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Porque vos fostes, minhas caravellas,
Carregadas de todo o meu thesoiro?
– Longas teias de luar de lhama de oiro,
Legendas a diamantes das estrellas!
 
 
Quem vos desfez, formas inconsistentes,
Por cujo amor escalei a muralha,
– Leão armado, uma espada nos dentes?
 
 
Felizes vós, ó mortos da batalha!
Sonhaes, de costas, nos olhos abertos
Reflectindo as estrellas, boquiabertos…
 
 
Quem polluiu, quem rasgou os meus lençoes de linho,
Onde esperei morrer, – meus tão castos lençoes?
Do meu jardim exiguo os altos girasoes
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
 
 
Quem quebrou (que furor cruel e simiêsco!)
A mesa de eu cear, – tabua tôsca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
– Da minha vinha o vinho acidulado e fresco…
 
 
Ó minha pobre mãe!… Não te ergas mais da cova,
Olha a noite, olha o vento.
Em ruina a casa nova… Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
 
 
Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais.
Alma da minha mãe… Não andes mais á neve,
De noite a mendigar ás portas dos casaes.
 
 
Ó meu coração torna para traz
D’onde vaes a correr, desatinado?
Meus olhos incendidos que o peccado
Queimou… Voltae horas de paz.
 
 
Vergam da neve os olmos dos caminhos,
A cinza arrefeceu sobre o brazido.
Noites da serra, o casebre transido…
– Scismae meus olhos como dois velhinhos…
 
 
Extìnctas primaveras evocae-as:
– Já vae florir o pomar das maceiras,
Hemos de enfeitar os chapeus de maias—
 
 
Socegae, esfriae, olhos febrís.
– E hemos de ir cantar nas derradeiras
Ladainhas… Doces vozes senís…—
 
 
Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhal-as…
Em que scismas, meu bem? Porque me callas
As vozes com que ha pouco me enganavas?
 
 
Castellos doidos! Tão cedo cahistes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Prescrutaram nos meus, como vão tristes!
 
 
E sobre nós cahe nupcial a neve,
Surda, em triumpho, petalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…
 
 
Em redor do teu vulto é como um veo!
¿Quem as esparze— quanta flôr— , do ceo,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabellos?
 
 
E eis quanto resta do idyllio acabado,
– Primavera que durou um momento…
Como vão longe as manhãs do convento!
– Do alegre conventinho abandonado…
 
 
Tudo acabou… Anemonas, hydrangeas.
Silindras, – flôres tão nossas amigas!
No claustro agora víçam as ortigas,
Rojam-se cobras pelas velhas lageas.
 
 
Sobre a inscripção do teu nome delìdo!
– Que os meus olhos mal podem solletrar,
Cançados… E o aroma fenecido
 
 
Que se evola do teu nome vulgar!
Ennobreceu-o a quietação do olvido.
Ó doce, ingenua, inscripção tumular.
 
 
Singra o navio. Sob a agua clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina…
– Impeccavel figura peregrina,
A distancia sem fim que nos sepára!
 
 
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente côr de rosa,
Na fria transparencia luminosa
Repousam, fundos, sob a agua plana.
 
 
E a vista sonda, reconstrue, compára.
Tantos naufragios, perdições, destróços! —
Ó fulgida visão, linda mentira!
 
 
Roseas unhinhas que a maré partira…