Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)

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Capítulo 3

Durante a sua adolescência, Ren tinha adquirido o hábito de aceder à base de dados da Equipa de Investigação Paranormal para se manter a par dos últimos acontecimentos. Também era suficientemente inteligente para depois destruir o computador que utilizasse para que não pudesse ser rastreado até ele. Era empolgante violar as firewalls definidas numa divisão do governo que supostamente nem existia.



A equipa de investigação paranormal, também conhecida como P.I.T., sabia que Ren seguia as suas missões e subtraía as suas informações encriptadas, mas até ao momento nunca o tinham apanhado e nunca tinham encontrado uma firewall suficientemente resistente para o manter afastado do seu sistema privado. Ren não só lhes roubava dados, mas ainda deixava para trás informações das suas próprias investigações paranormais.



Ao fim de vários anos, o diretor da PIT tinha começado a deixar mensagens a Ren por trás das mais resistentes e encriptadas firewalls que ele já tinha visto. Foi por trás dessas barreiras que Ren se juntou secretamente ao esquivo grupo da PIT, mas apenas nos seus próprios termos: que ele pudesse trabalhar sozinho.



Quem quer que fosse que estivesse por trás dessa barreira não só sabia o seu nome, como também mais algumas coisas sobre ele que mais ninguém sabia. Como o facto de ele não ser totalmente humano. Só quando ele enfrentou um demónio de nível sete que começara um culto carnívoro no Congo e ficou gravemente ferido é que o diretor da PIT o descobriu.



Ren estava a meio de um combate com o demónio e praticamente a ser derrotado, quando uma mão lhe agarrou o ombro. Quando deu por si, estava numa pequena ilha privada no meio do oceano. Ren virara-se para ficar frente a frente com o homem por trás das barreiras encriptadas – Storm.



Ren sacudiu a cabeça ao lembrar-se desses primeiros momentos. Storm tinha todo o aspeto de um cantor de banda de rock dos anos 80, não da grande mente por trás do grupo de pessoas mais secreto do mundo.



Storm apenas sorrira e removera a mão que ainda lhe agarrava o ombro. “Estás a tentar reformar-te da PIT da forma mais dura e rápida? Porque é que não ficas por lá mais um pouco? Não gostava nada de perder o meu melhor amigo antes mesmo de termos a oportunidade de nos tornarmos amigos.”



“O quê?” Ren encolheu-se, levando a mão ao peito onde o demónio tinha tentado arrancar o seu coração.



“Desculpa”, suspirou Storm esticando-se novamente na direção dele. Subitamente, estavam nas instalações metade subterrâneas, metade subaquáticas que estavam ocultas nas profundezas da ilha. “Não há aqui ninguém com o poder de curar, mas posso sempre levar-te a alguém que o consiga fazer, se preferires.”



“Não”, rosnou Ren. “Se me deres agulha e uma linha, acho que consigo ficar num sítio só durante uns minutos.” Inclinou-se sobre um armário, tentando manter-se fora do alcance de Storm. “E se me tocares outra vez, vais ficar sem a mão.”



Storm riu-se e abriu um dos armários superiores, acenando com a mão para mostrar todos os suprimentos médicos. O seu sorriso desvaneceu quanto Ren desapertou a camisa e Storm viu os golpes profundos que o demónio tinha feito. Mais alguns segundos e Ren teria sucumbido.



“Acho que, como tens um fetiche por demónios, poderás ter de aprender um pouco sobre eles antes de desafiares um deles para lutar.” Storm desviou o olhar das marcas das garras, já sabia qual seria o aspeto das marcas. Já conhecia Ren há muito tempo. Aquela amizade ainda não estava formada.



Ren esticou o braço para o armário aberto e agarrou no que parecia um kit de pontos esterilizado, depois dirigiu-se ao espelho pendurado na parede. “Se conheceres um demónio, é como se já os tivesses conhecido a todos, certo?” Não conseguia disfarçar o sarcasmo na sua voz enquanto tentava mentalmente bloquear a dor. Não estava a funcionar.



“Errado.” Storm corrigiu-o – “Só sabes aquilo que eu permiti que fosse carregado na base de dados.” Sentou-se na cama de hospital que estava no meio da divisão.



Ren olhou pelo espelho para o homem atrás dele. As coisas ocultas naquela base de dados eram o suficiente para incendiar o mundo, ao ponto da mera existência dessa base de dados ser um perigo. Era difícil de acreditar que ainda pudesse haver mais. Mas ele também sabia de algumas coisas que nem sequer estavam na base de dados.



“Estou a ouvir.” E ele ouviu, durante semanas.



O Storm estava certo em manter a informação que tinha partilhado fora dos arquivos, pelas mesmas razões que levavam o Vaticano a manter arquivos em cofres secretos. Se algumas destas informações chegassem à população normal, seria o fim do mundo como o conhecemos.



Ren sabia, sem sombra de dúvidas, que ele ainda estava a reter informações porque, quaisquer que fossem os deuses que lhe tinham dado o poder de saltar através do tempo e do espaço, também tinham garantido que seria perigoso para ele contar a alguém o que quer que fosse para além do momento presente. Podia ser o melhor professor de história do mundo. Mas se Storm tentasse contar a alguém sobre o futuro, isso poderia romper o vínculo espaço-tempo…e o vínculo era o próprio Storm.



Também estava certo em relação à sua amizade. Eles tornaram-se amigos desde o primeiro dia e isso já era muito, tendo em conta que nenhum deles confiava em ninguém. A verdade é que eram muito parecidos em vários aspetos.



O pequeno refúgio de Storm na ilha era, na verdade, proveniente do passado, mas Storm dera-lhe todos os confortos de uma mansão moderna e base futurista. Um lado do edifício dava a Ren a sensação de estar num enorme aquário, enquanto o outro lado estava embutido na rocha robusta que rodeava a ilha. A maior vantagem do local era o isolamento completo. Este era o único local onde Ren podia vir em que nada de paranormal poderia tocá-lo, à exceção da capacidade de Storm de saltar no tempo.



À primeira vista, pensara que Storm estaria apenas na casa dos vinte anos, mas depois de o conhecer há mais de dez anos, Storm não envelhecera um único dia, por isso perguntava-se há quanto tempo é que Storm andaria por aí. Até o próprio envelhecimento de Ren tinha abrandado por causa de passar tanto tempo com Storm e os seus poderes.



Ren recuou quando uma voz o sacudiu dos seus pensamentos.



“Acabei de te tornar no orgulhoso proprietário de uma das casas mais antigas de LA” – anunciou Storm, aparecendo ao fundo do longo cais que o levava para fora da ilha. Esboçou um sorriso afetado ao ver Ren praticamente saltar fora da sua pele.



“Raios, importas-te de fazer algum ruído quando apareces assim do nada?” Ren virou-se e encostou-se à balaustrada, vendo o olhar satisfeito no rosto de Storm.



“Estavas à espera de outra pessoa?” Storm riu-se.



Ren dirigiu-lhe um olhar irritado, já que nunca ninguém tinha posto os pés na sua ilha. “Ok, vou morder o isco. Porque é que me compraste um barraco velho e degradado? Nem sequer faço anos.”



Sem aviso, Storm dirigiu-se a ele e agarrou o ombro de Ren e o oceano afastou-se, deixando-os de pé na relva e de frente para o que poderia ser uma mansão gótica moderna feita de pedra escura. Ouvindo o rebentar das ondas, Ren olhou para a direita para ver o mar. Virando-se num círculo completo, franziu o sobrolho ao notar que a estrada de acesso se prolongava até perder de vista e o lado esquerdo consistia apenas numa espessa floresta.



“Não mau para uma cabana degradada” – Storm acenou na direção da casa. “Duzentos metros quadrados de mar à frente e remodelada com todas as atualizações. É difícil de acreditar que isto já tenha sido um pequeno castelo.



“Nem é muito” – Ren virou a cabeça e olhou para Storm. – “Qual é a contrapartida?”



“LA precisa de ti” – Storm encolheu os ombros e avançou. “Não consegues senti-lo?”



Ren não respondeu enquanto seguia Storm para entrar na casa. A verdade é que o seu sensor de aranha lhe dizia para fugir a correr. Los Angeles… Para já, parecia-lhe mais umas férias forçadas.



Uma vez lá dentro, deu por si num enorme espaço circular com uma escadaria sinuosa e aberta no lado oposto da divisão, levando ao piso superior que se dividia em duas alas separadas. Storm dirigiu-se às enormes portas duplas à direita, por isso Ren suspirou e seguiu-o.



“Isto já é mais o meu estilo”. Ren respirou fundo ao ver sistemas de monitorização de uma parede a outra e uma secretária de vidro com computador integrado.



“Achei que ias gostar disto”. Storm esticou-se no sofá isolado num canto vazio da divisão enorme. Observou Ren enquanto este deslizou para trás da secretária e começou a investigar os controlos. “Ninguém te consegue rastrear aqui, a não ser talvez tu mesmo…e felizmente, tu não contas.”



Storm viu os olhos do amigo brilhar quando Ren pairou as mãos sobre o teclado. Era um poder estranho de se ter e ele não conhecia mais ninguém que o conseguisse fazer, mas era assim que Ren conseguia invadir as firewalls da PIT, que eram cem anos mais avançadas que as que o governo já tinha. Ele estava literalmente a sugar toda a informação daquele computador e, imaginava ele, ainda lhe estaria a ensinar uma coisa ou outra.



Era engraçado, pois Ren não parecia nada um típico nerd de informática. O seu aspeto era bastante impressionante. Já tinha visto mulheres a tropeçar nos próprios pés só de olhar para ele.



O seu cabelo passava um pouco dos ombros, de um tom negro intenso com reflexos azulados quando o sol incidia da forma certa. Mas, mesmo sem sol, não era possível passar ao lado das suas espessas madeixas prateadas que davam a Ren um aspeto mais rebelde. A juntar a isso, o brinco com cruz pendente e o facto de ele usar sempre roupa preta formavam uma combinação bastante marcante. Para potenciar ainda mais o efeito, as íris de Ren eram como prata polida, com realces azulados, e um aro negro à volta. Ele usava sempre óculos escuros devido à sua excentricidade.

 



O que mais o deixava perplexo em relação a Ren era o facto de os computadores serem uma das coisas que deixavam Ren feliz no que tocava aos seus poderes. Ren era um súcubo em todos os sentidos. Se ele estivesse perto de um computador, ele alimentava-se da energia do computador quase como se de uma transferência se tratasse. Mas esta forma de súcubo também lhe permitia obter os poderes de alguém e usá-los para seu próprio benefício.



Por exemplo, se estivesse próximo de um ser metamórfico, também ele poderia realizar metamorfose. Se estivesse perto de um demónio, teria todos os poderes que aquele tipo de demónio tivesse, mas a desvantagem é que seria como usar um espelho. Não poderia retirar os poderes do demónio. Ambos os lados teriam os mesmos poderes, por isso nem sempre era uma situação vantajosa. Sobretudo se o adversário tivesse os poderes há mais tempo e soubesse usá-los melhor.



Uma forma de Ren usar isso a seu favor era quando havia mais de um poder paranormal ao seu alcance, podendo assim usá-los todos em seu proveito.



Outra falha era o facto de Ren não se dar bem com os outros, por isso recusava um parceiro, o que era mesmo lamentável. Storm poderia tê-lo apresentado a pessoas poderosas e ele poderia ter espelhado qualquer um deles. Mesmo agora, se Ren se quisesse teletransportar para o outro lado do mundo e cinquenta anos para o passado, poderia fazê-lo. Felizmente, não se interessava por esse tipo de coisa. Ele via a luz nos olhos de Ren esmorecer enquanto voltava do mundo do ciberespaço.



Ren piscou os olhos e afastou as mãos do teclado para se inclinar para trás na sua cadeira giratória. “Ninguém sabe que estou aqui?”



“Só o Zachary” – Storm admitiu que sabia que iria ter de se debater com Ren em relação a isto. “Vou pedir ao Zachary que vigie a maioria daqueles que já cá estão”.



“Porque é que isso não me soa nada bem?” Ren estreitou os olhos, mas teve a sensação de que não valia a pena lutar nessa batalha. “Qual é a cena da mansão e deste cenário todo? Porquê o suborno?”



Storm levantou uma sobrancelha. “É um bocado difícil subornar alguém que pode chegar a um multibanco e pedir-lhe dinheiro.”



“Estás a evitar a pergunta.” – atalhou Ren.



“Deixei-te esconder das equipas de investigação paranormal durante este tempo todo. Aliás, até me juntei a ti na solidão mais vezes do que devia.” Storm levantou a mão quando Ren começou a rebater. “Sempre disseste que me ficavas a dever um favor. Estou a cobrá-lo agora.”



“E o que seria esse favor?” – a voz de Ren perdera a sua dureza devido à sua honra. Storm tinha razão, tinha uma dívida de vida para com ele e Storm não a cobraria por motivos frívolos.



Storm começou a caminhar de um lado para o outro em frente à secretária. “A única resposta verdadeira que te posso dar agora é que estás aqui para me ajudar a lutar. Estou a cobrar muitos favores com isto. Vou trazer os melhores elementos das equipas PIT aqui para a cidade e tu acabaste de ser promovido a segundo comandante.”



“Que sorte a minha.” O facto de isto ter sido dito sem qualquer emoção foi ignorado por ambos.



“O Zachary ficará no comando caso nos aconteça alguma coisa” – Storm fez questão de adicionar. “E mais cedo ou mais tarde, vocês os dois vão ter de trocar informações, sobretudo se não for possível contactar-me.”



“Isso também não me soa bem” – Ren ficou em silêncio enquanto ponderava porque é que Storm não tinha já as respostas às suas próprias questões. Para alguém que conseguia viajar para o futuro, era estranho não saber quem sairia vitorioso de uma batalha.



“Não vou estar por aqui durante algum tempo porque vou ter de ir caçar a maioria das equipas. Embora trabalhem aos pares, têm o irritante hábito de desaparecer do radar e formar as suas próprias missões quando passam por eles.” Passou as mãos pelo cabelo. – “Até para mim vai ser difícil localizá-los.”



“E quando os largares aqui, vou ter de tomar conta dessa gente?” Perguntou Ren à espera de esclarecimento.



“Não” – Storm abanou a cabeça, sorrindo com a ideia. “Estas pessoas não são crianças. O trabalho delas é o mesmo que o teu: proteger a cidade. Se comunicam entre vocês ou não já será problema vosso. Mas com os teus poderes, podes fazer uma grelha da cidade e informá-los onde são os pontos de conflito. Esta é só a base de operações por agora. Tu e o Zachary serão os únicos que me poderão contactar se eu não estiver aqui.”



“A sério?” Ren balançou a cadeira para trás e para a frente, começando a ficar intrigado com todo aquele mistério. “E eu que pensava que eu é que era o antissocial de nós os dois” – apontou Ren. “Estás a planear desaparecer?” Era suposto ser uma piada, mas quando notou a hesitação de Storm, parou de balançar a cadeira.



Storm esfregou o pescoço, tentando ser cuidadoso com as palavras: “Sou um viajante no tempo nesta dimensão, mas se houver uma zona em que as paredes dimensionais tenham sido estreitadas ou rompidas, elas rejeitam o meu poder.” Isto era um eufemismo.



A leitura de Storm tinha-se tornado uma ciência para ele e Ren percebeu subitamente a razão pela qual Storm não sabia quem venceria a batalha. “Estou a seguir-te, para já” – disse.



Storm dirigiu-se à enorme janela virada para o mar e bateu no vidro. “Este vidro é mais do que à prova de bala.” Suspirou enquanto se virava e encostava a ele. “Mas não é à prova de maldade.” Ele acenou a cabeça na direção do sofá de onde tinha acabado de sair e sussurrou palavras há muito esquecidas pela história.



Ren inquietou-se quando o teto e o chão se acenderam num vasto círculo que abrangia todo o lado direito da sala, com o sofá mesmo no centro. Até via as paredes de barreira luminescentes a fazer a ligação entre o círculo do teto e o círculo do chão.



“O que é isso?” – tentou disfarçar o assombro na sua voz, mas falhou miseravelmente.



“Em termos leigos…é uma armadilha de demónios.” Storm respondeu aproveitando o facto de ter oficialmente surpreendido Ren, o que era algo difícil de conseguir. “Vai lá…passa através da barreira. Não te vai magoar.”



Ren esticou o braço, mas parou antes de tocar nela. “Devo esperar um visitante demoníaco?”



Storm inclinou a cabeça – “Deixa-me lembrar-te de uma coisa. Se um filho dos caídos se aproximar de ti, és tu que te transformas no demónio.” Ele baixou a voz, tornando-a arrepiante ao dizer “o demónio”. Ele e Ren não estavam bem de acordo sobre esse assunto. Ren ainda tinha preconceitos em relação a tudo o que não compreendesse.



Ren deu um passo atrás enquanto pensava no que Storm acabara de dizer. Até demorou alguns segundos a pensar numa boa resposta para lhe dar. “Pelo menos serei eu a saber onde está a chave da jaula. A questão é: como é que os ponho lá dentro? Ponho biscoitos de demónio no sofá?”



Storm sorriu e empurrou Ren na direção do círculo.



Ren girou e voltou a vir na direção de Storm, mas foi de encontro a algo que lhe parecera gelo. Recuando, colocou as mãos de encontro à barreira e piscou os olhos ao ver as paredes ondular na zona em que lhes tocava, como se a superfície da barreira fosse feita de água.



Sacudindo-a outra vez, grunhiu para Storm: “Não sou um demónio!”



Storm levantou uma sobrancelha. “Bom, ainda bem que tivemos este momento.”



Ren sacudiu a parede de…o que quer que fosse.



“Relaxa, eu afinei o feitiço o suficiente para que ele prenda tudo o que não seja humano e como tu és um súcubo e eu estou dentro to alcance…” – sorriu outra vez, sabendo que esta era uma lição que Ren precisava de aprender – “A não ser que me queiras chamar um demónio?”



“Entendido. Empurrar a coisa para o círculo e não entrar na minha própria armadilha. Agora deixa-me sair.”



Storm repetiu o feitiço, praticamente da mesma forma como tinha feito da primeira vez, mas com duas sílabas diferentes.



Ren aprendia rapidamente e já tinha memorizado ambos os feitiços antes de voltar à segurança da sua secretária. O silêncio prolongou-se até Storm ter percebido que o humor do momento anterior se tinha desvanecido e só aí voltou a falar.



“Este castelo costumava estar na Escócia. Trouxe-o para aqui, tijolo a tijolo, e reconstruído durante a corrida por terra, mas as atualizações são mais recentes. Há armadilhas de demónios em quase todas as divisões e só tu é que as podes acionar.”



“É lindíssimo” – assentiu Ren, perguntando-se onde é que Ren quereria chegar. Por vezes, as histórias dele eram mais longas que as de um velhote, à medida que ele começava a deambular pelas suas memórias intemporais. Era-lhe permitido falar sobre o passado o quanto quisesse, mas era perigoso para ele divulgar algo sobre o futuro.



Uma vez tinha perguntado a Storm porque é que ele não passava o seu tempo a voltar atrás no tempo e corrigir todos os erros da humanidade, como eliminar Hitler. Tinha sido aí que Ren lhe tinha revelado que os seus poderes tinham limites. E alterar a história humana era um deles.



“Este castelo foi um presente de casamento para um amigo muito próximo.” Storm olhou pela janela que abarcava a vista da terra descampada a cair no mar. Era verdadeiramente arrebatadora. Ele engoliu em seco, afastando aquela memória assombrosa por agora.



Olhando para trás para Ren, Storm perceber que, pelo menos desta vez, alguém para além dele precisava de ter uma ideia do que estava para vir. Já que o poder dele implicava regras irritantes que o impediam de o ver algumas das coisas mais importantes e o proibiam de manipular os assuntos do coração, ele teria de arranjar um motivo muito bom para que Ren quisesse ficar.



Já sentia a dor a perfurar-lhe a mente por causa das regras que estava prestes a quebrar, mas ignorou-a.



“Este castelo não vai ficar aqui muito mais tempo, a não ser que eu consiga mudar o futuro.” A sua voz assumiu o tom de raiva que sentia enquanto combatia a dor. “Antes de ter decidido trazer-te aqui, fui ao futuro várias vezes, apenas daqui a uns anos. Em todas as vezes encontrei um resultado diferente e isso deve-se a um desvio dimensional, ou vários, a acontecer aqui mesmo, em LA.”



Storm limpou o sangue que lhe começava a pingar dos olhos e do nariz. “Da última vez que vir até aqui a pé, parte do castelo tinha colapsado e as paredes que tinham resistido tinham sangue seco pelo sol, embutido no tijolo.”



“Cala-te” – Ren olhara para ele e não gostara da forma como a cor se tinha esvaído do seu rosto quando o sangramento começara. Storm sempre tinha feito piadas sobre não poder contar a ninguém o seu futuro. Dizia que isso o mataria, mas Ren não achava graça nenhuma a esse cenário, já que era verdade. “Já percebi a ideia geral, o resto vou descobrir por mim mesmo.”



Storm inclinou-se para trás na cadeira que apoiava a sua cabeça – “Estou a tentar equilibrar as probabilidades, elevando LA tanto quanto possível.”



Ren levantou-se e contornou a secretária, agarrando o ombro de Storm e, num instante, eles estavam de volta à ilha. “Se alguma vez voltares a tentar contar-me o futuro, vou dar-te uma coça.”



Quando Storm se voltou a equilibrar e perceber onde estava, já Ren tinha desaparecido. Sentindo a dor de cabeça lancinante, que provavelmente iria durar dias, sorriu, pois sabia que tinha valido a pena. Ren já estava a postos e, agora que Angelica estava dentro dos limites da cidade, ela poderia extrair outro poder oculto que poderia virar completamente o jogo a favor deles. Precisavam dos deuses do seu lado.



*****



Ren passara a última semana a mapear a cidade caminhando pelas ruas. Sabia, pelos documentos que tinha transferido da PIT, onde estavam alguns dos não humanos, mas enquanto caminhava ou conduzia a sua mota, conseguia pressentir poderes que não pertenciam às coisas daquela lista.



Virou-se para o enorme ecrã que cobria uma das paredes do escritório, abrindo o mapa de grelha sobre ele e inclinando-se para trás na cadeira por trás da secretária. Para qualquer outra pessoa, o mapa poderia fazer lembrar uma decoração natalícia, já que estava repleto de pioneses com luzes coloridas.



Eram as cores que ele estava a estudar agora. Conseguia ver exatamente onde estavam os metamórficos. Até tinha visitado o Moon Dance e o Night Light. O canto do seu lábio estremeceu com a recordação. Tinha cometido o erro de pedir um Heat e tudo tinha corrido bem, até decidir terminar a noite e voltar para casa. Quando vinha a meio do caminho, já estava bem fora do alcance dos metamórficos, mas completamente bêbado.



O território dos metamórficos estava iluminado sobretudo por luzes verdes com alguns pioneses vermelhos e azuis. Os azuis representavam a equipa PIT posicionada nessa zona e tudo o que lá acontecesse, era com eles. O mesmo se aplicava à alcateia.



Para ele, Michael, Damon e Kane eram uns descontrolados, o que lhes valera a cor amarela e a sua prole desalmada, esgueirando-se pelas sombras da cidade, tinha uma adequada cor vermelho-sangue. Pelo menos, esses cobardes tinham a simpatia de se recolher em grupos durante o dia e tendiam a manter-se em grupos à noite, tornando mais fácil detetar o seu território de alimentação.

 



Com os caídos, a história era bem diferente. No início, tinham sido difíceis de localizar, mas recentemente andavam tão instáveis que ele desistira, embora soubesse quando eles estavam por perto – podia senti-los. Pensou na lição de história que tinha recebido de Storm.



A versão resumida era que os caídos quase tinham destruído o seu próprio mundo ao invadir a nossa dimensão e roubar algumas das nossas mulheres, só porque achavam que elas eram lindas. Roubar humanos ainda só tinha sido o seu primeiro erro. Uma vez chegados ao outro lado do buraco de minhoca, os caídos tinham feito turnos a procriar com as mulheres roubadas.



O problema é que as crianças que nasceram dessas uniões não eram o que eles esperavam e o nascimento matava sempre as fêmeas humanas.



Apenas uma pequena percentagem das crianças nasciam caídos de sangue puro e apenas uma em várias centenas era fêmea. O resto eram demónios – híbridos que não sangue puro de nada. A maioria dos híbridos era aquilo a que os humanos chamavam de monstros. Quando esses monstros se viraram contra os seus próprios criadores, os caídos começaram a erradicar todos os híbridos do seu mundo, quer eles fossem monstros ou não.



Uma vez acabado aquele genocídio, perceberam que agora tinham dezenas de machos para cada fêmea no mundo. Por isso, os idiotas tinham voltado pelo buraco de minhoca, desta vez mantendo as suas criações do nosso lado, ao mesmo tempo que acasalavam com o máximo de mulheres que podiam, o mais rapidamente possível.



À medida que as crianças nasciam e as mães morriam, os caídos recolhiam os caídos de sangue puro e levavam-nos para o seu mundo, deixando para trás os híbridos. Como não precisavam das crianças do sexo masculino que nasciam, treinavam-nas para lutar contra os seus irmãos mestiços.



Mesmo antes desses rapazes chegarem à puberdade, os líderes dos caídos enviaram-nos de volta para cá e fecharam o buraco de minhoca entre as duas dimensões, encalhando todas as crianças aqui, à exceção das fêmeas caídas, por quem tinham sacrificado tantas vidas.



A história não acabava ali. Esses jovens guerreiros tinham sido treinados para fazerem a mesma coisa que os seus pais tinham feito – rasgar aberturas para a dimensão vizinha, desde que não fosse aquela que levava ao seu mundo de origem. Esse novo mundo existia tão próximo de nós que ficava apenas a um piscar de olhos de distância. Seria de presumir que fora daí que surgira a teoria sobre o Inferno. Tão perto que alguns humanos com sentidos mais apurados podiam por vezes vê-lo e senti-lo.



Ao procurarem os híbridos, os guerreiros descobriram que muitos dos seus rivais eram tão poderosos como os caídos de sangue puro. Houve derramamento de sangue de ambas as partes e também foi documentado que alguns dos caídos foram arrastados para a dimensão alternativa com os híbridos.



As grandes mentes por trás desses assassinatos que tinham enviado para cá os seus filhos sabiam que era uma sentença de morte. Tinham planeado que os seus descendentes se matassem entre si e limpassem a desordem que eles tinham deixado para trás.



Apenas uma mão cheia desses rapazes ainda deambulavam pela terra e a maioria era mais nova que a primeira remessa, tendo chegado depois do rescaldo da guerra e dos híbridos se terem dispersado. Na opinião de Ren, era aqui que as coisas se complicavam. Nem todos os híbridos eram propriamente demoníacos. Se não fossem detetados, poderiam misturar-se com os humanos e os animais, uma vez mais reproduzindo-se durante mais de um milénio.



O grande segredo que Storm tentava proteger era o facto de a maioria das criaturas, metamórficos e lobisomens, ou humanos com a mais pequena capacidade anormal, serem muito provavelmente descendentes de um desses híbridos, incluindo os poderes de súcubo que ele próprio usava para os enc