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Um novo mundo

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Houve então uma intermittencia, quando comecei a ouvir um borbulhar de materias crassas e subir, lentamente, pezadamente, um lodo espêsso que expellia de si um cheiro nauseabundo.

Finalmente, cessou de todo o movimento volcanico, e as fontes d'agua que, durante a erupção, tinham seccado, começaram novamente a correr.

Eu tinha sido mudo expectador das evoluções de um volcão em actividade, desde as repetidas cargas de vapores accumulados e o rompimento da crusta, até á ascensão das ondas lodosas vomitadas dos ultimos recessos do abysmo, derradeiro acto d'aquelle espantoso drama passado nas entranhas da terra.

Em quanto durou esta scena, terrifica de ver e ouvir, o calor tornára-se intenso e asphyxiante: sentia-me verdadeiramente torrado, porém a anciedade que experimentava d'observar este extraordinario phenomeno era superior a todos os soffrimentos physicos.

Quando abandonei o meu posto d'observação, a minha companheira tinha desapparecido.

Pode-se imaginar o horror da minha situação, vendo-me só n'aquellas trevas, sem poder attinar com o caminho que me reconduziria áquelle Eden aonde passára os melhores tempos da minha existencia.

Quiz chamal-a; mas como? se ella não tinha nome!

Dei um grito, e pareceu-me que mil gritos respondiam de todas as direcções.

Era simplesmente o écho da minha voz resoando nas abobedas d'aquelle vasto e deserto labyrintho.

O effeito foi tão assustador que me não atrevi a repetil-o. Julguei-me perdido, sepultado em vida, e perdida para mim, essa creatura por quem daria a felicidade eterna.

Estendi as mãos para apalpar um objecto que me podesse servir de apoio.

Encontrei o vacuo!

Receoso de dar um passo em falso, não me buli.

Então, é que comprehendi todo o horror da minha situação.

Nem ao menos, podia caminhar ás apalpadellas.

Derepente, pareceu-me distinguir um ponto luminoso semelhante á claridade electrica da gruta cristallina.

Seria alguma fenda que communicasse com ella?

Deliberei-me arrostar todos os perigos. Tudo era preferivel a morrer, lentamente, em meio de trevas eternas, e morrer, a peior das mortes; pela fome.

Sondando o terreno, passo a passo, e servindo-me das mãos como d'escudo, fui caminhando na direcção d'aquella diminuta estrella em ceu tétrico, unica esperança que me restava.

O ponto luminoso hia augmentando, e na mesma proporção, diminuia a minha agonia.

Reconheci que procedia do ramo que nos havia servido de guia em meio da tenebrosa escuridão da caliginosa noite do centro do globo.

Avancei reanimado: iria ter luz ao menos, mas se ella me tivesse desamparado, de que me serviria, se o contacto d'esse facho sem o isolador, era fatal!

Desamparado! repetia eu, de mim para mim!

Não! não é possivel! mil vezes não! Ella era o meu anjo da guarda!

Teria ella fugido espavorida d'aquelle espectaculo medonho e aterrador, e, esquecendo-se do perigo, tocado, com a mão desarmada, no fatal ramo?

Iria eu encontral-a morta?

Esta idea tornou-me louco!

Ja não tacteava o caminho; avancei, sem precaução para a luz n'um dilirio atroz. Tropecei e cahi: faltaram-me as forças para me erguer: – arrastei-me como um reptil.

Na minha anciedade de chegar, pareceu-me que a luz se afastava!

Gritei doudamente, e as cavernas da terra repercutiam o grito que me chegava sinistramente aos ouvidos.

Sentia que se me esgotavam as forças, e confesso-te que me senti repassado d'horror.

Mas a luz ainda lá estava: logo, o seu afastamento era uma illusão das minhas faculdades.

Ergui-me, caminhava já mais desembaraçado; uma quasi imperceptivel claridade permittia-me ver que não tinha obstaculo na minha frente, e ao passo que avançava o caminho via-se distinctamente.

Guiado pela luz electrica, entrei alvoraçado n'uma gruta e cahi de joelhos ante o corpo inanimado d'aquelle ente adorado.

Morta! meu Deus! exclamei, respondendo ás minhas apprehenções.

E os echos de novo repetiram: Morta!

Abracei aquelle corpo, uni o meu rosto ao seu, e soluçando, gritei – Perdida!.. Perdida para sempre!

E os mesmos malditos échos repetiram, – Perdida!.. Perdida para sempre!

Horrorisado, tomei-a nos braços para fugir d'alli.

Unindo-a então a mim, senti-lhe bater o coração.

Pousei-a novamente no chão: – um regato d'agua gelada, corria ao pé, enchi as mãos do precioso liquido e banhei-lhe o rosto.

Reabriu os olhos, sorriu-se, e lançou-me os braços ao pescoço.

Deixei passar alguns momentos, e empregando os unicos meios communicativos, comprehendi que, não podendo mais supportar o calor do volcão, se afastára, procurando o refugio da gruta, unico logar supportavel, e que ahi perdera os sentidos, quasi asphyxiada pelas emanações mephyticas dos ultimos paroxismos do vulcão.

Não sabia já exprimir a minha alegria.

Nunca sentira uma commoção tão forte: era a reacção do martyrio porque acabava de passar.

Cahi de joelhos, ergui as mãos ao ceu, e agradeci a Deus!

Qual não foi a minha surpreza, quando a vi junta a mim, na mesma postura!

Eu tinha-lhe feito comprehender a existencia de um Ente superior que creára as maravilhas que nos cercavam, a quem deviamos tambem, a existencia; e aquella creatura, mesmo dos profundos abysmos do globo, o estava adorando!

Admiravel inspiração que acompanha a humanidade desde a infancia do mundo, sem excepção de raças, embora com difinições diversas!

Depois, ergueu-se, lançou-me um olhar radiante de fé, armou-se do isolador e, empunhando o facho electrico, precipitou-se fóra da gruta levando-me pela mão.

Adivinhára que eu devia estar morto de fome, e effectivamente cahia de fraqueza: havia muitas horas que tinhamos estado privados de todo o alimento.

Quando entramos na esplendorosa habitação da fada destas regiões subterraneas, parecia-me ter voltado novamente á superfície do globo, tal o contraste entre aquelle paraiso e as galerias caliginosas do interior.

Proseguindo nas minhas investigações, observei uns pontos, superiores em brilho ao cristal.

Examinando-os bem, conheci serem gemmas de grande valor encrustadas na rocha.

Ella, vendo o meu empenho em arrancar uma pedra d'estas, gesticulou-me para desistir d'uma tentativa inutil.

Procurou então d'entre os seixos, um que lhe pareceu satisfazer ao seu designio, e pegando no machado de silex, partiu o seixo, apresentando-me um magnifico brilhante como nenhum soberano da Europa, ou Rajah da índia, possue.

Era um thezouro de que me não queria apartar; mas aonde guardal-o e para que, se eu me via condemnado a viver e morrer nas entranhas da terra!

Apoderou-se então de mim um pavor indiscriptivel: aquella idea esmagava-me, e cahi n'um estado de verdadeira prostracção moral.

Reparei n'ella.

Parecia estar lendo o que se passava no meu espirito, e a melancholia impressa n'aquelle rosto d'anjo dissipou instantaneamente esse doloroso sentimento para dar logar a outro mais doloroso ainda.

Teria eu coragem de me separar d'ella, mesmo quando se me offerecesse occazião?

Não! mil vezes, não!

Aquelle ente era para mim, tudo!

A par d'ella, que valor tinha o grande mundo para mim?

Nenhum! E sem ella, era a morte.

A minha mocidade, passada no isolamento, não me preparára para este mesmo meio, embora extraordinario?

La, nunca conhecêra a felicidade que agora gozava.

Para que imaginar o mal, aonde não havia senão o bem?

Um raio de verdadeira alegria fulgurou certamente no meu olhar, porque o seu illuminou-se tambem.

A tempestade tinha passado.

Ella tinha evidentemente, e nem podia deixar de o ter, o sentimento do bello, comparando o seu brilhante Eden com os antros medonhos que tinhamos percorrido por occasião da erupção volcanica.

Cingindo-me com um braço, levou-me para a enseada aonde se achava o nosso barco, e, convidando-me a entrar, tomou tambem assento, e começamos a padejar, costeando, d'essa vez, a margem do lago.

D'ahi, cêrca de uma hora, entramos n'uma bahia, e pouco depois, deparo com um espectaculo magestoso.

Um portico enorme abria-se na nossa frente.

Columnas colossaes de systematica egualdade e do mais formoso pórphyro encorporadas umas nas outras, formavam, como nas celebres grutas de Fingal, a entrada d'aquelle vasto recinto em que entramos.

O mais formoso templo do mundo não tinha tão rica collecçâo de marmores, polidos pela acção da agua que as banhava, cahindo-lhes pela face como um véo diaphano.

Era uma maravilha! e para que fosse completa, os reflexos d'aquella variedade de cores sobre as limpidas aguas do interior, davam-lhes a apparencia d'um pavimento de mosaico altamente polido.

Preocupava-me a mysteriosa faculdade que ella possuia de poder dispensar a renovação do ar nas grandes profundidades.

Era evidente que eu tinha attravessado essa zona e que, á propria pressão das aguas, devêra a existencia.

Lembrava-me bem, sentir-me desfallecer, e que, necessariamente, teria succumbido se não é entrar n'um outro meio, que só podia ser; ou ganhar a superficie, o que era já impossivel por ter perdido completamente as forças; ou então, submetter os pulmões a uma influencia que inutilizava as faculdades para que foram destinados.

Ficavam, por outra, dotados de faculdades duplas, á semelhança da tartaruga, da phoca, da rã e d'outros amphybios.

Discorrendo por esta forma, achei muito natural que ao homem não fosse negado o que o Creador concedêra a animaes tão inferiores como eram aquelles.

Queria conhecer essa nova vida que me permittia observar, á vontade, e sem a imperiosa necessidade de voltar amiudadamente á superfície do mar, differentes peixes desconhecidos e plantas marinhas, sobretudo os coraes magnificos cujas dimensões, eu já tinha podido notar, augmentavam na razão da profundidade.

 

Ainda mais; se essa faculdade era douradoura, como parecia ser, podia até descer ao fundo do Oceano e admirar a vida dos mares na sua maxima profundidade, vida que as recentes investigações declaravam riquissima, e dever ser de surprehendente effeito.

Communiquei-lhe os meus desejos.

A fixidez do seu olhar parecia penetrar no mais intimo do meu pensamento.

Temeria ella abrir a porta da gaiola ao passarinho?

Munindo-se, porém, do seu isolador, e partindo uma vara da arvore electrica, pozemo-nos a caminho, internando-nos por uma passagem subterranea e escura, guiados unicamente pela luz do nosso facho.

Chegados a certo ponto, resvalei: ella, que me segurava pela mão, com este movimento, cambaleou, e deixou escapar o ramo que cahiu junto a mim, mas felizmente sem me tocar. Senti porém um entorpecimento em todo o corpo, o cérebro enervado, a vista perturbada e sem poder distinguir os objectos.

Apenas percebi que estava sendo conduzido por ella, e só recuperei o pleno uzo da razão no seio das aguas.

Este incidente não permittiu orientar-me sobre a mysteriosa sahida para o mar.

Olhei para todos os lados; o facho só illuminava n'um certo raio; a terra tinha desapparecido.

Estavamos n'uma zona de mar quasi deserta de vida: raros peixes appareciam, e esses, pela sua marcha rapida e em linha recta, procuravam outras regiões, preferindo aquelle caminho menos frequentado, como querendo evitar seus adversarios.