Desejo Mortal

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Z serii: Laços De Sangue #12
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Desejo Mortal
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Table of Contents

  Traduzido por José Albiran Albuquerque Santos

  Capítulo 1

  Capítulo 2

  Capítulo 3

  Capítulo 4

  Capítulo 5

  Capítulo 6

  Capítulo 7

  Capítulo 8

  Capítulo 9

  Capítulo 10

  Capítulo 11

  Capítulo 12

  Capítulo 13

  Capítulo 14

  Capítulo 15

  Capítulo 16

  Capítulo 17

Desejo Mortal

Laços de Sangue - Livro 12

Amy Blankenship, RK Melton

Traduzido por José Albiran Albuquerque Santos

Copyright © 2013 Amy Blankenship

Segunda Edição Publicada por Amy Blankenship

Todos os direitos reservados.

Capítulo 1

Ren olhava para a garota em seus braços enquanto fazia seu trajeto pelo salão subterrâneo de Gypsy e passava pelas cortinas com miçangas que cercavam o quarto dela.

O principal detalhe que chamou sua atenção foi a fina camada de sujeira que ela tinha espalhado por todo o rosto, como se fosse uma maquiagem, para encobrir o fato de que ela tinha uma tez impecavelmente macia. Incapaz de conter-se, Ren deixou que seu olhar lentamente contemplasse mais uma vez aqueles lábios perfeitos e, em seguida, o leque de seus longos cílios negros na área em que eles lhes roçavam o rosto. Seria necessário mais que sujeira e roupas folgadas para esconder dele sua suavidade e beleza.

Ele podia sentir o tecido grosso que ela havia enrolado com tanta firmeza em volta do tórax e isso o incomodava. Não era de admirar que ela tivesse desmaiado daquele jeito no andar de cima… ele duvidava que ela pudesse sequer respirar corretamente com aquelas ataduras apertando-lhe os seios com tanta força. Ele imaginou em silêncio de quem teria sido a ideia brilhante de se vestir como um garoto... esperemos que não tenha sido dela.

Ren parou ao lado da cama e debruçou-se sobre ela para deitar Lacey sobre o colchão macio. Sorte dele que a garota escolheu esse exato momento para recobrar-se do desmaio e acordar brigando com ele.

A primeira coisa que Lacey observou foram os braços fortes que a envolviam de forma tão possessiva. Seu cérebro automaticamente entrou em ritmo acelerado quando sua mente paranoica achou sinceramente que o perigoso demônio do qual ela vinha fugindo durante as duas últimas semanas finalmente a havia alcançado.

Se este era mesmo o seu fim, então, como diabos ela ia deixar-se abater sem nenhuma resistência? Antes mesmo que a escuridão tivesse a chance de tirar-lhe a visão, ela começou a desferir golpes no monstro que a agarrava.

"Deixe-me em paz, seu bastardo de coração podre!", gritou Lacey e começou a chutar o demônio para fazê-lo perder o equilíbrio.

Pego de surpresa por seu súbito despertar, Ren deixou que os óculos escuros voassem pelos ares quando ela conseguiu arremessá-los para fora do rosto dele, pois ele segurava a garota com as duas mãos. Ficando frustrado rapidamente, ele cerrou os dentes e a derrubou desajeitadamente no colchão.

Não se importando em colocar os óculos de volta por enquanto, Ren ficou totalmente ereto e viu quando ela saltou uma vez e, de alguma forma, conseguiu dobrar os joelhos em pleno ar para poder apoiar-se sobre eles. O movimento foi bem rápido para um ser humano… muito impressionante!

Lacey piscou os olhos e sentiu um enorme alívio quando sua visão finalmente ficou limpa e ela percebeu que era apenas a mão pesada de Gypsy que queria livrar-se do guarda-costas. Contudo, ela franziu a testa quando seu olhar foi atraído para os olhos estranhos da criatura. Demorou menos que um batimento cardíaco para ela percebesse que a cor da íris do monstro lembrava o mercúrio puro com um toque de azul-gelo em torno das bordas. Estranhamente, eles complementavam seu sex appeal, pois ela tinha certeza absoluta de que ele não era cego.

"Ah, é você”, ela murmurou aliviada e, em seguida, encolheu-se mentalmente quando ele ergueu uma elegante sobrancelha em direção a ela de maneira inquisitiva.

"Quem você achava que era… o bicho-papão?", perguntou Ren enquanto recolocava no rosto os óculos escuros. Ele ainda estava um pouco atordoado que ela tinha acabado de olhar bem dentro de seus olhos e não se intimidou nem recuou de medo.

Lacey olhou fixamente para ele, forçando-se a tirar da cabeça a imagem assustadora do velho demônio e de seus lacaios. Ela cruzou os braços sobre o peito e disse, com o tom mais sarcástico possível e o coração ainda batendo a mil por hora: "Você não é bicho-papão coisa nenhuma… apenas um sacana que parece não conseguir manter as mãos longe de mim".

Ren começou a esboçar um sorriso malicioso e terminou com um olhar de superioridade para ela, revidando com o mesmo teor de sarcasmo: "É o seu desejo".

"Meu desejo?" Lacey indagou e levantou-se para ficar ajoelhada no colchão.

Ela esticou os braços para baixo lateralmente e levantou os punhos cerrados enquanto tentava afastar o medo que ainda percorria sua espinha dorsal. Ela não tinha tempo para isso. Se não saísse dali, haveria uma possibilidade de ser tarde demais para sair e ela estava analisando diretamente a razão da demora.

"Sim... é o seu desejo", repetiu Ren, imaginando como uma garota dessas conseguia ficar tão bonita vestida como um menino.

"Vou lhe dizer o que desejo… Desejo que você simplesmente me deixe realizar o que eu vim fazer aqui para que eu possa seguir meu caminho em paz", ela voltou-se novamente para ele, erguendo o queixo.

"Por falar nisso... o que exatamente você estava tentando roubar e para quem estava roubando?" Ren precisou inclinar-se um pouco mais para perto a fim de forçá-la a responder uma pergunta que estava corroendo-lhe o cérebro. Ele não gostava da ideia de que ela se expusesse ao perigo trabalhando com demônios e resistiu à tentação de conferir algum sentido para ela.

Embora não pudesse ver os olhos dele por causa dos óculos de sol, Lacey podia sentir seu brilho prateado sobre ela e teve que reprimir um arrepio. Mantendo o olhar atento sobre ele, ela afastou-se para trás para deixar a cama entre eles e ficou surpresa que, em um único piscar de olhos, ele desaparecera de sua vista repentinamente.

Ela não conseguiu controlar o suspiro ofegante e aterrorizado que escapou quando sentiu duas mãos agarrarem seus ombros enquanto sua mão esquerda vagava pelo ar rarefeito em vez da superfície plana do colchão. Se ele não tivesse se movido tão rápido, ela já teria caído para trás, deslizando da cama para o chão.

"Que tal ficar quieta, nem que seja só por um minuto?", disse Ren de uma maneira um pouco mais áspera do que pretendia, mas aquela garota ia ter que se acalmar, antes que se machucasse.

A respiração de Lacey acelerou e seu olhar percorreu toda a sala em busca de uma arma de qualquer espécie. Para seu grande alívio, ela observou algumas armas que decoravam as paredes e, mentalmente, esboçou um sorriso malicioso pela habilidade do avô de pensar antecipadamente. O ruim era que elas ainda estavam fora de seu alcance.

O homem que segurava seus ombros tinha se movido muito rápido para ser humano… o que significava que era um demônio. Se fosse esse mesmo o caso, que diabos um demônio estava fazendo dentro do abrigo antiaéreo de seu avô e por que ela estava sozinha com ele?

Ela piscou lentamente e todos os pensamentos de contra-ataque lhe sumiram da mente quando a memória lhe deu um estalo no rosto… bem forte. Vovô estava morto. Um som perto da porta fez com que ela desviasse o olhar subitamente para cima e observasse Gypsy entrando no quarto junto com o outro cara que havia arrombado a porta da frente da loja.

Os ombros de Gypsy caíram quando a expressão de Lacey lentamente passou de tristeza a acusação enquanto eles olhavam um para o outro em cada lado da sala.

"Você pode tirá-los daqui e me dar um tempo para pensar claramente?", reclamou Lacey furiosamente enquanto tentava conter as lágrimas provocadas pela ideia de nunca mais voltar a ver seu avô.

 

"Preciso lembrá-la de que você foi a pessoa que entrou aqui sorrateiramente, sem ser convidada?”, retrucou Ren, desejando que houvesse um demônio nas proximidades com o poder ler pensamentos para que ele pudesse anular esse poder. Ele daria uma fortuna para saber o que aquela garota estava pensando agora. A última coisa que ele precisava era que ela tivesse tempo suficiente para inventar uma história qualquer, antes que ele pudesse arrancar a verdade dela.

"Ren, por favor… você e Nick poderiam nos dar um pouco de privacidade?", perguntou Gypsy gentilmente, sentindo pena de Lacey. Ela já tinha lidado com seu próprio sofrimento pela morte do avô… mas isso aqui Lacey havia acabado de descobrir.

Ren encarou Gypsy por um momento, antes de olhar novamente para a garota que ele ainda estava agarrando. Apertando ainda mais forte, ele se inclinou para frente até que seus lábios ficassem a poucos centímetros do ouvido da moça: "Não vou me afastar".

Bem, Lacey nasceu à noite, mas não nasceu ontem à noite e entendeu perfeitamente a ameaça subjacente nas palavras daquele homem.

Gypsy suspirou e balançou a cabeça, antes de acenar para que os dois homens saíssem de sua sala. "Podem ir. Acho que eu posso lidar com isso a partir daqui. "Ela soprou para tirar dos olhos uma mecha dos cabelos escuros quando os homens saíram do dormitório, mas pararam bem no meio da sala de estar para se voltarem olhando na direção dela.

Franzindo a testa, ela se aproximou calmamente da porta do abrigo antiaéreo e apontou. "Não é nada contra nenhum de vocês, mas faz mais de um ano que não vejo minha prima e acho que ela tem tantas perguntas quanto vocês… por isso, saiam daqui”.

Nick colocou uma das mãos sobre o ombro de Ren e o empurrou gentilmente em direção à porta. Ren rapidamente tirou a mão de Nick dali quando ignorou e saiu apressado da sala, antes dele.

Antes de segui-lo, Nick voltou-se para Gypsy e deu-lhe um sorriso tranquilizador. "Estaremos bem aí fora, caso você precise de alguma coisa. Aproveite bem o tempo”.

Ren voltou-se para contradizer o tempo permitido, mas as palavras morreram em seus lábios quando ele viu que Lacey agora estava de pé, bem atrás de Gypsy, com um sorriso presunçoso no rosto, como se tivesse acabado de achar uma saída para tudo. A pequena pirralha era irritante e estava mesmo prestes a deixá-lo furioso… então, ele decidiu fazer o joguinho dela.

Inclinando a cabeça para baixo para que ela pudesse ver o brilho prateado de seus olhos, Ren retribuiu o sorriso malicioso com um dos seus sorrisos mais sombrios, fazendo com que a expressão dela oscilasse um pouco.

Lacey não podia acreditar que esse cara estava realmente dando um sorriso sarcástico para ela, como se ele soubesse de algo que ela não sabia. Ora, não estou nem aí para isso. Como vingança, ela estendeu a mão e empurrou a porta do abrigo antiaéreo com força o suficiente para fechá-la com um estrondo ensurdecedor, apenas um segundo antes de conseguir travá-la.

"Receba essa, seu rejeitado sexy dos anos 80", ela reclamou mentalmente, esquecendo completamente o fato de que lhe tinha feito um elogio e um insulto ao mesmo tempo.

"Para que tudo isso, garota?", esbravejou Ren e estendeu a mão até a maçaneta para destravá-la; mas Nick afastou sua mão rapidamente com um golpe.

"Ah, sem essa! Duvido que ela seja perigosa", Nick ofereceu-se para tentar acalmar Ren. "Caso você não tenha notado, ela está com tanto medo que quase perdeu o juízo agora e não está mais planejando dominar o mundo. Além disso, só há uma saída deste abrigo antiaéreo e estamos aqui em pé bem na frente dela. Confie em mim… ela é apenas uma garota e não uma ameaça”.

"Ora essa!", retrucou Ren irritado. "Se ela é tão inocente assim, então, por que está vestida como um garoto e tentando invadir a loja do avô no meio da noite?... Ah, e não vamos esquecer o fato de que ela foi diretamente para um cofre secreto que, até ontem, guardava uma grande quantidade de artefatos tão poderosos que qualquer demônio daria sua Espada Profana para se apossar deles. Explica isso para mim, Robin", concluiu ele com arrogância.

Nick deu um sorriso malicioso e balançou a cabeça lentamente: "Ah, não… Agora, eu sou o Batman”.

"Tanto faz… Robin", disse Ren enquanto encostava a palma da mão na porta e fechava os olhos para se concentrar.

Ele franziu a testa quando os pensamentos de Nick, que não eram muito agradáveis, de repente lhe ecoaram pela mente em alto e bom som. Ren não pôde evitar e começou a reclamar silenciosamente do poder de leitura de pensamentos que ele não havia conseguido ativar apenas alguns instantes atrás, quando teria se revelado útil. Onde quer que estivesse aquele demônio que lia pensamentos ... ele não deveria ter saído do inferno de onde veio.

Gypsy impacientou-se com a teimosia persistente de Lacey e virou-se para encarar sua prima. Ela nem ligou em dizer-lhe que os dois homens sabiam destravar a porta que ela tinha acabado de bater na cara deles. Se ela continuasse a contrariar Ren, descobriria isso rapidamente… Gypsy tinha certeza disso.

"O que será…" Gypsy começou a falar, mas teve que calar a boca quando Lacey, de repente, estendeu a mão tocando seus lábios com as pontas dos dedos e fez um gesto pedindo silêncio.

"Onde está o nosso cristal?", Lacey quase sussurrou antes de começar a andar pela sala observando a grande quantidade de cristais que Gypsy mantinha expostos.

Gypsy sorriu, percebendo o que Lacey estava procurando e aproximou-se da mesa de seu computador, chegando até o cristal brilhante de quartzo e rubi que ali se encontrava. Quando eram crianças, elas muitas vezes usavam o cristal do sigilo para guardar segredos entre si que ninguém mais poderia ouvir… especialmente os adultos.

Elas tinham mantido o próprio cristal em segredo, que foi presenteado pelo avô para compartilharem. Quando cresceram, o cristal foi esquecido, pois não haveria mais nenhuma razão para usá-lo. Gypsy não sabia por que o cristal continuava com Lacey, em vez de passá-lo adiante, como seria a tendência dos cristais… talvez agora ela conseguisse a resposta.

Ren continuou pressionando a porta com a mão, tentando ouvir através da espessura do aço. Seus olhos se estreitaram quando a voz de Gypsy foi subitamente cortada no meio da frase.

Nick estava em pé ao lado dele com o ouvido colado no aço frio. Ele estava tendo um pouco de dificuldade, mas ainda conseguiu ouvir as mesmas coisas que Ren.

Ren franziu a testa quando ouviu Lacey perguntar a Gypsy sobre um cristal, pouco antes que a sala ficasse em total silêncio, exceto pelo som de seus passos.

"O que é que um cristal tem a ver com essa história?", perguntou Nick.

Ren lançou-lhe um olhar que basicamente mandava que ele ficasse calado, antes de fechar os olhos e concentrar-se novamente.

Gypsy e Lacey sentaram-se no sofá uma de frente para a outra e Gypsy segurou o cristal na palma da mão. Lacey colocou a mão sobre a de Gypsy, prendendo o cristal entre suas palmas, antes de dar um forte suspiro.

"Conte-me tudo que eu perdi desde quando fui embora", disse Lacey calmamente.

Ren estava ficando frustrado, esforçando-se para escutar ao mesmo tempo em que tentava aumentar sua distância de súcubo. Apenas fragmentos da conversa delas estavam sendo filtrados agora, como uma má recepção de rádio, e ele de repente percebeu que estava sendo bloqueado por algum tipo de magia. O ar ao redor dele ganhou um pouco de força e sua testa ficou ainda mais franzida, pouco antes que ele desprezasse aquela porta.

Nick afastou-se da porta confuso: "Não consigo ouvir mais nada agora”.

"Parece que Gypsy tem algo ali que pode proteger uma conversa pessoal", disse Ren, e seus lábios se comprimiram, agitados. "Elas estão usando magia para nos impedir de ouvi-las”.

Nick irritou-se com o fato de que o velho Ren tinha sido ludibriado tão facilmente: "Quer dizer que você, com todo o seu poder, não consegue arrombá-la?".

Ren movia o queixo enquanto atraía o poder do cristal e estendeu a proteção até onde ele estava dentro da barreira. "Eu não disse isso. Será preciso mais do que o joguinho bobo e o truque de beleza de uma garota para me deixar do lado de fora”. Ele se inclinou um pouco mais para perto da porta e olhou para Nick com um sorriso malicioso: "Quer ouvir o que elas estão dizendo?".

"Ora essa, você acha que eu sou idiota… claro que quero!", respondeu Nick, também com um sorriso dissimulado. Ele não dispensava de forma nenhuma uma espionagem, quando lhe convinha. Na verdade, normalmente ele era profissional nisso.

Ren acenou-lhe e colocou uma mão no ombro do jaguar, apertando um pouco mais firme apenas por diversão.

Nick encolheu-se com o aperto forte, mas ignorou isso, enquanto levantava as sobrancelhas até o contorno do cabelo, quando, de repente, ouviu as vozes das mulheres tão claramente como se estivesse na mesma sala que elas.

"Ótimo!", sussurrou ele com hesitação.

Gypsy sentou-se de pernas cruzadas no sofá enquanto contava a Lacey tudo o que havia acontecido, começando pela morte do avô. Não tinha demorado tanto tempo quanto ela pensou que levaria para contar a história e, na verdade, ela realmente se inclinou um pouco para frente quando começou a contar a Lacey sobre Nick, Ren e toda a confusão com Samuel. Ela ficou envergonhada quando admitiu o fato de que tinha tido uma ligeira queda por Nick durante anos.

Do lado de fora da porta, Nick deu um profundo suspiro de satisfação ao ouvir a confissão de Gypsy e fixou o olhar em Ren para ver como ele estava. Foi um pouco decepcionante descobrir que o outro cara estava inabalável.

"Cale a boca", Ren franziu a testa desejando que Nick parasse de fantasiar tanto sobre ele.

Nick sentiu muita vontade de rir, mas se conteve, querendo também ouvir o que estava acontecendo dentro da sala.

No momento em que Gypsy terminou de contar as novidades, Lacey estava esfregando a testa com a mão livre e seu semblante mostrava uma cara fechada, como se ela tivesse uma forte dor de cabeça.

"Tudo isso e você ainda está viva? E é porque vovô achava que tinha me dado a tarefa mais difícil. Há mais alguma coisa que eu deva saber?", perguntou Lacey cruzando os dedos para que não houvesse mais nada a dizer.

Gypsy pensou n isso por um momento e, então, lentamente balançou a cabeça: "Não, acho que isso abrange praticamente tudo o que é mais importante".

"É maravilhoso que a poção da bruxa ainda esteja surtindo efeito", sussurrou Lacey, apertando um pouco mais a mão da prima, antes de levantá-la entre as duas garotas. "E você tentou atirar em um demônio com uma bala de madeira", ela balançou a cabeça com admiração e solidariedade. Coragem e ingenuidade pareciam ser características que ambas tinham em comum. "Estou tão feliz que Michael tenha sido essa pessoa com o poder de curá-la. Eu teria morrido se chegasse em casa e encontrasse você e o vovô… mortos”.

"Estou bem e você está em casa agora. Você vai mesmo ficar… bem?", perguntou Gypsy deixando que a esperança brilhasse em seus olhos.

Lacey começou a dizer “não”, mas parou, mordendo o lábio inferior enquanto tentava concentrar-se em algo que sua prima dissera. Erguendo o queixo, ela fixou o olhar em Gypsy, imaginando se ela tinha acabado de encontrar a rede de segurança que estava procurando. Se isso evitasse que os demônios a encontrassem por um pouco mais de tempo, ela não ia reclamar.

"Espere aí… você estava falando sério quando disse que os demônios não podem entrar neste prédio sem sua permissão?", perguntou ela, sabendo que, quando algo parecia bom demais para ser verdade… normalmente era.

"É verdade", confirmou Gypsy com entusiasmo. "Nós até testamos o feitiço apenas para conferir se funcionava e, olha… funciona de forma brilhante”. Ela tentou conter o riso quando se lembrou de Nick e Ren sendo enxotados da loja.

"Sério, essa foi a coisa mais maravilhosa que eu já ouvi durante... hmmm… cerca de um ano", disse Lacey com sinceridade e sentiu aliviar um pouco da tensão dos ombros e das costas. Talvez se ela ficasse, poderia adquirir um pouco mais de tempo antes de enfrentar o Carrasco. "Não me diga que este era um dos feitiços que estavam no cofre durante todo esse tempo?"

 

Silenciosamente, ela imaginou se ele tinha saído do mesmo livro de magia que ela sabia que continha o feitiço para neutralizar o poder do símbolo do demônio que ela estava usando agora. Da maneira como ela entendeu… ao lançar um feitiço de distorção na parte superior de seu símbolo do demônio, seria quase impossível rastreá-la. Isso não removeria o símbolo, mas era a segunda melhor opção.

Ela precisava descobrir para onde eles haviam levado aquele livro. Seu próximo passo seria localizar a mais poderosa irmandade das bruxas na cidade e convencê-las a ajudá-la a realizar o feitiço. O problema era que… alguém havia retirado o maldito livro.

Gypsy inclinou a cabeça para o lado, preocupada, quando o alívio nos olhos de Lacey transformou-se novamente em preocupação. "Lacey, onde você esteve durante o ano passado? O que aconteceu que a impediu de voltar para casa?"

Quando Lacey não respondeu de imediato, Gypsy abaixou o olhar até onde as mãos das duas ainda estavam juntas em volta do cristal. "Você precisa saber que o vovô adoeceu de tanta preocupação quando você desapareceu. Ele tentou esconder isso de mim, mas você ficou afastada por tanto tempo que ele ficou finalmente convencido de que você jamais voltaria… de que algo terrível tivesse acontecido com você”.

Lacey fez uma cara tranquila, sabendo que seu avô era a última pessoa responsável pela confusão em que ela se meteu. Esta situação era atribuída apenas a ela.

Eles sempre mantiveram Gypsy fora do jogo, mas agora que o avô tinha partido, não parecia haver nada que a impedisse de contar, pelo menos, uma parte da história. Além disso, quando seu passado lhe foi revelado, pelo menos, Gypsy deveria saber o que realmente aconteceu com ela e talvez até colocasse uma placa de sepultura para homenagear o avô.

Sentia-se tranquila, pois decidiu deixar sua prima entrar nas atividades extracurriculares da família.

"Vovô sempre mandava você para leilões e locais seguros para conseguir os artefatos que ele queria para sua coleção ou precisava para satisfazer sua clientela. Esse era o seu trabalho e você era muito boa nisso”. Ela sorriu carinhosamente para a prima antes de acrescentar: "Mas eu… eu era boa em algo completamente diferente”.

"Aonde você quer chegar?" perguntou Gypsy franzindo a testa. Ela suspeitava que não ia gostar de nada do que Lacey estava prestes a dizer-lhe.

Lacey deu de ombros como se não fosse nada demais: "Vovô mandou você ir atrás das coisas que estavam disponíveis e fáceis de obter… basta fazer alguns negócios em segredo, com a ajuda de uma transação bastante procurada no mercado ou de um enorme maço de dinheiro. Ele me mandou atrás de coisas que não eram tão... fáceis de obter".

"Por exemplo?", perguntou Gypsy.

"Coisas das quais as pessoas não queriam se desfazer", complementou Lacey e viu quando sua prima ficou de queixo caído.