Czytaj książkę: «Da verdadeira Índia»
© Editora Gato-Bravo, 2020
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editor Marcel Lopes
coordenação editorial Paula Cajaty
revisão Inês Carreira
projecto gráfico 54 Design
imagem da capa Kristin. People celebrating Holi festival of colors, India. AdobeStock
Título
Da verdadeira Índia
Autora
Melina Galete
Impressão
Europress Indústria Gráfica
isbn 978-989-8938-75-6
e-isbn 978-989-8938-76-3
1a edição: Julho, 2020
Depósito Legal: 472001/20
gato·bravo
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tel. [+351] 308 803 682
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Já a manhã clara dava nos outeiros
Por onde o Ganges murmurando soa,
Quando da celsa gávea os marinheiros
Enxergaram terra alta pela proa.
Já fora de tormenta, e dos primeiros
Mares, o temor vão do peito voa.
Disse alegre o piloto Melindano:
“Terra é de Calecu, se não me engano.
Esta é por certo a terra que buscais
Da verdadeira Índia, que aparece;
E se do mundo mais não desejais,
Vosso trabalho longo aqui fenece.”
Sofrer aqui não pode o Gama mais,
De ledo em ver que a terra se conhece:
Os geolhos no chão, as mãos ao céu,
A mercê grande a Deus agardeceo.
Luís de Camões, Os Lusíadas,
Canto VI, estâncias 92 e 93
Sumário
•
Introdução
Céu – Algures entre Porto e Amsterdão
Primeiras impressões
O casamento
Primeiro dia: Henna e música
Segundo dia: o banho da noiva
Terceiro dia: o casamento
Quarto dia: a receção inglesa
Quinto dia: rituais e bênçãos
O último dia do fim da minha outra vida
Famosos (uma festa para nós)
O lixo na mala
Uma noção diferente de higiene e limpeza
O perigo da água
(Falta de) segurança
No meio do caminho tinha uma vaca
O comboio que não parava na estação
Empregados ou escravos?
Animais: bênção ou estorvo?
Templo (ou o homem que não controlava o mundo)
O meu marido
O medo por ser mulher
A conversa com a cunhada
Duas formas de aceitar
Minha filha é diferente e na Índia isso é normal
Não voltei
Para a Maria Clara,
por me acompanhar nas viagens da vida.
À minha mãe, ao meu pai e à
Lívia, primeiros leitores sempre,
e à Lavínia, futura leitora.
À Flávia,
por saber antecipadamente o que vai
acontecer na minha vida e me encorajar.
Ao Luis Maffei,
José Eduardo Agualusa e Afonso Cruz,
que, mesmo sem saber, são um pouco responsáveis por este primeiro livro.
À Sangeetha.
Introdução
•
Não é muito comum a presença de estrangeiros em casamentos tradicionais na Índia. Ainda mais incomum é a presença de não indianos nos dias que antecedem a cerimónia, que consistem na preparação dos noivos, separadamente.
Quando fui convidada para participar de um dos rituais mais importantes do hinduísmo, eu não julgava que presenciaria algo que poucos ocidentais puderam presenciar: a cerimónia do Mehendi, a festa da música, o banho de especiarias, o casamento, a receção pela família do noivo e, o que foi mais surpreendente, o ritual – Puja –, celebrado no dia a seguir à receção, em que fui a única pessoa de fora da família com permissão para participar, assistir aos sacrifícios animais, oferecer especiarias e frutas aos deuses e alimentar-me com as mesmas especiarias e frutas, após a oferenda.
Já no primeiro dia de celebrações pude constatar o ineditismo da presença de estrangeiros naquela fase do casamento. Estávamos há poucos minutos no quintal onde ocorria a cerimónia do Mehendi – que consiste na pintura das mãos com henna, quando chegaram repórteres de jornais impressos e da televisão. Nos dias a seguir ocorreu o mesmo. Aparecemos em todos os noticiários da TV Telugu e em diversos jornais, éramos parados nas ruas para que tirassem fotos conosco e recebemos mais olhares do que os noivos durante a principal cerimónia do casamento.
Fui para a Índia com algumas expetativas – nem todas agradáveis. Eu só não esperava que encontraria todas as situações durante a mesma viagem. É conhecido o confuso trânsito local, a dificuldade em atravessar as ruas, a poluição do ar, a imundície dos rios, a pobreza extrema, a escravatura moderna e o machismo exagerado. A pobreza, é certo, existe em todo lado. O machismo eu também encontro em qualquer esquina no Brasil e em Portugal. Já a escravatura eu não esperava encontrar. Mas encontrei.
Por estar em um lugar pouco frequentado por turistas e hospedada em casas de parentes da noiva, pude vivenciar na quase totalidade o dia a dia de uma família do sul da Índia. Prescindi de guias turísticos, hotéis, tradutores, alimentação de emergência e até de seguro de viagem completo. Por esse motivo, esses relatos carregam em si um ineditismo surpreendente sobre aquela cultura, tão divulgada – por vezes de maneira errónea – e tão difícil de compreender.
Céu – Algures entre Porto e Amsterdão
•
Esta viagem começou em setembro de 2013. Há seis anos e dois meses, época em que eu havia chegado há pouco tempo em Portugal, eu estava no meu quarto, à tarde, na Rua Mário Sacramento, residência universitária da Universidade de Aveiro. Eu estava, portanto, no meu quarto, quando chegou uma moradora nova. Existiam três quartos na casa. Um ocupado por mim, outro pela Aralyia, uma iraniana, e o outro estava vazio até então.
Mas naquela tarde a nova moradora chegou, dirigiu-se até à porta do meu quarto e apresentou-se. Após a apresentação, eu pensei que ela era inglesa e só mais tarde percebi que era da Índia. Naquela época meu inglês estava muito aquém do necessário para manter uma conversa básica.
Ao longo dos dias, aproximamo-nos cada vez mais. Sridevi1 falava que estava a guardar dinheiro para pagar o dote do seu casamento, no dia em que o irmão escolhesse um marido para ela. Eu considerava um absurdo. Como, em pleno século XXI, alguém aceitaria casar com um desconhecido, escolhido pela família, e ainda pagar por isso?
O ano passou, ela foi para Bolonha, com retorno marcado para três meses depois. Nesse tempo, eu me desentendi com a iraniana e mudei de casa. E de novo. E mais uma vez. Sridevi voltou. Não morávamos mais na mesma casa, mas continuamos com a amizade.
Após um tempo, eu saí daquela cidade. Minha filha foi viver comigo em Portugal e mudamos para um lugar mais isolado. Dois anos depois, já no final de 2017, Sridevi anunciou que voltaria para a Índia. Fui a Aveiro para a despedida, que foi na mesma casa em que eu estava naquela tarde de setembro, quando ela chegou.
No ano seguinte, ela enviou mensagem para avisar que estava a viver na Austrália, cursando o pós-doutoramento. E disse também para eu começar a guardar dinheiro para a viagem, pois sua família estava à procura de um noivo. Ela iria casar.
Eu não discutia mais com ela sobre esse assunto. Antes eu tentava convencê-la a fugir, a casar em Portugal com alguém que ela gostasse e mentir para a família, ou a falar a verdade, mesmo que ela fosse proibida de ter contacto com eles para sempre. Eu ofereci minha casa como esconderijo, ofereci minha mãe como mãe adotiva para o resto da vida (e minha mãe disse que se fosse necessário alinharia no plano). Custei a perceber que existia uma barreira cultural muito forte. Um dia (em que Sridevi já estava farta da minha conversa de que deve-se casar por amor) ela perguntou:
— Você casou por amor?
— É claro! – Afirmei com vontade.
— E onde está seu marido? – Ela completou com um sorriso irónico.
A partir dessa conversa, continuei sem entender a escolha, mas passei a aceitar e respeitar. É que eu pensava que ela não queria casar e que tinha ido para a Austrália para tentar evitar o casamento. Eu pensava que quanto mais ela estudasse, quanto mais acumulasse títulos, mais difícil seria arrumar um marido, pois provavelmente os homens recusariam uma noiva que tivesse uma formação mais elevada que a deles. Eu julgava, ainda, que ela não queria casar.
Até que em maio deste ano recebi uma mensagem. Era uma foto, apenas isso. Na foto, ela aparecia ao lado de um homem – Arjun. Estava escolhido. A foto era uma montagem. Eles ainda não se conheciam. Mas já sabiam que iriam casar e que seria ainda em 2019. Ela convidou-me. Eu não havia seguido o conselho recebido em 2018 e não guardei dinheiro. Eu realmente acreditava que ela não queria casar. A felicidade dela desmentia meus pensamentos.
Convenci minha mãe a pagar tudo. Não foi difícil. Especializei-me nessa área há muitos anos. Ela comprou os bilhetes para mim e minha filha e cá estamos, eu e Maria Clara, no primeiro avião dessa longa viagem.
Primeiro vamos parar em Amsterdão, depois em Abu Dhabi e então chegaremos em Hyjabad, onde estarão à nossa espera no aeroporto. Só a ideia de fazer essa viagem ajudou-me no processo de despertar pelo qual passo atualmente. Desde que soube da ida, comecei a meditar e a fazer yoga quase todos os dias de manhã bem cedo.
Agora ela e Arjun já se conhecem. Há pouco tempo, seis dias apenas. Semana que vem serão casados. Provavelmente para o resto da vida. Dessa vida. Espero que felizes.
1 Os nomes das pessoas e dos lugares foram alterados para preservar as identidades.
Primeiras impressões
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Cheguei à Índia há ALGUMAS horas. Trouxe expetativas na mala. Muitas dizem respeito à religião e à alimentação. Desde que eu soube que faria essa viagem, passei a acordar cedo para meditar e fazer yoga todos os dias. E quando digo acordar cedo, falo às cinco horas da manhã. Imaginei como seria na Índia. Grandes aulas de yoga ao ar livre, mantras cantados no templo, comidas vegetarianas por todo o lado. Comecei a seguir nas redes sociais o Sadhguru, que é de uma localidade próxima de onde estou. Também passei a rever os vídeos do Jiddu Krishnamurti, que fez parte de uma fase da minha vida.
Ainda é cedo para constatar que minhas expetativas serão frustradas, mas não consigo imaginar como alguém pode meditar e encontrar paz de espírito imerso nesse caos. Os exercícios de respiração do yoga, os meus preferidos, são ineficazes aqui. Quanto mais fundo eu tento respirar, mais poluição entra nos pulmões. Sou do Rio de Janeiro e já fui muitas vezes a São Paulo. Recordo-me que mesmo sendo o Rio uma cidade poluída, quando eu voltava de São Paulo era preciso passar loção adstringente diversas vezes no rosto e o algodão ficava preto até a quarta ou quinta vez. O mesmo ocorria com os cotonetes nas narinas. Mas Hyjabad faz com que o ar de São Paulo pareça tão puro quanto o das montanhas mais altas da Suíça. Nunca lá estive, mas pareceu-me uma boa comparação.
Sempre ouvi dizer que as vacas são sagradas no hinduísmo. E também que eles acreditam que podemos reencarnar como animais, depois como humanos de novo e, mais uma vez, como animais, até terminar o ciclo de reencarnações – o Samsara. Eu julgava que por esse motivo os hindus não comessem carne, ou ao menos evitassem as carnes de animais maiores. Sempre acreditei também que a Índia era um país de maioria vegetariana.
Contudo, tenho visto muitas beef shops. A princípio julguei serem de muçulmanos, o que foi confirmado pelas roupas características utilizadas pelas pessoas por trás dos balcões. Porém, observei muitos clientes com a marca vermelha entre os olhos, utilizadas pelos hindus. E também algumas clientes vestidas com sári. Após uma semana a conviver entre menus de restaurantes e almoços familiares, compreenderei melhor como funciona a alimentação por aqui. Até agora, passado apenas um dia e meio, soube que eles seguem, devido à religião, alguns dias vegetarianos e outros regados com muita carne – de frango, carneiro e, algumas vezes, de porco. Um homem confessou-me que adora Big Mac. Mas só pode comer quando está nos Estados Unidos, pois as lojas McDonald’s da Índia não oferecem essa opção. A comida aqui, aliás, é excelente, mas temo que a partir do quinto ou sexto dia meu estômago comece a rejeitar. Principalmente se continuarem a colocar coentro em tudo.
Ainda estou no meu segundo dia de viagem, pode ser que eu esteja apenas irritada por ter passado quase quarenta horas entre aviões e aeroportos. Hoje vou ao Templo. Espero encontrar por lá a tão procurada paz de espírito. Espero também ver meditação e mantras alegremente cantados. Dedicarei um capítulo ou subcapítulo a essa experiência carregada de paz, quando eu voltar da viagem. Para quem está a ler agora, a viagem já acabou e o texto já existe. Mas não se adiante para saber se eu encontrei ou não a paz buscada (informação que eu, enquanto escrevo, ainda não possuo). Não se adiante. Primeiro veja os relatos que se seguem, sobre o casamento.
O casamento
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Minha preparação
Fui convidada para um casamento tradicional indiano. Seria uma experiência inédita para mim. Já fui a muitos casamentos, quase tanto quanto a funerais, mas em todos a noiva estava de vestido branco e a festa durava apenas um dia. Contudo, eu não pensava que fosse tão incomum a presença de estrangeiros em casamentos como aquele. Percebi que eu estava enganada já no primeiro dia, quando a equipa de reportagem do canal local apareceu para entrevistar os estrangeiros presentes na festa.
As dúvidas começaram a surgir antes da viagem. E a primeira foi em relação ao presente: o que se deve dar aos noivos indianos? Deve-se dar o presente aos noivos ou apenas à noiva? Em qual dos muitos dias de celebrações o presente deve ser entregue? Tentei descobrir, com pesquisas na internet, e tive ainda mais a certeza que não é mesmo comum a presença de estrangeiros em casamentos tradicionais por lá. Quase não havia informação. As poucas informações que encontrei eram sobre casamentos de indianos que viviam no Reino Unido.
Decidi respeitar a lógica brasileira e portuguesa: encomendei uma colcha de cama. Mas não uma qualquer. Fui até à cidade de Guimarães, que fica mais ou menos a quinze quilómetros de distância de onde vivo, e encomendei uma colcha preta com caravelas bordadas na cor dourada. Fizeram na cor branca. Pensei em presentear Sridevi com algo que a fizesse lembrar que nos conhecemos e compartilhamos casa em Portugal, embora em Aveiro, e não Guimarães. Até pensei em levar ovos moles, o doce típico da região, mas teriam estragado com o calor indiano ainda no trajeto do aeroporto até a primeira casa em que fiquei hospedada.
A colcha ficou pronta apenas um dia antes da viagem. Naquele momento, eu já tinha o presente, os vistos, a autorização do pai da minha filha no passaporte, trinta e quatro mil rupias indianas e expetativas. Embarcamos. Ou quase. Era um avião.
Antes do casamento
Os noivos não se conheciam. Também não se escolheram um ao outro. A tradição hindu manda que o pai escolha as noivas e noivos para as filhas e filhos. E esses aceitam, na maior parte das vezes. No entanto, Sridevi ficou órfã de pai aos dezasseis anos. Talvez ela tenha conseguido estudar na Europa e dividir apartamento comigo e outras tantas flatmates devido a essa morte prematura. Com a morte do pai, o responsável por tomar as decisões da sua vida passou a ser Sandeep, o seu irmão, que era dois anos mais velho. Ele sempre deixou claro que não permitiria que ela casasse com alguém que vivesse na Índia. Portanto, o trabalho seria ainda maior. Teria que encontrar um indiano que pertencesse à mesma casta que eles, que tivesse mais ou menos a mesma idade que Sridevi, com habilitações escolares semelhantes ou superiores às dela, e que morasse fora daquele país. Especificamente, nos Estados Unidos da América. Eram essas as exigências do irmão.
Sandeep argumentava que Sridevi já estava acostumada a viver fora e a governar a própria vida, com as devidas consultas a ele antes de tomar as decisões. Para Sandeep, os homens que viviam na região de Hyjabad iriam trancá-la em casa e impedir que ela trabalhasse ou continuasse a estudar. Ele sempre procurou o melhor para a irmã. Talvez o pai, se fosse vivo, faria com que ela casasse com alguém da região. Talvez ele nunca tivesse permitido que ela vivesse na Europa.
Outra exigência de seu irmão era que ela não casasse tão nova. Primeiro deveria terminar, no mínimo, o doutoramento. Na Índia existe uma lei que proíbe o casamento quando envolve menores de idade, grupo que lá abrange as pessoas até os dezoito anos. Contudo, não é o que ocorre na prática. Ainda é comum o casamento de adolescentes e, por vezes, de crianças com menos de dez anos de idade. A mãe de Sandeep e Sridevi não teve escolha. Casou-se aos doze anos – antes da primeira menstruação – com um homem de vinte e quatro. Foram viver juntos logo após o casamento. Em pouco tempo, ela estava grávida. Não era esse o destino que Sandeep queria para a irmã. Sridevi, contudo, assim que a conheci, tinha vinte e cinco anos e já estava aflita por estar a ficar velha demais para o casamento.
Ela chegou aos trinta e a procura pelo marido já durava um ano. Não era fácil procurar alguém que tivesse concluído o doutoramento, vivesse nos Estados Unidos, tivesse entre trinta e trinta e três anos e ainda pertencesse à mesma casta que eles, uma das muitas que preenchem as pernas de Brahma – os Vaixás. No entanto, poucos dias antes da sua comemoração de trinta e um anos, sua família encontrou um pretendente. Arjun havia completado a mesma idade há um mês, não terminara o doutoramento, mas estava a cursá-lo, vivia nos Estados Unidos há muitos anos e compreendia a independência de Sridevi, na medida do possível.
Ao contrário do que aconteceu na época em que a mãe de Sridevi casou, a noiva teve a oportunidade de ver a foto do pretendente e decidir se aceitava ou não. Antigamente, era enviada uma foto no formato 3x4 apenas quando o contrato já estava assinado entre as famílias. São os ventos da mudança que já sopram na Índia.
As conversas iniciaram. O dote foi oferecido e a família de Arjun aceitou sem contestar. Muitas vezes há uma contraproposta, em que a família do noivo solicita que paguem mais. Não aconteceu nesse caso. O casamento é um contrato em qualquer sociedade. Algumas disfarçam com amor, mesmo quando exigem a comunhão parcial de bens. Na Índia, não há cláusulas que tratam do divórcio. Ele existe, mas é impensável quando se casa.
Contudo, existem outras conversas que devem ser esclarecidas entre as famílias, antes que o contrato matrimonial seja assinado. No caso de Sridevi e Arjun, ficou combinado que logo após o casamento ela voltaria para a Austrália para terminar o pós-doutoramento, enquanto ele voltaria para os Estados Unidos para trabalhar. Ficou estabelecido também que ela poderia trabalhar nos Estados Unidos, local em que o casal vai morar após a conclusão do pós-doutoramento de Sridevi. Embora exista uma cláusula anterior que anula essa, na qual é estabelecido que o marido poderá consentir ou proibir qualquer aparição da esposa no que concerne à vida em sociedade.
Após o contrato assinado pela família, chegou a hora do contacto. Os noivos tiveram a permissão de trocar mensagens por Whatsapp. Estava iniciado o namoro virtual. Não sei quanto a Arjun, mas a minha amiga apaixonava-se a cada dia, como uma adolescente, e criava cada vez mais expetativas para o casamento, que havia sido marcado para seis meses depois.
Até que dez dias antes do casamento eles conheceram-se pessoalmente. Era o dia do noivado. Dia em que são descobertos os pequenos logros, algo comum e bem aceito, desde que sejam mesmo mínimos. Ela estava mais baixa do que na foto – onde aparecia com um vestido bem longo, mas escondido por baixo dos panos havia um banco de madeira. Ele estava um pouco mais gordo. Mas não houve reclamações. E caso reclamassem, já não era fácil voltar atrás, só à custa de muito dinheiro. Portanto, ficaram noivos. Apenas uma semana separava aquele dia do casamento.
Darmowy fragment się skończył.