Como acabar as coisas

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Z serii: Claro Enigma #2
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Como acabar as coisas
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© Editora Gato-Bravo, 2021



Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro nem o seu registo em sistema informático, transmissão mediante qualquer forma, meio ou suporte, sem autorização prévia e por escrito dos proprietários do registo do copyright.



editora Paula Cajaty



coordenação editorial António Carlos Cortez



revisão Margarida Fontes



ilustração Maria Reis Rocha



projecto gráfico Bookxpress



ilustração Passeios Lisboetas 2, Paula Calleja



Título



Como acabar as coisas



Autor



Pedro Reis Colaço



Colecção Claro Enigma



volume 2



Impressão



Europress Indústria Gráfica



isbn 978-989-8938-90-9



e-isbn 978-989-8938-91-6



1a edição: Julho, 2021



Depósito legal: 482488/21



GATO BRAVO



rua Veloso Salgado 15A



1600-216 Lisboa, Portugal



tel. 308 803 682



editoragatobravo@gmail.com





editoragatobravo.pt






À minha irmã, Mariana Reis Colaço.




Sumário





Como acabar as coisas: livro







A flor







À estranha e bela mulher que passou há pouco, provavelmente bêbada, na minha rua







Nada







Os putos de Belas-Artes







Sobre a sensualidade da alma







Uma palavra acerca do silêncio







Café #1







Canção de sereia







Mensagem a Eni Derhemi







A defesa







A boca







A vertigem







Dia de semana







Paisagem familiar







Café #2







Natureza fantástica







Da grande janela







Pomodoro







Para: uma atraente e simpática rapariga, nº não maior que o 40, futuro próximo







O passeador







A vista







A fonte







Goutha Oriental







A uma amiga







Mensagem a Eni Derhemi #2







Poema à sombra







Como acabar as coisas:

livro



por António Carlos Cortez



Para a Ana Reis, por tudo quanto representa para nós.



Para Mariana e Laura. E Nuno.



1.



Comece-se: «abre uma noite muda e fria / só a flor queima / e a noite corre aberta / por um instante», eis o poema que abre este livro de estreia de Pedro Reis Colaço.



O título do livro é uma sentença, um imperativo: Como acabar as coisas, título que insinua uma contradição, posto que Pedro Reis Colaço começa agora o seu percurso de poeta que se publica. Começando a vida da poesia, não se pretende acabar com essa vida...



Acabar é, neste livro, uma outra coisa: começar, até porque tudo o que acaba é um modo de começar e talvez só verdadeiramente se comece alguma coisa quando acabamos outra. Mas este título, na sua sentenciosa maneira de se apresentar, arrasta para dentro do campo das indecisões, como inúmeros poemas mostram, um problema de dimensão terrível e que a poesia, nem mesmo com Rimbaud ou com Breton, com Artaud ou, antes destes, William Blake, logrou resolver: se para acabar é necessário ter coragem para cortar com qualquer facto (ou conjunto de factos), então todo o poeta, na sua extrema fragilidade e na sua extrema força, será o que, de todos os homens, está sempre mais perto de saber como acabar e como começar. Isso é o que o primeiro poema parece sugerir ao recorrer a imagens consagradas pela poesia de amor, esse trilho que certa poesia que se diz mais urbana e marginal despreza, mas que surrealistas como Cesariny ou herdeiros desse movimento souberam reler como elemento básico da santíssima trindade poética: amor, liberdade, poesia. Pedro Reis Colaço, receio bem, faz parte dessa estirpe raríssima daqueles para quem a escrita é ainda uma forma de procurar o sentido dessa «estrela de cinco pontas» que animou o percurso também iniciático de um dos mestres ocultos de Colaço: Octavio Paz. É necessário sublinhar isto: em tempo de poses poéticas bem encenadas e ensaiadas para bancar o novo, Reis Colaço não vem repetir o já-feito com roupagens pseudo-à-margem para depois se instituir dizendo que é contra instituições. Isso não acontece porque a sua verdade como poeta é simples: é a que lemos num poema lindíssimo deste volume:



Movo a caneta na minha mão ao tempo da areia em queda na ampulheta. Venho com grandes ambições, pareceu-me possível nomear aquilo que me comoveu numa canção de Courtney Barnett e na forma como estavas sentada no carro e nas festas de Roberto Bolaño e nas pessoas à chuva. Agora sinto-me incapaz de o fazer, no entanto aqui estou. E a areia preta da ampulheta cai ao seu próprio ritmo e não ao ritmo da minha produção de nomes para aquilo que me comove. Ofereço-te a minha sincera falta de ideias. Quando a massa negra do meu tempo tiver caído toda no passado e não me restar um grão de futuro com que escrever e tu tiveres a sensação de que eu afinal não disse nada, acredita – por favor – que o espaço vazio do que eu não disse está cheio do meu desejo ardente de te comover, de plantar em ti um sorriso, de fazer arrepiar a tua pele de prazer



O que vemos aqui é, mais que qualquer outra coisa (programa, definição do artista, exaltação do impossível), a singeleza de uma escrita: mover de caneta, queda do tempo, assunção de uma figura («venho com grandes ambições»), indetermina�

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