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UM CONDE EM APUROS
SABICHONAS VERSUS LIBERTINOS
DAWN BROWER
TRADUZIDO POR WÉLIDA CRISTINA DE SOUZA MUNIZ ASSUNÇÃO
TRADUZIDO POR WÉLIDA CRISTINA DE SOUZA MUNIZ ASSUNÇÃO
TEKTIME
Esta é uma obra de ficção. Quaisquer nomes, personagens, lugares e incidentes são fruto da imaginação do autor ou usados ficticiamente e não devem ser interpretados como acontecimentos reais. Quaisquer semelhanças com locais, organizações ou pessoas, vivas ou mortas, é mera coincidência.
Earl in Trouble Copyright © 2019 Dawn Brower
Edição e Capa Victoria Miller
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser usada ou reproduzida eletronicamente ou de forma impressa sem a permissão da autora, exceto nos casos de breves citações em avaliações.
DEDICATÓRIA
Para todos os que sofreram com Um Beijo Arrebatador e quiseram me estrangular por causa daquele final. Espero que este livro compense o acontecido enquanto vocês terminam de acompanhar a história de Lucas e Lia. Eles tiveram uma longa jornada, mas, finalmente, encontraram um modo de viverem felizes para sempre.
AGRADECIMENTOS
Obrigada à minha extraordinária editora e artista de capa, Victoria Miller. Você vem me ajudando todo esse tempo e eu aprendi muito com você. Não consigo nem imaginar quantos erros teria cometido na minha escrita sem a sua intervenção.
Também um grandessíssimo obrigada a Elizabeth Evans que me ajuda com muitas coisas. Obrigada por ficar comigo ao longo de todos esses projetos. Você é uma joia que eu nunca pensei que fosse encontrar.
“É raro, muito raro, que a verdade seja completamente revelada; são raríssimas as vezes em que algo não seja um pouco disfarçado ou um pouco mal interpretado.”
--EMMA, JANE AUSTEN
CAPÍTULO UM
Setembro de 1823
Lucas Carter, o conde de Darcy, estava recostado em uma das cadeiras da sala de jogos de Weston Manor. O atual duque de Weston, James Kendall, estava mirando uma tacada na mesa de sinuca enquanto o seu bom amigo, Dominic Rossington, o marquês de Seabrook, dava instruções.
– Você vai perder se manter esse ângulo – avisou Seabrook. – Eu o moveria um pouco mais para a esquerda.
O duque se ergueu e olhou para o marquês com os olhos estreitados.
– Eu não preciso dessa sua maldita falação interrompendo a minha concentração. Mantenha suas opiniões para si. – Uma mecha de cabelo negro caiu sobre os olhos azuis cerúleos. Ele ergueu a mão e a afastou, então voltou a prestar atenção no jogo.
Lucas suspirou e segurou o copo de brandy sobre o olho. O conde de Shelby, Gregory Cain, tinha dado vários golpes no rosto dele mais cedo por causa de uma rixa sobre a irmã de Shelby, lady Samatha Cain. Ela era uma dama adorável, e Lucas pensara que ela daria uma ótima condessa. O pai estava sendo um imbecil ultimamente e continuava insistindo para que ele sossegasse. Tinha tentado explicar que o casamento não lhe caía bem.
Mas uma vez caíra…
A imagem da mulher pela qual se apaixonara à primeira vista há quase uma década surgiu em sua mente – Lia… ela tinha o cabelo castanho iluminado por mechas douradas e vermelhas. Os olhos eram de um verde brilhante, como esmeraldas à luz do sol. Nunca conhecera uma mulher tão linda quanto ela. Só passaram umas poucas horas juntos, mas tinha sido o suficiente para ele querer passar o resto dos seus dias ao lado dela. Ela era doce e linda. Ao menos foi o que lhe pareceu. Mas não muito depois de se conhecerem, ela fugiu, e não a viu desde então. As lembranças dela surgiam quando ele menos esperava. Se ela tivesse ficado…
Parou de pensar naquilo. Não reviveria aquela fatídica noite de inverno, e precisava aceitar que ela nunca seria dele. Não fazia ideia de para onde ela tinha ido e já fazia muito tempo que parara de se importar. Tinha feito a sua parte e a procurara – por uns dois anos, e então precisou se conformar. Lia não queria ser encontrada, e era óbvio que ela não o queria. O fato de só ter um primeiro nome e a descrição dela também não ajudava muito. Tanto quanto sabia, ela poderia muito bem estar usando um outro nome.
Lia deixou claro que estava se escondendo de um casamento arranjado. Ele não a culpava. Se não escolhesse uma noiva logo, o pai escolheria uma para ele. Lucas queria ao menos gostar da mulher com quem passaria o resto da vida – por isso o seu atual dilema e o rosto machucado. Buscou refúgio com o duque e o marquês porque Shelby tinha ido com Asthey e Harrington para Deus sabe onde. Ele não se importava, desde que todos ficassem longe dele.
Weston deu uma tacada e errou… A bola não bateu na que ele tinha mirado e foi de encontro à quina da mesa.
– Eu tentei avisar… – Seabrook ergueu as mãos e se afastou. – Tudo bem, faça do seu jeito. Eu não me importo de ganhar se você não quer ouvir a voz da razão.
– Não amola – grunhiu Weston. – Talvez Darcy queira jogar uma partida com você. Eu perdi a vontade.
Essa era a última coisa que Lucas queria. Se pudesse escolher, ficaria sozinho para desfrutar de uma garrafa de brandy, em paz.
– Passo – disse ele. A voz ainda estava rouca depois de Shelby ter tentado estrangulá-lo com as próprias mãos. O maldito degenerado tinha o gênio ruim e era terrivelmente superprotetor. – Mas tomarei mais um pouco de brandy. – Ele ergueu o copo para Weston. – Poderia me dar uma mão?
O duque resmungou algo sobre não ser um criado, mas completou o copo de Lucas.
– Obrigado —disse ele, com um meneio de cabeça. – Sou imensamente grato.
Lucas bebericou o licor ambarino e tentou esquecer os problemas, mas eles estavam aos berros dentro de sua mente. Lady Samantha teria resolvido todos eles. Maldito seja aquele carcomido do irmão dela… O que ele tinha feito a Shelby? Achava que se davam muito bem. Aparentemente, a opinião de Lucas sobre o caráter de uma pessoa tinha destrambelhado nessa última década. Desde que conhecera Lia…
Por que ela continuava a assombrá-lo?
– Darcy – Seabrook quase gritou o seu nome.
– O-o quê? – Ele piscou várias vezes. Esteve tão perdido nas lembranças de Lia que esqueceu onde estava. Lucas pigarreou. – Peço desculpas. Você me chamou?
Seabrook sacudiu a cabeça como se estivesse enojado com Lucas por alguma razão estranha. O que tinha feito agora? Parecia que tudo o que fazia era causar problemas. Às vezes se sentia como se estivesse completamente sozinho no mundo. Costumava fazer praticamente tudo com o seu melhor amigo, o marquês de Dashville. Infelizmente, Dash tinha se casado com a irmã de Lucas e sossegara. Esses dias, Dash estava feliz com o papel de pai e marido.
Muitas vezes Lucas se via com ciúme do que Dash e Helena tinham. A felicidade conjugal deles podia ser nauseante. Achava que era porque perdera a chance de ser feliz muito antes de Dash encontrar a própria felicidade. Mas nada disso interessava agora. O que importava era a forma como Seabrook olhava para ele. Lucas suspirou.
– Suponho que você não vai me regalar com uma resposta?
Seabrook sacudiu a cabeça.
– O quão forte Shelby bateu em você?
– Muito forte para o meu gosto, eu lhe asseguro. Os punhos dele parecem tijolos. – Ele levou a mão ao rosto e tocou logo abaixo do olho. – Já está preto, não está?
– Não se preocupe —disse Weston com simpatia. – Seu rosto voltará a ficar bonito logo, logo. – Ele apontou para Seabrook. – Ele sugeriu que fôssemos montar. Já que o bilhar não lhe agrada. Quer se juntar a nós?
Lucas olhou para o copo e então bebeu o brandy em um único gole. Preferia beber até o esquecimento, mas por que não? Talvez uma cavalgada arriscada fosse animá-lo e ajudá-lo a chegar a uma conclusão sobre o seu atual dilema – precisava de uma noiva disposta, e não faria mal se ela fosse bonita e tivesse uma personalidade tolerável. Não era pedir muito…
– Eu ficaria feliz. – Ele ficou de pé e colocou o corpo vazio sobre a mesa. Um criado o encontraria em algum momento. – Mostre o caminho, Sua Graça. – Ele meneou a cabeça para Weston. – Talvez Seabrook possa perdoar os meus choramingos depois de um galope.
Weston riu.
– Ignore Dom. Ele está emburrado por uma razão completamente diferente. Tem tudo a ver com a minha irmã, sua amada esposa.
– Segure a sua língua —ordenou Seabrook. – Prefiro não falar de Rosanna, por favor. Não se preocupe, ficaremos bem. Ela me ama. – Com aquela frase, o marquês piscou para Weston. – É a mesma coisa de quando a sua esposa perdoa você pelas tolices que comete.
E lá vem a inveja mais uma vez. Ele estava rodeado de casais felizes, e estava enjoado disso. O que tinha acontecido com os casamentos da ton onde os casais mal se toleravam?
– Pensei que estávamos indo montar?
– E estamos —concordou Seabrook. – É bom ver que você finalmente está conosco. Você não parecia muito bem há uns minutos. O que quer que o esteja incomodando, deve ser algo bastante sério.
– Prefiro não falar sobre isso. – Lucas suspirou. – Assuntos de família. – Era toda a explicação que daria para aqueles homens. Ele odiava muito o pai e suas exigências autocráticas. Desde que Helena se casara, o degenerado tinha reunido toda a sua atenção e a direcionara para Lucas. Tinha sido capaz de se esquivar da ordem de se casar pelos últimos oito anos, mas agora não podia mais ignorar o velho duque. O maldito pensava que se Lucas não se casasse e gerasse uma criança, que o título de Montford morreria com ele. Lucas não dava a mínima para tal problema. Não gostava da ideia de assumir o título ducal – mesmo isso significando que o pai não estaria mais por perto para aterrorizá-lo.
– Certo. – Seabrook meneou a cabeça. – Se você mudar de ideia, estaremos por aqui. – Ele apontou para Weston. – Ele meio que é dono do lugar.
Lucas riu.
– Foi o que ouvi.
– Muito engraçado —disse Weston com acidez. – Ultimamente, parece que todo mundo quer tentar ser um bobo da corte. Vamos lá, vamos para o estábulo.
Lucas sorriu pela primeira vez em dias. Estava feliz por ter decidido ficar em Dover. Weston Manor sempre tinha sido como uma segunda casa, e ele era muito amigo dos gêmeos Kendall. Edward tinha nascido primeiro, mas morreu não muito depois de Lucas conhecer Lia, deixando a responsabilidade ducal para James.
Ele sacudiu a cabeça. Não invejava Weston. Se perdesse a irmã, ele não tinha certeza se lidaria bem com o acontecido. É claro, o homem teve mais de uma década para se acostumar com a perda. Até mesmo o pior dos ferimentos levava tempo para curar…
De qualquer forma, aquilo não importava. A irmã vivia feliz com o marido e os dois filhos, e estava esperando o terceiro. Era Lucas quem precisava dar um jeito na vida e encontrar a solução para todos os seus problemas. Era uma pena que as respostas não fossem cair aos seus pés, só para facilitar as coisas.
Natalia Benson olhava para a mulher que a tinha contratado como acompanhante. Lady Anne Northcott era o pior tipo de pessoa. Egoísta, mesquinha e tão narcisista que chegava ao ponto de falar consigo mesma. Não havia um espelho para o qual a dama não olhasse. Se Natalia não precisasse do dinheiro, teria recusado o emprego. Já fazia anos que estava por conta própria.
– Você acha que ele vai gostar de mim? – Lady Anne enrolou um cacho dourado no dedo indicador. – Eu espero que sim. Preciso me casar, e logo.
Natalia revirou os olhos. Por que ela tolerava essas choramingações incessantes?
– Eu não saberia dizer. – E ela não saberia mesmo. Parou de ouvir o balbuciar disparatado de lady Anne poucos minutos depois de conhecê-la. Natalia sentia pena pelo pobre diabo em quem ela tinha posto os olhos. Ninguém merecia o castigo de se casar com lady Anne.
– Você não é de nenhuma ajuda. – Se fosse possível, lady Anne teria batido o pé. Inferno, é bem capaz de ela ter batido, mas Natalia não podia ter certeza. Estava na carruagem há dias. Não era bem verdade. Lady Anne não podia suportar ficar em uma carruagem por mais que poucas horas de cada vez. Então, elas paravam. Frequentemente. Tanto, que uma viagem que deveria durar não mais que um dia tinha se tornado uma viagem de uma semana. Ela não deveria estar precisando se casar tanto quanto dizia… Natalia rezou por paciência e se lembrou de por que precisava tolerar a dama insípida.
Sua prima, Callista, estava desaparecida. Não tinha certeza do local onde ela tinha desaparecido, nem como poderia encontrá-la. Era quase como se ela não estivesse mais viva, e talvez fosse o caso. Ela vinha cumprindo algumas missões arriscadas para a coroa durante a guerra, e até mesmo muitos anos depois disso. A prima tinha agido como espiã com um único objetivo: descobrir quem matara o seu amado Edward.
Até poucos meses atrás, Natalia tinha estado na França tentando descobrir o que tinha acontecido com Callista. Ninguém sabia com certeza, mas todos chegaram a um consenso. O marquês ou a marquesa de Seabrook seriam capazes de responder às suas perguntas, ou até mesmo os dois. Era irônico, de certa forma, ter que ir procurá-los para pedir ajuda. Lady Seabrook era irmã de Edward. Natalia não queria incomodar a família Kendall. A perda de um ente querido já era ruim o suficiente. Eles não precisavam se preocupar com a perda do único membro da família de Natalia com quem ela se importava.
Embora Natalia também amasse uma outra pessoa, ela se mantinha afastada. Era para o próprio bem dele. Ela o amara desde a primeira vez que o viu. Na noite que ele a salvou do acidente de carruagem durante uma das piores nevascas que ela já presenciara. Ele era lindo, encantador e tinha um bom coração. Ele não merecia os problemas que causaria a ele. Ele poderia estar noivo a esta altura. Já fazia algum tempo que não verificava como ele estava. Não pôde pagar um investigador para conseguir notícias mais atualizadas. Mas não importava. Era melhor que ele esquecesse que eles se conheceram.
– Você está ao menos me ouvindo?
Bem, não, ela não estava. Quando lady Anne perceberia que ninguém prestava atenção nela? E por que prestariam? Ela já tinha mostrado a personalidade para centenas de pessoas. Natalia suspirou.
– Eu sinto muito, estava perdida em meus pensamentos. Do que a senhorita precisa? – Esperava que fosse apenas outra resposta disparatada que iria satisfazer as necessidades pomposas dela.
– Estamos quase chegando a Weston Manor. – Lady Anne se sentou erguida, aperaltada como um pássaro tentando seduzir o parceiro. Ela bateu palmas com animação. – Mal posso esperar para voltar a vê-lo. Eu sei, ele está fazendo o possível, e o impossível, para evitar o casamento, mas ele não pode fugir da forca para sempre. As fofocas dizem que o pai dele está exigindo que ele arrume uma esposa. E eu pensei, por que não eu? Afinal de contas, eu daria uma duquesa perfeita.
– Com certeza – concordou sem se comprometer, lady Anne é a última pessoa do mundo que deveria se tornar duquesa. Isso daria a ela razões para ser ainda mais egoísta do que já era. Que o Senhor protegesse a ton no dia que isso acontecesse… Depois disso, lady Anne não precisou mais da atenção de Natalia. E isso era bom, pois ela não sabia mais o que dizer.
Estava olhando pela janela da carruagem quando pôde jurar ter sentido o coração saltar do peito. Não podia ser… Havia três homens galopando pelo campo, e um deles parecia muito familiar. Lucas…? Não… Sempre lhe pareceu arriscado vir a Weston Manor. Ele tinha sido amigo de Edward, mas ainda assim tinha esperado que ele estivesse em Londres. Longe o bastante para que ela não fosse tentada.
Não havia o que fazer agora. Faria o seu melhor para ficar fora da vista e talvez escondida entre a criadagem. Ser uma acompanhante paga faria com que fosse mais fácil. Talvez ele partisse logo. O resto dos convidados já devia ter partido a essa altura. Droga. Por que ele estava ali?
Lady Anne balbuciava enquanto o mundo de Natalia entrava em colapso. Quando a carruagem parou, ela saiu do veículo como se estivesse sonhando acordada. Seguiu as instruções de lady Anne às cegas até o momento em que pôde se esconder. Sua sorte estava chegando ao fim. Em algum momento ela acabaria ficando cara a cara com Lucas, e não haveria explicação boa o bastante para poupá-la do desapontamento dele. Voltar a encontrá-lo era um dos seus maiores medos, e mesmo que esperasse que ele tivesse encontrado a felicidade, ela também temia que chegaria o dia em que ele encontraria outra mulher, uma que daria a ele o que ela não pôde dar.
Natalia rezava para que estivesse errada, e que Lucas não fosse um dos homens que estavam galopando pelo campo, mas nem ela mesma podia acreditar nisso. Ele assombrou os seus sonhos por anos, e ela nunca esqueceu aquele rosto bonito.
Ele estava lá, e em breve eles teriam um acerto de contas. Um que Natalia vinha evitando e que lhe causaria muitos problemas. Ele exigiria respostas, e ela não poderia dar nenhuma boa o suficiente. O destino a alcançara, e ela não estava nenhum pouco pronta para lidar com ele…
CAPÍTULO DOIS
Natalia seguiu lady Anne enquanto elas eram levadas ao quarto que a lady estaria ocupando em Weston Manor. Elas tiveram sorte, alguns convidados tinham ido embora mais cedo ou não haveria acomodações para elas. Bem, elas não teriam sido despachadas, mas poderiam ter sido forçadas a dividir um quarto. Não que isso nunca tivesse acontecido antes, mas teria sido ainda mais difícil lidar com lady Anne. Ela não gostava de dividir qualquer coisa, e seria Natalia quem sofreria os efeitos.
– Graças a Deus aquela horrorosa da lady Samantha Cain foi embora junto com a pavorosa amiga, lady Marian Lindsay. – Lady Anne se sentou à penteadeira e ficou fazendo poses na frente do espelho. Ela beliscou as bochechas e franziu os lábios. Natalia não entendia por que ela fazia aquilo, mas pelo menos não a estava incomodando. Já tinha muito no que pensar, e não precisava que lady Anne fosse mais um dos seus problemas. – Meu plano deve dar certo, e já que elas partiram, eu posso ser capaz de enlaçar aquele libertino sem maiores dificuldades.
– Tenho certeza de que ele gostará das atenções que a senhorita concederá a ele. – Natalia mal segurou a vontade de revirar os olhos. – Ele parece… maravilhoso. – Verdade seja dita, ela não sabia uma única coisa sobre o homem que lady Anne pretendia enredar em sua armadilha. Ela sentia pena do pobre diabo. Seria terrível ter que passar o resto da vida tendo lady Anne como esposa.
– Oh, ele é. Ele é lindo, encantador e bem relacionado. – Lady Anne sorriu com astúcia. – E, um dia, ele herdará um ducado e eu seria uma duquesa. – Ela inclinou a cabeça para o lado. – Imagino quanto tempo demorará para que o pai dele morra…
Natalia não pensaria que lady Anne não seria capaz de ajudar o atual duque a encontrar a morte.
– O senhor está a par destes detalhes. – Ela tinha que escapar da companhia de lady Anne e procurar lorde Seabrook e a esposa. Assim que pudesse falar com eles e descobrir o paradeiro de Callista, então poderia se esgueirar para longe de Weston Manor. Se tivesse sorte, seria capaz de evitar um encontro com Lucas.
Ela temia até mesmo a ideia de se encontrar com ele. Ele devia odiá-la. Natalia queria muito correr até ele e implorar perdão. Mas ela não estava fora de perigo, e recusava-se a envolvê-lo em seus problemas. O pai ainda procurava por ela. Ele quase a encontrara várias vezes desde que ela voltou para a Inglaterra. Natalia tinha que sumir de uma vez por todas. Isso significava que só havia um lugar onde ele não a encontraria: na América.
– Talvez a senhorita devesse dizer algumas palavras e ver se consegue chamar a atenção de Deus. Ele pode respondê-la quando menos espera. – Não que ele tivesse ouvido qualquer coisa que Natalia pediu ao longo dos anos, e ela esperava que qualquer ser divino fosse ignorar os gananciosos desejos de lady Anne.
– Eu não acredito em Deus – lady Anne declarou. – Mas, se ele existe, tenho certeza de que ele quer que eu tenha tudo o que desejo. É o que eu mereço.
O que tinha feito para merecer ter pessoas horríveis controlando cada aspecto de sua vida? Teve alguns poucos anos maravilhosos nos quais não foi obrigada a servir alguma pessoa terrível, mas a sua empregadora morreu e a deixou sozinha no mundo mais uma vez. Natalia precisava de Callista mais que nunca. A prima tinha arranjado para que ela fosse acompanhante de Constance De Rossi. Ela era uma inglesa que viajava pelo continente. Durante o tempo que trabalhou para ela, foi capaz de conhecer grande parte do mundo, o que não poderia ter feito por conta própria. Ela gostou muito da Itália. Signor De Rossi, o falecido marido de Constance, era dono de uma extravagante vila perto de Nápoles. Natalia tinha passado muito tempo lá nos últimos dias da signora.
Ansiava pelo calor da costa italiana e dias livres de ansiedade, mas agora ela tinha que aplacar tipos como lady Anne.
– É claro que a senhorita tem razão. – Ela respirou fundo. – Vai precisar de mim para mais alguma coisa? Gostaria de ir até o meu quarto e me acomodar, se for possível. – Ela não era uma criada, então lhe deram um quarto.
– Não – disse Lady Anne e fez um gesto de dispensa com a mão. – Vá e faça o que quer que faz quando eu não preciso de você. Vou descansar um pouco. Eu estou horrível e preciso restaurar a minha beleza antes de ver o meu prometido mais tarde.
– Obrigada – disse Natalia e fez uma mesura. Lady Anne esperava ser tratada como se fosse da realeza. Não havia exceções, e se Natalia não cumprisse as suas exigências, ela teria um chilique.
– Virei vê-la mais tarde. – Não queria que ela criasse dificuldades ou sua fuga seria ainda mais difícil.
Lady Anne não se deu ao trabalho de ouvir o que Natalia falou. E ela não se incomodou. Saiu do quarto antes que lady Anne pensasse em alguma coisa para ela fazer. Sem dúvida, ela teria muitas tarefas mais tarde. Provavelmente lady Anne iria querer sua ajuda para enredar o cavalheiro que ela tinha decidido que queria como marido. Natalia não gostava muito da ideia de ajudar naquele assunto em particular.
Até então, lady Anne não tinha mencionado o nome do pobre cavalheiro, e Natalia achou aquilo estranho. Não podia deixar de imaginar por que ela mantinha aquele detalhe em segredo. Houve várias vezes em que pensou em perguntar, mas rejeitou a ideia assim que ela surgir. Se lady Anne queria que ela tivesse aquela informação, ela já a teria dado, e Natalia não queria encorajá-la a fazer perguntas sobre a sua vida. Mas o fato de o nome do cavalheiro não ter sido mencionado a irritava. Que razão lady Anne teria para manter aquilo em segredo? Ela pensava que Natalia iria julgá-la? Não, não podia ser isso. Lady Anne não achava que a sua opinião fosse importante. Deve haver outra razão para o silêncio dela, mas Natalia não se preocuparia com aquilo. Precisava encontrar o marquês e a marquesa de Seabrook.
Eles eram peças importantes na busca por Callista. Sem a ajuda deles, não sabia como iria encontrar a prima, e assim que falasse com eles, poderia partir. Então não teria que se preocupar com o que lady Anne tinha planejado. Estaria bem longe daquela menina vaidosa e nunca mais teria que pensar nela…
Lucas fez o cavalo seguir Seabrook e Weston já que eles estavam na frente. A equitação o tinha revigorado, mas não tinha lhe dado quaisquer ideias. Ele ainda não sabia o que queria fazer ou que caminho seguir. Talvez fosse hora de voltar para Londres e se preparar para encontrar uma dama disposta a se tornar sua noiva. Lady Samantha teria sido uma boa escolha, mas ela não era mais uma opção. Se Lucas queria que os constantes rompantes do pai parassem, ele precisava se casar – quanto antes, melhor.
Seabrook e Weston pararam. Eles estavam vagando pela beirada dos penhascos da propriedade de Weston. Lucas nunca tinha gostado muito de perambular por ali, e ele não via nenhum atrativo em estar no lombo de um cavalo enquanto o animal caminhava com dificuldade por ali. – Não, obrigado – ele murmurou baixinho. Ele preferia dar meia-volta e seguir para os estábulos. Lucas puxou as rédeas e diminuiu a velocidade do cavalo.
Assim que o animal parou, ele esperou por Seabrook e por Weston. Eles viriam em sua direção, eventualmente. Ele pensou em apear, mas mudou de ideia quase que imediatamente. Era muito mais fácil permanecer como estava ou voltar. Ele gostaria de voltar para a mansão e relaxar com outra bebida ou vários copos de brandy.
Depois de vários minutos parado, Seabrook e Weston finalmente vieram em sua direção. Ele esperou até que eles chegassem, e, felizmente, não demorou muito. – Esqueci que você não gosta muito de altura – Weston disse assim que alcançou Lucas. – Está pronto para voltar?
– Estou – respondeu ele. – E não, eu nunca gostei muito de lugares altos.
Seabrook riu. – Isso é meio embaraçoso. – Então ele pressionou os joelhos no costado da montaria. O cavalo saiu de galope com um estalido das rédeas.
Weston sacudiu a cabeça. – Parece que ele quer apostar uma corrida. Vamos ver se conseguimos superá-lo. – E o duque se pôs a correr atrás do marquês.
Lucas suspirou. Uma corrida daria trabalho demais, mas ao menos ele chegaria antes. Incitou o cavalo e foi atrás deles, não demorou muito e estava sendo chicoteado pelo vento. A brisa acalmou a sua mente inquieta e o fez, mesmo que apenas por um momento, se sentir como se tudo fosse possível. Não percebera o quanto precisava daquele momento de paz. Talvez devesse agradecer Seabrook e Weston por tê-lo encorajado a cavalgar.
Eles fizeram a curva, Lucas estava logo atrás do duque e do marquês. À distância, uma carruagem ia em direção à mansão. Não pensou que faltava algum convidado. Muitos deles já tinha ido embora há vários dias. Quem poderia estar visitando a mansão? A carruagem parou na frente da casa. Lucas estava curioso, mas tinha que levar o cavalo de volta ao estábulo. Ele conduziu o cavalo naquela direção e não olhou para trás. Quando voltasse para casa, aplacaria a sua curiosidade.
Quando chegou ao estábulo, ele puxou as rédeas. Quando o cavalo parou, ele apeou e deixou um cavalariço levá-lo para dentro. Weston e Seabrook fizeram o mesmo. Entregaram os cavalos e ficaram ao lado de Lucas. – Temos mais convidados – Weston disse. – Não sabia que havia mais gente por chegar.
– Tem certeza que a sua esposa não convidou ninguém mais? – Seabrook perguntou. Ele apontou a carruagem com a cabeça. – Porque, com certeza, há alguém aqui.
Uma mulher com o cabelo escuro saiu da carruagem primeiro. Lucas não conseguiu identificar os traços dela. Ela ficou de costas para ele a maior parte do tempo. Ela se afastou para que a outra dama pudesse sair. Essa tinha o cabelo louro que, à distância, parecia quase branco. – Você as reconhece? – Lucas perguntou.
Weston fez que não. – Não posso dizer quem elas são. Talvez Alys as conheça, mas é difícil saber com certeza.
– Devemos cumprimentá-las? – Seabrook perguntou.
Uma parte de Lucas queria fazer aquilo. Algo nele estava sendo puxado na direção delas, e ele não podia explicar o que. Era uma sensação estranha e ele faltava pouco vibrar com ela. Não conseguiu se livrar dela e ele tentou enquanto um arrepio percorria todo o seu corpo. Não importava e não queria perder tempo pensando muito nisso. As damas não tinham nenhuma importância para ele. Mas havia uma outra forma de olhar para este novo acontecimento. Duas novas mulheres estavam agora na mansão… Isso lhe dava mais duas opções para uma possível esposa. Isso significava que ele poderia ficar um pouco mais em Weston Manor. Talvez uma delas acabasse por ser a sua nova esposa. Isso lhe dava um motivo para ficar, e era isso o que importava. Se o pai perguntasse, ele poderia, de boa-fé, dizer que estava cortejando alguém…
– Não sei se quero ser arrastado para uma conversa. Se Alys a convidou, ela estará lá para recebê-las. – O duque seguiu para os fundos da casa. – Vamos entrar pelo jardim.
Lucas não viu problema naquilo. Podia conhecer as damas mais tarde, quando eles fossem jantar, ou até mesmo antes disso, se tivesse sorte. Sua vida era cheia de reviravoltas, e ele queria encontrar um pouco de paz. Ele olhou para as duas damas e congelou. A mulher de cabelo escuro parecia muito familiar. A forma como ela se movia e a cor do cabelo… Ele sacudiu a cabeça, porque ele não podia estar vendo aquela mulher. Ela manteve a cabeça baixa e não olhou para cima uma única vez. Isso era característica de alguém que servia outras pessoas. Não era provável que ela fosse uma dama de verdade estava mais para uma criada.
Não, aquilo não podia ser verdade. Ela estava muito mais bem vestida que uma criada. Ela usava um vestido amarelo que provavelmente tinha sido feito com tecido de qualidade. Talvez ela fosse tímida, e por isso não olhava para cima. Weston e Seabrook já estavam no meio do jardim enquanto Lucas permanecia enraizado no mesmo lugar. A dama de cabelo escuro finalmente ergueu o olhar e enrijeceu. Havia uma boa razão para ele ter pensado que ela parecia familiar. Não era uma dama qualquer que podia fazer seu coração bater com força no peito. Só uma mulher o afetava assim – Lia. Ela finalmente tinha voltado para a sua vida, e ele não tinha ideia do que poderia fazer. Foi preenchido por um misto de raiva, ansiedade e apreensão por causa daquela revelação súbita. Ele finalmente teria mais uma chance com ela – isso se ele quisesse tentar alguma coisa. Ao menos teria respostas para todas as perguntas que carregou consigo ao longo de todos esses anos. Haveria um acerto de contas, e só o tempo diria que rumo as coisas tomariam…
Darmowy fragment się skończył.