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CAPÍTULO 10

A primeira coisa que chamou a atenção de Riley era a boneca – a mesma boneca nua que ela tinha encontrado mais cedo naquela árvore perto de Daggett, exatamente na mesma pose. Por um momento, ela ficou surpresa ao vê-la deixada lá no laboratório forense do FBI, rodeada por uma variedade de equipamentos de alta tecnologia. Parecia estranhamente fora de lugar para Riley – como uma espécie de santuário doentio para uma era não-digital ultrapassada.

Agora, a boneca era apenas mais um elemento de provas, protegida por um saco plástico. Ela sabia que a equipe tinha sido enviada para recuperá-la, logo que ela ligara da cena. Mesmo assim, era uma visão chocante.

O agente especial Meredith adiantou-se para cumprimentá-la.

"Faz um longo tempo, agente Paige," disse ele calorosamente. "Bem-vinda de volta."

"É bom estar de volta, senhor," disse Riley.

Ela caminhou até a mesa para sentar-se com Bill e o técnico de laboratório, Flores. Quaisquer que fossem os escrúpulos e incertezas que ela estava sentindo, ela realmente se sentia bem em ver Meredith novamente. Ela gostava de seu estilo direto e rigoroso e ele sempre a tratou com respeito e consideração.

"Como é que foram as coisas com o senador?" Perguntou Meredith.

"Nada bem, senhor," respondeu ela.

Riley notou um tremor de aborrecimento no rosto de seu chefe.

"Você acha que ele vai nos dar algum problema?"

"Tenho quase certeza disso. Sinto muito, senhor."

Meredith assentiu com simpatia.

"Tenho certeza de que não é sua culpa," disse ele.

Riley achava que ele tinha uma boa ideia do que tinha acontecido. O comportamento do senador Newbrough era, sem dúvida, típico dos políticos narcisistas. Meredith, provavelmente, estava bastante acostumado com isso.

Flores digitou e, em seguida, imagens de fotografias macabras, relatórios oficiais e notícias surgiram em monitores grandes ao redor da sala.

"Fizemos algumas escavações e não é que você estava certa, agente Paige," disse Flores. "O mesmo assassino já apareceu antes, muito antes do assassinato em Daggett."

Riley ouviu um grunhido de satisfação de Bill e, por um segundo, Riley sentiu-se justificada, sentiu sua crença em si mesma voltar.

Mas então seu espírito afundou. Outra mulher tinha sofrido uma morte terrível. Não havia nenhum motivo para celebração. Ela, na verdade, tinha desejado não ter razão.

Por que eu não posso desfrutar a sensação de estar certa de vez em quando? perguntou-se.

Um mapa gigantesco de Virgínia se desdobrou ao longo do principal monitor de tela plana, e então enfatizou a parte norte do estado. Flores marcou um ponto alto no mapa, perto da fronteira com Maryland. "A primeira vítima foi Margaret Geraty, trinta e seis anos de idade," informou Flores. "Seu corpo foi encontrado abandonado em terras agrícolas, a cerca de 13 milhas no entorno de Belding. Ela foi morta no dia 25 de junho, há quase dois anos. O FBI não foi chamado nesse caso. A polícia local deixou o caso esfriar."

Riley olhou para as fotos da cena do crime que Flores exibiu em outro monitor. O assassino, obviamente, não tinha tentado colocar o corpo em uma pose. Ele tinha acabado de largá-lo com pressa e fugiu.

"Dois anos atrás," disse ela, pensando, concentrando-se. Uma parte dela estava surpresa por ele estar envolvido com isso há tanto tempo. No entanto, outra parte dela sabia que esses assassinos doentes poderiam operar durante anos. Eles podiam ter uma estranha paciência.

Ela examinou as fotos.

"Vejo que ele não tinha desenvolvido seu estilo," observou.

"Correto," concordou Flores. "Há uma peruca ali, e o cabelo foi cortado curto, mas ele não deixou uma rosa. No entanto, ela foi sufocada até a morte com uma fita cor de rosa."

"Ele teve pressa na preparação," disse Riley. "Seu nervosismo o atrapalhou. Foi a primeira vez dele, ele não tinha autoconfiança. Ele fez um pouco melhor com Eileen Rogers, mas só ao matar Reba Frye que ele realmente acertou seu passo."

Ela lembrou-se de algo que queria perguntar.

"Você encontrou alguma ligação entre as vítimas? Ou entre as crianças das duas mães?"

"Nada," respondeu Flores. "A verificação dos grupos de pais não teve nenhum resultado. Nenhuma delas parecia conhecer a outra."

Isso desanimou Riley, mas não a surpreendeu de forma alguma.

"E quanto à primeira mulher?" Riley perguntou. "Ela era mãe, eu suponho."

"Não," disse Flores rapidamente, como se estivesse esperando por esse questionamento. "Ela era casada, mas sem filhos."

Riley ficou pasma. Ela tinha certeza que o assassino estava objetivando mães. Como ela poderia ter começado errado?

Ela podia sentir sua crescente autoconfiança, de repente, desinflar.

Com a hesitação de Riley, Bill perguntou: "Então, quão próximos estamos para identificar um suspeito? Você foi capaz de obter algum daqueles carrapichos do Parque Mosby?"

"Não tive essa sorte," disse Flores. "Nós encontramos vestígios de couro, em vez de sangue. O assassino usou luvas. Ele parecia ser melindroso. Mesmo na primeira cena, ele não deixou qualquer vestígio ou DNA."

Riley suspirou. Ela tinha sido tão esperançosa de que havia encontrado algo que os outros tinham negligenciado. Mas agora ela sentiu que estava errada. Eles estavam de volta à estaca zero.

"Obsessivo com os detalhes," ela comentou.

"Mesmo assim, eu acho que nós estamos nos aproximando dele," acrescentou Flores.

Ele usou um ponteiro eletrônico para indicar localizações, linhas desenhadas entre elas.

"Agora que sabemos sobre este assassinato prévio, temos a ordem e uma melhor ideia de seu território," disse Flores. "Nós temos a número um, Margaret Geraty, em Belding, ao norte daqui, número dois, Eileen Rogers, perto de Daggett, mais ao sul e, número três, Reba Frye, para o oeste, no Parque Mosby."

Ao olhar, Riley viu que os três locais formaram um triângulo no mapa.

"Nós estamos olhando para uma área de cerca de mil milhas quadradas," disse Flores. "Mas isso não é tão ruim quanto parece. Estamos falando de áreas rurais na sua maioria, com algumas pequenas cidades. No Norte, você entra em algumas grandes propriedades, como a do senador. Muitos campos abertos."

Riley viu um olhar de satisfação profissional no rosto de Flores. Obviamente ele amava seu trabalho.

"O que eu vou fazer é reunir os dados de todos os criminosos sexuais registrados que vivem nesta área," disse Flores. Ele digitou um comando e o triângulo foi pontilhado com cerca de duas dúzias de marcas pequenas e avermelhadas.

"Agora vamos eliminar os pederastas," disse ele. "Podemos ter certeza de que o nosso assassino não é um deles."

Flores digitou um outro comando e cerca de metade dos pontos desapareceu.

"Agora vamos reduzir a apenas os casos graves – caras que estiveram na prisão por estupro ou assassinato ou ambos."

"Não," Riley disse abruptamente. "Isso está errado."

Todos os três homens a encararam com surpresa.

"Nós não estamos procurando um criminoso violento," disse ela. Flores resmungou.

"Até parece que não!" Ele protestou.

Um silêncio se instalou. Riley sentiu uma visão se construindo, mas ainda não tinha tomado forma em sua mente. Ela ficou olhando para a boneca, que ainda estava sentada grotescamente sobre a mesa, parecendo mais deslocada que nunca.

Se você pudesse falar, ela pensou.

Então ela começou lentamente a listar seus pensamentos.

"Quero dizer, não obviamente violento. Margaret Geraty não foi estuprada. Nós já sabíamos que Rogers e Frye também não foram."

"Todos elas foram torturadas e mortas," Flores resmungou.

A tensão encheu a sala, enquanto Brent Meredith parecia preocupado, Bill estava olhando fixamente para um dos monitores.

Riley apontou para as imagens de perto do cadáver horrivelmente mutilado de Margaret Geraty.

"Seu primeiro assassinato foi o mais violento," disse ela. "Essas feridas são profundas e feias – piores do que suas duas próximas vítimas. Aposto que seus peritos já determinaram que ele infligiu estas feridas bem rapidamente, uma após a outra."

Flores assentiu com admiração.

"Você está certa."

Meredith olhou para Riley com curiosidade.

"O que isso lhe diz?" Perguntou Meredith.

Riley respirou longa e profundamente. Ela encontrou-se escorregando na mente do assassino novamente.

"Eu tenho certeza de uma coisa," disse ela. "Ele nunca teve relações sexuais com outro ser humano em sua vida. Ele provavelmente nunca teve um encontro amoroso. Ele é caseiro e pouco atraente. As mulheres sempre o rejeitaram."

Riley parou por um momento, juntando seus pensamentos.

"Um dia, ele finalmente teve uma ideia," disse ela. "Ele sequestrou Margaret Geraty, a prendeu, tirou suas roupas e tentou estuprá-la."

Flores engasgou com súbita compreensão.

"Mas ele não conseguiu!" Flores disse.

"Correto, ele é completamente impotente," disse Riley. "E, quando ele não conseguiu violá-la, ele teve um acesso de raiva. Ele começou a esfaqueá-la – o mais perto que podia chegar da penetração sexual. Foi o primeiro ato de violência que ele cometeu em sua vida. Meu palpite é que ele nem sequer se preocupou em mantê-la viva por muito tempo."

Flores apontou para um parágrafo no relatório oficial.

"Seu palpite está certo," disse ele. "O corpo de Geraty foi encontrado apenas uns dois dias depois que ela desapareceu."

Riley sentiu um terror crescente em suas próprias palavras.

"E ele gostou," disse ela. "Gostou do terror e da dor de Geraty. Ele gostou de todos os cortes e facadas. Então fez o seu ritual desde então. E aprendeu a apreciar seu tempo com isso, desfrutar de cada minuto. Com Reba Frye, o medo e a tortura continuaram por mais de uma semana."

 

Um calafrio de silêncio caiu sobre a sala.

"E sobre a conexão com a boneca?" Perguntou Meredith. "Por que você está tão certa de que ele está criando uma boneca?"

"Os corpos certamente se parecem com bonecas," respondeu Bill. "Pelo menos os dois últimos. Riley está certa sobre isso."

"Trata-se de bonecas," disse Riley calmamente. "Mas eu não sei exatamente o porquê. Há provavelmente algum tipo de elemento de vingança aqui."

Finalmente, Flores perguntou: "Então, você acha que nós estamos procurando qualquer criminoso registrado?"

"Pode ser," disse Riley. "Mas não um estuprador, nem um predador violento. Seria alguém mais inócuo, menos ameaçador – um tarado, ou um exibicionista, ou alguém que se masturba em público."

Flores digitava vigorosamente.

"Certo," disse ele. "Vou me livrar dos criminosos violentos."

O número de pontos vermelhos no mapa diminuiu para um punhado.

"Então, quem nos resta?" Riley perguntou a Flores.

Flores olhou para alguns registros, então suspirou.

"Eu acho que o encontrei," disse Flores. "Acho que eu tenho o seu homem. O nome dele é Ross Blackwell. E veja só isso. Ele estava trabalhando em uma loja de brinquedos quando foi pego exibindo bonecas em posições excêntricas. Como se elas estivessem tendo todos os tipos de sexo bizarro. O proprietário chamou a polícia. Blackwell obteve liberdade condicional, mas as autoridades ficaram de olho nele desde então."

Meredith coçou o queixo, pensativo. "Poderia ser o nossa cara," disse ele.

"Eu e a agente Paige deveríamos investigá-lo agora?" Bill perguntou.

"Não temos o suficiente para trazê-lo," disse Meredith. "Nem para obter um mandado para qualquer tipo de apuração. É melhor não o alarmar. Se ele for o nosso homem e for tão inteligente quanto nós pensamos que é, ele é capaz de escapar por entre nossos dedos. Façam uma pequena visita a ele amanhã. Descubra o que ele tem a dizer sobre si mesmo. Lidem com ele com cuidado."

CAPÍTULO 11

Estava muito escuro no momento em que Riley voltou para casa em Fredericksburg e, se é que havia algo, ela sentiu que sua noite certamente iria piorar. Ela sentiu um espasmo de déjà vu quando estacionou o carro na frente da grande casa em uma vizinhança suburbana e respeitável. Certa vez, ela tinha compartilhado aquela casa com Ryan e sua filha. Havia um monte de lembranças ali, muitas eram boas. Mas algumas não eram tão boas, e outras eram realmente péssimas.

Assim que ela estava prestes a sair do carro e caminhar até a casa, a porta da frente se abriu. April saiu e a silhueta de Ryan apareceu sob a luz brilhante da porta. Ele acenou para Riley enquanto April saía, então voltou para a casa e fechou a porta.

Pareceu para Riley que ele havia batido a porta com força, mas ela sabia que era provavelmente coisa da sua imaginação. Aquela porta havia se fechado há algum tempo e aquela vida havia acabado. Mas a verdade era que ela nunca realmente pertencera a um mundo calmo, seguro e respeitável, de ordem e rotina. Seu coração esteve sempre no trabalho de campo, onde o caos, a imprevisibilidade e o perigo reinavam.

April chegou no carro e entrou no banco do passageiro.

"Você está atrasada," retrucou April, cruzando os braços.

"Desculpe-me," disse Riley. Ela queria dizer mais, contar a April o quão profundamente ela estava sentida, não apenas por aquela noite, não apenas pelo seu pai, mas por toda a sua vida. Riley queria muito ser uma mãe melhor, estar em casa, estar presente para April. Mas a sua vida de trabalho não permitia.

Riley se afastou do meio-fio.

"Os pais normais não trabalham durante todo o dia e toda a noite também," disse April. Riley suspirou.

"Eu já disse antes que-" ela começou.

"Eu sei," interrompeu April. "Os criminosos não tem dias de folga. Isso é um saco, mãe." Riley dirigiu em silêncio por alguns momentos, querendo falar com April, mas estava muito cansada, muito triturada pelo seu dia. Ela nem sabia mais o que dizer.

"Como foram as coisas com o seu pai?" Ela finalmente perguntou.

"Ruins," respondeu April.

Era uma resposta previsível. April parecia estar ainda mais insatisfeita com seu pai do que ela estava com sua mãe ultimamente.

Outro longo silêncio instalou-se entre elas.

Então, em um tom mais suave, April acrescentou: "Pelo menos Gabriela estava lá. É sempre bom ver um rosto amigável para variar."

Riley sorriu levemente. Riley realmente gostava de Gabriela, a mulher guatemalteca de meia-idade que havia trabalhado como sua empregada durante anos. Gabriela era sempre maravilhosamente responsável e disciplinada, mais do que Riley poderia dizer sobre Ryan. Ela estava feliz por Gabriela ainda estar em suas vidas, e ainda estar lá para cuidar de April sempre que ela ficava na casa de seu pai.

Durante a volta para casa, Riley sentiu uma necessidade palpável de se comunicar com sua filha. Mas o que ela poderia dizer para romper a barreira com ela? Não era como se ela não entendesse como April se sentia – especialmente em uma noite como aquela. A pobre garota simplesmente devia se sentir indesejada, sendo empurrada de lá para cá entre as casas de seus pais. Isso devia ser duro para uma menina de quatorze anos de idade, que já estava irritada com tantas coisas em sua vida. Felizmente, April concordou em ir para casa de seu pai depois de suas aulas até que Riley a buscasse. Mas, hoje, o primeiro dia do novo acordo, Riley tinha se atrasado demais.

Riley se viu à beira das lágrimas enquanto dirigia. Ela não conseguia pensar em nada para dizer. Ela estava simplesmente muito exausta. Ela estava sempre exausta demais.

Quando chegaram em casa, April, sem dizer uma palavra, foi até seu quarto e fechou a porta ruidosamente atrás dela. Riley ficou no corredor por um momento. Em seguida, ela bateu na porta da filha.

"Venha aqui, querida," disse ela. "Vamos conversar. Vamos sentar um pouco na cozinha, tomar uma xícara de chá de hortelã. Ou talvez no quintal. Está uma bela noite lá fora. É uma pena desperdiçá-la."

Ela ouviu a resposta da voz de April, "Vá em frente e faça isso, mãe. Estou ocupada." Riley se inclinou cansada contra o batente da porta.

"Você continua dizendo que eu não passo tempo suficiente com você," disse Riley.

"Já passou da meia-noite, mãe. Está muito tarde."

Riley sentiu a garganta apertar e lágrimas em seus olhos. Mas ela não iria permitir-se chorar.

"Eu estou tentando, April," disse ela. "Eu estou fazendo o meu melhor – com tudo.

" Um silêncio caiu.

"Eu sei," April finalmente disse de dentro de seu quarto.

Então, tudo ficou quieto. Riley desejou poder ver o rosto de sua filha. Seria possível que ela ouviu um traço de simpatia nessas duas palavras? Não, provavelmente não. Era raiva, então? Riley achava que não. Era provavelmente só desapego.

Riley foi ao banheiro e tomou um longo banho quente. Ela deixou o vapor e as gotas quentes massagearem seu corpo, que estava todo dolorido depois de um dia tão longo e difícil. Quando ela saiu e secou os cabelos, sentiu-se melhor fisicamente. Mas, por dentro, ela ainda se sentia vazia e conturbada.

E ela sabia que não estava pronta para dormir.

Ela colocou chinelos e um roupão de banho e foi para a cozinha. Quando ela abriu um armário, a primeira coisa que viu foi uma garrafa quase cheia de bourbon. Ela pensou em servir-se de uma dose dupla de uísque.

Não é uma boa ideia, disse a si mesma com firmeza.

Em seu atual estado de espírito, ela não iria parar apenas com uma. Ao passar por todos os seus problemas das últimas seis semanas, ela tinha conseguido não deixar o álcool vencê-la. Não era hora de perder o controle. Ela fez uma xícara de chá de hortelã quente ao invés disso.

Então Riley sentou-se na sala de estar e começou a se debruçar sobre a pasta cheia de fotos e informações sobre os três casos de assassinato.

Ela já sabia um pouco sobre a vítima de seis meses atrás, perto de Daggett – o que eles agora sabiam ser o segundo de três assassinatos. Eileen Rogers tinha sido casada e mãe de dois filhos, que possuía e gerenciava um restaurante com o marido. E, claro, Riley também tina visto o local onde a terceira vítima, Reba Frye, havia sido deixada. Ela até visitou a família de Frye, incluindo o senador egocêntrico.

Mas o caso de dois anos de Belding era novo para ela. Enquanto lia os relatórios, Margaret Geraty começou a entrar em foco como um ser humano real, uma mulher que outrora vivia e respirava. Ela trabalhava em Belding como uma funcionária pública e havia se mudado recentemente do estado de Nova York para a Virgínia do Norte. Sua família viva, além de seu marido, incluía duas irmãs, um irmão e uma mãe viúva. Amigos e parentes descreveram-na como boa índole, mas sozinha -possivelmente até mesmo solitária.

Saboreando seu chá, Riley não pôde deixar de se perguntar – o que poderia ter acontecido a Margaret Geraty se ela tivesse vivido? Aos trinta e seis anos, a vida ainda tinha todos os tipos de possibilidades – filhos e tantas outras coisas.

Riley sentiu um arrepio quando outro pensamento lhe ocorreu. Apenas seis semanas atrás, sua própria história de vida tinha chegado terrivelmente perto de acabar em uma pasta exatamente como a que estava agora aberta à sua frente. Toda a sua existência podia muito bem ter sido reduzida a uma pilha de fotos horríveis e textos oficiais.

Ela fechou os olhos, tentando livrar-se das lembranças que vinham à tona. Mas, não importava o quanto ela tentasse, ela não conseguia detê-las.

Enquanto ela se arrastava pela casa escura, ela ouviu um arranhar no assoalho abaixo e, então, um grito de socorro. Após sondar as paredes, ela encontrou – uma pequena porta quadrada, que abria para o forro sob a casa. Ela direcionou a lanterna para o lado de dentro.

A luz revelou um rosto aterrorizado. "Eu estou aqui para ajudar," disse Riley.

"Você veio!" Gritou a vítima. "Oh, graças a Deus você chegou!"

Riley submergiu no chão de terra em direção à pequena gaiola no canto. Ela se atrapalhou com o cadeado por um momento. Então ela pegou o canivete e o enfiou no cadeado até forçá-lo a abrir. Um segundo depois, a mulher estava rastejando para fora da jaula.

Riley e a mulher se dirigiram para a abertura quadrada. Mas a mulher mal tinha conseguido sair quando uma figura masculina bloqueou o caminho de Riley.

Ela estava presa, mas a outra mulher tinha uma chance. "CORRA!" Riley gritou. "CORRA!"

Riley arrancou-se de volta para o presente. Será que ela nunca se livraria daqueles horrores? Certamente, trabalhar em um novo caso envolvendo tortura e morte não estava facilitando nada.

Mesmo assim, havia uma pessoa que ela sempre poderia recorrer para obter apoio. Ela pegou seu telefone e mandou uma mensagem para Marie.

Oi. Ainda está acordada?

Após alguns segundos, a resposta veio.

Sim. Como vai?

Riley digitou: Bastante instável. E você?

Com medo demais para dormir.

Riley queria escrever algo para fazer ambas sentirem-se melhor. De alguma forma, apenas mensagens de texto como aquela não pareciam ser suficientes.

Quer conversar? Ela digitou. Quero dizer falar – não apenas escrever?

Demorou vários segundos até Marie responder.

Não, acho que não.

Riley ficou surpresa por um momento. Então ela percebeu que sua voz podia não ser sempre reconfortante para Marie. Às vezes podia até desencadear flashbacks terríveis para ela.

Riley lembrou-se das palavras de Marie na última vez que tinham conversando. Encontre esse filho da puta. E mate-o por mim. E, quando ela as ponderou, Riley tinha notícias que ela pensou que Marie poderia querer ouvir.

Estou de volta ao trabalho, Riley digitou.

As palavras de Marie foram despejadas em uma corrida de frases digitadas.

Meu Deus! Estou tão feliz! Eu sei que não é fácil. Estou orgulhosa. Você é muito corajosa.

Riley suspirou. Ela não se sentia tão valente – pelo menos não naquele momento, de qualquer forma.

As palavras de Marie continuaram.

Obrigada. Saber que você está trabalhando de novo faz eu me sentir muito melhor. Talvez eu possa dormir agora. Boa noite.

Riley digitou: Continue assim.

Então ela abaixou seu telefone celular. Ela sentiu-se um pouco melhor, também. Afinal, ela tinha conseguido alguma coisa, voltar a trabalhar. Lenta, mas seguramente, ela realmente estava começando a se curar.

Riley bebeu o resto de seu chá, então foi direto para a cama. Ela deixou sua exaustão alcançá-la e adormeceu rapidamente.

 

Riley tinha seis anos, estava em uma loja de doces com a mamãe. Ela estava tão feliz com todos os doces que sua mamãe havia comprado para ela.

Mas, em seguida, um homem caminhou em direção a elas. Um homem grande e assustador. Ele usava algo sobre seu rosto – uma meia de nylon, como sua mamãe usava em suas pernas. Ele puxou uma arma. E gritou com sua mãe para entregar-lhe a bolsa. Mas ela estava tão assustada que não conseguia se mover. Ela não conseguia lhe dar.

E assim ele atirou no peito dela.

Ela caiu no chão sangrando. O homem pegou a bolsa dela e saiu correndo. Riley começou a gritar e gritar e gritar.

Em seguida, ela ouviu a voz de sua mãe.

"Não há nada que você possa fazer, querida. Estou partindo e você não pode me ajudar."

Riley ainda estava na loja de doces, mas agora ela já tinha crescido. Mamãe estava bem na frente dela, de pé perante seu próprio cadáver.

"Tenho que trazer você de volta!" Riley gritou. Mamãe estava sorrindo tristemente para Riley.

"Você não pode," disse a mamãe. "Você não pode trazer os mortos de volta."

Riley sentou-se, respirando com dificuldade, tirada de seu sono por um ruído. Ela olhou ao redor, perturbada. A casa estava em silêncio agora.

Mas ela tinha ouvido alguma coisa, ela tinha certeza. Como um barulho na porta da frente.

Riley levantou-se em um salto, sua intuição se manifestando. Ela pegou uma lanterna, tirou sua arma para fora do armário e moveu-se cuidadosamente pela casa em direção à porta da frente.

Ela olhou através da pequena vidraça na porta, mas não viu nada. Tudo estava silencioso. Riley se preparou e rapidamente abriu a grande porta, iluminando o lado de fora. Ninguém.

Nada.

Enquanto ela movia a luz à sua volta, algo na varanda da frente chamou sua atenção. Algumas pedrinhas foram espalhadas por ali. Alguém as atirara contra a porta, fazendo aquele ruído?

Riley forçou seu cérebro, tentando lembrar se aquelas pedrinhas estavam lá quando ela chegou em casa na noite anterior. Em seus pensamentos nebulosos, ela simplesmente não conseguia ter certeza de nada.

Riley ficou ali por alguns momentos, mas não havia nenhum sinal de ninguém, em lugar nenhum. Ela fechou e trancou a porta da frente e se dirigiu de volta pelo curto corredor até seu quarto. Quando ela chegou ao fim, ficou surpresa ao ver que a porta do quarto de April estava ligeiramente aberta.

Riley abriu a porta e olhou para dentro. Seu coração bateu forte em terror.

April tinha ido embora.