova,” Alexander disse. “Isto não é uma emergência, ainda.”

“Nós estamos muito longe das torres de telefonia,” Kawalski disse.

“Bem,” Karina disse, “isso nos diz onde não estamos.”

Alexander olhou para ela.

“Não pode ser na Costa Azul, com certeza. Provavelmente tem setenta torres ao longo daquele pedaço da costa do Mediterrâneo.”

“Certo,” Joaquin disse. “Estamos em algum lugar tão remoto, que não há torre de telefonia em oitenta quilômetros.”

“Isso poderia ser noventa por cento do Afeganistão.”

“Mas estes noventa por cento do Afeganistão nunca se pareceram com isto,” Sharakova disse, apontando para os pinheiros muito altos.

Atrás dos elefantes vinha um comboio de carros de boi carregados com feno e grandes potes de barro cheios de grãos. O feno estava empilhado até o alto e amarrado com tiras de grama. Cada carro era puxado por dois bois pequenos, pouco mais altos do que um pônei Shetland. Eles trotavam em um bom ritmo, conduzidos por homens que caminhavam ao lado deles.


Demorou vinte minutos para que os carros de feno passassem. Eles eram seguidos por duas colunas de homens, todos vestindo túnicas curtas de diferentes cores e estilos, com saias de proteção de tiras grossas de couro. A maioria estava nu até a cintura, e todos eram musculosos e cheios de cicatrizes. Eles carregavam escudos feitos de pele de elefante. Suas espadas de dois gumes tinham cerca de sessenta centímetros e eram levemente curvadas.

“Parecem durões,” Karina disse.

“Sim,” Kady disse. “Aquelas cicatrizes são de verdade?”

“Ei, sargento,” Joaquin disse.

“Sim?”

“Você notou que nenhuma destas pessoas tem o menor medo das nossas armas?”

“Sim,” Alexander falou enquanto observava os homens passarem.

Eram cerca de duzentos soldados, e eles eram seguidos por outra companhia de combatentes, mas estes estavam a cavalo.

“Eles devem estar gravando um filme em algum lugar lá na frente,” Kady disse.

“Se estiverem,” Kawalski disse, “conseguiram um monte de atores feios.”

Eles viram mais de quinhentos soldados montados, que eram seguidos por um pequeno grupo de homens a pé, vestindo túnicas brancas que se pareciam com togas.

Atrás dos homens de branco vinha outro comboio. Os carros de duas rodas levavam grandes potes de barro, pedaços de carne crua, e dois vagões estavam carregados de porcos guinchando.

 

Um cavalo e seu cavaleiro vieram galopando da frente da coluna, no lado oposto da trilha do pelotão.

“Ele está com pressa,” Karina disse.

“Sim, e está sem estribos,” Lojab comentou. “Como é que ele fica na sela?”

“Eu não sei, mas aquele cara deve ter um metro e noventa.”

“Provavelmente. E olha só aquela fantasia.”

O homem vestia um peitoral de bronze gravado, capacete de metal com pelo vermelho de animal no topo, um manto escarlate, e sandálias extravagantes, com cordões de couro amarrados nos seus tornozelos. Sua sela era coberta por pele de leopardo.

Uma dúzia de crianças corria na beira da trilha, passando pelos carros. Eles vestiam sarongues curtos feitos de um tecido áspero e de cor morena, estendendo-se até os joelhos. Exceto por um deles, estavam nus acima da cintura e tinham a pele escura, mas não negra. Eles carregavam volumosas bolsas de pele de cabra, com tiras sobre seus ombros. Cada um segurava uma tigela de madeira em uma das mãos. As tigelas eram presas aos seus pulsos por um pedaço de couro.

Um dos meninos viu o pelotão de Alexander e foi correndo até eles. Ele parou em frente a Karina e inclinou sua bolsa para encher a tigela com um líquido claro. Com a cabeça baixa, e usando as duas mãos, ele estendeu a tigela para Karina.

“Obrigada.” Ela pegou a tigela e a levantou em direção aos lábios.

“Espere,” Alexander disse.

“O quê?” Karina perguntou.

“Você não sabe o que é isso.”

“Parece ser água, sargento.”

Alexander foi até ela, mergulhou o dedo na tigela, e tocou sua língua. Ele estalou os lábios. “Tudo bem, dê um pequeno gole.”

“Não depois de você ter enfiado seu dedo aí.” Ela sorriu para ele. “Brincadeirinha.” Ela tomou um gole, e então bebeu metade da tigela. “Obrigada, muito obrigada,” ela disse, e então e devolveu a tigela para o menino.

Ele pegou a tigela, mas ainda sem olhá-la; em vez disso, ele manteve os olhos fixados nos pés dela.

Quando as outras crianças viram Karina beber da tigela, quatro delas, três meninos e a única garota do grupo, se apressaram para servir água ao resto do pelotão. Todos eles mantinham a cabeça baixa, jamais olhando para os rostos dos soldados.

A menina, que aparentava ter cerca de nove anos, estendeu sua tigela para Sparks.

“Obrigado.” Sparks bebeu a água e devolveu a tigela para ela.

Ela o espiou, mas quando ele sorriu, ela jogou a cabeça para baixo novamente.

Alguém na linha de marcha gritou, e todas as crianças esticaram suas mãos, educadamente esperando as suas tigelas serem devolvidas. Assim que cada menino recebia sua tigela, corria de volta para seu lugar na trilha.

A menina correu de volta para seu lugar atrás do menino que havia servido água para Karina. Ele olhou de volta para Karina, e quando ela acenou ele levantou a mão, mas se deteve e voltou a correr ao lado da trilha.

Um grande rebanho de ovelhas passou, balindo e murmurando. Quatro meninos com seus cachorros as mantinham no caminho. Um dos cachorros — um animal grande e preto com uma das orelhas arrancadas — parou para latir para o pelotão, mas logo perdeu o interesse e correu para alcançar o grupo.

“Você sabe o que eu acho?” Kady perguntou.

“Ninguém liga para o que você acha, cara de cicatriz,” Lojab disse.

“O que, Sharakova?” Alexander olhou de Lojab para Kady.

A cicatriz de dois centímetros que corria pelo meio do nariz de Kady escureceu conforme seu pulso acelerava. Mas ao invés de deixar sua desfiguração amortecer seu espírito, ela a usou para encorajar sua atitude. Ela olhou para Lojab de uma forma que poderia esmorecer erva daninha.

“Chupa essa, Lojab,” ela falou, mostrou o dedo do meio e depois se dirigiu a Alexander. “Isso é uma reconstituição.”

“Do quê?” Alexander passou os dedos por cima de sua boca, disfarçando um pequeno sorriso.

“Eu não sei, mas você lembra daqueles shows da PBS onde os homens se vestiam com uniformes da Guerra Civil e se alinhavam para atirar de mentira uns nos outros?"

“Sim.”

“Aquilo é uma recriação de uma batalha de Guerra Civil. Aquelas pessoas estão fazendo uma reconstituição.”

“Talvez.”

“Eles tiveram muito trabalho para fazer dar certo,” Karina disse.

“Fazer o que dar certo?” Lojab perguntou. “Algum tipo de migração medieval?”

“Se é uma recriação,” Joaquin disse, “onde estão todos os turistas e suas câmeras? Onde está o pessoal da TV? Os políticos levando o crédito por tudo?”

“É,” Alexander disse, “onde estão as câmeras? Ei, Sparks,” prosseguiu em seu comunicador, “onde está seu Flappy Bird?”

“Você quis dizer a Dragonfly?” o soldado Richard ‘Sparks’ McAlister perguntou.

“Sim.”

“Está na maleta dela.”

“O quão alto ela pode voar?”

“Mais ou menos mil e quinhentos metros. Por quê?”

“Mande ela para cima para vermos o quão longe estamos do Deserto de Registan,“ Alexander disse. “Por mais que eu fosse adorar passar um tempo aqui e assistir ao show, nós ainda temos uma missão para completar.”

“Ok, Sargento,” Sparks disse. “Mas a maleta está na nossa caixa de armas.”

Capítulo Três

Os soldados se reuniram em volta de Alexander enquanto ele abria seu mapa no chão.

“Qual a velocidade de voo do C-130?” ele perguntou para o aviador Trover, um tripulante da aeronave.

“Aproximadamente quinhentos e trinta quilômetros por hora.”

“Quanto tempo ficamos no ar?”

“Nós saímos de Kandar às quatro da tarde.” Trover conferiu seu relógio. “Agora são quase cinco, então cerca de uma hora voando.”

“Quinhentos e trinta quilômetros,” Alexander sussurrou enquanto desenhava um círculo ao redor de Kandar. “Uma hora ao leste nos levaria ao Paquistão. Neste caso, aquele rio que nós vimos é o Rio Indo. Uma hora ao oeste, e nós estaríamos dentro do Irã, mas não há grandes rios lá. Uma hora ao sudoeste é o Deserto de Registan, bem onde nós deveríamos estar, mas nada de florestas ou rios naquela região. Uma hora ao norte, e ainda estaríamos no Afeganistão, mas esse é um país árido.”

Karina olhou para seu relógio. “Que horas são aí, Kawalski?”

“Hum, cinco minutos para as cinco.”

“É, é isso que eu vejo aqui também.” Karina ficou quieta por um momento. “Sargento, alguma coisa não está se encaixando por aqui.”

“O que foi?” Alexander perguntou.

“Todos os relógios nos dizem que estamos no fim da tarde, mas olhe para o sol; está quase diretamente em cima das nossas cabeças. Como isso é possível?”

Alexander olhou para o sol, e em seguida para seu relógio. “Alguém me dê um tapa. Onde está Sparks?”

“Aqui, Sargento.”

“Verifique aquela informação do GPS novamente.”

“Ainda diz que estamos na Costa Azul.”

“Trover,” Alexander disse, “qual o alcance do C-130?”

“Cerca dequatro mil e oitocentos quilômetros sem reabastecer.”

Alexander batia no mapa com seu lápis. “A França está a pelo menos seis mil e quatrocentos quilômetros de Kandar,” ele disse. “Mesmo que o avião tivesse combustível suficiente para voar até a França–o que ele não tinha–nós teríamos que passar mais de vinte horas no ar–o que não passamos. Então, vamos parar com esta besteira de Costa Azul.” Ele olhou para seus soldados ao redor dele. “Tudo bem?”

Sparks fez que não com a cabeça.

“O quê?” Alexander perguntou.

“Não vê as nossas sombras?” Sparks perguntou.

Olhando para o chão, vemos muito pouco delas.

“Eu acho que agora são umas duas da tarde,” Sparks disse. “Nossos relógios estão errados.”

“Todos os nossos relógios estão errados?”

“Estou apenas falando o que eu vejo. Se realmente for cinco da tarde, o sol deveria estar ali.” Sparks apontou para o céu em aproximadamente quarenta e cinco graus acima do horizonte. “E as nossas sombras deveriam ser longas, mas o sol está lá.” E apontou direto pra cima. “Na Costa Azul, agora mesmo, é meio-dia.” Ele olhou para o rosto desconfiado de Alexander. “A França está cinco horas atrás do Afeganistão.”

Alexander lhe lançou um olhar fulminante. “Tudo bem, a única forma de resolver isso é encontrar nosso caixote de armas, pegar aquele seu brinquedo Flappy Bird, e mandá-lo lá para cima para ver onde diabos nós estamos.”

“Como vamos encontrar a caixa, Sargento?” Lojab perguntou.

“Vamos ter que encontrar alguém que fale inglês.”

“O nome dela é ‘Dragonfly,’” Sparks resmungou.

“Ei,” Karina disse, “lá vem mais cavalaria.”

Eles observaram duas colunas de soldados fortemente armados passarem montados a cavalo. Os cavalos os maiores que eles já haviam visto na vida, e os homens vestiam peitorais de ferro, junto com capacetes do mesmo estilo. Suas ombreiras e punhos eram feitos de couro grosso. Escudos circulares estavam pendurados em suas costas, e cada homem carregava uma longa espada, além de adagas e outras facas. Seus rostos, braços, e pernas exibiam muitas cicatrizes de batalha. Os soldados cavalgavam com freios e rédeas, mas sem estribos.

Demorou quase vinte minutos para a cavalaria passar. Atrás deles, o caminho estava livre até o ponto em que desaparecia, ao redor de um bosque de pequenos pinheiros-de-alepo.

“Bom,” Lojab disse, “finalmente, são os últimos.”

Alexander olhou pela trilha. “Talvez.”

Depois da passagem de quarenta elefantes, centenas de cavalos e bois, e mais de mil pessoas, a trilha havia sido reduzida a sujeira pulverizada.

Um soldado a cavalo galopava no lado oposto da trilha, vindo da frente da coluna. O pelotão observou o guia frear seu cavalo até derrapar para que parasse, e então se virar para cavalgar ao lado de um homem que havia acabado de fazer uma curva na trilha.

“Aquele deve ser o cara que está no comando,” Lojab disse.

“Qual deles?” Karina perguntou.

“O homem que acabou de sair da curva.”

“Poderia ser,” Alexander disse.

O homem era alto, e estava em um enorme cavalo de guerra preto. Vinte passos atrás dele estava o oficial alto com o manto escarlate que havia passado mais cedo, e atrás do oficial cavalgavam quatro colunas de soldados, usando brilhantes peitorais de bronze e capacetes combinando. Suas capas escarlates tremulavam na brisa.

O homem no cavalo de guerra trotava enquanto o vigia falava com ele. Ele não chegou a perceber a presença do mensageiro, mas pareceu escutar atentamente o que ele tinha a dizer. Após um momento, o homem no cavalo de guerra disse algumas palavras e enviou o mensageiro galopando para a frente.

Quando o oficial ficou lado a lado com a Sétima Cavalaria, seu cavalo se empinou para o lado conforme estudava o pelotão do Sargento Alexander junto com seu cavaleiro. O oficial demonstrou mais interesse neles do que qualquer um havia demonstrado.

“Ei, Sargento,” Karina falou em seu comunicador, “se lembra daquele general quatro estrelas que veio ao campo de Kandar mês passado para avaliar as tropas?”

“Sim, esse seria o general Nicholson.”

“Bom, sinto que eu deveria ficar em sentido e prestar continência para esse cara, também.”

O homem a cavalo estava sentado reto como uma vareta, e o seu capacete de bronze polido com um moicano vermelho de pelo de javali no topo fazia ele parecer ser ainda mais alto do que os seus um metro e noventa. Ele usava uma túnica assim como os outros, mas a sua era feita de um material vermelho parecido com seda, e era costurada com duas finas fileiras de pontos brancos. As tiras da sua saia de couro eram finalizadas em prata, e o punho de sua espada era ornamentado com prata e ouro, assim como a bainha de sua falcata. Suas botas eram feitas de couro trabalhado e iam até acima de suas panturrilhas.

Sua sela era coberta com pele de leão, e o cavalo usava um pesado peitoral, em conjunto com armaduras de couro nas suas pernas frontais e uma grossa placa de prata em sua testa. O cavalo era espirituoso, o homem tinha que manter as rédeas pressionadas para impedi-lo de sair galopando. O arreio do pescoço possuía uma dúzia de pequenos sinos, que chacoalhavam conforme o cavalo trotava.

 

“Ele tem, de fato, um certo ar de autoridade,” Alexander disse.

“Se alguém tivesse estribos,” Kawalski disse, “eu deveria ser esse cara.”

Um vigia veio galopando pelo caminho e virou seu cavalo para ficar ao lado do general. Com um movimento rápido do pulso, o general afastou seu cavalo do pelotão e escutou ao relato do escoteiro enquanto eles iam para longe de Alexander e seus soldados. Um momento depois, o general deu algumas instruções ao vigia e o enviou para frente.

O esquadrão de cavaleiros com capa vermelha mostrou mais interesse em Alexander e suas tropas que os demais soldados. Eles eram jovens, de até uns vinte e poucos anos, bem vestidos, e cavalgando bons cavalos. Não tinhamcicatrizes de batalha como os outros homens.

“Eles parecem um bando de segundos-tenentes covardes pra mim.” Lojab cuspiu no chão enquanto os observava.

“Igualzinho aos cadetes assim que saem da academia,” Autumn disse.

Atrás dos cadetes veio outro comboio com grandes carroças de quatro rodas. A primeira estava carregada com uma dúzia de baús pesados. As outras continham fardos de peles com muitos pelos, espadas reserva, lanças, e feixes de flechas, junto com muitos vasos de barro do tamanho de pequenos barris, cheios de frutas secas e grãos. Quatro carroças estavam carregadas até o alto com gansos, galinhas, e pombos piando em gaiolas. Elas eram puxadas por grupos de dez bois.

Assim como os carros, se moviam com rodas maciças, sem raios.

Depois das carroças vieram mais carros de duas rodas, carregados com pedaços de carne e outros suprimentos. Vinte carros apareceram nesse grupo, e eles foram seguidos por uma dúzia de soldados de infantaria carregando espadas e lanças.

“Uau, olhe só aquilo” Kawalski disse.

O último carro trazia algo familiar.

“Eles estão com a nossa caixa de armas!” Karina disse.

“Sim, e os paraquedas laranjas, também,” Kawalski disse.

Alexander deu uma olhada no vagão. “Filhos da mãe.” Ele se jogou na trilha e segurou os arreios dos bois. “Podem parar por aí.”

A mulher que guiava o carro lançou um olhar furioso para ele, depois estalou seu chicote, abrindo um corte no forro camuflado do capacete dele.

“Ei!” Alexander gritou. “Corta essa. Eu só quero o nosso caixote de armas.”

A mulher chicoteou novamente, mas Alexander segurou o chicote, enrolando o couro trançado em seu antebraço. Ele arrancou o chicote das mãos dela, e então avançou.

“Eu não quero te machucar, senhora.” Ele apontou para a caixa de fibra de vidro com o cabo do chicote. “Apenas estou levando o que nos pertence.”

Antes mesmo que ele pudesse alcançá-la, seis homens atrás do vagão desembainharam suas espadas e foram até ele. O primeiro forçou seu braço contra o peitoral de Alexander, empurrando ele para trás. Enquanto Alexander cambaleava, ouviu vinte rifles sendo engatilhados. Ele recuperou o equilíbrio e esticou sua mão direita.

“Segurem!”

O homem que empurrou Alexander apontava sua espada para a garganta do sargento, aparentemente despreocupado com a possibilidade de ser ferido pelos rifles M-4. Ele disse algumas palavras e balançou sua cabeça para a direita. Não foi difícil entender o que ele queria dizer; saiam da frente do carro.

“Ok, ok.” Alexander ergueu as mãos. “Eu não quero que vocês morram por uma caixa de armas.” Enquanto voltava para seus soldados, ele enrolou o chicote no cabo e enfiou em seu bolso de trás. “Abaixem suas armas, caramba. Não vamos começar uma guerra por causa daquela maldita caixa.”

“Mas, Sargento,” Karina disse, “todo o nosso equipamento está lá.”


“Nós vamos pegar de volta mais tarde. Não parece que eles descobriram como abrir—”

Um grito arrepiante veio do outro lado da trilha quando um bando de homens armados com lanças e espadas saiu correndo da mata para atacar o comboio.

“Bom,” Lojab disse, “esse deve ser o Ato Dois desse drama que não acaba nunca.”

Quando os invasores começaram a pegar pedaços de carne e jarros de grãos das carroças, a mulher sacou sua adaga e avançou em dois homens que subiam em sua carroça para pegar a caixa de armas. Um deles sacudiu a espada, fazendo um corte profundo no braço da mulher. Ela gritou, passou a faca para a outra mão, e o atacou.

“Ei!” Kawalski gritou. “Está rolando sangue de verdade!”

Os soldados do comboio correram para se juntar à batalha, agitando suas espadas e gritando. Um dos homens queestava na carroça pulou, arrastando a caixa de armas para o chão. Um soldado de infantaria tentou golpear a cabeça do homem, mas ele se esquivou, e depois avançou, apunhalando o soldado no estômago.

Mais uma centena de saqueadores saíram da mata, e ao longo de todo o caminho eles saltavam sobre as carroças, lutavam com os condutores, e jogavam suprimentos para seus companheiros no chão.

Os soldados do comboio corriam para atacar os saqueadores, mas eles eram muito mais numerosos.

Uma trompa soou três vezes, rápida e sucessivamente, de algum lugar à frente na trilha.

O saqueador na última carroça havia derrubado a mulher no chão do veículo, e agora ele levantava sua espada e a segurava com as duas mãos, se preparando para atravessar o coração dela.

Kawalski apontou seu rifle e atirou duas vezes. O homem na carroça cambaleou para trás, caindo nochão. Os olhos de seu colega desviaram do homem que agonizava para a mulher na carroça.

Ela se moveu como um gato selvagem, pegando sua adaga caída no chão da carroça e avançando sobre ele. O homem recuou sua espada e começou a movimentá-la de uma forma que arrancaria as pernas da mulher–mas uma bala da pistola de Alexander o atingiu no peito, derrubando-o em cima do caixote de armas.

Uma flecha deslizou pelo ar, passando a poucos centímetros da cabeça de Alexander. Ele jogou a cabeça para o lado e viu a flecha atingir umsoldado da infantaria na garganta.

“Se espalhem!” Alexander gritou. “Atirem o quanto puderem!”

O pelotão correu pela trilha e por entre os vagões, disparando seus rifles e pistolas reserva. Não era difícil distinguir os soldados dos saqueadores; eles vestiam peles de animais esfarrapadas, e seus cabelos eram secos e desgrenhados.

“Lojab!” Karina gritou. “Atacantes na sua esquerda. Se jogue para a direita!”

Lojab rolou no chão enquanto Karina atirava acima dele, atingindo um dos assaltantes no rosto, e Lojab atingiu outro com uma bala no peito.

“Tem mais vindo da mata!” Sparks gritou.

Um dos bandidos chutou o riflede Lojab. Ele rolou de costas e viu um segundo homem golpeando com a espada em sua direção. Ele puxou sua faca de combate e a levantou a tempo de bloquear o golpe da espada. O homem gritou e afastou sua espada enquanto o colega apontava sua espada para baixo, mirando o coração de Lojab. Lojab se desviou e a espada atingiu a terra, ele então ficou de joelhos e fincou sua faca na virilha do homem. Ele berrou, cambaleando para trás.

O bandido que restava tentou golpear a cabeça de Lojab, mas Karina havia recarregado, e ela o arrebentou com dois tiros no peito.

Lojab saltou sobre o homem que ele havia esfaqueado e cortou sua garganta.

Outros quatro saíram das árvores, gritando e brandindo suas lanças, correndo na direção de Sparks. Eles eram seguidos por dois homens armados com arco e flecha.

Sparks mirou e puxou o gatilho, mas nada aconteceu. “Meu rifle empacou!”

“Sparks!” Autumn gritou e jogou sua arma menor para ele. Ela esvaziou o carregador de seu rifle, atirando sem parar. Dois deles foram ao chão.

Sparks disparou a pistola, acabando com o terceiro.


Alexander, que estava a cinquenta metros de distância, se apoiou sobre um joelho, mirou cuidadosamente, e atirou no quarto homem que ia em direção a Sparks. O atacante cambaleou, apertou sua barriga, e caiu no chão.

Um dos arqueiros parou, preparou uma flecha, e mirou em Sparks. Sparks fez dois disparos. Uma das balas atingiu a cabeça do arqueiro, mas ele já havia lançado a flecha.

Sparks ouviu o baque, então encarou a flecha tilitando em seu peito. Ele esticou sua mão trêmula para puxá-la, mas o cabo quebrou, deixando a ponta fincada.

Autumn colocou um carregador cheio em seu rifle e matou o segundo arqueiro. “Têm mais vindo!” ela gritou.

Sparks olhou para cima e viu mais dois homens saindo da floresta, balançando suas espadas. Ele atirou em um deles na coxa ao mesmo tempo em que Autumn eliminou o outro. O assaltante ferido continuou se aproximando. Sparks disparou sua última bala da pistola, mas não acertou. O bandido se inclinou para Sparks, com sua espada descendo. Sparks rolou e atacou com a haste quebrada da flecha. O homem gritou quando a flecha cortou seu estômago. Ele caiu no chão, fazendo com que a flecha atravessasse seu corpo e saísse pelas suas costas.