Czytaj książkę: «Olhos negros atravessaram o mar»
Maria Cristina Francisco
OLHOS NEGROS
ATRAVESSARAM O MAR
O corpo negro em cena na análise corporal:
Bioenergética e Biossíntese
TÍTULO: Olhos negro atravessaram o mar
O corpo negro em cena na análise corporal:
Bioenergética e Biossintese
AUTOR: Maria Cristina Francisco©, 2020
COMPOSIÇÃO: HakaBooks - Optima, corpo 12
DESIGN DE CAPA: Hakabooks©
ILUSTRAÇÕES DE LIVROS: Juliana dos Santos©
1ª EDIÇÃO: maio 2020
ISBN: 978-84-18575-44-0
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AGRADECIMENTOS
Pessoas e entidades espirituais marcaram presença em minha trajetória. Vou apresentá-las ao longo deste agradecimento. Como qualquer profissional, tinha o desejo de que o fruto do meu próprio trabalho pudesse trilhar outros caminhos, e um mensageiro espiritual conduziu silenciosamente a mensagem. Acreditei nesse especial, exuberante e único conducente.
À minha mãe Sylvia, pelo afeto; ao meu pai Mario (in memoriam), pelo incentivo aos estudos como lugar de conquistas; à minha irmã Jan, pelo compromisso e por acreditar em mim: ao meu sobrinho Thiago, com sua inteligência, coragem e o gosto pelo desafio. Pessoas que estiveram presentes no sucesso da minha vida.
Através do convite de Liane Zink, fundadora do Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo, mulher alada, inspiradora e estimulante ao abrir espaços de visibilidade na questão racial, palestrei no 24º Congresso Internacional de Análise Bioenergética em Toronto, Canadá. A repercussão desse trabalho e o fato de ter ganho o prêmio de melhor trabalho social pelo Ponto de Encontro me conduziram a reapresentá-lo nas 3 BIOS1 de 2017. Nessa apresentação estavam presentes os editores Miguel Ángel e Montserrat e, com o entusiasmo de ambos, recebi o convite para a execução deste livro.
Durante o processo de escrita, Maria Valéria Pelosi, minha analista, e Rebeca Berger, Trainer Internacional da Bioenergética, curiosas incentivadoras, auxiliaram na organização das ideias e com sua experiência pessoal, profissional e afeto.
Às amigas Jenny e Lene, que generosamente leram o texto e deram contribuições importantes, cada uma com seu olhar, formação técnica ou na abordagem psicanalítica. As pontuações da querida amiga, revisora deste trabalho, Maria Regina de Silos Nakamura (Tuti), foram essenciais na condução crítica e esclarecedora da narrativa, através do seu olhar criterioso, generoso, detalhista em cada palavra, e a partir de nossas reflexões conjuntas.
O Instituto AMMA Psique e Negritude foi uma lição de vida e de conhecimento intelectual.
Outras tantas presenças estiveram, como Celso Bettanim e Márcia Colliri, que, em outros momentos, ampararam-me no exercício da escrita, e familiares, que entenderam minha ausência para escrever.
Não poderia deixar de mencionar todos os pacientes que estiveram sob meu cuidado, principalmente os do Ponto de Encontro, que, numa ajuda mútua, revelaram o sofrimento com coragem, permitiram sua presença neste texto e generosamente denunciaram a própria dor por uma vida melhor para todas as pessoas negras.
Muitas outras presenças me tocaram durante o processo. A todas e todos, muito obrigada!
1 Encontro anual das três escolas neoreichianas (Bioenergética, Biossíntese e Biodinâmica), que ocorre há quinze anos, no primeiro final de semana de dezembro na cidade de Campos do Jordão, estado de São Paulo, Brasil.
PREFÁCIO
Tenho de agradecer a Maria Cristina Francisco pelo privilégio de fazer esta pequena apresentação de um livro tão necessário, que nos prende a atenção do início ao fim. Cristina denuncia e esclarece, em uma linguagem ao mesmo tempo forte e delicada. Como manter a delicadeza e a poesia quando a verdade está nua e exposta? Precisamos entender os sentimentos que estão na raiz do silenciamento de toda uma cultura sem voz. Segundo Hector Fiorini, as culturas indígenas e africanas se entrelaçaram à portuguesa e foram perdendo a voz, até desaparecerem no vórtice da cultura europeia.
Nesse aspecto, o livro traz à luz o que de fato aconteceu na chegada dos portugueses ao Brasil e mostra como a hospitalidade do povo indígena foi ignorada pela narrativa do descobrimento. A forma como a obra ilumina a bondade dos índios, ao ajudarem os portugueses em sua chegada às terras brasileira, tocou meu coração.
Se pensarmos na questão narcísica e na analogia com Narciso e Eco, tão bem apresentada por Cristina, cabe perguntar: Em qual espelho a pessoa poderia se olhar e se identificar se a construção da imagem era distorcida e sem reflexo? No espelho das identificações, aparecem idealizações e carências narcísicas. Então, como se espelhar numa mãe sofrida, abusada, deprimida, escravizada e se ver inteira e construir o próprio narcisismo com idealizações e orgulho de si mesma? Foi uma construção de um corpo solitário e resiliente parindo a si mesmo; uma construção de imagem fragmentada que provocou tanto espanto e estranhamento na criança, no momento da descoberta da cor. No contato com essa realidade, e percebendo-a de forma distorcida, se escondia, na tentativa de se proteger dos ataques da branquitude vigente.
“Cair no corpo é cair em si”, afirma Alexander Lowen. Nesse contexto de exclusão, como cair num corpo tão sofrido, reprimido, cortado de seu país e de seu chão? Como fazer esse grounding tão necessário quando se está em terra estranha?
A leitura deste livro é um soco na alma! Traz um novo olhar sobre o preconceito sofrido por um povo inteiro, por gerações e gerações. Preconceito que não dá trégua para que se possa respirar e se tomar fôlego. E nos tornamos testemunhas de como o silêncio e a distância desses homens e mulheres de si mesmos e das próprias emoções se transformam em dor e submissão.
Bert Hellinger (1925-2019)2 estava convencido de que, enquanto o Brasil não pedir desculpas aos escravizados e honrá-los, o país nunca terá paz e progresso. Será que isso basta?
A branquitude tem que descer de seu altar e pedir perdão. O silêncio tem que ser rompido, e a história deve ser contada e recontada para que todos possam ouvi-la.
É imperativo que a transgeracionalidade seja regra, e que as grandes rainhas, reis e chefes de tribos da África, que existiram de fato e que, no Brasil, perderam o direito de reinar, sejam reconduzidos ao lugar a que têm direito.
Liane Zink
Trainer Internacional de Análise Bioenergética e Trainer Senior em Biossíntese
2 “Hert Hellinger estudou filosofia, teologia e pedagogia e trabalhou durante 16 anos como membro de uma ordem missionária católica junto aos zulus na África do Sul. Mais tarde, estudou psicanálise e chegou, através da dinâmica de grupo, da terapia primal, da análise transacional e de diferentes processos hipnoterapêuticos à sua própria terapia familiar e sistêmica. Com o desenvolvimento de sua forma condensada de constelações familiares, Bert Hellinger conseguiu ampliar as possibilidades de intervenção terapêutica que, hoje em dia, é alvo de muito respeito também no âmbito internacional. A atuação de Hellinger ultrapassa em muito a sua área, pois ele transmite de maneira clara e compreensível aspectos essenciais sobre as ordens do amor e da vida” (NEUHAUSER, 2006, primeira orelha da capa).
APRESENTAÇÃO
Sempre é um desafio escrever. Neste caso, quem escreve é uma pessoa que se tornou negra e fala de um lugar da sua própria vivência. A experiência não está pautada apenas no setting terapêutico e na teoria, mas também em uma experiência viva cotidiana. Dessa maneira, a voz não está terceirizada - há apropriação do tema e da fala.
À medida que me dedicava à escrita, fui percebendo que realmente não tenho a experiência pessoal (nem poderia tê-la) do que foi viver os momentos de terror de ser capturado e impedido de ser e viver sua própria vida. Aqui me refiro ao processo de escravização do povo negro. No entanto, posso dizer que sei do sofrimento que se perpetua até hoje nos descendentes, pela negação da sua humanidade, pelas oportunidades de trabalho restritas, pela imposição de uma condição subalterna ou por serem posicionados fora do centro de decisões no espaço organizacional, ou ainda por viverem sob a tensão da violência policial e da humilhação.
Escrever, para mim, está sendo um ato político, por dar à luz o sofrimento e a dor de pessoas negras. Certamente, quando trago a história e o sofrimento psíquico, trago junto o conhecimento. Como diz a professora Diva Guimarães, mulher negra de 72 anos, na FLIP 20173 e na entrevista no Programa Espelho4: “Para que o país mude, ele precisa de conhecimento”; “O racismo e o preconceito matam”; “Eu só me salvei pela educação”. Relata no início dessa entrevista que se tornou outra pessoa, se libertou quando deu voz a um sofrimento guardado durante seus 72 anos de vida, um silêncio reprimido que somente a atrapalhou.
Dar visibilidade a essa realidade silenciada é ter a intenção de modificar uma reprodução de comportamento, de pensamento, mesmo sendo difícil fazer tal enfrentamento, pois todos nós nos esquivamos desse labirinto de emoções, de culpa, vergonha, raiva, medo. Ao escrever você visita suas entranhas, seus mais profundos sentimentos, e no meu caso, tornou-se uma busca por mudança, ou seja, por dar notoriedade ao olhar e à voz, lugares julgadores diante da cor da epiderme, atitude que pode determinar a subserviência de um corpo diante do outro.
Esses olhares e vozes opressores podem atingir violentamente a espontaneidade. Vivemos, no aspecto social, um Brasil de raças e de total desigualdade. Essa desigualdade gera intenso sofrimento físico e emocional para o indivíduo e para a sociedade em toda a sua complexidade. Uma sociedade marcada em sua formação pela invasão e opressão da colonização e da escravidão por mais de três séculos. Com a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, não houve políticas públicas de reparação desse injusto sistema social de produção, e sofremos o peso dessa realidade e suas consequências até os dias atuais: violência e criminalidade, desemprego, educação precária, falta de acesso a serviços públicos de qualidade, preconceito, discriminação, com sequelas na vida psíquica e corporal.
Há quase cinco anos, venho desenvolvendo um trabalho particularmente focado em um grupo de pessoas que têm identificação com sua negritude, envoltas com a história da diáspora africana5 junto a este país. Está revelada nos discursos dos participantes a conexão com esse passado, com esse indescritível crime praticado por séculos contra a humanidade, por meio da fala, gestos, olhares, comportamentos - evidências de dor na presença da angústia e sintomas no corpo. As emoções que abalam diariamente esse corpo evidenciam marcas, cicatrizes de açoites rotineiros; revelam conflitos, crenças, tomando forma através de hábitos e somatização de doenças.
Além desse grupo, também acompanho como psicoterapeuta pessoas brancas, que não trazem para o espaço terapêutico especificamente a problemática racial da pessoa negra, mas também sofrem com a violência de um mundo desigual. Não percebem por indiferença, por conforto num mundo privilegiado, por falta de interesse, por não enxergarem que a condição do outro é desigual e o quanto a atitude preconceituosa e discriminatória reproduz essa desigualdade. Nunca pensaram em sua condição de branco, pois está naturalizada como uma suposta normalidade. O diferente é o outro, não sou eu. Não há consciência do quanto estamos todos implicados na hierarquia racial.
Essa negação tem consequências: a invisibilidade branca e a invisibilidade negra. Ambas diferentes no contexto e no contato social - para um, o privilégio, e para o outro, a exclusão. Em virtude dessa implicação de todas as raças em nossa formação social, uso a expressão “relações raciais”. Toda essa movimentação relacional, direcionada pela invisibilidade, fará morada no corpo, reproduzindo angústia e dor, certamente muito mais para quem está depreciado no ambiente, na sociedade.
Por ser analista de Bioenergética e de Biossíntese
- práticas psicoterapêuticas que incluem a observação do corpo, sua forma de agir, exercícios, respiração e a verbalização -, não poderia iniciar de outra maneira senão apresentando esse corpo. O preconceito e a discriminação vividos ao longo da vida foram-me conduzindo à consciência racial, porém, frisada na inferioridade, constituindo-me negra nesse lugar. Essa conscientização das emoções emergidas da violência do racismo tornaram-se mais claras durante minha formação, através dos exercícios corporais no Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo (IABSP).
À medida que minha representação social foi mudando ao assumir posições de protagonismo, o racismo foi-se revelando mais intenso. Houve um momento em que foi necessário estar entre iguais. Com a ajuda de alguns professores, chegamos até o Instituto AMMA Psique e Negritude6, e integrar o grupo foi transformador por muitos motivos:
1 Estar entre pares oferece um lugar de pertencimento; o que se fala não causa estranhamento.
2 Ter a oportunidade de estar em contato com conhecimento histórico, social, político e psíquico sobre o tema.
3 Participar ativa e politicamente de várias atividades.
Nos anos 1990, integrando o quadro de funcionários da Prefeitura Municipal de São Paulo como psicóloga, coordenando um grupo psicoterapêutico com pessoas portadoras do vírus HIV, notamos o quanto era importante a troca de experiências entre iguais por resgatar a humanidade promovida pela identificação, antes fragilizada pelo estigma da doença, pela solidão surgida da discriminação nas relações e pela segregação social diante do medo da revelação de um diagnóstico.
Os exercícios corporais bioenergéticos e os de biossíntese levavam ao resgate do corpo estigmatizado na prática de um dos principais conceitos utilizado em ambas as escolas, o grounding, favorecendo a consciência e a importância de estar conectado consigo, com sua trajetória de vida. Ser acolhido e visibilizado propiciou o resgate da beleza do corpo, mesmo modificado pelos efeitos colaterais dos antirretrovirais. Uma vez conscientes da própria existência humana, estávamos chegando a uma atitude de bem-estar e promovendo a adesão ao tratamento. Com o corpo subjetivo fortalecido, os pacientes puderam ampliar horizontes, traçar novos projetos, antes marcados pela finitude iminente a que o HIV os condicionaria.
No consultório, trabalhando com pessoas negras, independente dos vários tons de colorização de pele, eu notava certa similaridade da vivência com os portadores do HIV - de um lado, um corpo marcado pelo estigma de um vírus, e de outro, pela cor da pele. Corpo estigmatizado, discriminado, invadido, segregado, ocasionando a mesma dor da solidão e do silêncio gerador de sofrimento psíquico. A desconfiança na relação era o sentimento presente; resgatar o vínculo relacional tornou-se um desafio, vínculo a ser fortalecido com a frequência do contato, com a possibilidade de dar voz à história pessoal e de vivenciar o olhar acolhedor do outro à sua volta.
Para conhecer a enfermidade psíquica, em se tratando do campo psicológico, deve-se conhecer a história que a condicionou. Assim é que a história da formação social no Brasil é apresentada neste texto. Um país desde o início brutalizado pela violência dos invasores/colonizadores e pelo roubo de sua natureza, exterminando os povos originários desta terra, seus verdadeiros donos, e posteriormente sendo habitada por pessoas traficadas da África com a clara intenção de conquista pela exploração e domínio neste local tropical, rico e bonito por sua natureza, constantemente violada. Em seguida, povoando o país com a entrada de imigrantes europeus.
Revelar a forma de dominação por meio da colonização e escravidão denuncia a condição mais cruel e perversa que se impõe a um ser humano. Um dos maiores holocaustos populacionais. Uma história que não deve ser repetida, mas lembrada, pois os ventos do passado trazem valores e crenças para o quintal de cada um. Não sendo varridos, esses ventos sedimentam cada chão, deixando marcas que impregnam nosso psiquismo, nossas atitudes e fala, assumindo variadas formas, perpetuando seu modo dominador de funcionamento.
No campo psíquico e corporal, trazemos os recursos na atuação com o corpo como transformadores de uma realidade injusta, cruel, sem pausa e sem repouso, ou seja, de encarnar os ideais do sujeito branco e de recusar, negar e anular a presença do corpo negro.
O corpo humano, independentemente da sua tonalidade de cor de pele, irá se comunicar dentro de um contorno estrutural defensivo. Devemos atentar para o quanto a experiência com a violência cruel do racismo cotidiano e as marcas transgeracionais traumáticas da escravidão e colonialismo, com suas crenças e valores reproduzidos por anos através das gerações, orquestrarão as resistências desse corpo negro ao se ver e estar no mundo.
O leitor notará que, em determinados momentos da escrita, faço uso do pronominal “eu”, com a intenção de protagonizar a pessoa que fala e, por vezes, de compartilhar a própria experiência. Em outros momentos, será usado o “nós”, revelando na narrativa o envolvimento com o coletivo, retirando-nos da singularidade e posicionando-nos numa composição da qual verdadeiramente todos fazemos parte, mesmo estando em lugares vivenciais diferentes.
Durante o transcorrer do texto, utilizamos os termos “indivíduo”, “sujeito” e “pessoa”. “Indivíduo”, quando consideramos o ser humano de modo particularizado em sua sociedade. Usamos a palavra “sujeito” seguindo o pensamento psicanalítico, como alguém que sofre a ação das tramas relacionais desde o seu nascimento, constituindo-se na relação com o outro, tornando-se sujeito através da linguagem, envolvido nas dinâmicas institucionais, como família e sociedade. A palavra “pessoa” é utilizada para o ser racional, consciente de si, com identidade própria.
3 A FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty - Rio de Janeiro, Brasil, acontece desde 2003 e oferece experiências voltada à literatura. Disponível em: https://www.flip.org.br/.
4 Programa Espelho - Canal Brasil (Artes e Cultura) - Temporada 11, episódio 258, concebido pelo ator e autor Lázaro Ramos, 2017. Disponível em: https://globosatplay.globo.com/canal-brasil/espelho/ .
5 José Antonio dos Santos, professor, doutor e pesquisador da história e da cultura negra no Brasil Republicano e da diáspora africana nas Américas conceitua a palavra diáspora e seu processo: “A palavra diáspora foi originalmente usada no Antigo Testamento para designar a dispersão dos judeus de Israel para o mundo. Recentemente, tem-se aplicado o mesmo vocábulo, por analogia à condição judaica, aos movimentos dos povos africanos e afrodescendentes, no interior do continente negro ou fora dele. A diáspora traz em si a ideia do deslocamento que pode ser forçado, como na condição de escravo, resultado de guerras, perseguições políticas, religiosas ou desastres naturais. Também pode ser uma dispersão incentivada ou espontânea de grandes massas populacionais em busca de trabalho ou melhores condições de vida. [...] O sociólogo inglês Paul Gilroy insere-se no debate, trazendo à tona a noção de diáspora como um processo dinâmico, multifacetado, o qual rompe com aquelas ideias cristalizadas que tomam a diáspora africana como um fenômeno preso ao passado. Ao contrário, ele cria a metáfora do Atlântico Negro para entender a estrutura transnacional criada na modernidade e que deu origem ao sistema de comunicações globais definido pelo ir e vir de pessoas, informações e mercadorias que redefiniram novos padrões e trocas culturais” (SANTOS, 2008, p. 181 e 185).
6 Instituto AMMA Psique e Negritude – deus AMMA, espírito fecundador, verbo original, inaugurador de todas as coisas – é simbolizado por um pote envolto por uma espiral de cobre vermelho em três voltas. É uma organização não governamental cuja atuação é pautada pela convicção de que o enfrentamento do racismo, da discriminação e do preconceito se faz necessariamente por duas vias: politicamente e psiquicamente.
Foi fundado em 1995 por um grupo de psicólogas e ativistas, comprometidas e familiarizadas com o enfrentamento político, que constataram que somente a via política não seria suficiente. Desde então, o Instituto tem buscado, por meio de formação e prática clínica, identificar, elaborar e desconstruir o racismo e seus efeitos psicossociais. Ver: http://www.ammapsique.org.br/.