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De subito; pareceu-me distinguir um rosto humano e uns olhos que me espreitavam com curiosidade e interesse.

Veio-me á idea a lenda das sphinges, meio corpo de mulher e meio de peixe, ideia tão repellente, quanto attractiva era a espressão d'aquelle rosto.

Era-me, porém, precizo ganhar a superficie para renovar os pulmões de ar.

Quando desci pela segunda vez, o mysterioso ser tinha desapparecido.

Não sei que influencia exercêra sobre mim tão singular apparição.

Queria profundar aquelle mysterio e temia-o ao mesmo tempo.

Não se me tirava da imaginação: sentia-me fatalmente arrastado para a borda do mar, mas, por cautella, armei-me de punhal que cozi pela bainha, ao fato de banho.

Nada me assegurava que fosse um ser inofensivo, e devia ir preparado para o peior.

Quando cheguei á maxima profundidade, la estava o ente mysterioso; não, como na vespera, em distancia, mas proximo.

Corpo mais gentil, rosto mais seductor, não podia existir.

A Sphinge desappareceu immediatamente da minha imaginação. Fiquei como enfeitiçado!

O mysterioso, como deves lembrar, tinha sobre mim um poder magico. Não senti, senão já tarde, a necessidade de respirar: um desfallecimento apoderou-se de mim, era a asphyxia: perdi os sentidos, mas não sem perceber que estava sendo impetuosamente impellido para o fundo.

Quando os recuperei, achei-me acolá, aonde me vês, extendido sobre uma alfombra de fino musgo matizada pela Alternánthera e outras flôres lindissimas de variadas côres, e, curvada sobre mim, estava a mais encantadora e sympathica creatura imaginavel.

Puz-me de pé: – Olhei maravilhado para ella e para tudo que me rodeava.

Uma abobeda descommunal, cristalina, reflectindo a luz suave que vês n'aquelte quadro e illuminando soberbas arcarias perdidas na distancia, brancas como jaspe; e, sem se conhecer os limites, um lago que parecia de azougue, reproduzindo na sua superficie refulgente de aguas adormecidas, as sumptuosas naves e a vegetação esplendida d'esta archicathedral.

Miragem admiravel!

Passado o primeiro momento de espanto voltei-me para a minha companheira a pedir-lhe me dicesse, se não era ella a Eva legendaria, perpetuada atravez dos séculos, tal como Deus a pozera no paraiso, e se o que estava vendo não fazia parte do proprio Eden.

Não só conservou-se calada, mas demonstrou surpreza quando fallei.

Repeti a minha pergunta em outras linguas, e sempre a mesma mudez.

Rodeava-a um bando de cabras. Tomando de cima do enflorado tapete uma concha, que primeiramente passou pelas aguas limpidas de um arroio que corria perto de nós, mugiu uma cabrinha alva de neve e offereceu-me aquella rustica taça, acenando-me para beber do precioso leite.

Seria ella muda?

Embora o fosse, a minha admiração da sua belleza attractiva redobrava de momento para momento.

Tomei, reconhecido, as suas mãos nas minhas e ella abraçou-me sem constrangimento. Uni-a a mim e beijei-a.

A expressão de amor com que ella me olhava era mais eloquente do que quanto podesse exprimir a palavra.

Sobre nós espraiavam-se as largas e magestosas folhas da Muza, cujos esplendidos cachos de côr dourada beijavam o chão.

A Passiflora, com seus fructos roxos, e outras trepadeiras lindissimas em flôr, enlaçavam-se aos troncos.

Palmeiras elegantissimas, com seus differentes fructos, erguiam-se magestosas. A Vanilla, com suas perfumadas e deliciosas bages, arvores de fructo de que não tinha conhecimento, a Vanda, a Begonia, e outras plantas ornamentaes que n'aquelle ambiente tépido e inalteravelmente tranquillo, floresciam como nas nossas estufas na maxima perfeição.

Afastando-se então, por momentos, ella preparou uma refeição composta de leite, fructos varios, entrando n'este numero os da Muza, das Palmeiras, e outro que tomei pela fruta pão de que ouvira já fallar, e o côco. A fruta pão cortava ella com a lamina afiada de uma concha alongada, prova evidente de que não possuia instrumento algum proprio para estes usos.

Indicando então o côco, perguntei-lhe, por meio de gestos, como lograria ella fender e separar o tegumento filamentoso e resistente d'aquelle encouraçado fructo.

Estendendo então a mão, ella tirou d'entre o massiço esponjoso da relva um machado.

Examinei-o: era de Silex!

Fez-se-me, instantaneamente, luz.

Estava no interior do globo, e tinha diante de mim uma descendente do homem primitivo, d'essa raça da idade da pedra; d'esse genesis da humanidade em que a vontade e o pensamento ainda se não traduziam pela palavra.

E que importava; se eu tinha a existencia ligada áquella creatura divina!

N'aquelle modelo, ainda cinzelado pela mão de Deus, eu via a typica puresa das obras do Creador, até mesmo na ingenuidade da alma.

O angulo frontal, levemente accentuado, reforçava, com a engraçada saliencia das sobrancelhas, o brilho e expressão dos olhos.

Eu lia n'elles o seu pensamento, como, atravez das aguas cristalinas d'um ribeiro, se distingue os seixos e os lichens do fundo.

A cutiz assetinada e côr de perola tornava-a adoravel.

Cahi-lhe aos pés, como ante uma divinidade. Parecia-me vir das proprias mãos de Deus, pura como um anjo.

Chegou-me a fronte junta ao seio: olhou-me com inexprimivel amor, e um beijo d'aquelles castos labios foi o sello de uma paixão intensa, inextinguivel, Carlos, no meu coração dilacerado por uma dôr infinita.»

N'este ponto o meu pobre amigo levou as mãos á face como para desvenecer uma visão. Eu já não punha em duvida a veracidade da narração.

Releva-me, continuou elle, esta fraqueza, Carlos; mais adeante saberás a sua causa.

Apertei-lhe silenciosamente a mão: comprehendêra que elle a tinha perdido, e que o tempo não apagára aquella immensa saudade.

– «Depois d'admirar a grandiosa magnificencia de tudo quanto me rodeava, ella encaminhou-me para outro ponto.

No nosso caminho ficava uma arvore singular: os ramos despidos de folhagem e o tronco offereciam as disposições artisticas de um candelabro. Querendo examinal-a de perto fui-me approximando, quando, de repente, sinto-me bruscamente desviado por ella: o seu gesto fez-me conceber a idea de um perigo qualquer.

Então, fez-me comprehender que o contacto d'aquella arvore era fatal.

Seria dotada de electricidade? Teria a força da pilha galvanica?

O brilho metallico do tronco e ramos nús fazia-o suppôr.

Chegamos a um campo de verdura aonde pastava o rebanho de cabras. Approximaram-se de nós os animaes e affagaram-nos, mansos como cordeiros.

A vida animal no seio da terra!

Ella! unico exemplar da raça humana! Estes animaes, procreando-se n'este extraordinario meio!

Como explicar este phenomeno?

Occorreu-me então o que tinha succedido a Pompea e Herculanum, submergidas pelas lavas, deixando os edificios intactos; e os lagos subterraneos, grandes como mares, que se encontram no continente Americano.

E quem sabe; dizia eu se, nos tempos primitivos, em que as convulsões do globo, necessariamente mais activas e violentas do que presentemente, devido ao gradual resfriamento do globo; um cataclysmo, invertendo uma parte da crusta ainda plastica e mais delgada, apanhou, no reviramento, uma d'aquellas grutas, unicas habitações então do homem, excluindo assim uma familia da face da terra, dando-lhe porem accesso ao interior?

Era natural que esses seres tivessem armazenado fructos para seu sustento e resguardado, junto de si, seus animaes domesticos da perseguição e voracidade d'outras especies bravias, explicando assim a existencia das cabras e da vegetação que ahi se encontrava.

Ou, teria essa familia tido accesso para esse maravilhoso espaço formado pela dilatação dos gazes por occazião das erupções volcanicas, como frequentemente succede e de que os lagos subterraneos e algares são exemplo, até que, por uma convulsão, ficou-lhe vedada a sahida, e esses seres condemnados a viver no interior do globo? Por qualquer d'estas formas se podia explicar a presença da vida animal e vegetal n'este meio.

Mas, o que se não explica, pensava eu, é o estado de completo isolamento em que vive esta joven de uns deseseis annos.

Quem eram seus progenitores, e o que era feito d'elles?

Como, porém, fazer-lhe comprehender o meu pensamento?

Tive uma idea feliz.

Servi-me das cabras para esse fim. Peguei n'um cabrito, indiquei-lhe o macho e a fêmea que eram os pais; comparei-a ao filho, e assim formulei em mimica a minha pergunta.

A intelligente rapariga levou-me então a um ponto aonde se tinha dado um desabamento medonho: blocos enormes de pedra amontoavam-se em desordenada confusão, percebendo-se porém ainda, vestigios de ter havido n'aquelle sitio passagem para fóra da grande gruta.

Ella, adoptando a minha phraseologia figurada, explicou-me, apontando para as duas cabras que me tinham servido de typo, que, quando ella era ainda pequena, os seus tinham sahido por aquella abertura: que pouco depois houve um grande tremor de terra, dando-se então aquelle desmoronamento, e que nunca mais voltaram.

O que determinaria o seu afastamento d'aquelle Eden aonde nada lhes faltava?

Haveria, do outro lado das ruinas, mais recintos habitaveis e habitados; ou teriam elles, em exploração de subterraneos escusos e medonhos, succumbido á fome, ficando nas profundidades da terra um unico individuo d'essa especie? Ella!

Um dia; mas que digo eu se aqui não havia divisão de tempo, senão a que poderia dar o isochronismo?

Uma vez, melhor direi, convidou-me a um passeio no lago e conduziu-me a uma enseada aonde fluctuava uma enorme concha de tartaruga em que cabiamos á vontade.

Empunhando então uma pá, ramo d'uma planta qualquer, e dando-me outra, pozemo-nos a caminho, passando por baixo d'arcarias de formas caprichosas. Pude então examinar de perto a extructura d'esta vasta crypta de granito em que sobresahia a mica branca argentina de extraordinario brilho, rajada de veios magnificos de mica preta, de feldspatho e quartz, com malhas de porphyro e semeado de palhetas de ouro e prata, – um mosaico soberbo, – chamando-me particularmente a attenção, uns caracteres que mais pareciam obra de arte levada ao maior apuro d'execuçâo; circulos que, começando n'um ponto microscopico, augmentavam progressivamente, conservando a curvatura das linhas n'uma distancia e perfectibilidade mathemathica; hieroglyphos que dirieis letras chinezas, um conjuncto em summa, de que dá uma ideia, ainda que vaga, o Kalaidoscopo.

 

A presença do ouro levou-me a perguntar-lhe se o havia em maior quantidade.

Fez-me comprehender que, a seu tempo, me condusiria aonde existia muito.

Uma enorme tartaruga appareceu então á flôr d'agua e tomando, provavelmente, o nosso batel por um seu semelhante, seguiu-nos sempre.

Varios peixes passaram junto a nós como conscios de inteira segurança.

Perguntei-lhe se ella se alimentava d'elles.

Pareceu-lhe extraordinaria a minha pergunta, e o gesto de repugnancia que o acompanhou certificou-me que nenhuma carne ou peixe entrava na sua alimentação.