Meu Irmão E Eu

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Meu Irmão E Eu
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MEU IRMÃO

E EU

PAULO NUNES

Copyright © 2020 Paulo Nunes Ltda

O autor publicou a versão completa em e-book com exclusividade em Kindle Direct Publishing, unidade de publicação de livros eletrônicos da amazon.com.br, em 08 de agosto de 2020. Nenhuma versão anterior, partes ou capítulos isolados desta obra foram publicados na internet ou distribuídos gratuitamente anterior a esta data. O autor publicou a versão completa para a impressão na plataforma de autopublicação da uiclap.com em 08 de dezembro de 2020. O livro está disponível em e-book em amazon.com.br, e em papel em loja.uiclap.com.

TÍTULO ORIGINAL

Meu irmão e eu

CAPA

Ester Costa / E-mail: estercosta.capas@gmail.com

Victor Castro / E-mail: victor.castro@hotmail.com

PREPARAÇÃO

Paulo Nunes

REVISÃO

André Leone / E-mail: andreleonefacundo@gmail.com

Carmen Quadro / E-mail: carmenquadros@faccat.br

Gisela Seolino / E-mail: gisela.sb@gmail.com

Ítalo Moraes / E-mail: itlpsicologia@outlook.com

Jards Nobre / E-mail: jardsnobre@gmail.com

Joney Ribeiro / E-mail: joney.goncalves@enova.educacao.ba.gov.br

Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com

Ricardo Ondir / E-mail: contato@revisorondir.com

Wescley Jorge / E-mail: wescleyjorge@gmail.com

DIAGRAMAÇÃO

Paulo Nunes / E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com

Waboo Creative / E-mail: waboocreative@gmail.com

Wendel Conninck / E-mail: contatoabnt@gmail.com

ASIN

B08DRR7HVT

ID DE DIREITOS AUTORAIS: DA-2020-005017

ISBN: 978-65-00-13439-1

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Nunes, Paulo

Meu irmão e eu / Paulo Nunes. -- 1. ed. --

Canela, RS : Paulo Nunes, 2020. -- (Meu irmão ; 1)

ISBN 978-65-00-13439-1

1. Ficção brasileira 2. Ficção de suspense

3. LGBTQIA - Siglas I. Título II. Série.

20-51243 CDD-B869.3

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura brasileira B869.3

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

EDIÇÃO DIGITAL E EM PAPEL

2020

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A PAULO NUNES

E-mail: escritorpaulonunes@gmail.com

Tel./WhatsApp: +55 54 9 9707 8071

Redes sociais: @escritorpn7

SUMÁRIO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

“Uma história interessante e emocionante

sobre vaidade, sexo, poder, amor e abandono.”

Gisela Seolino. Psicóloga.

“O descortinar da vida. Do que se é ao que se pode

ser ou tornar-se. Uma história envolvente que leva o

leitor a possibilidades, talvez, nunca antes imaginadas.”

Wescley Jorge. Assessor de imprensa.

“Entre paixões e o poder, uma experiência

envolvente pela vida de Gaius.”

André Leone. Geógrafo.

“Uma trama que envolve o sentimento de ambivalência e

contradição. Por que dormir com o inimigo é tão

perigoso e delicioso ao mesmo tempo?”

Gustavo Cardoso. Jornalista.

“A sexualidade, os relacionamentos e os dramas

humanos são muito bem abordados neste livro.”

Ítalo Moraes. Psicólogo.

“Falo de amor, pois só assim me sinto pleno.”

Paulo Nunes. Escritor.

Livremente inspirado em uma história verídica.

CAPÍTULO UM

Meus três homens

__________________

Alguns culparão a minha beleza. Outros não verão beleza em nada. Sinceramente, nem eu mesmo consigo dizer ao certo o que é a minha vida. Meu nome é Gaius Barrys, e resolvi escrever a minha história.

Era véspera de Natal. Estávamos todos à mesa: papai, Marcus, Núbia, Arthur e eu. A cadeira vazia da mamãe era uma lembrança constante da dor que sua morte causou a todos nós. Tentávamos aceitar que, talvez, tenha sido melhor que ela tivesse partido, embora ainda nos doesse o peito a sua ausência. Foi o primeiro Natal sem ela, e muitos outros seriam como aquele: tristes. Dispensei a sobremesa, mil-folhas recheado com creme pâtissière, e pedi licença a todos para ir ao meu quarto.

— Gaius, Emmanuelle fez a sobremesa que você mais gosta. Coma pelo menos um pouco, filho — solicitou meu pai na tentativa de manter-me mais tempo à mesa, enquanto eu arrastava a cadeira e me levantava.

— Desculpe, pai. Com licença — respondi, saindo da mesa.

Naquela noite, somente a companhia do meu travesseiro e o carinho do meu irmão podiam suavizar aquela dor que não cansava de maltratar meu coração. Já não suportava mais. Caí no choro e me entreguei à saudade e à revolta. Onde está Marcus? Onde está meu irmão? Pensei em meio às lágrimas. Ele não estava ali, mas sei que logo chegaria.

No dia seguinte à ceia, sob o tímido sol que me invadia os olhos, percebi um caminhar elegante. As imagens não eram nítidas. Havia um homem em meu quarto. Ele segurava em suas mãos algo vermelho e pendular.

— Quem é? — perguntei, ainda sonolento.

— Hora de acordar, maninho — respondeu Marcus, deitando na cama e me abraçando por trás.

— O que você trouxe?

— Uma tulipa. Sei que você gosta. Feliz Natal! Eu amo você! e me beijou a nuca.

Não me contive, deixei escapar uma fina lágrima e solucei.

— Olhe! Sei que não está sendo fácil para você, e nem para mim, mas temos que reagir. Não pode se entregar. Olhe para mim. Mamãe não ficaria feliz se o visse assim, sofrendo tanto.

Encarei seus olhos e respondi:

— Marcus, não estou conseguindo. Não estou conseguindo! Você entende o que digo? — gritei.

Gaius, você tem que conseguir. Nós estamos aqui. Papai, Núbia, Arthur, eu... Todos vamos ajudar você. Sei que era muito apegado à mamãe, mas ela se foi. Olhe! Deixe-me fazer uma pergunta: Você queria que ela continuasse sofrendo daquele jeito? Não foi melhor ela ter partido em paz? questionou ele na tentativa de acalentar-me e acalmar-me.

— Por favor, abrace-me. Abrace-me, meu irmão! — e, chorando, estendi os braços para recebê-lo em meu peito.

Quando esta história que estou contando começou, meu irmão não morava em Monte Carlo. Os negócios da House’s Barrys o prendiam em Nova Iorque, embora fosse da vontade dele e da esposa morar em Mônaco conosco. Mas quando se é dono de uma das maiores redes de imobiliárias dos Estados Unidos, os deveres sempre precedem os desejos. Assim aconteceu com meu pai a vida inteira e, à época, acontecia com ele. Ele tinha vontade de estar conosco, mas não podia. Marcus estava nos visitando com a família apenas para as festas de fim de ano. Antes disso, só nos encontramos no enterro da mamãe e no início do ano, quando eu ainda morava com ele em Nova Iorque para terminar os estudos. Naquele mesmo ano, depois de concluir o colegial, resolvi sair da vida agitada de Manhattan para cuidar de mamãe, abandonando, assim, o convívio prazeroso com ele. Depois que ela morreu, precisava do meu irmão mais que nunca. E, como sempre, ele nunca hesitou em me salvar. E lamento que isso tenha mudado com o tempo.

Naquela manhã de Natal, depois de abraçar-me, Marcus me convidou para passear. Disse-me que Monte Carlo estava abarrotada de turistas por causa das festas de fim de ano. Tinha a clara intenção de me animar. Realmente, havia um agradável clima de celebração, afinal era Natal, e, também, estava fazendo calor naquele fim de ano, mesmo que estivéssemos no inverno. Depois que tomamos café, ele sugeriu que inaugurássemos o presente que eu tinha ganhado de papai há alguns dias, uma BMW Z4 preta. Meu irmão sempre foi apaixonado por carros. Então, aceitei o convite, e fomos ao Monte Carlo Beach, sentindo o vento bater em nosso rosto. Era contagiante a alegria do meu irmão, pois trocava a música, abria o capô do carro, cantava, sorria... Feliz estava igual a uma criança com brinquedo novo. Conseguiu-me arrancar algumas discretas risadas ao quase atropelar um casal de turistas. Que susto tive, meu Deus! Ele estava feliz, e eu, vendo-o tão entusiasmado, fui possuído por esse mesmo sentimento.

 

Chegando ao clube, fomos direto às mesas em torno da piscina. Que bom que a piscina é aquecida e coberta. Pensei. E, logo, pedimos um kir royal ao garçom. Algumas horas se passaram, enquanto conversávamos descontraidamente. Disse-me que gostaria de ter mais tempo para visitar ao papai e a mim mais vezes.

— Eu gosto daqui... Monte Carlo é melhor que Nova Iorque para se viver. Espero que possa vir morar com vocês daqui a alguns anos — disse ele.

Em suas palavras, vi-o desejoso de alguma coisa que não tivesse ligação com o trabalho, o que não era comum. Marcus era mais velho que eu, e meu único irmão. Era um homem de quem não se deveria esperar extroversão e sentimentalismos. Nunca se permitia dizer o que queria, pensava, sentia... Era formal, tímido, discreto, responsável e, talvez, misterioso, além de ser possuidor de uma beleza serena. As responsabilidades dos negócios o fizeram assim, um pouco diferente de mim. Recordo-me que, depois de almoçarmos, pedimos mais um kir e falávamos em entrar na piscina. Foi quando eu o vi. Ele vinha em nossa direção. E a sua presença mudou todo o curso daquele dia.

— Você não sabe quem está vindo até nós — comentei em voz baixa, mas sem dar tempo ao meu irmão de tentar adivinhar.

E antes que Marcus olhasse para trás, uma mão molhada tocou o seu paletó azul royal.

— Meu amigo! Não sabia que estava aqui! — exclamou Marcus ao vê-lo.

Era Aidan. E logo senti que deveria sair daquele clube o mais rápido possível. Marcus se surpreendeu, mas demonstrou estar feliz de tê-lo encontrado, sendo civilizado com ele.

— Você, por aqui? Pensei que não gostasse de Mônaco. Senta conosco? — perguntou Marcus.

— E não gosto! Mas estava entediado em Nova Iorque e resolvi passar o ano novo aqui. Olá, Gaius! — disse, olhando-me.

E, logo, sentou-se ao meu lado, depois de me beijar o rosto.

— Oi, Aidan! Como vai? — retribuí, meio envergonhado.

— Ao seu lado, bem melhor — respondeu, sorrindo.

Aidan era um velho amigo do meu irmão. Talvez, o único que teve de verdade. Estudaram o colegial juntos e moraram em Harvard no mesmo período. O pai dele tinha negócios com nossa empresa, e isso estreitou mais a sua relação conosco. Era holandês, alto, loiro, forte, másculo, belo e rico. Um bom partido para namorar. Quem olhasse, jamais imaginaria que fosse gay. A meu ver, só tinha um defeito, era obsessivo por mim. Na época em que morei em Nova Iorque, não foram poucas as vezes em que Aidan me procurou. Quase sempre se apresentava insistente e inconveniente. Como esquecer o vexame que ele me fez passar na minha festa de aniversário daquele mesmo ano, poucos meses antes daquele inesperado encontro em Monte Carlo? Lembro-me bem daquele dia. Um amigo chamado Richard convidou-me para a vernissage de um artista plástico latino. Depois, fomos jantar. Na volta, pegamos um táxi, e ele me deixou em frente ao prédio do meu irmão, seguindo para sua casa. Ao entrar no apartamento, emocionei-me:

— Parabéns pra você! Parabéns pra você!... — cantavam algumas pessoas, sorrindo e olhando para mim.

Na sala de estar estavam Marcus, Núbia, Arthur, dois ou três conhecidos do meu irmão, um garçom, e Aidan. Depois dos parabéns, dei um beijo de agradecimento em cada um. Arthur, meu sobrinho de cinco anos, segurava o bolo e dizia com voz angelical:

— Tio, tem que fazer um pedido e apagar a velinha.

Como resistir a tanta doçura deste menino? Pensei. Fiz o pedido e apaguei a vela sob aplausos discretos. Quando percebi as bebidas, a música tocando e Aidan me olhando, pensei: Preciso de Richard aqui, agora! Ele vai me salvar. Necessitava de apoio, caso Aidan aprontasse. E ele sempre aprontava comigo, principalmente em público. Tomei o celular e liguei para Richard.

— Meu irmão fez uma festa surpresa aqui em casa. Por favor, volte rápido!

Não podia deixar de dizer algumas palavras a todos, mas queria que Richard estivesse presente. Então, esperei. Passeei discretamente pelos convidados, agradecendo a presença, até chegar ao meu irmão.

— Eu amo muito você, sabia? Obrigado! — disse a Marcus, abraçando-o e beijando-lhe o rosto.

— Você sabe que papai não está aqui por causa da mamãe, não é, maninho?justificava ele.

E, antes que eu dissesse algo, uma mão se apossou da minha cintura e pressionou meu corpo contra ela. Era Aidan.

— O seu presente. Espero que goste — disse ele.

Aidan estendeu diante dos meus olhos uma caixinha preta aveludada. No alto da caixinha, um cisne negro e um S ao lado em alto-relevo prateado chamava a atenção.

— Será o que estou pensando? — perguntei, curioso, com meio sorriso nos lábios.

— Abra-a! — respondeu, levando o copo de uísque à boca, tentando disfarçar a ansiedade.

— Ah! Não acredito! — exclamei.

Era um lindo par de abotoaduras.

— Deixe-me mostrar uma coisa — falou ele, tirando a mão da minha cintura e, por trás de mim, mostrando os cristais Swarovski & Ônix Negro nas bordas das abotoaduras.

— A vendedora me disse que é o último lançamento da marca para os homens. Imaginei que você ainda não tivesse — completou ele.

E não tinha.

— Obrigado, Aidan! Gostei muito! — disse, dando-lhe um beijo demorado no rosto, enquanto ele apertava minha cintura contra a dele, suavemente.

O presente não impressionou somente a mim. Núbia, minha cunhada, aproveitou o momento para alfinetar meu irmão.

— Nossa, Gaius! Que presente, hein? Também gostaria de ganhar um desses de vez em quando.

Nossas risadas deixaram Marcus constrangido, mas ele conseguiu se safar elegantemente:

— Claro, meu amor — comentou ele, dando um gole no champanhe, levemente envergonhado.

Núbia era uma mulher de pouco mais de trinta anos. Tinha uma estatura mediana, cabelos curtos e pretos, que combinavam com seus olhos escuros. Sua pele clara e o corpo conservado, resultado de horas de ginástica na academia e de uma alimentação balanceada, faziam dela uma mulher bela e sexy. Tinha bom gosto para se vestir. Não trabalhava, e passava parte do dia cuidando do meu sobrinho, que sofria de asma, e precisava de atenção. A beleza dela com a de Marcus faziam deles um casal admirável.

Estávamos ali, comemorando meu aniversário, enquanto bebíamos, comíamos alguns aperitivos servidos pelos garçons, e falávamos amenidades, entre uma risada e outra. Havia um clima amistoso e descontraído entre nós. Lembro-me que comentava que ainda me sentia imaturo para ir à faculdade, pois não sabia o que queria fazer. Era apaixonado por fotografias, e pensava em trilhar esse caminho profissionalmente. Não queria apressar-me, afinal estava fazendo apenas dezessete anos e ainda tinha tempo para discernir o que fazer da minha vida. Papai sempre tentou me levar para o mundo dos negócios, da administração, dos escritórios, mas, vendo a vida do meu irmão, nunca me senti atraído. E, realmente, papai nunca conseguiu o que queria. Enquanto falava, fui interrompido pela campainha.

— É Richard! Com licença — disse, dando as costas a Marcus e Aidan, caminhando até a porta.

— Meu amigo, que bom que veio. Vejo que trouxe alguém com você. Quem é? — perguntei, enquanto o abraçava.

— Este é Pablo. Este é Gaius. A festinha está animada. Nós queremos beber — respondeu, entrando no apartamento com seu amigo Pablo.

O garçom recebeu os casacos deles, e eu os levei até o meu irmão.

— Pablo, este é o meu irmão Marcus, a esposa dele, Núbia, e um amigo da família, Aidan. Bom, Richard todos vocês já conhecem, não é? comentei, descontraidamente, fazendo as devidas apresentações.

Aproveitei que todos estavam conversando e fui em busca do garçom, e pedi:

— Por favor, desligue a música e me traga uma taça de champanhe.

Pedi a atenção de todos para o discurso.

— Um minuto, por favor. Hoje é um dia muito especial para mim...

Uma voz estridente se sobressaiu à minha, interrompendo-me. Era Aidan, visivelmente bêbado.

— Peço a todos que escutem o que eu tenho a dizer: Hoje é um dia muito importante para nós que somos amigos de Gaius. Afinal, quem não se lembra dos seus dezessete, não é? Bom, às vezes é melhor não lembrar.

As gargalhadas o interromperam, mas ele continuou mirando em meus olhos e discursando:

— Desejamos toda a felicidade do mundo a você, pois o amamos e lhe queremos bem.

Neste momento, caminhou em minha direção.

— Não é segredo para muitos aqui que gosto de você. Nunca escondi o que sinto, e sabe disso. Lamento que seus pais não estejam aqui para ouvir o que tenho a dizer. Mas quero falar diante do seu irmão: eu amo muito você, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.

Ele segurou minha mão, olhou-me com os olhos marejados e perguntou:

— Gaius, você quer namorar comigo?

Não sabia se socava a cara de felicidade de Richard ou o rosto de bobo apaixonado de Aidan, que visivelmente estava mais bêbado do que supus. Que vergonha! Que vergonha, meu Deus! Estavam todos me olhando. Alguns, surpresos. Outros, ansiosos. E eu ali, em silêncio, vendo nas expressões faciais de cada um a expectativa pela minha resposta. Os segundos tornaram-se horas, e a angústia apossava-se de mim. Bruscamente, larguei a mão de Aidan, e o encarei com raiva.

— Com licença! — e corri ao meu quarto, trancando-me.

Como num lampejo, toda essa história me veio à mente, quando vi Aidan naquela piscina em Monte Carlo. Desde aquele dia desagradável, não tinha estado com ele, pois, poucas semanas depois decidi morar com meus pais em Mônaco para cuidar da minha mãe. Ele mandou-me flores, quando soube do falecimento dela, e o cartão era o reflexo do que sentia sobre a dor da morte da minha mãe e o vexame no meu aniversário:

“Sinto muito pela sua mãe. Sinto muito pelo que aconteceu no dia do seu aniversário. Gosto de você! Aidan”.

E ele estava ali, diante de mim.

— Gaius, Gaius! Oi? — disse meu irmão.

— Sim — respondi, forçando um sorriso.

— Parece distante, maninho.

— Não. Não estou. Tudo bem.

Fiz sinal ao garçom e pedi mais um Kir na tentativa de evitar iniciar uma conversa com Aidan, embora soubesse que era impossível, pois só estávamos nós três à mesa. Marcus percebeu meu desconforto e, logo, perguntou-lhe como estava seu pai. Eles dois sempre foram bom de papo, então os deixei conversarem. Instantes depois, comentei:

— Acho que vou mergulhar.

— Você trouxe calção de banho? — perguntou Marcus.

— Se você quiser, Gaius, pode usar o meu. Na minha suíte tem tudo de que precisa — disse Aidan antes que eu respondesse.

— Você está hospedado aqui, Aidan? Por que não ficou na nossa casa? Papai gosta tanto de você — indagou meu irmão.

Aidan enrubesceu e olhou para mim.

— É que eu não sabia que você estava aqui, meu amigo. E acho que Gaius não iria querer me receber.

Olhei-o com ódio. Como ele pôde dizer isso? Que cínico, meu Deus! Pensei.

— Não se preocupe, Aidan. Nossa casa é muito grande. Nem iríamos nos encontrar. Com licença — respondi, debochado, levantando-me e saindo da mesa.

— Você quer que eu o acompanhe até a... — ofereceu-se ele.

E, antes que ele terminasse a frase, intervi:

— Não precisa! Vou sozinho!

Dei alguns passos em direção ao hall do hotel, mas ainda consegui ouvir o comentário deles dois:

— É, meu amigo, você se apaixonou por um garoto bem bravinho — disse meu irmão.

— E você acha que eu já não percebi? — respondeu Aidan.

Ouvi as risadas. E eu mesmo ri.

Ao entrar na suíte, dei de cara com A ponte japonesa pendurado na parede acima da cama. Que bálsamo! Adoro Monet, meu Deus! E com a televisão ligada também. Que desleixado! Pensei. Caminhei vagarosamente até o banheiro, apreciando a clássica decoração inspirada no estilo Luís XVI. Dois pequenos abajures, um de cada lado da cama, uma cortina de tecido grosso de cor pastel e com bordas vermelho escuro, duas poltronas aveludadas brancas e um tapete de cor dourado envelhecido, que cobria o assoalho de madeira fina, ofereciam um ar imponente ao ambiente. No banheiro, o aroma do Givenchy Gentleman me recepcionou. Será que ele só usa Givenchy porque está em Mônaco? Não importa. Pensei. Precisava de um calção. Procurei nas gavetas e achei dois, um preto de cintura larga, e um branco, de cintura ajustável. Não poderia usar o preto, era largo demais e eu iria me perder lá dentro. Sobrou-me o branco. Ainda bem que estou de cueca preta. Pensei. Tirei minhas roupas e sapatos e dispus tudo sobre a cômoda do espelho. Vesti o calção e ajustei a cintura. Realmente estou muito magro. Papai está certo. Tomei um dos pares de sandálias de dedo que estavam ao chão do banheiro e virei-me para sair. Foi quando me assustei. Oh, meu Deus! O que ele está fazendo aqui? Não acredito que estava me olhando trocar de roupa! Que ódio! Que ódio, meu Deus! Pensei. Aidan estava parado na porta da suíte, olhando-me. Meio desconcertado, com a voz gaguejando, sem decidir se seus olhos paravam em minha cintura ou em meu rosto e, coçando sua barba suavemente, disse:

 

— É que... eu não lhe disse que... que o calção estava na gaveta do banheiro. Você saiu tão rápido da mesa e... e eu não tive tempo. Fiquei com medo de não achar.

— Não se preocupe, Aidan. Eu achei — comentei, com indiferença, caminhando em direção à porta.

— Espere! É melhor levar uma toalha e um protetor. Você tem a pele muito branca. A piscina é coberta, mas entra sol. Eu vou pegar.

Ele passou por mim em direção ao banheiro, e eu fui ao lugar onde ele estava. Depois, entregou-me uma toalha branca e um protetor solar, comentando:

— Se você quiser, posso passar nas suas costas.

— Peço para o meu irmão. Obrigado — e dei as costas para sair, quando ele segurou meu braço e me virou de frente para ele.

— Olha, Gaius! Sei que as coisas ficaram estranhas entre nós depois do seu aniversário, mas quero que saiba que sinto muito pelo que aconteceu naquela noite. Não foi minha intenção constranger você, eu só... — falou, olhando-me com cara de arrependido.

— Você só bebeu demais e tentou forçar uma história que não existe entre nós, Aidan! E, por favor, largue o meu braço — completei, irritado, olhando-o nos olhos.

Depois que ele me soltou, dei as costas, saí da suíte e caminhei em direção ao elevador, que ficava no final do corredor. Quantos quadros bonitos, meu Deus! Este hotel tem bom gosto! Pensei. Ao lado do elevador, um grande espelho refletia a imagem de Aidan, fechando a porta da suíte e encarando minhas costas. Ele vestia somente um calção branco, seus cabelos castanhos estavam molhados e bagunçados, e seus olhos estavam cheios de luxúria. Tenho certeza, meu Deus! Ele quer fazer sexo comigo. Pensei.

Chegando à piscina, vi meu irmão ao celular. Estendi o protetor diante dele e sentei-me de costas. Marcus falava sobre negócios, enquanto espalhava o protetor solar primeiro em meus ombros, depois no meio das costas, e, por último, já perto das nádegas. Que mãos fortes têm o meu irmão! Pensei. Dei um tchauzinho a ele e mergulhei. Havia poucas pessoas na piscina, talvez três ou quatro casais, mais dois homens e algumas crianças. A água estava morna, e eu nadava de uma ponta a outra, quando uma câimbra me paralisou.

— Não acredito! Ai que dor, meu Deus! Está doendo demais! — exclamei.

A dor era insuportável, e eu fiquei paralisado no meio da piscina na esperança de ela me deixar. Mas não passava e eu fazia cara feia, quando vi que dois homens me olhavam, curiosos.

— Oi! Você está bem? — perguntou-me um homem de olhos pretos.

Como não respondi, eles foram em minha direção.

— Oi! O que você tem? — perguntou-me outro homem, mais jovem que o primeiro, e com a pele queimada pelo sol.

— É que minha perna está doendo. Acho que é uma câimbra.

— Vamos tirar você da água, certo? — disse o primeiro homem.

Eles encaixaram seus ombros sobre meus braços abertos, um de cada lado, ajudando-me a sair da piscina. O homem de olhos pretos segurou-me nos braços e me levava em direção às cadeiras de sol, quando Aidan avistou-nos de longe e correu ao nosso encontro.

— O que houve? O que você tem? — perguntou, ansioso.

— Não foi nada. Ele só teve uma câimbra respondeu calmamente o homem que me carregava, enquanto me deitava na cadeira.

De costas para mim, Marcus continuava ao celular e não viu nada do que acontecia.

— Obrigado! Por favor, você pode chamar meu irmão? É aquele que está ao celular — pedi ao homem de pele queimada, que parecia ter menos de vinte anos.

— Está sentindo alguma coisa? — perguntou-me o de olhos pretos.

— É que está doendo muito — agarrei a perna na tentativa de fazer parar a dor e comecei a chorar.

— Ei! Calma. Olhe! Eu sou fisioterapeuta. Vou fazer uma massagem e, logo, vai passar. Certo?

Aidan, rapidamente, trouxe um óleo para a pele, e o homem massageava minha perna, enquanto conversava comigo. Dizia-me ele que ter câimbra em piscinas é normal, e, também, que certos alimentos ajudam a evitá-las, e ficou a citar alguns. Sorridente, afirmou que iria pedir à minha mãe para cuidar melhor da minha alimentação. Naquele instante, fitei-o.

— Minha mãe morreu há alguns meses — comentei baixinho.

Ele enrubesceu e se desculpou pelo comentário:

— Eu não sabia. Sinto muito.

Era tarde demais, pois o choro havia se apossado de mim.

Marcus e o outro homem chegaram e encontram Aidan agachado, tentando me consolar, o fisioterapeuta em pé, e eu, chorando.

— Ei, maninho. O que foi? O que houve? — perguntou meu irmão, beijando-me o rosto, tentando me acalmar.

— Eu... eu quero ir embora — disse eu, e enxugava as lágrimas com as mãos, tentando não tremer o queixo.

Aidan explicava que eu tive uma câimbra na piscina e que aqueles homens me ajudaram.

— Olhe, maninho. Foi só uma câimbra. Já vai passar. Calma, certo? — repetia Marcus, acarinhando-me os cabelos.

Meu irmão apresentou-se aos homens que me ajudaram e franziu a testa ao olhar para o fisioterapeuta. Então, falou:

— Conhecemo-nos de algum lugar? — olhando-o, curioso.

Foi quando uma surpresa invadiu meus ouvidos.

— Acho que estive no apartamento do Senhor em Nova Iorque com Richard no aniversário dele. Sou Pablo, e este é o meu irmão Juan.

Parei de chorar no mesmo instante. Olhei para eles dois e pensei: O quê? Que mundo pequeno, meu Deus!

Ao lado da piscina, um espaço aberto permitia que respirássemos o ar daquele entardecer. O sol se escondia lentamente diante de nossos olhos. A noite dava as caras em Monte Carlo, e os últimos raios do crepúsculo só poderiam ser apreciados por mais alguns instantes antes de ela firmar-se por completo. A tarde aquecida dava lugar ao vento refrescante e agradável da noite. Mais parecia vento de verão, mas não era, pois estávamos no inverno. Lembro-me bem que aquela mescla de vento, pôr do sol e chegada da noite tornou-se mágica para mim. Aquilo me despertou sensações e desejos. No dia seguinte àquele é que descobri que eu não estava inebriado de alguma força sobrenatural e sob os efeitos das belezas da natureza. Era bebida mesmo. Eu estava quase bêbado! Mas como foi bom estar relaxado naquele dia, e melhor ainda foi o que aconteceu à noite! Que noite! Que noite, meu Deus! Depois do incidente com a minha perna e da feliz coincidência de todos nós termos nos reencontrado, meu irmão, civilizado como era, convidou Pablo e Juan para sentarem conosco. Horas de conversa e muitos drinks foram o suficiente para que meus olhos faiscassem diante do belo Pablo. Ele era latino, nascido no México. Os cabelos pretos e lisos chamavam a atenção, quando iam de encontro ao vento. A barba por fazer e o sorriso travesso eram um charme à parte. E o corpo? Que corpo, meu Deus! Era alto, forte, de pele queimada e exibia uma tatuagem pouco acima da axila esquerda. Todas as vezes que ele levava as mãos ao cabelo por causa do vento, eu tentava adivinhar que tatoo era aquela. Como ele se sentou perto de mim, e do outro lado da mesa estavam Marcus, Juan e Aidan, conversando empolgadamente, nós ficamos mais à vontade. De início, falávamos amenidades. Contou-me ele que, no dia do meu aniversário, poucas horas antes de ir ao apartamento do meu irmão, quase tinha sido atropelado na Times Square, mas, felizmente, nada de grave houve. Disse, ainda, que estava morando em Nova Iorque havia pouco tempo, e que estava gostando de trabalhar como fisioterapeuta. Falávamos sobre os bons lugares de se frequentar em Manhattan, e também sobre como era a vida dele no México. Entre drinks e risadas, um pensamento me invadiu: Será que ele é gay? Não vou dizer nada comprometedor, pois acho que não é. Mas que é um homem bonito, é! Ele é tão masculino! A certeza viria poucos instantes depois.

— Sua perna está melhor? — perguntou ele, olhando-me com aqueles olhos pretos e brilhantes.

— Sim. Não está mais doendo.

— Deixe-me ver — pediu, tomando minha perna, apoiando-a em sua coxa.

Levemente, ele apalpava minha panturrilha direita, enquanto me olhava e perguntava se doía. A cada “não” que eu respondia, ele subia as mãos um pouco mais e suavizava a voz.

— Dói aqui? ... E aqui? ... E aqui?

E continuou perguntando até o sorriso tomar conta de nós dois e eu perceber que ele estava me fazendo um carinho e me olhando com desejo em vez de me examinar.

— Que olhos, meu Deus!pensei e falei.

E ele ouviu.

— Você gosta dos meus olhos? — perguntou-me, sorrindo, meio envergonhado, com a voz baixa.

— Gostorespondi, baixinho, mirando bem em sua pupila.

Uma tossida nos desconcentrou. Era Aidan, olhando-nos. Que inferno! Ele está aqui, e de cara feia! Tirei minha perna da coxa do Pablo e pensei: Nunca vi Aidan falando espanhol. Ele é holandês e mora em Nova Iorque desde pequeno. Não deve saber nada da língua latina. Resolvi arriscar a conversar com Pablo em espanhol. E, mentalmente, agradeci à minha mãe e as professoras particulares que tive durante toda a infância, por me ensinarem a falar fluentemente três línguas antes dos dezessete anos:

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